terça-feira, março 31, 2009

O caso psíquico de Lula

José Virgulino de Alencar

O caso de Lula, sua evidente mudança de personalidade ao assumir o cargo de presidente da República, é matéria para a psiquiatria e que seja um profissional profundamente entendido nessas mudanças franksteinianas ocorridas na mente de um cidadão, de cabeça tumultuada, desnorteada, que mostra não ter a menor idéia sobre contexto em que está situado. Faz discurso de mau oposicionista mesmo falando como presidente, emenda com discurso oficial quando o forum nada tem a ver com o governo; fala como sindicalista quando encontra os companheiros de luta de classe e volta a emendar um discurso anti-trabalhista quando a crise surge diante dele como uma assombração, em relação à qual ele ainda não soube situar-se: num momento, não há crise e tudo está às mil maravilhas; em outro, passa a meter medo nos cidadãos, superdimensionando a crise acima do que ela efetivamente representa. Manda a Polícia Federal escarafunchar a vida de adversários, mas, como sempre, as investigações funcionam como bumerangue e se voltam contra membros do governo e de sua base de apoio, e aí ele chia e solta reprimendas públicas no trabalho da corporação. Seus acólitos insistem numa coisa que, pelo menos atualmente no mundo, não existe, ou seja, a prática de uma política de cunho esquerdista/socialista, enquanto o próprio Lula disse, de própria voz e não de terceiros, que nunca teria sido de esquerda ou socialista. E escancara sua aliança com a banda podre da política brasileira, corrupta, retrógrada, reacionária, antitrabalhador, pró-banqueiros e em prol das grandes corporações, nacionais, internacionais e multinacionais. Se o Dr. Simão Bacamarte, o personagem de "O Alienista" de Machado de Assis, de repente aportasse hoje no Brasil, seu primeiro cliente a ser enviado para a Casa Verde, não tenham dúvidas, seria o nosso tonteado estadista, atualmente internado, mas sempre fugindo, na casa de loucos que é o Palácio do Planalto.

O presidente seria um autêntico personagem de ficção, se não fosse uma trágica realidade, que não é mais trágica porque tem muito de cômica.

Porém dúvida não padece de que o presidente do Brasil, ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, fundador do Partido dos Trabalhadores e que empreendeu luta titânica para chegar a chefe do Estado Brasileiro, tem características psíquicas estranhas, cujas reações são claramente conflitantes, merecendo análise e avaliação especializadas.

Não diria a surrada frase “Freud explica”, porque a psiquiatria de Freud caminha por outra vertente, que não é o caso de Lula.

O caso psíquico de Lula tem menor complexidade, embora com especial singularidade.

virgulinoalencar@hotmail.com

segunda-feira, março 30, 2009

Vivendo & Aprendendo


O cavalheiro da foto é o sr. José de Lima Massano, Presidente do Banco Africano de Investimento (BAI). Para uns & outros que nunca "antes nesse país" viram um banqueiro negro este aqui além de banqueiro é o presidente e maior acionista do BAI, localizado em Angola. E tem mais: é índio da etnia Bantu. H.C.

sexta-feira, março 27, 2009

Clô, Para Os Íntimos


Hugo Caldas


Nunca o vi pessoalmente mas sempre através, como dizia Sergio Porto, da "Máquina De Fazer Doidos”. O admirava pela inteligência, pela cultura, pelo bom gosto, pela perspicácia e muito principalmente pela falta de papas na língua. Essa última digamos, qualidade, é que ocasionava sempre ser demitido dos vários canais de tv nos quais trabalhou. Personagem da mais fina ironia, respostas ferinas. Quem não soube das suas cruéis alfinetadas na deputada Cida Diogo? A nobre deputada colhia assinaturas para representar contra ele no Conselho de Ética, por quebra de decoro parlamentar. Aos prantos, ela foi se queixar ao deputado Inocêncio Oliveira que presidia a sessão, que o deputado Clodovil havia lhe dirigido palavras de baixo calão no plenário. Segundo Cida, ele havia dito que ela "era tão feia que não servia nem pra ser puta...". Clodovil a princípio negou a historiada toda para logo em seguida revelar o que teria dito à deputada:

- "Uma moça bonita poderia se ofender, mas poderia também se prostituir, o que não é absolutamente o seu caso. A senhora é uma mulher muito feia”.

Quem não recorda as suas antológicas rusgas com a Marta Suplicy? As brigas inventadas (feito Emilinha e Marlene) com o eterno "rival" Dener? Viveu intensamente, isso é o que importa. Vestia-se na maior elegância. Tudo o que jogava em cima de si era milimétricamente estudado. E lhe caía muito bem. Com o seu desaparecimento perde o país a oportunidade de presenciar na Câmara, altos e irônicos debates. O Congresso já foi palco, desde a Primeira República de acontecimentos no mínimo curiosos.

... Tempos atrás, ocupava a tribuna em esfuziante arenga o senador pelo Piauí, Vitorino Freire, quando foi abruptamente apartado por um nobre colega com a singela declaração:

- "Vossa Excelência é um mentiroso"

- "É a mãe"! Respondeu de bate-pronto o senador Vitorino Freire. Para em seguida serem os dois admoestados pelo presidente da mesa: "Moderem as palavras nobres senadores, tenham modos, por favor. Mais respeito no recinto do Senado". Vitorino logo se desculpou pelo insulto à progenitora do nobre colega mas acrescenta ameaçador:

- Desculpe, Senhor Presidente. Mas se ele me chamar novamente de mentiroso, "a velha volta ao plenário". De outra feita o deputado Carlos Lacerda se alongava em um entediante discurso sendo aparteado pela Deputada Ivete Vargas nos seguintes termos:

- "O seu discurso é muito chato e o senhor é um purgante", ao que Lacerda rebateu:

- "E a senhora é o efeito do purgante!”

Clodovil foi eleito deputado federal com expressiva votação. Como primeiríssima providência mandou reformar tanto o apartamento funcional como o seu gabinete na Câmara. É voz corrente que só no apartamento ele despendeu coisa de R$ 200.000,00. O detalhe é que ele mesmo pagou tudo do próprio bolso. Deve ter ficado um luxo! Tanto que vários parlamentares, tal qual hienas vorazes, estão disputando no tapa os dois imóveis.

As grandes almas sempre têm grandes e belas atitudes e nunca as revelam. É que eles não estão "investindo" na vida eterna numa boa. Frank Sinatra por exemplo, tinha verdadeira comoção com crianças cegas. Descobriu-se só após sua morte que ele financiava mais de dez hospitais especializados para crianças cegas ao redor do mundo. Ayrton Senna também deixou quase tudo pronto para uma Fundação de amparo às crianças pobres. A sua irmã também só tomou conhecimento após o acidente fatídico. Com Clodovil não foi diferente. Ele já havia registrado seu testamento destinando todo o seu patrimônio para a construção de um orfanato que deverá receber o nome de "Casa Clô". Quem especulava sobre a fortuna que deveria ir para os cofres do governo, quebrou a cara.

Vai, rapaz. O teu lugar está lá te esperando. Fico aqui na maior torcida. Vê se consegue se enturmar com um sujeito com pinta de hippie dos anos 70, por nome Francisco de Assis. Gente muito fina. Ah e vê também se dá uma força nas roupinhas dos homens lá em cima. Há mais de dois mil anos que eles vestem a mesmíssima túnica démodé. Dá uma mexida geral neles todos. Bota pra quebrar, mas é aconselhável ter papas na língua.

