sábado, maio 31, 2008

A PROPÓSITO


Hugo Caldas

Pois é isso mesmo. Não sei, nem imagino o que dirão os meus poucos e contados leitores após tomarem conhecimento dessas mal traçadas. Esse "a propósito" do título é uma referência ao caso da garotinha Isabella. É realmente estarrecedor todo o acontecimento porém, o estardalhaço formado pela midia juntamente com a ânsia da polícia em apontar culpados, tudo devidamente televisionado ad nauseam, termina por inculcar nos corações e mentes das pessoas, a priori, a culpabilidade de alguém. Deveria, acredito, haver especial cuidado para não se prejulgar e estabelecer que fulano ou sicrano passem de suspeitos a culpados. Para qualquer pessoa de inteligência mediana, soa como se todos os envolvidos nas investigações e na elaboração do competente inquérito, estivessem tirando partido da ocasião para "mostrar serviço".

Uma série de casos há tempos, sem solução a vista e eles resolvem tudo em menos de um mês! Estão querendo por ventura, evitar que tudo seja esquecido, como por exemplo, o trágico episódio do garotinho João Hélio? É isso? Só que essa precipitação pode ter um preço muito alto. Meus caros me desculpem, mas o fato é que eu não aceito a carapuça de maria-vai-com-as-outras.

Dois fatos, por exemplo, ficam a verrumar o meu miolo. Primeiro, desde o início, achei extraordinariamente anormal a frieza da mãe da garota. Ora, eu tenho 4 filhos e 4 netos. Uma netinha na idade da Isabella. Estivesse eu passando por este calvário e nas circunstâncias em que o fato se deu, em verdade vos digo, estaria absolutamente devastado. Absolutamente descrente de tudo e de todos, querendo morrer também. Mas, eu sou eu. Não posso, nem devo, tirar conclusões sobre o comportamento das outras pessoas. Quando a mãe finalmente se dignou a falar no "Fantástico" muito me causou espécie a maneira como ela se apresentou num estilo "casual chic," cabelos cuidadosamente desarrumados, forte maquiagem reforçando olheiras, colarzinho, toda produzida como se fosse para um teste da novela das oito. Não estou aqui insinuando absolutamente nada. Apenas, como disse, achei no mínimo muito estranho.

O segundo fato é bem fresquinho. Aconteceu ontem. O tenente da Polícia Militar, Fernando Neves Brás, que atendeu o caso da menina Isabella, se matou com um tiro na cabeça nesta sexta-feira (30 de maio 2008) depois de ter sido acusado de integrar uma rede de pedofilia. Estranho, não? Em qualquer país civilizado do mundo esta vertente seria também investigada. O perito Sanguinetti fala em suspeita de violência sexual. A polícia, essa, já se apressou em anunciar que o tenente estava, na hora do crime, há quilômetros de distância. Só apareceu no local muito depois. Agora pergunto: você confiaria numa entidade que tem em seu seio pessoas desse tipo?

Francamente, custo a crer que um pai, na mais sagrada acepção da palavra, seja capaz de tamanha selvageria. Mas essas aberrações existem. Na década de 70 eu tinha uma pequena casa na cidade de Gravatá. Houve um fato por todos sabido e comentado, que um agricultor havia trocado uma das suas filhas (14 anos) por um saco de 60 quilos de feijão. Precisava ele dar de comer ao restante da família, que não era pequena. Ninguém mais falou no caso, todo mundo esqueceu e botaram uma pedra em cima.

Quando cheguei ao Recife em 1959 tomei conhecimento pelas mãos de um bom amigo, d' "A Emparedada da Rua Nova," de Carneiro Vilela, ilustre escritor pernambucano.

"Em meados do século 18 o Comendador Jaime Favaes ao descobrir que sua filha única, uma das mais belas moças recifenses estava grávida, planejou e executou a eliminação do conquistador, o estudante Leandro de tal, que foi morto lá pras bandas de Jaboatão, num sítio. No bairro dos Coelhos, à beira da maré vivia um bom pedreiro e sua mãe, já bastante idosa. O pedreiro contratado para fazer um estranho serviço se recusou, mas à mira de uma pistola... Forçado, ele fez o buraco na parede do quarto da moça. Os três colocaram o corpo em pé, ainda com vida, da jovem grávida. O pedreiro levantou uma parede cobrindo tudo. Dia seguinte, foi à polícia fazer uma denuncia. Relatou todo o acontecido.

- "Você vir aqui acusar o Comendador Jaime Favaes? Ele é uma pessoa acima de qualquer suspeita!" Disse o Chefe de Polícia. Como pode comprovar as suas fantasias? Será que você não andou lendo romance policial?" E o pobre pedreiro:
- "Não é fantasia não, doutor! E eu até sou analfabeto!

Por fim o que dizer sobre "O Caso Serrambí?" Mais perto de nós! Duas mocinhas assassinadas em 2003 e que até hoje, 5 anos se passaram e nada de solução, embora todo mundo saiba quem são os assassinos! É a justiça de Pindorama.

O pai e a madrasta de Isabella vão negar até o fim, vão alegar inocência e mais uma vez vão insistir na versão de que uma terceira pessoa cometeu o crime. Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista bradava aos 4 ventos que "uma mentira repetida mil vezes se torna verdade". Quando forem a julgamento daqui a no mínimo 3 ou 4 anos já todo mundo esqueceu de tudo.

Abaixo, vocês encontram alguns casos famosos e insolúveis deste malfadado país. Confiram. Lembrava de alguns. Outros, pesquisei.

OS MISTÉRIOS INSOLÚVEIS DESTE PAÍS.

O linchamento de Chapecó
Década de 50. Chapecó, pequeno município do estado de Santa Catarina entra para a história por conta dos bárbaros acontecimentos ali ocorridos e que culminaram com a morte de quatro rapazes que estavam presos, acusados de terem incendiado a igreja da cidade. Nada ainda havia sido provado. Uma noite um bando armado composto por umas 50 pessoas invadiu a velha cadeia, atiraram nos presos arrastaram seus corpos para o meio da rua e tocaram fogo. Tudo insuflado por Frei Liberato, vigário da cidade. O delegado faz vista grossa. Consumado o fato o padre sumiu e os colonos pagaram com a vida pelo que não haviam feito. Ficou tudo por isso mesmo. Até hoje a cidade tenta esquecer o funesto acontecimento.

O crime do Sacopã
Foi um crime que dominou os noticiários por um longo tempo, permanecendo na mídia por vários anos. Em 2006, ainda se especulava sobre o caso. As pessoas tendem a julgar de acordo com a realidade que a mídia apresenta (no maior carnaval) e que, via de regra, não reflete a verdade. Na noite de 7 de abril de 1952, um Citroen negro foi deixado na Rua Sacopã, na Fonte da Saudade, Rio de Janeiro. Dentro dele o corpo de um sujeito chamado Afrânio, funcionário do Banco do Brasil. Personagem bastante conhecida pelos golpes aplicados nas meninas do High Society carioca. O azar de Afrânio foi se envolver com a garota errada. Ela era gente da alta. Tinha boas relações com os poderosos de então. Esses tais poderosos acionaram seus contatos no governo de Getulio Vargas e a polícia secreta deu cabo do Don Juan. O bode expiatório da trama acabou sendo o namorado da tal garota, o Tenente Bandeira, da Aeronáutica, que não tinha nada a ver com a história e pegou 15 anos de prisão. Conseguiu sair após sete, graças ao esforço do advogado Tenório Cavalcanti, O Homem da Capa Preta, à época deputado federal.