Já foi dito que os amigos não morrem, se encantam. Clodovil não morreu. Nem se encantou. As grandes estrelas jamais desaparecem.

Elas simplesmente saem de cena.

hucaldas@gmail.com
newbulletinboard.blogspot.com

quarta-feira, março 25, 2009

A Premonição do Mourão


Lembram vocês do general Olympio Mourão Filho? Pois é, eu me lembro como se fosse hoje quando ele, que participou decisivamente do desencadeamento da quartelada de 1964, admitiu, numa bem-humorada autocrítica, que não estava preparado para governar o Brasil, dizendo: ''Sou uma vaca fardada''. Pois é, vejam abaixo o que ele andou dizendo lá pelos anos 70 numa visão premonitória.

"Ponha-se na presidência qualquer medíocre, louco ou semi-analfabeto e vinte e quatro horas depois a horda de aduladores estará à sua volta, brandindo o elogio como arma, convencendo-o de que é um gênio político e um grande homem, e de que tudo o que faz está certo. Em pouco tempo transforma-se um ignorante em um sábio, um louco em um gênio equilibrado, um primário em um estadista. E um homem nessa posição, empunhando as rédeas de um poder praticamente sem limites, embriagado pela bajulação, transforma-se num monstro perigoso ".

in Memórias: a verdade de um revolucionário.
Porto Alegre, L&PM, 1978, pág. 16.)

N.R. Recebi do amigo Alarico C. Neto este texto com pedido de repassar para a minha lista de endereços. Fiz melhor, postei aqui no Blog. Façam bom proveito. H.C.

terça-feira, março 24, 2009

Incoerência Católica

Drauzio Varella

Eis artigo assinado pelo médico Drauzio Varella, lamentando o episódio do arcebispo de Olinda e Recife e a excomunhão de médicos que fizeram aborto em criança de 9 anos. Confira: H.C.

AOS COLEGAS de Pernambuco responsáveis pelo abortamento na menina de nove anos, quero dar os parabéns. Nossa profissão foi criada para aliviar o sofrimento humano; exatamente o que vocês fizeram dentro da lei ao interromper a prenhes gemelar numa criança franzina.

Apesar da ausência de qualquer gesto de solidariedade por parte de nossas associações, conselhos regionais ou federais, estou certo de que lhes presto esta homenagem em nome de milhares de colegas nossos.Não se deixem abater, é preciso entender as normas da Igreja Católica. Seu compromisso é com a vida depois da morte. Para ela, o sofrimento é purificador: "Chorai e gemei neste vale de lágrimas, porque vosso será o reino dos céus", não é o que pregam?

É uma cosmovisão antagônica à da medicina. Nenhum de nós daria tal conselho em lugar de analgésicos para alguém com cólica renal. Nosso compromisso profissional é com a vida terrena, o deles, com a eterna. Enquanto nossos pacientes cobram resultados concretos, os fiéis que os seguem precisam antes morrer para ter o direito de fazê-lo.Podemos acusar a Igreja Católica de inúmeros equívocos e de crimes contra a humanidade, jamais de incoerência. Incoerentes são os católicos que esperam dela atitudes incompatíveis com os princípios que a regem desde os tempos da Inquisição.

Se os católicos consideram o embrião sagrado, já que a alma se instalaria no instante em que o espermatozoide se esgueira entre os poros da membrana que reveste o óvulo, como podem estranhar que um prelado reaja com agressividade contra a interrupção de uma gravidez, ainda que a vida da mãe estuprada corra perigo extremo?

O arcebispo de Olinda e Recife não cometeu nenhum disparate, agiu em obediência estrita ao Código Penal do Direito Canônico: o cânon 1398 prescreve a excomunhão automática em caso de abortamento.Por que cobrar a excomunhão do padrasto estuprador, quando os católicos sempre silenciaram diante dos abusos sexuais contra meninos, perpetrados nos cantos das sacristias e dos colégios religiosos? Além da transferência para outras paróquias, qual a sanção aplicada contra os atos criminosos desses padres que nós, ex-alunos de colégios católicos, testemunhamos?Não há o que reclamar. A política do Vaticano é claríssima: não excomunga estupradores.

Em nota à imprensa a respeito do episódio, afirmou Gianfranco Grieco, chefe do Conselho do Vaticano para a Família: "A igreja não pode nunca trair sua posição, que é a de defender a vida, da concepção até seu término natural, mesmo diante de um drama humano tão forte, como o da violência contra uma menina".

Por que não dizer a esse senhor que tal justificativa ofende a inteligência humana: defender a vida da concepção até a morte? Não seja descarado, senhor Grieco, as cadeias estão lotadas de bandidos cruéis e de assassinos da pior espécie que contam com a complacência piedosa da instituição à qual o senhor pertence.

Os católicos precisam ver a igreja como ela é, aferrada a sua lógica interna, seus princípios medievais, dogmas e cânones. Embora existam sacerdotes dignos de respeito e admiração, defensores dos anseios das pessoas humildes com as quais convivem, a burocracia hierárquica jamais lhes concederá voz ativa.

A esperança de que a instituição um dia adote posturas condizentes com os apelos sociais é vã; a modernização não virá. É ingenuidade esperar por ela.Os males que a igreja causa à sociedade em nome de Deus vão muito além da excomunhão de médicos, medida arbitrária de impacto desprezível. O verdadeiro perigo está em sua vocação secular para apoderar-se da maquinária do Estado, por meio do poder intimidatório exercido sobre nossos dirigentes.

Não por acaso, no presente episódio manifestaram suas opiniões cautelosas apenas o presidente da República e o ministro da Saúde.Os políticos não ousam afrontar a igreja. O poder dos religiosos não é consequência do conforto espiritual oferecido a seus rebanhos nem de filosofias transcendentais sobre os desígnios do céu e da terra, ele deriva da coação exercida sobre os políticos.

Quando a igreja condena a camisinha, o aborto, a pílula, as pesquisas com células-tronco ou o divórcio, não se limita a aconselhar os católicos a segui-la, instituição autoritária que é, mobiliza sua força política desproporcional para impor proibições a todos nós.

segunda-feira, março 23, 2009

A Menina de Pernambuco


Jean-Yves Leloup

O caso da menina estuprada pelo padrasto e excomungada pelo Arcebispo D. José Sobrinho Cardoso, de Olinda e Recife, ainda suscita comentários. Eis que recebo de amigo o texto abaixo com a sugestão para postagem no Blog. Aqui, algumas informações sobre o autor,
escritor, PhD em Psicologia Transpessoal, filósofo, sacerdote hesícasta – aquele que dedica sua existência ao mergulho no universo interior e à prece -, poeta e notável intérprete das palavras de Cristo, entre outros tantos títulos, Jean-Yves Leloup nasceu na cidade de Angé, na França, em 24 de janeiro de 1950. Integrante da Igreja Ortodoxa, ele é defensor ardoroso da união entre ciência e espiritualidade, tema mais desenvolvido em sua obra. H.C.

Abaixo a transcrição da resposta de Jean-Yves Leloup sobre a menina de Pernambuco que engravidou ao ser estuprada.