A Fera da Penha
Neyde Maria Lopes conheceu Antonio Couto Araújo e apaixonou-se. Por meses eles se encontraram. Eis que ela acabou descobrindo por um amigo que Antônio era casado e pai de duas crianças. Sabendo disto, ela o coloca de encontro a parede exigindo que ele abandonasse a esposa e filhas para viver com ela. Vendo então que Antônio não deixaria sua família, Neyde traça a vingança definitiva. No dia 30 de junho de 1960, Neyde telefona para a escola onde Taninha (a filha caçula de 4 anos) estudava e, dizendo-se Nilza, (a mãe) falou que não poderia ir pegar a filha e por isso mandaria uma amiga apanhá-la. E foi exatamente o que aconteceu. Neyde ficou andando sem rumo com Taninha, por fim entrou numa farmácia e comprou um litro de álcool. Por volta das 20 horas, ela conduziu a garotinha para um galpão nos fundos do Matadouro da Penha. Lá ela executou a menina com um tiro na cabeça e pôs fogo em seu pequeno cadáver, antes de ir embora na maior tranqüilidade. Presa, foi condenada a 33 anos de prisão, mas após cumprir apenas 15, por bom comportamento, ganhou a liberdade. Dizem que hoje "A Fera da Penha" vive em um modesto apartamento em um subúrbio do Rio de Janeiro.

O Caso dos Irmãos Naves
Considerado o maior erro judiciário do Brasil, e um dos maiores do mundo; acontecido na cidade mineira de Araguari, região do triângulo mineiro, lá pelos idos de 1937. Os irmãos Naves, Sebastião, com 32 anos e Joaquim, 25, trabalhadores que negociavam com a compra e venda de cereais, vida pacata, muito trabalho. Eram sócios de Benedito Caetano, filho de um fazendeiro da redondeza. Os negócios não iam muito bem mas eles conseguem comprar boa quantidade de arroz e vender, ficando o sócio Benedito Caetano como fiel depositário do dinheiro. Na madrugada de 29 de novembro de 1937, Benedito Pereira Caetano, resolve desaparecer levando consigo todo o dinheiro, fruto da venda dos negócios com arroz. Joaquim e Sebastião procuram, em tudo que é canto e nada. Na manhã de 22 de dezembro de 1937, assume a Delegacia de Araguari, um tal Tenente Vieira, personagem sinistro e destinado a ser o causador do mais vergonhoso erro judiciário brasileiro. Autoritário, desconhece todo o processo legal, e logo no início das investigações já conclui serem os irmãos Naves os responsáveis pela morte de Benedito, decretando a prisão dos dois. Infindáveis torturas e sevícias sofrem os irmãos Naves. Confessam! São condenados a 25 anos e 6 meses de reclusão. Joaquim Naves morre indigente, doente, em agosto de 1948. Sebastião Naves ganha liberdade condicional em julho de 1952. Por artes do tinhoso "o morto" reaparece vivinho da silva, após viver por todo esse tempo em terras distantes. Sebastião vê e não acredita. Calcula, os anos de prisão, e não acredita. Benedito jura inocência. De nada sabia. Toda sua família morrera em um acidente de avião. Agora, é outra a realidade. A mesmíssima população que, insuflada pelo Tenente Vieira, acreditou piamente na culpa dos irmãos Naves, neste instante ameaça linchar o desaparecido Benedito. Em 1953 a justiça mineira faz nova revisão criminal, diante do erro judiciário. Em 1960, vinte e dois anos depois de iniciado o martírio, o Supremo Tribunal Federal, conferiu a Sebastião Naves e aos herdeiros de Joaquim Naves o direito a indenização.

Leopoldo Heitor e Dana de Teffé
Dana de Teffé foi uma cidadã tcheca, que veio para o Brasil, depois de passar por vários países, supostamente fugindo da sanha nazista. Aqui casou-se com o diplomata Manuel de Teffé de quem herdou o nome e a fortuna. Se separou logo após o casório e contratou como advogado, para cuidar de seus interesses financeiros, Leopoldo Heitor, que tinha fama de mulherengo e adorava os holofotes da midia. Fez inclusive aparições rumorosas no caso do Sacopã. Certo dia decidiram ir à São Paulo pela Via Dutra. Durante a viagem Dana desapareceu e seu corpo nunca mais foi encontrado. Heitor alegou terem sido assaltados e Dana seqüestrada. Não convenceu e foi preso, julgado e condenado. Fugiu e foi recapturado anos mais tarde. Novamente julgado, foi absolvido. O motivo da absolvição foi justamente a ausência do corpo, para se provar o homicídio.

É ou não é Brasil!? Por essas e por outras, não me ufano deste país. Nem um pouco!

hucaldas@gmail.com

quinta-feira, maio 29, 2008

O MACACO ESTÁ CERTO


Djanira Silva

Com tristeza, verificamos, que o mundo está passando por uma radical inversão de valores. Quem me conhece sabe que nunca fui puritana nem metida a santa. Pode até alguém me achar metida a besta. Aí, são outros quinhentos. O que acontece atualmente ao nosso redor é de estarrecer e, acontece assim, quase que de repente, como diriam os bbbs - tipo assim - Pois é, tipo assim como diriam os privilegiados globais. Não tenho vergonha de afirmar que assisto tudo quanto é programa, do contrário, como ter assunto para fazer comentários? O malfadado BBB bem poderia ser um programa com propostas positivas dirigidas a essa mocidade desgovernada que está por aí sem destino e sem vontade de encontrá-lo. A sigla BBB deveríamos ler como bobocas, beócios e babacas. Sem contar que Bial também começa por B. Ouvir uma conversa entre eles é de enlouquecer, senão vejamos:

- Pois é, cara, estou hoje tipo assim, sabe, bicho?
- Legal, cara, eu estou meio que nem sei, também que nem tu, tipo assim.

Um programa que tem uma força extraordinária de audiência, parece haver feito uma seleção do quanto pior melhor. Mulheres desbocadas, dizendo palavrões em pleno ar. Enchendo a boca de baralhos e bugalhos - tipo assim, desfilando nuas ou quase nuas cercadas por homens (?) venais que não fazem a menor questão de posarem de abestalhados e chifrudos. Agora, me pergunto, pois não tenho o direito de perguntar a ninguém, quem foi que desvalorizou a mulher? Foi o homem ou ela mesma que não se dá apreço e torna-se cada vez mais vulgar em troca de fugazes momentos de fama? Por aí começa a inversão de valores. Você estuda, termina curso superior, às vezes até se mete a escritor, publica alguns livros e fica no ora veja. Ninguém nunca ouviu falar no seu nome, embora já tenha vários títulos publicados. E, de repente, aparece uma torturadora de crianças, uma enfermeira que espanca idosos, sem falar nas seqüestradoras e estelionatárias. Alguns programas de televisão dão ênfase ao fato, em entrevistas sensacionalistas e a imprensa de modo geral, empurra-nos, goela abaixo, a biografia delas, o histórico do que fazem no dia-a-dia, enquanto a maioria dos brasileiros não sabe sequer quem foi Carlos Chagas, Osvaldo Cruz ou Josué de Castro.