Pergunta: uma menina de nove anos é estuprada pelo padrasto e engravida. A justiça e a medicina concordam que ela não sobreviveria à gestação e concordam com o aborto. Os arcebispos de Olinda excomungam todos os envolvidos no aborto desde a diretora do hospital ao motorista da ambulância, a enfermeira que desinfeta os instrumentos, médicos e a mãe da menina. Em sua opinião, como reatar a conexão com o Divino neste ato da Igreja Católica?

Jean-Yves Leloup: Nós poderíamos perguntar o que teria feito Cristo. Eu acho que Ele não teria escutado nem o juiz nem o arcebispo, Ele teria ido ver a menina para cuidar dela e escutar, naquele momento, aquilo que a Vida estaria Lhe inspirando.

É claro que se a vida da mãe e a vida da criança estão em perigo é preciso escolher que um dos dois sobreviva, se os dois não podem sobreviver. Depois, é preciso escutar o sofrimento desta menina e, o que pode ser ainda mais difícil, saber o que conduziu o padrasto a esta atitude.

Contudo, tanto em um caso como em outro, nós não estamos em uma atitude de julgamento, em uma atitude onde devamos fazer isto ou aquilo. Trata-se de escutar a pessoa que está sofrendo, escutar aquilo que a Vida deseja nela, pois a vontade de Deus é a vontade da Vida que quer viver.

Como não acrescentar sofrimento ao sofrimento? O que pode nos parecer dramático é o fato da culpa ser acrescentada ao sofrimento - acrescentamos mal ao mal....

No Evangelho, nós nunca vimos Jesus excomungando alguém e, antes de tudo, será que é possível excomungar alguém? O diabo não pode nos separar de Deus se permanecermos fiéis à Sua Presença. Se o diabo não pode nós separar de Deus, um arcebispo também não!

Confesso que há alguma coisa que eu não compreendo nisto tudo: é este encadeamento de excomunhões. Se eu estivesse de mau humor, eu diria que a única pessoa que o arcebispo não excomungou é o padrasto que é o culpado...

No entanto, não é essa a questão. Nenhuma igreja, nenhum ser humano tem o poder de nos excomungar: Nós não podemos separar um ser da Fonte do Ser, não podemos separar a consciência da Fonte da Consciência, mas podemos envenenar e perturbar a vida dos outros...

Isso é grave. Normalmente, a função da igreja não é a de nos envenenar a vida, mas a de curar o nosso sofrimento, de aliviar a nossa dor. Aliviar a dor dessa menina, aliviar a dor daqueles que a cercam e não culpabilizar aqueles que estão tentando ajudá-la, pelo contrário, ajudá-los no seu discernimento para saberem o que é melhor para essa menina.

Essa é a função da igreja. Não é sua função condenar ou excomungar, senão ela se tornará uma instituição como qualquer outra que está a serviço do poder e o poder sobre as almas é algo muito perigoso, mais perigoso do que o poder sobre os corpos. É por isso que sempre é bom voltarmos aos Evangelhos ou, simplesmente, voltar ao nosso coração e não nos deixarmos impressionar por leis externas, mesmo as leis religiosas. A lei a qual obedecemos é a lei da Vida e o espírito que está em nós é o Espírito da Vida. É isso que dirá São Paulo. Não dependemos mais de leis externas. Trata-se de escutar a Vida em nós, de escutarmos a Luz em nós, de escutar o Amor em nós, de escutar a Presença do Eu Sou que É porque aí está o discernimento. No entanto, algumas vezes é preciso coragem para encarar estas instituições que talvez estejam se esquecendo dessa dimensão do ser. Muitas vezes, estas instituições são vítimas de suas próprias ideologias.

É interessante escutar os argumentos do arcebispo de que não devemos destruir a vida. Mas vocês podem sentir que a sua teoria está separada da realidade. Seus grandes princípios, que não são ruins, esquecem aquele caso em particular. E existem apenas casos particulares. Não podemos legislar de uma maneira geral porque o amor é sempre o amor por um caso em particular. O que é verdadeiro para um pode não ser verdadeiro para o outro. A nossa prática de meditação pode nos ajudar a nos tornar atentos a essa via interna, a essa lei interna, que não julga a priori, nem com princípios políticos, nem com princípios médicos, nem com princípios religiosos, mas que está em contato com a Realidade; que escuta o que a Vida em outra pessoa e o que a Vida em nós pede.

Talvez essa seja a condição para exercermos um ato justo, uma condição que deixe o nosso coração em paz mesmo que, à nossa volta, nós não compreendamos. É importante o critério dessa paz interna, esse sinal de que existe uma unidade no interior de nós mesmos.

Penso nas palavras de São Serafim de Sarov: "Encontre a paz no interior de você mesmo e uma multidão será salva ao seu lado..."

Ache a paz no interior de você mesmo e você descobrirá o gesto justo que não vai ser uma ideologia, ou um grande princípio, mas o respeito pela Vida na sua fragilidade e na sua vulnerabilidade.

Teríamos muito a dizer sobre todas essas suas questões, mas o que eu acho importante é que cada um descubra a resposta que vem do seu interior. Ninguém tem o direito de pensar no seu lugar. O papel de um ensinamento, o papel de uma comunidade ou de uma igreja não é dizer o que devemos fazer, aquilo que é bom e o que é ruim, mas de nos dar elementos para esclarecer o nosso discernimento, para que nós nos tornemos inteligentes, uma inteligência esclarecida e iluminada pela compaixão.

quinta-feira, março 19, 2009

Turistas

Ontem, fui dar com os costados em uma lanchonete aqui em Boa Viagem. Aproveitei pequeno intervalo na corrida dos passinhos por bancos, pequenas obrigações, compras, dois dedos de conversa mole com o Enedino do Mercado Municipal, campinense dos bons que vende Queijos, de Manteiga e Coalho, Mel de Abelha, Carne de Sol, Cocadas, Sequilhos, Raivas, Bolo de Rolo, Passas de Caju, "Nêgo Bom," a memorável caninha de Triunfo, Doce de Leite e miríades de outras guloseimas que fazem qualquer um degustá-las de joelhos recitando a Salve-Rainha. Enfim, tirei o dia para coisas assim, que sou obrigado a fazer, mercê não usufruir dos préstimos de um secretário particular. Pois bem, voltemos à lanchonete, foi lá que o caso se deu. O caso, eu conto:

Estava eu posto em sossego em uma das mesas saboreando um belo de um sanduíche, desses que levam de tudo um pouco. Súbito, um sujeito com cara de turista, brancão todo, óculos escuros, chapeuzinho ridículo, shorts, cara avermelhada pelo sol nordestino, idade indefinida, sem mais nem porque aboletou-se na cadeira imediatamente em frente à minha.

Até aí, tudo bem. Não sou dono da mesa nem da cadeira apenas achei muito estranho a rispidez. A minha mãe sempre me ensinou a pedir licença, falar por favor, etc. Mas àquele capadócio deve ter acordado de mal com o mundo. Será que a mulher dele dormiu de calça Jeans, pergunto a mim mesmo? E daí? E eu, com isso? Ou será que ele não dá mais pro gasto? Quero nem saber.

Foi quando algo absolutamente inusitado e agressivo aconteceu. O energúmeno deu de garra de um guardanapo de papel e, da maneira mais ostensiva, mais barulhenta e mais espalhafatosa assoou as ventas. A operação constrangedora se repetiu por umas quatro vezes a cada mordida que eu dava no sanduíche.