Assim, chegamos à conclusão de que para se ter um lugar de destaque neste país, isto, quem não nasceu rico, ou de família ilustre, é cometer algum ilícito. Aí, sim, fica-se famoso da noite para o dia. Se for jovem, de boa aparência, de nenhuma cultura e com raciocínio zero, poderá vir a ser um bbb que entra no programa sem eira nem beira e sai milionário sem esforço algum, com direito a assassinar o português, mudar a topografia do mundo, se expressar numa linguagem que ninguém entende e ficar mais conhecido do que o Papa. É bem verdade que são momentos passageiros. A maioria aparece feito estrela cadente, sem pensar que elas mudam de lugar e a gente nem sabe para onde.

O que vimos neste programa que se apresenta como um show da vida real foi um gasto excessivo de tudo, de água, de energia elétrica, de alimentos. Festas transformadas em verdadeiras bacanais com bebidas em excesso, comida em demasia num país onde a maioria do povo passa fome. Mulheres bêbadas, vomitando, expondo-se ao ridículo, caindo pelas tabelas. A quem interessa este tipo de deseducação? E, como prêmio, por conta de um confinamento voluntário e desejado, sai dali um milionário deixando para os jovens desorientados da nossa falida sociedade uma lição negativa. Estudar? Pra quê?

A propósito hoje vi num programa de ocorrências policiais um fato que me deixou apavorada. Um criminoso trazia tatuada no braço uma mensagem escrita na linguagem dos bbbs - "Deus fais, mãe cria, nois mata" - Não é sonho não, é a pura verdade. Quem ligou qualquer canal no horário dos jornais, viu e ficou sabendo que vivemos num mundo sem limites contra o crime. E nossas autoridades? Vão muito bem, obrigada.

blogdjanirasilva.blogspot.com

terça-feira, maio 27, 2008

BLOG DO HUGÃO + QUERIAS


Um belo dia me chega na escola um camarada (epa) meio malandro, cara de amarelinho safado que nem João Grilo, ex seminarista. Matriculado como aluno foi logo dizendo, enxerido, "vou terminar ensinando aqui." De fato. Estudou, terminou seu curso e de uma hora para outra galgou seus espaços. Terminou não somente ensinando mas dirigindo uma das unidades da escola. Como ele mesmo diz nesse simpático texto, "a vida separa as pessoas." Feito o "canhotinha de ouro" devolvo a bola bem redondinha, na medida: "a vida também faz as pessoas se reencontrarem." Bem-vindo ao Blog meu caro. H.C.


Eutrópio Édipo

Tava lá Sílvio “Doido”, que não tem nada de doido, e foi falando: “Já visse o Blog de Hugão?” Emendou: “Tá muito engraçado”.

Demorei um pouquinho para entender que ele se referia ao blog de Hugo Caldas. Rapidamente, contou a história, vista no blog, em que Hugo (himself) demitiu o próprio chefe. Eu não sabia dessa.

Pagamos o pão, paguei o meu e Sílvio o dele, e saímos da padaria. Eu, muito curioso: Blog do Hugão. Blog do Hugão. Blog do Hugão. Que nem menino pra não esquecer.

Em casa comentei com Lucia e Rodrigo, meu filho, sobre o blog, já encarregando Rodrigo de acioná-lo, que não sou muito chegado à cibernética.

Dia seguinte, avisou que já estava no ar (?) para eu ver. Dei uma espiada e logo bateu a saudade, tipo “eu era feliz e não sabia”. Surgiu lá, Hugo de chapéu, parecendo efígie de moeda e, quando comecei a ler, vi uma referência a Aline Alexandrino.

Aline ensinava na escola onde Hugo era diretor e eu ainda aluno. Sabia tudo, Aline. Gostava de detalhes, estudava muito o vocabulário inglês – nomes de flores, animais, peças de roupa, etc. Où est elle?

Depois, bateu um apertinho no peito – eu chamo “saudade de mim”. Sabe aquela saudade que verbaliza: “O café de hoje não é tão gostoso”, “Tem meia melhor que Gerson, não.” “Professor bom era o de antigamente”. É ou não é?

Aí comecei a lembrar dos tempos “quando a escola era risonha e franca”. Cadê os outros?

Saudades de Olavo. Alô Janete. Me dá ficha Mary. Como se diz...Ian? Saudades de Sílvio Pinangé. Acorda, Davi. E aí Leonardo, vamos pra onde? Saudades. Não vá me dizer que mais outros se foram.

Pois é. A vida é que separa as pessoas, alguém já disse. Que bom “ver” Hugo, ativíssimo, conversando com o mundo, como só a Rádio Jornal do Comércio anunciava. Parabéns.

Foi tão bom ter sido parte deste bando de pessoas que estavam buscando caminhos; talentosos, engraçados, inteligentes. E eu, lá, só aprendendo. Com trilha de Paulinho da Viola, Fagner, Gonzaguinha, Copinha, seu Paulo César, Canhoto e seu Orlando, tudo ao vivo. E tome Super- 8 e tome TPN, e tome cinema e tome, e tome e tome.

Quer saber? Se eu pudesse, fazia tudo voltar, lá pra Visconde de Suassuna, só por um momento. E como aluno:

Do you eat tomatoes everyday? Yes, I do.

Obrigado a todos aqueles amigos de antanho. Obrigado Hugo, meu professor. Um beijo.

Eutrópio Édipo.

PS: A propósito, cometi uns versos lembrando “figuras do meu convívio”, há uns meses. Vê aí. (caiu uma lagrimazinha agora.)


QUERIAS


Queria ser o ateu vate boêmio,

Para versejar de Deus tão melhor

que seus canhestros seguidores.


Queria ser o perene fingidor do palco,

E manter altivez blasé de nobre

no combate aos inesperados tormentos.


Queria ser o defensor ainda crente,

Para conservar o antigo ideal de estudante

Embora vivendo o mundo indiferente e pragmático.


Queria ser a doce acadêmica guerreira,

e demonstrar capacidade de ouvir sem tédio

até obviedades de ignaros pretensiosos.


Queria ser o sagaz propagador de idéias,

para exercer a ironia mais eficaz

diante de algozes que ensaiavam dobrar convicções.


Queria ser aquele eu, menino de subúrbio,

quando a pelada, um banho de mar, um gibi

e as frutas do sítio já me bastavam,

e eu, nem de longe, desejava ser nenhum outro.


Para Leonardo, Hugo, Franca, Janete e Zé Nivaldo. Cada um com sua estrofe e meu “obrigado”.

segunda-feira, maio 26, 2008

OS GRILOS DO VIZINHO


Germano Romero

O quintal do vizinho estava no maior escuro... Vi-o da janela. A brisa que vinha de muito longe passava por lá e trazia o cheiro e os mistérios daquela noite. O quintal é grande, a casa bem recuada e quase nunca tem gente. Parece que eles não são daqui, viajam muito.

Mas o quintal é bonito, apesar de rústico, meio abandonado. Vários coqueiros, mangueiras e mato nativo. Um paraíso para lagartixas, minhocas, pássaros e grilos. Os grilos sempre me chamaram mais atenção. Fico pensando o que eles fazem durante o dia... Ninguém os ouve, nem vê. Só desencantam, aliás, só cantam à noite.

Todo filme de terror tem um fundo musical de grilos. Nada simboliza mais a noite do que eles.

Continuei na janela espiando a festa noturna do quintal do vizinho. A lua fuçava o ambiente, com suas réstias, por entre as palhas de coqueiro. E graças à sua luz eu podia ver a silhueta do que havia no quintal. Um silêncio gostoso, introspectivo, que só os grilos não respeitavam. Era uma alegria danada. Que é que eles tanto conversavam? A impressão é de que havia outros personagens transitando na noite. Certamente passeavam as lagartixas, formigas, besouros, corujas... Corujas? Acho que não, elas não vivem em beira de praia.

Pensei em camundongos. Bem possível que eles estivessem por lá, assim como alguns sapos comendo muriçocas. Acho que minha simpatia pelos sapos vai além da admiração por sua calma, sua maneira tranqüila de ser. Gosto deles porque comem mosquitos e muriçocas. Perdoem-me os ecologistas, mas não consigo gostar deles... Sei que é um defeito meu, pois que para a compreensão humana evoluída não há nada inaceitável na Natureza, que é um ecossistema perfeito em que tudo tem uma função. Mas, a função das muriçocas devia se limitar a servir de alimento aos sapos, e não ficar nos rondando atrás de nos picar.

Voltando aos grilos, estes sim, são encantadores. E cantadores, claro. E tem gente que é tão estressada que se ficar ouvindo o canto de um grilo não consegue dormir... Capaz até de sair com um sapato na mão para esmagá-lo com seu estresse. O estresse é fogo, atormenta e desfigura as pessoas.

De repente eles começaram a cantar com mais volume. Seria algum amigo que chegou para a noite? Que estariam conversando? Aliás, será que nesses sibilos há algum meio de comunicação? Bem possível. Continuei na janela encantada. Mas que quintal bonito... até meio selvagem. Os poucos tratos que seus donos lhe dispensam até que lhe favorecem o aspecto silvestre. Lá em cima muitas estrelas miúdas, cujo brilho parecia também cantar como os grilos. Um canto de luz lá em cima e o dos grilos cá embaixo. Certamente esses grilos dialogavam sobre as novidades da noite, uma sapa que passava toda serelepe, ou uma esperança que lhes causava inveja com sua roupa toda verde... Os passarinhos dormiam nos coqueiros...

A lua já se afastava, o vento começou a soprar mais forte, e alguém me chamou lá dentro.

Adeus, grilos falantes! Continuem felizes. Aproveitem a vida!

sábado, maio 17, 2008

DEZ ANOS SEM "A VOZ"


Hugo Caldas

Fã incondicional de Frank Sinatra, não desejaria aqui escrever apenas uma resenha sobre a sua voz, suas músicas, seus discos seus filmes, uma enfiada de datas, etc. Prefiro contar também, algumas coisas e loisas que conheço do homem, Francis Albert Sinatra.

Frank Sinatra subiu há exatos 10 anos, dia 14 de maio de 1998, deixando um legado imenso para os admiradores da boa música e do bom cinema, na mais autêntica acepção do que seja um verdadeiro artista. Seu carisma, bem como sua voz inconfundível, lhe deram com toda a certeza um lugar de honra na história contemporânea e de quebra lhe concederam a definitiva alcunha: “The Voice”. Precisa dizer mais alguma coisa? Claro, que precisa.

- "Sou a favor de tudo que ajude a passar a noite, sejam orações, calmantes ou uma garrafa de Jack Daniel's." Frank Sinatra

Cena: Luz meio difusa de um spotlight. Canto escuro do balcão de um bar, Sinatra entre duas belíssimas mulheres, uma loira e outra ruiva, que encantadas esperam ouvir uma canção qualquer. Sinatra, segurando o copo com generosa dose de Jack Daniel's numa mão e um cigarro Camel na outra, "trenchcoat" jogada por sobre o ombro, chapéu cobrindo um pouco a testa, não diz nem canta absolutamente nada. Passa quase toda noite calado. O motivo do silêncio? Aparentemente prosaico. Um vulgar resfriado. Em se tratando do mito Sinatra, não teria sido evidentemente um mero "cold." Imaginemos "A Voz" com uma impertinente coriza, junto com calafrios, mal estar geral e elevação da temperatura. Tudo isso pode muito bem prejudicar a voz (a dele, então) e nos fazer entender o quanto "Old Blue Eyes" deveria estar de baixo astral. Nesse dia as filmagens de "Pal Joey", (Meus Dois Carinhos), com Rita Hayworth e Kim Novak foram suspensas.

- Resoluções de ano-novo? "Parar de fumar durante o banho, por exemplo." Frank Sinatra

Cena: Dia de gravação. Sinatra sentado no banquinho da orquestra de Nelson Riddle, que ataca a introdução de "How Little We Know". Sinatra entra no momento certo mas interrompe:

- "Pára, pára tudo! Eu não estou cantando! Eu estou enganando as notas!"
(Joga o cigarro ao chão e o esmaga com o pé.)
- "Não se pode enganar as notas! Temos é que cantar-las!"

A orquestra dá última forma, volta a atacar e dessa vez tudo dá certo. A gravação saiu perfeita.

- "Você deve ser gentil com animais idiotas, inclusive gatos, cachorros e repórteres da revista National Enquirer." Frank Sinatra

Cena: Ocasião marcante foi a apresentação para mais de 190 mil pessoas no Maracanã em 1980. Recorde de público. Sinatra, nesse show usou microfone dourado e recebeu dadivoso cachê de US$ 850 mil. Encantou como sempre a platéia ao vigor das suas 64 primaveras bem vividas, coroando assim, naquele instante, 40 anos de vitoriosa carreira e incontáveis sucessos, seja como cantor ou como ator consagrado, em diversos filmes.

- "É preciso tomar cuidado com as pessoas com quem você bebe. Muitos não conseguem beber sem ficar bêbados. O sujeito às vezes fica tão bêbado que eu o vejo em dobro."Frank Sinatra

Tinha Sinatra duas grandes implicâncias. A primeira era que ele temia vir ao Brasil. Uma cigana lhe havia previsto um acidente fatal. Um belo dia tomou coragem e veio. O resto é história. A segunda é que ele não gostava de cantar “Stangers In The Night” porque a considerava um hino gay. A implicância só veio terminar em 1980, nesse mesmo show do Maracanã, quando cerca de 200 mil pessoas insistentemente pediram bis.

- "Quando você sabe que um chapéu lhe cai bem? Quando ninguém ri." Frank Sinatra

Participou de filmes como, "High Society", ao lado de Bing Crosby e Grace Kelly, "Guys and Dolls" atuando com ninguém menos que Marlon Brando, "A Um Passo da Eternidade" contracenando com Ernest Borgnine, Burt Lancaster, Montgomery Clift entre outros, quando recebeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.