As pessoas nas mesas ao redor olharam atônitas. Da minha parte fiz o possível para não reagir mas, quando tirei a conclusão de que tudo aquilo era gratuito, puro achincalhe, puro aviltamento disse-lhe com a voz mais calma deste mundo:

- "Mas tanto que a sua mãe lhe ensinou e você ainda não aprendeu, não é? Ela coitada, deve estar agora no inferno se revirando feito louca, de vergonha."

O turista brancão todo, - não sei se do Sul Maravilha ou das Europas - me fuzilou com os olhos. Não disse uma nem duas e se retirou tão bruscamente como chegou. H.C.

terça-feira, março 17, 2009

MAIS UM PRA FESTA!

Riobaldo Tatarana

Enquanto vocês discutiam aí no blog as façanhas desse bispinho chatinho, fresquinho, irritadinho, eu me deliciava com a notícia que reproduzo abaixo:

Em entrevista concedida ontem à noite, o austríaco Josef Fritzl, chamado "o monstro da Áustria", que espera a condenação à prisão perpétua por seqüestro e estupro da própria filha, que manteve em cárcere privado por mais de 20 anos, e com quem nesse período teve sete filhos, disse que seu maior sonho, agora, era fugir e viajar para o Brasil, onde, conforme acrescentou, gostaria de se candidatar a deputado federal pelo estado do "Maranhon". Muito afável, Josef disse também que sua verdadeira vocação é a política e que tem grande admiração pelo presidente "Lola".

Não é uma maravilha de coerência? Desde o chamado Brasil-Colônia (já deixamos de ser colônia?) que recebemos levas e mais levas de degredados, assassinos, ladrões, traficantes, quengas, tarados... Sempre veio tudo do primeiro mundo de então, Portugal e Espanha, e com o passar do tempo, dos novos donos do mundo, Inglaterra, França, Itália, Japão e principalmente EUA, que continuaram a mandar pra cá sua escória humana, juntamente com lixo atômico, pneus velhos, tecnologias superadas e cursos de marketing. E nós ficamos aqui, como aquelas pobres moças havaianas, com nossos sarongues desbotados, a dançar o nosso hula-hula e a receber de braços abertos a rafaméia que nos mandam como uma esmola.

Vocês me acham mal-humorado. Eu pergunto: dá pra ficar de bom humor diante disso? Será que nunca, jamais, em tempo algum, por mais que esse astro que habitamos role pela imensidão celeste, vamos tomar vergonha na cara? Vejam bem o que diz o monstro austríaco: quer ir pro “Maranhon”, pra ser deputado. Como quem diz: “se o Sarney pode, por que não eu?” E mais significativo ainda é o ato falho de chamar nosso bravo presidente de “Lola”. O macaco tá certo! Pois Lola não é o nome clássico da quenga-tipo, da quenga-padrão, que a Espanha exportava pra cá até um dia desses? Então, que venha o austríaco! Já temos aqui multidões de pedófilos à solta, ou beneficiados por hábeas-corpus malandros, temos sociopatas de todo tipo, nas altas e baixas esferas. Mais um, menos um, que diferença faz? Miserere nobis!

segunda-feira, março 16, 2009

No paraíso da transgressão


Caros: Achei que seria obrigação deste Blog republicar texto tão verdadeiro quanto este. Mesmo sem a devida autorização da autora. H.C.

Lya Luft

"Vivemos feito bandos de ratos aflitos, recorrendo à droga, à bebida, ao delírio, à alienação e à indiferença, para aguentar uma realidade cada dia mais confusa"

A gente se acostuma a criticar os jovens por eles serem pouco educados, os homens por serem arrogantes, as mulheres por serem chatas, os governos por serem omissos ou incompetentes, quando não mal-intencionados. Políticos sendo acusados de corrupção é tão trivial que as exceções se vão tornando ícones, ralas esperanças nossas. Onde estão os homens honrados, os cidadãos ilustres e respeitados, que buscam o bem da pátria e do povo, independentemente de cargos, poder e vantagens?

Transgredir no mau sentido é natural entre nós. Ladrões e assassinos, mesmo estupradores, recebem penas ridículas ou aguardam o julgamento em liberdade; se condenados, conseguem indultos absurdos ou saem em ocasiões como o Natal, e boa parte deles naturalmente não volta. Crianças continuarão a ser estupradas, inocentes mortos, velhinhos roubados, mulheres trancadas em suas casas, porque a justiça é cega, porque as leis são insensatas e, quando prestam, raramente se cumprem.

Nesta nossa terra, muitos cidadãos destacados, líderes, são conhecidos como canalhas e desonestos, mas, ainda que réus confessos ou comprovados, inevitavelmente se safam. Continuam recebendo polpudos dinheiros. Depois de algum tempo na sombra, feito eminências pardas, voltam a ocupar importantes cargos de onde nos comandam.

Assassinos nem são presos. Se presos, são soltos para o famoso "aguardar o julgamento em liberdade". Centenas e centenas de vidas cortadas de maneira brutal e o assassino, a não ser que acossado pela culpa moral, se tiver moral, logo voltará ao seu dia-a-dia, numa boa. Se invadir a casa de meu vizinho, fizer seus empregados de reféns, der pauladas na sua mulher ou na sua velha mãe e escrever nas paredes com excremento humano frases ameaçadoras, imagino que eu vá para a cadeia. Os bandos de pseudoagricultores (a maioria não sabe lidar na terra) fazem tudo isso e muito mais, e nada lhes acontece: no seu caso, bizarramente, não se aplica a lei.

Se sobram muitas vagas nos exames vestibulares, em alguns casos simplesmente se fazem novas provas, provinhas mais fáceis. Leio (se me engano já me desculpo, nem tudo o que se lê é verdadeiro) que, como são poucos os aprovados nos exames da OAB, porque os estudantes saem despreparados demais das faculdades de direito que pululam pelo país, o exame se tornou mais simples: há que aprovar mais gente. Quantidade, não qualidade. Governantes, os bons e esforçados, viram objeto de ódio de adversários cujo interesse não é o bem da comunidade, estado ou país, mas o insulto, o desrespeito, a violência moral do pior nível. Aliás, nesses casos o nível não importa, o que importa é destruir.

Eis o paraíso dos transgressores: a lei é a da selva, a honradez foi para o brejo, a decência tem de ser procurada como fez há séculos um filósofo grego: ao lhe indagarem por que andava pela cidade com uma lanterna acesa em dia claro, declarou: "Procuro um homem honesto". O que devemos dizer nós? Temos pouca liderança positiva, raríssimo abrigo e norte, referências pífias, pobre conforto e estímulo zero, quase nenhuma orientação.

A juventude é quem mais sofre, pois não sabe em que direção olhar, em que empreitadas empregar sua força e sua esperança, em quem acreditar nesse tumulto de ideias desencontradas. Vivemos feito bandos de ratos aflitos, recorrendo à droga, à bebida, ao delírio, à alienação e à indiferença, para aguentar uma realidade cada dia mais confusa: de um lado, os sensatos recomendando prudência e cautela; de outro, os irresponsáveis garantindo que não há nada de mais com a gigantesca crise atual, que não tem raízes financeiras, mas morais: a ganância, a mentira, a roubalheira, a omissão e a falta de vergonha.

E a tudo isso, abafando nossa indignação, prestamos a homenagem do nosso desinteresse e fazemos a continência da nossa resignação. Meus pêsames, senhores. Espero que na hora de fechar a porta haja um homem honrado, para que se apague a luz de verdade, não com grandes palavras e reles mentiras.

Lya Fett Luft é uma romancista, poetisa e tradutora brasileira. É também professora universitária e colunista da revista semanal Veja.

Fonte:http://arquivoetc. blogspot. com/2009/ 03/lya-luft- no-paraiso- da-transgressao. html

Religião Em Xeque


Elpidio Navarro

Faz muitos anos que li uma crônica de Rubem Braga, no qual falava (mais ou menos assim) de uma proibição no Rio de Janeiro, por parte da polícia, de um culto desse hoje chamado de afro-brasileiro. O delegado justificava que aquilo era coisa de bruxaria, pois as pessoas cantavam, levantavam os braços, diante velas acesas, estátuas, fumaças com cheiro e um feiticeiro todo de branco e cheio de enfeites na roupa, levantava-se, baixava-se, fazendo sinais e dizendo palavras que ninguém entendia. Na crônica, Rubem Braga diz, ainda, que caminhando pela rua, pára diante de uma casa enorme, onde pessoas cantavam e gesticulavam diante de velas, estátuas, fumaça cheirosa e um homem de branco com a roupa enfeitada, levantando-se e baixando-se a toda hora, dizendo palavras que ninguém entendia. "Mas onde está a polícia que vê uma coisa dessa?" Pergunta ele.

Claro que Rubem Braga estava diante de uma igreja católica. Nessa época eu já não via a religião da mesma forma que via na minha infância, quando, certamente, houve a imposição familiar: pais católicos, irmã freira, nenhum "crente" na família, felizmente, o que seria até pior.

É certo que a religião católica evoluiu de alguma forma, mas nem tanto. Algumas facções sim outras não. A missa é celebrada em português mas ainda existem padres celebrando em latim. Padres não mais se obrigam a usar a terrível batina não própria para o nosso clima, outros preferem sofrer com o calor. Mas essas mudanças são menores diante da atitude de uma parcela da Igreja Católica brasileira, que lutou contra a quartelada de 1964. No entanto, em compensação, são produzidos vigários retrógrados, interesseiros, politiqueiros, como os bispos da Paraíba e Pernambuco, por fatos já bastante denunciados na mídia e condenados por grande parcela da sociedade.

Hugo Caldas enviou-me uma mensagem na qual pedia, a quem de direito, para ser excomungado, dando o nome completo, carteira de identidade, CPF, etc. Eu, por minha vez, como já disse antes noutro artigo, não preciso dar esse trabalho a ninguém: pratiquei a auto-excomunhão. E já faz um bocado de tempo.

Alguém há de perguntar por que eu casei no religioso e batizei os filhos. Simples: para atender pessoas crédulas da família e, principalmente, porque para fazer uma festa eu topo qualquer negócio.

Devo declarar que respeito todas as pessoas religiosas e suas religiões, mas esperando que a minha não religiosidade também seja respeitada. Acho que a liberdade do homem implica também nas suas escolhas e entre elas a religiosa. Portanto, desde que não façam uso dela para matar, injuriar, roubar e iludir, a considero uma individualidade que merece todo o respeito.

Do meu amigo Celso Japiassu, leio um artigo inserido aqui neste mesmo Blog do Hugão, com o título de "Religiões". Uma síntese perfeita a de Celso (sugiro a leitura), tão perfeita que me remeteu aos anos 50 quando tomei posse como membro da diretoria do Teatro do Estudante da Paraíba. O orador oficial da solenidade, Arlindo Delgado, proferindo sobre a história do teatro, referiu-se às "trevas medievais" e à condenação da arte de representar, na época. A citação causou a reação de um padre presente, que logo cuidou de defender a Igreja Católica. A verdade que está na história é que quem ousasse fazer teatro durante a Idade Média seria excomungado. O teatro foi para o povo nas ruas, com as carrocinhas e os saltimbancos e o sucesso foi tanto que resultou no uso pela própria Igreja Católica do condenado teatro, para atrair o povo para o seu lado. No Brasil, foi usado por Anchieta para catequizar os índios.

Elpídio Navarro é professor universitário, dramaturgo e diretor teatral, além de editor do www.eltheatro.com

domingo, março 15, 2009

Pelo pé!


MARCUS ARANHA

O Congresso podia medievalizar o Código Penal e aprovar uma Lei

A notícia mais quente da mídia é a do sujeito que estuprou e engravidou a menina de 9 anos. E o engraçadinho do bispo que excomungou os médicos que fizeram o abortamento na criança, deixando o pedófilo em boas relações com a Igreja. Pedófilo é um sujeito pervertido, que tem desejo sexual por crianças. Conhecido popularmente por “tarado”, descarrega sua luxúria sobre inocentes, que nada sabem de sexo.

Há mais de 10 anos, 130 países, numa promoção do governo sueco e em parceria com o UNICEF, reuniram-se para relatar e estudar a exploração sexual de crianças, promovendo uma articulação mundial para combatê-la. Foi o Congresso Mundial Contra Exploração Sexual de Crianças, em Estocolmo, em 1996.

Provaram que, anualmente, um milhão de crianças entra no mercado do sexo! A exploração sexual na India, Tailândia e Brasil, espantaram. O Brasil é uma das rotas de tráfico e turismo sexual, envolvendo crianças. Viu-se o mais completo dossiê sobre violência sexual contra crianças durante guerras: meninas paralíticas de uma escola de deficientes em Angola, incapazes de correr, foram estupradas por soldados. Na Croácia tais estupros, foram em público. Os soldados preferem estuprar as crianças, porque imaginam que, assim, evitam contrair AIDS.

Foi um desfile de horrores, nos textos oficiais do evento, acompanhado de fotos, documentários e depoimentos de vítimas. Reportagens produzidas por TV’s, exibiram meninas e meninos escravizado nos bordeis da Índia, Guatemala e Tailândia. No interior da Amazônia, meninas vivendo como prostitutas escravas, nas regiões de mineração.

Um manifesto lançado por 84 ganhadores do prêmio Nobel pediu uma ação antipedofilia, pressionando os governos a combatê-la. O fato mais bárbaro mostrado no Congresso de Estocolmo foi um soldado de Ruanda que estuprou uma criança de 5 anos de idade!

Nos meus arquivos físicos de notícias, encontrei uma notícia publicada no jornal CORREIO DA PARAÍBA de 16 de agosto de 1996: uma garota de apenas 3 anos de idade, residente no bairro de Monte Santo em Campina Grande, sofreu sevícias sexuais, pelo que teve sangramento dos genitais, sendo socorrida em atendimento hospitalar. O seu estuprador tinha 16 anos. O nosso “tarado”, menor de idade de Campina Grande, ganhou em barbárie, do soldado de Ruanda.

Pois é... A coisa hoje está do mesmo jeito de 1996. Ou pior! Estamos vendo a imprensa noticiando que, a cada quatro segundos, uma criança sofre abuso sexual no Brasil.

Nos EUA, o Governo da Califórnia resolveu não correr riscos colocando em liberdade condicional quem cumpriu pena por crimes sexuais contra crianças. Aprovou uma lei que prevê a castração química desses prisioneiros, antes da soltura. Duas semanas antes de sair da cadeia, o detento começa receber injeções de Depo Provera e, ao ser solto, é obrigado a seguir um cronograma quinzenal de novas injeções. Não o cumprindo perde o direito ao benefício. Depo Provera é um progestágeno, hormônio que baixa o fogo de qualquer tarado. Só há uma forma de recusar a castração química proposta pelo juiz: ser voluntário para castração física. Quer dizer, ou toma as injeções, ou concorda em deixar cortar o pinto, ou continua preso.