- "Fazer mais para ajudar o meu país é começar enviando para o presidente e ao Congresso tubos de supercola para eles escovarem os dentes."

Dizem as más línguas ter sido ele beneficiado por amizades com grandes chefes da Máfia nos EUA, (minha mãe sempre falava nas "más companhias") que o teriam financiado e permitido que ele voltasse ao estrelato após longa ausência de 10 anos. Estivera afastado por ter praticamente perdido a voz.. Nada foi comprovado. A Máfia bem que forçou a barra com o "Bandleader" Tommy Dorsey que o mantinha sob contrato lá pelos anos 40. O que persiste até os nossos dias são as estrelas na Calçada da Fama de Hollywood. Duas, como cantor e também astro da TV e cinema americanos, seus filmes, seus discos. A voz… “The Voice”...

- "Chega desse papo de "tragédia da fama". A tragédia da fama é quando ninguém aparece e você está cantando para a faxineira num botequim vazio que não recebe um cliente pagante desde o dia de São Nunca." Frank Sinatra

Ano passado, o Serviço Postal dos Estados Unidos anunciou o lançamento de um selo postal para celebrar os 10 anos da morte do grande artista. O anúncio foi feito em 12 de dezembro, dia em que ele completaria 92 anos. Sinatra cantou pela última vez em seu aniversário de 80 anos, em 1995. Nesta data um fã isolado aqui no Recife escrevia uma nota de felicitações em seu Site Oficial.

Após a sua morte, familiares encontraram entre os seus papéis a determinação para que fossem colocados em seu esquife os seguintes itens:

- Uma garrafa de Jack Daniel's (uísque horroroso de milho)
- Um maço de cigarros Camel
- Um isqueiro Zippo
- Dez moedas de 10 cents

Quem o conhecia não se surpreendeu com o material requisitado. Mas, e as tais moedas? É que desde 1963, quando seu filho foi seqüestrado, Sinatra carregava moedas no bolso. Dizia que não queria correr o risco de ser seqüestrado e não ter moedas à mão para dar um telefonema. Obviamente ainda não proliferava essa coisa de telefone celular.

- "Não me importo de ser acusado de adorar mulheres. Só não me acusem de odiar algumas delas”. Frank Sinatra

Tinha uma verdadeira obsessão por pessoas cegas, especialmente crianças. Após o funeral é que a família tomou conhecimento de que ele financiava vários hospitais espalhados pela Europa e Americas, para crianças cegas. As grandes almas são assim mesmo. Não fazem alarde do bem praticado. Sinto uma pena enorme dessa geração que não o conheceu. Que falta que ele faz! Mas convenhamos que cada um tem o Frank Sinatra que merece. O Brasil tem o seu Frank. O Frank Aguiar! Que mais queres, além de cantar mal, o homem é deputado. Eita nós!

Sinatra costumava dizer:

- "Só se vive uma vez. E da maneira que eu vivo, uma vez só basta."

hucaldas@gmail.com

quinta-feira, maio 15, 2008

Palavras de uma filha ao pai assassino.


Valdez Juval

Oh! Pai. Por que me abandonas?... Por que me bates tanto assim?... Que fiz?... Veja, sou tão pequena ainda! Muitas coisas não posso entender corretamente e se errei, quero te pedir desculpas. Gosto tanto de ti! Não me lembro de ter te desobedecido ou feito má-criação mas, se não me comportei como devia, prometo que não farei mais.

Pelo amor de Deus, pai, pare de me bater e não deixe que a tia me maltrate também...

Está doendo tanto!... Já não consigo mais respirar!...
Tudo está ficando escuro ao meu redor...
Sinto um gosto amargo na boca e um ardor grande na testa.

Oh, não!... Não apertem mais ainda!... Não me sufoquem!... Deixa te dizer, pai, como quero tanto viver! Quero ser feliz com todos. Vejam pelas minhas fotos, que nunca estou triste. É antevendo a felicidade da vida sempre ao lado de todos. Não deixem que meus irmãos percebam que estão me batendo, até parecendo quererem a minha morte!

Se me sinto sem culpa, imagino-os que são mais inocentes ainda!

Pai, já pensou no que poderá acontecer contigo e com a tia? Quem cuidará de meus irmãozinhos? Não ofereçam a eles o mesmo fim que estão querendo para mim.
Oh, Pai!... Já não agüento mais... Parem!... Parem!...
Oh, meu Deus! Perdoem, eles não sabem o que fazem.

quarta-feira, maio 14, 2008

O CAMINHO DAS PEDRAS


Tenho recebido vários pedidos para postar um "Safa Onça" ou "Caminho das Pedras" para àqueles que não conseguem deixar um comentário. Basta seguir os passos abaixo e encontrarão o pote ao pé do Arco Íris. HC

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segunda-feira, maio 12, 2008

O Mistério das Livrarias


Em qualquer país menos ignaro, um cronista como Germano Romero não precisaria de apresentações. Mas como infelizmente nem todos tiveram ainda a chance de ler suas crônicas, eis-me aqui, seu antigo leitor, fazendo a apresentação: é um intelectual sério, escritor, arquiteto, poeta, bem-humoradíssimo, super-inteligente, honesto, preocupado com sua cidade (João Pessoa), com seu estado, sua região e seu país. Não tem medo de denunciar os canalhas e mentirosos, os que arrasam o meio ambiente e os que vivem de enganar. E faz tudo isso com muita graça, alegria e aquela fina ironia da linhagem de um Eça, ou de um Erasmo. Se toda essa apresentação ainda não deu conta de seu perfil, acrescento esse dado genético: ele é filho do escritor e poeta Carlos Romero, de quem já falamos nesse blog. E como puxou ao pai! Pra nossa felicidade, vamos tê-lo nesse blog, que está ficando cada vez melhor. Graças ao esforço e à credibilidade do Hugão, esse cabra bom da peste. Carlos Mello


Germano Romero

Não há lugar em que eu entre com mais reverência e respeito do que numa livraria. Acho que até mais do que numa igreja. Sim, porque independente de crenças, os templos inspiram acatamento, sejam de qualquer religião. Afinal, assim como a beira de um mar ou de um rio, uma majestosa montanha, os altares, os santuários, tudo que convida à introspecção provoca uma grave sensação. Um hiato de paz, de lembrança das coisas eternas...

Mas, as livrarias guardam um sublime clima de mistério e respeito. Tão diferente de uma loja de carnes, um açougue, uma farmácia, ou um supermercado...

Nas livrarias a gente sente uma energia diferente. Quantos segredos estão ali guardados naqueles livros. Quanta fantasia, quantas confissões, confidências, desabafos, mentiras e sinceridades, enfim, parece que o pensamento humano está todo ali entesourado. E claro que está. A história, a ciência, a filosofia, tudo acomodado dentro daqueles volumes.

As lojas de livros são geralmente silenciosas, e as pessoas que nelas trabalham nos dão a impressão que também são afeitas à leitura. E por isso, decerto, mais educadas. As grandes e modernas são aconchegantes, têm espaços de estar, recantos de leitura, e até cafés. A gente fica sem saber por onde começar.

Transitando ao léu, por um dos corredores com livros de um lado e de outro, comecei a sentir que eles exibiam um desejo de serem vistos, tocados, puxados da prateleira. Quem sabe até uns não ficam com inveja de outros que costumam "sair" com mais freqüência. E lá vinha uma senhora graúda, toda enfeitada, com brincos e colar, o perfume chegando primeiro. Foi então que ouvi dois livros de filosofia comentaram um para o outro: "esta certamente não nos vai puxar... Vai passar direto para o café ou para a ala de culinária".

Os de religião, apesar de ficarem na mesma seção, não se questionam. Seguem à risca o conselho de que "gosto e religião não se discutem". O máximo que podem ter é algum sentimento de superioridade. Os compêndios budistas, por exemplo, devem pensar que, por serem vetustos, merecem mais respeito. Pensei escutar até a Bíblia falando ao "Tao Te Ching", apontando para o Livro dos Espíritos, de Kardec: "aquele fedelho, que tem pouco mais de cem anos, já está se julgando o tal!... E até que ele é procurado, viu?" Mas, o "Tao", que também se sente o tal, amenizou o despeito dizendo: Deixa ele... é bom que venham as novidades. Assim, nós que já temos milênios de idade, vamos sempre ver gente nova por aqui...

Dobrei a esquina e entrei na ala de literatura universal. Ali estavam Dante, Shakespeare, Goethe, Nietzsche, Thomas Mann, Dostoiewsky, todos extremamente bem vestidos. É um respeitável corredor. Quanta influência eles causaram e ainda causam à humanidade...

Mas, já era hora de sair. Acenei mentalmente para os livros, e comunguei mais uma vez com silenciosa reverência àquele espaço mágico. Tão mágico como a vida que me esperava lá fora...

sexta-feira, maio 09, 2008

NA GANGORRA: ENTRE RIOBALDO E ALINE


Breno Grisi

Confesso sentir-me nessa pendência ao ler as opiniões dos compatriotas em epígrafe, no simpático “blog do Hugão”. Para o lado de Riobaldo vou eu quando ele lastima essa BANDALHEIRA (grifo meu) em que ora vivemos neste país. Sempre existiu, dizem os “otimistas”, mas se agrava em perpetuidade, digo eu “pessimista”. Para o lado de Aline vou eu quando ela diz que não desistirá, apesar de reconhecer e concordar com várias afirmações de Riobaldo. Teve ela o cuidado de dizer que vivemos num país com “recursos APARENTEMENTE inesgotáveis”. Mas eu acho que nós brasileiros tratamos a Natureza como filho de rico que não sabe (ou nem quer saber!) o que herdou e “torra tudo”. Diz ela ainda e com razão, que a maioria do nosso povo não mata nem rouba ... mas, digo eu que, no entanto, esse mesmo povo gosta de enganar, passar por esperto, desrespeitar as leis (“Corruptissima republica, plurimae leges” = Quanto mais leis tem um país, mais corrupto ele é; Tacitus Publius Cornelius, no ano de nascimento de Cristo), atropelar os direitos do próximo, mostrar em público a precaríssima educação recebida, subornar e ... entre muitos desmazê-los, praticar sutil ou dissimuladamente preconceitos, como o social e o racial. Em termos de avaliação política não é a toa que surgiram expressões brasileiras referentes a político honesto (raríssimo): “esse é tão ruim, que nem parente ele ajuda” e a político desonesto (comuníssimo): “esse rouba mas faz”.

Mas, na minha compreensão de muitos anos vividos no ensino e pesquisa em Ecologia, no doutorado e pós-doutorado na Inglaterra e em trabalhos desenvolvidos em Universidades e Instituições de pesquisa, lá fora e aqui, em diversas regiões brasileiras, do sudeste ao norte; observando nosso comportamento comparativamente ao de povos do tal do primeiro mundo, eu reconheço que o Brasil cresce, como bem disse Aline, mas NÃO SE DESENVOLVE, como deveria e poderia. Admito ser verdadeiro o dito “se os homens só falassem do que realmente entendem, o silêncio seria insuportável”, mas me sinto mais confiante quando trato da questão homem-Natureza. Este é um bom exemplo, pois é a base do desenvolvimento sustentável em que tanto se fala e se deseja alcançar; e que deve ser praticado nesta ordem: ecológico, econômico, social. Nossa “pobre-marionete” do Ministério do Meio Ambiente não tem presença significativa no governo. Sinto mais pena dela do que revolta! Precisaríamos de espaço aqui para descrever as atrocidades cometidas contra nosso maior patrimônio (e o maior do mundo, sem medo de errar): a amazônia. O mesmo vale para os recentes desencontros da nossa política indigenista, que insiste em manter este importante segmento do nosso povo, marginalizado em “mega ou giga-zoológicos”. Sem acesso a uma imprescindível boa qualidade de vida (educação, orientação com tecnologia avançada para explotar a Natureza e gerar divisas, assistência médico-hospitalar, sanitarismo ...). E lá vivem eles praticando igualzinho ao que ocorre no resto do país: corrupção, posse de bens alheios, alcoolismo ... e até infanticídio (tradição cultural deles; omissão nossa). Pela lei, não se lhes pode imputar responsabilidades. Até quando serão considerados “incapazes”?

E à medida que delapidamos nosso maior patrimônio, perdemos a oportunidade de ganhar divisas com “créditos de carbono”, por exemplo, e a biodiversidade. Estamos sempre correndo riscos de comprometer nossos solos nobres para produzir combustíveis para veículos automotores, em detrimento de “combustível humano” (alimento), como ocorreu nos tempos do Proálcool, em que se plantou muita cana-de-açúcar na riquíssima terra-roxa-do-Paraná, para produzir álcool.

Quanto a governos, de direita, esquerda ... pendo para o lado de Aline. Importa-me mais o caráter de seus componentes. No Brasil, não é fácil ser governo. Reconheço. Mas me entristece ver distribuição de renda distorcida; banqueiros e grandes empresários pagarem imposto de renda reduzido ou sonegarem (eu o pago “na fonte”) e deverem à previdência (eu, aposentado, pago “na fonte”). E os Presidentes da nossa república? Alguém sarcasticamente mostrou a diferença nas obras dos governos anterior e atual: FHC, professor universitário aposentado com 10 anos de trabalho e sociólogo (de competência duvidosa) disse “Esqueçam o que eu escrevi” e Lula (torneiro-mecânico, nordestino batalhador preocupado com as injustiças sociais disse “Escrevam o que esquecí”.

Na gangorra, instalo-me no lado do Riobaldo. Definitivamente. Até prova convincente em contrário.