Era hora de, no Brasil, levantar uma bandeira para punição de crimes sexuais contra crianças. Uma lei drástica destinada a colocar um ponto final, neste pesadelo de abuso sexual contra as crianças: pedófilo pra sair da cadeia, tem de deixar lá, o pinto.

Teriámos uma nova categoria de criminosos: os Sem Pinto. O nosso Congresso Nacional podia medievalizar o Código penal e aprovar uma Lei nesse sentido; realmente, o mais seguro para proteger nossas crianças é, antes de soltar esses tarados, cortar-lhes o pinto.

Pelo pé!

quarta-feira, março 11, 2009

Religiões

Celso Japiassu

O momento de maior esplendor da Igreja em seus 2009 anos de história foi durante os séculos da Idade Média. Ela nomeava os reis, o Papa dispunha de exércitos e os povos da Terra submetiam-se a seu poder, movidos pela fé e pelo medo da excomunhão e do inferno. A Igreja queimava bruxas e hereges e quem mais desafiasse seus dogmas e seu poder. Não incorporou até hoje sequer uma prática democrática e sua organização é rigorosamente a mesma dos tempos medievais. O Sumo Pontífice reina em nome de Deus, como os reis reinavam por direito divino. E seu organograma é cheio de príncipes, condes e viscondes com os títulos de cardeais, arcebispos e bispos.

A separação da Igreja dos Estados modernos foi uma conquista que diminuiu o seu poder político e a liberdade de cultos reduziu a influência de uma única religião. Mas os novos cultos evangélicos, inspirados numa interpretação tendenciosa dos textos da Bíblia, são vetores de exploração dos humildes e do enriquecimento ilícito dos seus pastores. Em nosso país, avançam sobre a mídia e estão a se dar bem na política.

O sonho de todas as religiões é o poder político, no modelo de países como o Irã, o Afeganistão dos musjahidin e as outras repúblicas ou monarquias islâmicas.

As religiões amam o atraso.

terça-feira, março 10, 2009

REMINISCÊNCIAS EUCLIDEANAS


Clemente Rosas

Corriam os primeiros anos da década de cinquenta, e eu devia ter doze ou treze de idade. José Gerbasi Furtado, meu companheiro da Arcádia Pio X, grêmio literário mantido pelos irmãos maristas, onde nos tratávamos como “nobres árcades”, me fez o convite: participar de reuniões cívico-patrióticas, nas tardes das quartas-feiras, na União Paraibana de Estudantes Secundários – UPES.

O presidente da entidade era Mário Silveira, depois sucedido por Iveraldo Lucena e por Wellington Aguiar, que lá militavam, ao lado de Evamberto Farias, Antônio Lins Rolim, Osvaldo Trigueiro do Vale, Valdir Santos Lima, Rosil Belli, Péricles Vitório Serafim e outros. O filósofo Vanildo Brito e o poeta Orley Mesquita também circulavam por lá. Uma vintena, talvez, de jovens idealistas, em busca de causas nobres a que dedicar suas energias. A sede ficava numa salinha da “Vila Caxias”, espécie de galeria mista de pequenas lojas e quartos para estudantes e solteirões solitários, localizada na rua Duque de Caxias, trecho entre o Ponto de Cem Réis e o Palácio do Governo, logo após a Livraria dos Estudantes.

A UPES, pelo que me parece hoje, havia surgido como uma alternativa de representação à Vanguarda Estudantil da Paraíba, entidade pré-existente, cuja imagem não era das melhores. Assim, as duas associações concorriam, fornecendo “carteiras de estudante” para desconto em entradas de cinema e passagens de ônibus, e propondo-se a arregimentar a juventude para lides intelectuais, deontológicas e políticas.

O presidente era um tipo quase carismático. Parecia empolgado por uma sublime missão a cumprir: livrar o Brasil dos maus políticos, educar e dignificar o seu povo, afirmar os valores nacionais, honrar a insígnia de “Ordem e Progresso” da nossa bandeira. A cada reunião cantávamos o Hino Nacional de pé, com a mão no peito. E tínhamos um livro de princípios, o “Código de Ética do Estudante”, de que ainda recordo alguns preceitos: “Elimina o burguês que vive em ti. A burguesia não é uma classe, é um estado de espírito...” “Sê brasileiro, não é difícil. Basta que sejas o que és, e não o que os snobs, ... e os internacionais querem que sejas”.

É oportuno lembrar que, naquele tempo, os partidos políticos constituídos não tinham qualquer apelo para os estudantes, ainda mais, secundários. E o velho PCB, em plena ilegalidade, era assunto de polícia. Chamar alguém de “comunista fichado” correspondia a injúria grave. Notórios mesmo, para a sociedade pessoense, além da respeitável figura do Desembargador João Santa Cruz, só o contador João Batista Barbosa, o “Batistão”, o advogado José Gomes da Silva, o “Zé Moscou”, e o dentista Leonardo Leal. Assim, nossos espíritos límpidos, como páginas em branco, estavam abertos a qualquer ideologia totalizadora. Em especial para aquela que não se contrapunha à crença materna, não contestava estruturas sociais, e exaltava o civismo, com um lema palatável a todos: ‘Deus, Pátria e Família”.

Pois outro não era o substrato doutrinário das pregações que ouvíamos. Falavam-nos das excelências da nossa “raça mestiça” (preferencialmente, de brancos e índios), dos “intrusos” que deveriam ser expulsos do Continente Sul-americano (ingleses, holandeses e franceses, que mantinham, como colônias, as Guianas), e mesmo do heroísmo de soldados alemães. Até que um novo acontecimento veio levantar “o manto diáfano da fantasia” e expor “a nudez forte da verdade”.

Com o mesmo endereço da UPES, surgiu enfim o Centro Cultural Euclides da Cunha, integrante da Associação (ou Confederação) dos Centros Culturais da Juventude, cujos filiados se intitulavam “águias brancas”. Seu idealizador? O velho Plínio Salgado, chefe dos “camisas verdes” de vinte anos atrás, criador do emblema do sigma e da saudação do “anauê”. Depois da tentativa bisonha de tomar o poder, em 1938, a que um jornalista de mau gênio deu o rótulo de “revolução dos covardes”, e do recesso a que foi condenado, como todas as forças de oposição à ditadura Vargas, o velho Integralismo voltava à cena, em nova roupagem.

Não poderia haver simpatias, em minha família, para essa doutrina, que empolgou a juventude de tanta gente ilustre. Meus avós paterno e materno eram liberais. Meu tio Danilo, admirador de Prestes, a ponto de batizar um dos seus filhos de Luís Carlos. Meu pai, simpatizante da esquerda. E meu tio Nelson, boêmio antes de tudo, não escondia o seu sarcasmo pelo fascismo caboclo, bem traduzido em um incidente que me foi contado pelo Dr. Edgardo Soares, seu companheiro na mocidade, e depois meu professor e Procurador Geral do Estado. Em um restaurante cheio de integralistas, onde foram parar os dois amigos, bebericando, meu tio comandou, em alta voz:

- Garçom! Me traga uma galinha verde assada!