LADEIRA ACIMA

Recebi este texto com a seguinte recomendação:
"Ô Hugo, esse minino. Vê se presta mandar
esse negócio aí pro Riobaldo."
Ósculos e Amplexos
Aline

Fiz melhor, postei no Blog.
Olha aí, Riobaldo et caterva,
dessa vez a menina Aline rodou
a baiana. Confiram.
HC


Aline Alexandrino


"O problema nunca foi de esquerda e direita. O problema é que,
em qualquer regime, tem sempre meia dúzia por cima e um
porrilhão por baixo" (Millor Fernandes – A Bíblia do Caos)



Meu caro Riobaldo. Como fui citada no seu último texto do Blog, estou me sentindo à vontade para, como fazem os senadores citando o artigo 14, ter o direito de resposta. Então prepare-se que lá vem a cavalaria...

De início, concordo com você. Tá preta a coisa! Naufrágios por irresponsabilidade, com perdas de inocentes. Falcatruas intermináveis, acompanhadas da respectiva impunidade. Celebridades inconseqüentes até com sua própria sobrevivência no mercado. Aposentadorias milionárias ao lado de um salário mínimo minimorum, como a gente dizia antigamente, quando ainda se estudava Latim. Honestidade, honradez, solidariedade, e valores similares, perdidos na mediocridade reinante e acachapante. Realmente, não tá fácil. Entretanto...

Esse país é constituído por um povo que tem a vocação da sobrevivência. Sobrevivemos ao Tratado de Tordesilhas, às Capitanias Hereditárias, a todos os ditadores de plantão nestes 500 e poucos anos, e às opressões da matriz do hemisfério Norte enquanto construímos, aos trancos e barrancos, um país que é forte, pujante, com riquezas aparentemente inesgotáveis, um povo criativo, e que basicamente realmente não desiste. Deixe logo eu esclarecer: não sofro da síndrome de Pollyana. Tanto que reconheci, no começo deste palavrório, tudo aquilo de que você se queixa. Mas quem tem razão é o filósofo de Copacabana, Ibrahim Sued: os cães ladram e a caravana passa.

Eu sei que incomoda, que é chato a gente agüentar a verborragia do metalúrgico paulista-nordestino, que dói ver a situação das crianças nas ruas, da violência nas cidades e no campo, uma reforma agrária que não acontece nunca, um sistema educacional cada vez mais fragilizado, eu sei que às vezes dá vontade de desistir. De vez em quando digo que na próxima encarnação vou nascer na Finlândia, branca e loira (com direito de voltar todo ano pro Carnaval)...

Mas o Brasil é maior do que tudo isso e me recuso a entregar o ouro aos bandidos. Não posso entregar o ouro quando me lembro de Vinicius, de Elis, de Cartola, das escolas do interior de Pernambuco que, nos últimos 3 anos, ganharam o primeiro prêmio de gerenciamento escolar do país, com soluções incrivelmente criativas e pedagógicas. Não posso entregar o ouro, quando vejo que nós aqui no Blog do Hugão (grande figura!) continuamos sustentando um humor fundamental para agüentar essa vida de brasileiro, e principalmente porque tem um monte de gente pequena que está aí esperando pra participar também dessa festa. Não posso entregar o ouro, quando vejo o país crescer, apesar dos governantes, que estão cada vez mais cínicos e debochados, porque seria então admitir que eles e todos os outros que falam do país tem razão quando criticam e dizem que não temos jeito. É isto que eles querem, acabar com nossa auto-estima, com a nossa certeza da grandeza dessa nação mestiça graças a Deus, para aí sim, poderem se locupletar ainda mais, usufruir do que é de todos e ainda morrer na cama, de velhice.

Comigo não violão! Vou incomodar enquanto estiver aqui! É trabalho de formiguinha? É! Mas veja onde elas chegam e o que fazem. Nós somos muito melhores que eles e não admito estar no mesmo saco. Não sou esse tipo de farinha. Isso não quer dizer que não estou indignada, e confesso que de vez em quando faço como você: entro em deprê, digo que isso aqui não tem mais jeito, que a vaca já tem condomínio no brejo, que não é o fundo do poço porque o poço não tem fundo, e otras cositas más... Aí acordo no outro dia e vejo o sorriso de uma criança que merece ter uma vida melhor, olho pra mim e vejo que bem ou mal resisti à passagem dos anos, com dignidade, que como a grande maioria do povo brasileiro não mato, não roubo, não engano, pago as minhas contas (reclamando, é claro), sou bem humorada, tenho amigos que tem enormes qualidades, gosto de feijoada (se bem que ultimamente tenho que maneirar) e choro toda vez que ouço o Hino Nacional, especialmente se ganhamos o jogo.

Em resumo, acho que gente como nós, que ainda pensa e ama a terra em que nasceu, porque não verá nenhum país como este, está aqui pra impedir que essa canalha dominante não se sinta completamente segura à noite, quando vai tentar dormir. Já passamos por coisas piores, e não é esse bandozinho de aloprados que vai estragar a nossa festa. No meu caso, quem for ao meu enterro pode apostar que vou estar sob protesto e contra a vontade, porque quero ser formiguinha pelo maior tempo possível. Parece pouco, ou ingênuo, mas não é. Eles gostariam que entregássemos os pontos mas isso não vai acontecer. Sabe por que? Porque nós somos a maioria, pô!!! E como tudo que começa acaba, isso tudo também vai passar...

"Sou um índio do asfalto e não sei viver fora do Brasil.
Minha árvore genealógica é a mangueira"
Millor Fernandes, idem)

quarta-feira, maio 07, 2008

LADEIRA ABAIXO


Riobaldo Tatarana


No geral, não há nenhuma vantagem em ser velho. Mas como no Brasil tudo é diferente, descobri uma vantagem na minha idade provecta: não terei que aturar por muito tempo ainda a opereta tediosa em que se transformou esse belo país. E não adianta tapar os ouvidos, deitar na areia da praia que nem o João Valentão, e fingir que não é com você. As notícias chegam, pela internet, pela tv, e até pela loquacidade da D. Mira, que reproduz à sua maneira tudo que escuta nos telejornais.

Somente esta semana registraram-se:

1) o milionésimo naufrágio nos rios da Amazônia com centenas de vítimas, em navios já condenados pela Capitania dos Portos, e que trafegam tranqüilamente pra cima e pra baixo com excesso de passageiros;

2) a centésima milionésima falcatrua envolvendo funcionários públicos federais, estaduais e municipais, com direito a aparecerem algemados em primeira página de jornal, para no dia seguinte obterem ali na esquina o competente habeas corpus e irem para casa usufruir da roubalheira;

3) o centésimo escândalo envolvendo “celebridades” – como esse otário Ronaldinho, um fenômeno de obesidade e obtusidade;

4) mais uma “aposentadoria” milionária concedida a supostas vítimas da ditadura – no caso, Ziraldo e Jaguar – que jogaram no lixo tudo o que podíamos dizer de bom sobre eles.