O poeta Orley Mesquita, libertário como soem ser os poetas, já me havia alertado sobre aquelas fontes encobertas de inspiração dos nossos colegas da UPES. Lembro-me de que ainda escrevi para Mário Silveira, a esse tempo já morando em Recife, pedindo explicações, e, recomendado pelo meu pai, não me incorporei aos “águias brancas”. Permaneci, no entanto, na UPES, de que fui Secretário, quando Wellington Aguiar assumiu a Presidência. Depois, como não tínhamos sucessores, promovemos uma fusão com a Vanguarda, com o nobre argumento da unificação do movimento estudantil, daí resultando a Associação dos Estudantes Secundários da Paraíba – AESP. Nesta, ainda participei, como membro do “Tribunal Eleitoral Estudantil”, ao lado de Hermes Aguiar e Celso Japiassu, da organização de uma eleição em que os candidatos já não deixavam transparecer matizes ideológicos. Representavam apenas a classe média, de um lado, e o pequeno grupo de “ricos” da cidade, personificados em meus colegas José Valdomiro e Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, do outro. Nosso candidato, Wilson Guedes Marinho, do primeiro grupo, foi o vitorioso. E quanto ao Centro Cultural Euclides da Cunha, teve vida efêmera. Como um balão furado, logo murchou e desapareceu.

Mas qual a razão, agora, dessas reminiscências? Simplesmente aproveitar o ano do centenário da morte de Euclides, para reconstituir um pequeno fragmento da história política da Paraíba que pode ter algum interesse para os estudantes de hoje. Meio século parece mais que suficiente para elevar acontecimentos à categoria de “históricos”. E cabe ainda a investigação sobre por que se deu ao autor de “Os Sertões” a condição de patrono de uma entidade de fins muito mais políticos que literários. Teria tido o cronista de Canudos ideias políticas? Ou, simplesmente, sua admiração pelo heroísmo dos nossos caboclos, a despeito de todas as ideias “científicas” em voga, à sua época, sobre a inferioridade dos “mestiços” (que ele próprio, contraditoriamente, incorporava), o credenciou para inspirar jovens que, de qualquer modo, lutavam pelo primado dos nossos valores, pela afirmação da brasilidade, pelo amor-próprio nacional?

No entanto, se algum dos velhos companheiros aqui referidos não gostar de ver-se recordado em suas experiências de principiante na política, antecipo minhas desculpas. Não considero desonra haver-se militado, em tempos tão verdes, num movimento que chegou a atrair figuras veneráveis, como Dom Helder Câmara, Santiago Dantas e Paulo Cavalcanti. E o tempo já mostrou amplamente como todos venceram em suas profissões, brilharam na política, ou cumpriram seu dever de cidadãos.

Concluo com uma reflexão de idoso, para a qual convido os jovens: o presente é lábil, tanto quanto o futuro é incerto. Quando este texto for lido, meu ato de escrevê-lo já será passado. Valorizem, portanto, a História – remota ou recente, geral ou particularizada – pois só ela, mestra da vida, tem valor permanente. Como nos versos de Carlos Drummond de Andrade, dando beleza ao paradoxo, apenas “as coisas findas, muitos mais que lindas, estas ficarão”.


Clemente Rosas é autor de “Praia do Flamengo 132”, livro de memórias do movimento político universitário nacional nos anos 1961-62, lançado em 1992 e em vias de reedição.

domingo, março 08, 2009

Obscurantismo


Moacir Japiassu

Foi notícia na mídia do mundo inteiro: Igreja excomunga responsáveis por aborto de menina de 9 anos...

Brasil - O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, condenou a interrupção da gravidez da menina de 9 anos que teria sido estuprada pelo padrasto, na cidade de Alagoinha, no agreste de Pernambuco. Segundo dom José, os responsáveis pelo aborto estão excomungados da Igreja Católica.

Janistraquis, que é ateu, graças a deus, acompanhou o nojento e indescritível episódio e continua perplexo até agora: “Caramba, caracoles, considerado! Esse d. José é a extravagância do obscurantismo, mas pelo menos excomungou os ‘responsáveis pelo aborto’. Digo pelo menos porque, expulsos do seio da santa madre igreja, os tais responsáveis não correm o risco de reencontrar essa alimária, a qual, como tantas e tantas, vão deambular pelas pastagens do céu...”

Moacir Japiassu (João Pessoa, 4 de julho de 1942) é um jornalista e escritor brasileiro.

Paraibano com raízes também em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, onde vive desde 1970, Moacir Japiassu iniciou-se na profissão em 1962. Trabalhou em alguns dos mais importantes órgãos da imprensa do país, como os jornais Diário de Notícias, O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde e Jornal da República, além das revistas IstoÉ, Veja, Senhor, Pais&Filhos, Enciclopédia Bloch e Elle, entre tantos outros.

Ah, Janistraquis é seu secretário, segundo, pau-pra-toda-obra... por aí!

sábado, março 07, 2009

FASCISMO DE BATINA

Carlos Mello

Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda e Recife. Vamos guardar o nome dessa fera. Ela expressa a grande doença de nossa sociedade – truculência, hipocrisia e absoluta falta de amor ao próximo. Este foi o homem designado pelo Vaticano para substituir a doce figura de D. Hélder Câmara, a quem a ditadura militar odiava tanto que chegou a empenhar-se para que não lhe fosse concedido o prêmio Nobel da Paz.

Diante de uma tragédia dessas, esse obtuso prelado toma as seguintes providências: 1) excomunga a pobre vítima do estupro; 2) excomunga a equipe médica que cumpriu com o dever sagrado de salvar uma vida; 3) declara que “muito mais grave que o estupro é o aborto”. Isso não é só maldade. É também – como diria o velho Gondin da Fonseca – ultrapassar exageradamente os limites da imbecilidade.

O bispo não quer falar de pedofilia. Realmente, é duro falar de corda em casa de enforcado. Com tantos casos desses dentro da Igreja Católica, é melhor dirigir o foco da atenção para outro lado. E assim, ele ajuda a dar força aos que querem fazer crer que o clero católico é uma súcia de pedófilos. Já vemos que a inteligência não é o forte do homem.

Quero levantar uma hipótese para isso. Sabemos que tão logo foi proclamada a excomunhão, surgiram de todo lado pessoas em busca desse soberbo galardão: ser excomungado pelo Dom Sobrinho. Uma jogada de gênio. Cobrar pela excomunhão. O que é isso para uma igreja que já vendeu indulgências? Daqui a pouco ele estará riquíssimo. Tão rico quanto seu parceiro, o bispo Macedo, que exige dar como endereço de sua catedral, no Rio, o nome antigo de Avenida Suburbana – só para não ter que falar no nome atual, de Avenida Dom Hélder Câmara. E viva nosso saudoso Padre Hélder! Com dois rivais desses, quem precisa de prêmio Nobel?

Saudades do Padre Hosana


Hugo Caldas

Para quem não lembra ou não era nascido à época, o Padre Hosana de Siqueira e Silva, vigário de Correntes, uma paróquia lá pelas bandas de Garanhuns, andava de namorico com uma prima lá dele. O bispo, Dom Expedito Lopes soube e não gostou. Chamou o padre às falas, andou virou mexeu e terminou por excomungar o padre que por sua vez deu-lhe uns tiros despachando o bispo dessa pra outra melhor. Roma, ao que eu saiba não o excomungou. A justiça falha dos homens o absolveu. Padre Hosana viveu no bem-bom até que foi, assassinado em 1997 dizem, por questões de terra. Mas isso já é uma outra história.

Os tempos são evidentemente outros mas é realmente impressionante a desfaçatez, a soberba bem como a comovente maneira, por estúpida que seja, pela qual esse bispote (depressa, o Aurélio) trata as coisas desse mundo. Estou falando do atual Arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Sobrinho, de triste figura. Vamos nos reportar aos primórdios da sua chegada ao Recife. O sujeito deu com os costados por estas plagas com uma missão bastante espinhosa, qual seja a de substituir a simpática figura do Padre Helder. Foi com a sua eterna cara fechada, denotando o rei na barriga que ele deve ter experimentado o sentimento recíproco de ódio à primeira vista. Bem feito.

Com suas idas e vindas, suspensão de ordens a vários padres, ações mesquinhas, perseguição pura e simples a várias outras paróquias da cidade bem como fechamento de ordem religiosa (feminina) até hoje não devidamente explicada. O homem parece de mal com o mundo. Nada mais natural, portanto que use e abuse dos superpoderes que a Santa Madre lhe confere para ele destilar a bílis da sua intolerância.

Na década de sessenta, já devidamente descrito neste mesmo Blog, me referi aos desmandos de Frei Damião, frade que utilizava táticas nazistas na sua perseguição aos protestantes das cidades por onde pregava. "Excomungava" todos os leiteiros que fornecessem leite às famílias de confissão evangélica. Foi preciso a intervenção do cônsul dos EUA já que as diversas igrejas protestantes eram de certa forma dirigidas por missionários americanos. Essa intervenção se deu após uma reunião do arcebispo com o cônsul e ficou acordado que as famílias crentes receberiam pacotes de leite em pó, doados pelo povo americano, aqueles mesmos sacudidos dos aviões aos famintos das cidades que eles acabaram de bombardear.

Muito se fala e se falará sobre o acontecido com uma menina de 9 anos estuprada pelo padrasto e grávida de gêmeos. O causador de todo o mal ao que tudo indica nada sofrerá por parte da sanha do arcebispo e presume-se, sairá numa boa dessa históriada toda. Castigo eterno, para que? No entanto, os médicos, ela própria e a sua mãe, excomungados, irão ferver no azeite eterno do inferno. Na concepção desse Torquemada tupiniquim, evidentemente. Se o Principe da Igreja, o Reverendíssimo arcebispo se enfezar comigo por conta destas mal traçadas e cismar de me excomungar, pode ir fundo. Servirá como mais um título no meu curriculum. "EXCOMUNGADO em 2009!"

Não estou querendo influenciar as pessoas ou sugerir coisa alguma a quem quer que seja. Mas é que de repente sinto pelo Padre Hosana uma saudade imensa.

hucaldas@gmail.com
newbulletinboard.blogspot.com

quarta-feira, março 04, 2009

NO PAÍS DOS BRUZUNDANGAS

Riobaldo Tatarana

O brasileiro que não está hipnotizado pela Globo e ainda consegue prestar atenção ao que de fato se passa à sua volta – uma minoria que encolhe, vá lá - vem observando há muito tempo a escalada do MST.

Uma invasão de fazenda aqui, outra de escritório do INCRA acolá, algumas vacas abatidas para o churrasco do pessoal, destruição e furto das casas da fazenda... E como nenhum de nós se chama Manuel nem mora em Niterói, esperamos que as “autoridades” resolvam o problema – fazendo como todos os países civilizados do mundo (alguns ainda no século XVIII, como a Dinamarca) uma verdadeira reforma agrária. E pondo na cadeia esses agitadores, que acompanham as invasões de longe, por celular, em seus carrões, e recebem a grana destinada “pelo governo” (ou seja, a nossa!) para suas “ONGs”.

A questão agrária não é caso de polícia. É caso de governo, essa coisa tão comum no mundo todo, e que nós teimamos em não ter. Para começar, nosso “governo” funciona nos cafundós de Brasília, aonde ninguém vai a não ser por muita grana – como os congressistas, ministros, marreteiros e outros que tais. E lá ninguém fiscaliza ninguém, pois ou também está na comilança, ou tem de trabalhar para sobreviver – afinal de contas, alguém tem que trabalhar naquela zona! Mas na verdade, o MST não brotou do nada, não foi concebido pelo Komintern, nem patrocinado pelo ouro de Moscou. Ele nasceu dessa sacanagem absurda que é a estrutura fundiária brasileira, inalterada há séculos.

Sou contra o MST, mas ainda mais contra essa escrotidão, que mantém o trabalhador rural como miserável e bóia fria, faz inchar indefinidamente as cidades pelo êxodo rural, centuplica a violência e cria esse estado de coisas. Isso mostra que não há diferença substancial entre Sarney, Collor, FHC ou Lula, entre PMDB, PSDB, PC, PT ou qualquer camarilha dessas, que só cuida de saquear o país. A burguesia não sente esse problema porque só viaja de avião ou helicóptero, mora em bunkers e diverte-se em lugares inacessíveis. Mas nós, classe média como os senhores, ou baixa, como eu, pagamos o pato e enfrentamos a violência cega, vivemos amedrontados e tensos. Estou mentindo? Se não, por que somente eu estou indignado?

segunda-feira, março 02, 2009

"Por que tudo isso comigo?”


Hugo Caldas

O italiano Cesare Battisti, pela foto ao lado, parece mais um atorzinho de terceira, do cinema italiano dos bons tempos de Alberto Sordi. Sordi foi um grande ator. Ele, ao que tudo indica, tem mesmo é essa cara de porqueira botando banca de canastrão. Bandido até dizer basta, acusado de terrorismo na Itália, quatro assassinatos nas costas, condenado à prisão perpétua foi, todo o mundo já sabe, agraciado com o velhaco recurso do refúgio político. O indigitado senhor, no entanto, acaba de observar em entrevista recente, que anda meio sobre o confuso.

- "Por que tudo isso comigo?" Exclamou choroso e aturdido! Tadinho! Ô mulé, dá uma pena!

Veja só que primor de canalhice!

"Eu, sinceramente, não acredito que tudo isso esteja acontecendo comigo. É enorme, é exagerado. Eu não sou essa pessoa tão importante assim. Sou apenas um dos milhares de militantes italianos dos anos 1970. Sou um das centenas de militantes que se refugiaram no mundo inteiro, fugindo dos anos de chumbo da Itália. Por que tudo isso comigo?"

Reforço, por que? Realmente, a reles figura apenas matou uns quatro gatos pingados... No entanto repete ad nauseam, que "nunca matou ninguém".

Será que ele teria coragem de repetir que não matou ninguém na frente de Alberto Torregiani, o filho do joalheiro Pierluigi Torregiani, que hoje vive em uma cadeira de rodas em conseqüência dos tiros que levou no atentado do PAC à joalharia do seu pai?

Diz Battisti, que sempre se sensibilizou com a presente situação de Alberto. Ele era apenas um adolescente na época do acontecido. Ao reagir ao ataque, o seu pai, Pierluigi acabou por acertar o filho, que ficou paraplégico. "Eu nunca matei ninguém, arremata". É muito cinismo!

O verdadeiro criminoso foi portanto o falecido pai do cidadão que vive hoje confinado a uma cadeira de rodas. Espero que essa novela ainda apresente muitos capítulos vergonhosos. É só esperar mais um pouco.

hucaldas@gmail.com
newbulletinboard.blogspot.com