Por tudo isso, meus amigos, tenho dito que o problema da safadeza brasileira não atinge somente nossos bolsos e nossa “imagem” (qual?!) lá fora. Atingem sobretudo nosso combalido estômago, obrigado a digerir tanta patifaria, desde o olhar fingidamente surpreso do Lula diante da sucessão de escândalos, até o olhar de vestal do FHC, tão sem-vergonha quanto seus sucessores. E haja chá de boldo, haja o carinho de minha santa mulher, haja água de coco e rede na varanda. Um dia desses vi, num desses canais tipo Discovery, uma matéria sobre uma tribo desconhecida, que mora numa ilha perdida na Oceania, um povo primitivo, que anda pelado e vive da criação de bacorinhos. Moram em choças, andam bem sujos, são feios de doer. Mas como riem, como se abraçam, como acham graça em seu próprio trabalho, em suas caçadas pela floresta, em suas crianças. Fiquei pensando comigo: esses caras são incomparavelmente mais felizes do que nós. Eles não têm tv nem internet, nem planos de saúde ou de aposentadoria. Mas também não têm lulas nem efe-agá-cês, nem ziraldos nem jaguares, devem portanto possuir um trato gastro-intestinal de primeira ordem.

Quem leu Os Maias – parece que ainda há uns dois ou três velhinhos, contando comigo, que ainda lêem Eça de Queirós - deve lembrar do desabafo do Carlos da Maia diante da fofocagem reles de Lisboa: “a mim, está a apetecer-me uma cubata na África”. Um outro companheiro, já falecido, antes de ir embora declarou aos amigos que tinha um sonho: vender amendoim torrado em Port-au-Prince. Porque esse é o único sentimento que nos resta, ir embora, ainda que seja para uma cubata no centro da África, ou para a miséria haitiana, por absoluta incompatibilidade entre nosso estômago e o que se passa diante dos nossos olhos. Por que será que ficamos tão safados? Que fenômeno antropológico e sociológico é esse, de uma nação que de repente perde a vergonha na cara, joga o pudor no lixo, e exibe-se de calcinhas sujas diante do mundo? Como chamaríamos essa epidemia? Síndrome do deputado?

Nosso desaparecido Lalau tinha uma expressão excelente para significar algo que ultrapassava os limites da safadeza: “é de encabular senador”. Isso, num tempo em que ainda havia tanta gente de caráter, tanto intelectual sério, de esquerda e de direita, havia um Tristão de Ataíde e um Gustavo Corção, um Carlos Prestes e um Brigadeiro Eduardo Gomes ou um Teixeira Lott. Você podia não concordar com o que eles diziam, mas não tinha como acusá-los de falta de honradez. Tristão e Corção, homens de vastíssima cultura e inteligência, passaram anos brigados por um desacordo puramente intelectual, tal a seriedade com que encaravam suas convicções. No final, fizeram as pazes, Tristão teve a grandeza de dirigir-se à casa do desafeto e pedir-lhe perdão, e o velho reacionário, sem conter as lágrimas, limitou-se a beijar-lhe as mãos. Dois gigantes de dignidade, uma espécie em acelerada extinção no país. Prestes, o Brigadeiro e Lott terminaram quase pobres, porque “contentaram-se com seu soldo”, como manda a Palavra de Deus.

Repito a dúvida camoniana: será que no assento etéreo para onde subiram esses grandes compatriotas, se consente alguma memória dessa vida? Não sei. Mas sei que Deus é bom, o amor é a qualidade que define o Todo-Poderoso. E por isso mesmo, creio que Ele não consente a esses homens e a muitos outros homens e mulheres da memória nacional para sempre passada – que tenham acesso ao Brasil de hoje. Pois como não podem morrer novamente, certamente sofreriam muito ao ver o que estamos vendo. Ó companheiros do blog, vocês que são sábios, o Grisi que nos brinda com seus doutos ensinamentos, a Aline, que não suporta safados nem safadezas, o Valdez, que foi juiz e é homem inatacável, o próprio dono do pedaço, esse Hugo que continua a indignar-se com o que vê, ajudem-me! Digam-me que estou enganado, que ao menos sobramos nós e mais uns três gatos pingados, que as novas gerações serão diferentes. Ajudem esse velhinho a terminar seus dias sem tanta amargura. E se tiverem algum bom remédio pro estômago, forneçam-me, por favor, o nome.

domingo, maio 04, 2008

Queridos Amigos



Hugo Caldas


Antes de qualquer coisa, Data Maxima Venia Senhora Dona Maria Adelaide Amaral, por descaradamente usurpar o título da vossa interessantíssima minissérie. Belo trabalho que prende a atenção de todos. Quem não viveu a época? Quem não passou por aquilo tudo? Quem não teve também os seus queridos amigos e com eles se reunia para, em noitadas memoráveis, encher a cara de chope, meter o pau na ditadura e voltar para casa puxando fogo, certos de que o governo cairia no dia seguinte? Quem não se viu retratado ali? Ah, quem não sofreu, teve amigo ou parente que passou por algo parecido? A nossa realidade era aquela mesma. Ou muito semelhante. Aqueles não foram anos de cólera, foram anos de uma lepra que se alastrava e corroía este sofrido país de norte a sul. Pelo pouco que conseguí assistir da minissérie, devido à inconveniência do horário - o velho dormia à sono solto - me emocionaram principalmente as cenas reais do retorno dos exilados, mixadas com cenas feitas agora. Eu estava ali. No dia da volta de Prestes, Gregório Bezerra, Miguel Arrais e mais uma porção de gente que havia sumido no rabo de um foguete. Já relatei o episódio no Recuerdo de número 12.

Queridos Amigos, passamos por tudo aquilo juntos. Hoje infelizmente, estamos dispersos. Somente nos encontramos em eventos absolutamente especiais, como enterros, batizados, aniversários de antigos companheiros, hoje, muito bem comportados, diga-se de passagem. Quando os reencontro, o "Sinal Fechado", de Paulinho da Viola fica a martelar a cabeça. Não nos vemos com a mesma freqüência. Nos dispersamos, a despeito de tudo. A despeito do pedido do Dr. Tancredo Neves logo após a derrota da emenda das "Diretas Já". O país hoje está, pobre coitado, caminhando no perigoso terreno da galhofa, tudo muito surreal. De alto a baixo. Eu é que continuo o mesmo. O mesmo ingênuo, o mesmo naïf ou seja lá o que queiram entender sobre a minha modestíssima pessoa.

Queridos Amigos, se estávamos juntos durante os anos de chumbo vamos concordar que não poderia ter sido de outra maneira. Odiávamos aquele estado de coisas. Toda aquela exceção. Todo aquele arbítrio, as liberdades indo pelo ralo.

Mal comparando...

Queridos Amigos, lembram o Timoneiro Mao e o General Chiang-Kay Sheck? Pois é, viviam se engalfinhando nos anos 30, até que um inimigo comum muito mais poderoso, fez com que os antagonistas, inimigos figadais, juntassem forças, lutassem contra o japonês invasor e o expulsasse. Ato contínuo voltaram a se guerrear. Para mim, que nunca entendí muito bem dessa tal de dialética era esse o pensamento, era essa a idéia. A de juntar forças, naturalmente. O que não quer dizer em absoluto que eu chegasse a rezar pela mesma cartilha. O meu pai sempre dizia que nunca a esquerda iria ser implantada no país. Não pela via da revolução, pois se a revolta caísse num fim de semana ou no carnaval ninguém iria. O meu pai tinha razão. A esquerda chegou ao poder pela via democrática. Deu no que deu!

Queridos Amigos, a Alemanha, que eu saiba, pagou à Israel pelos seis milhões de judeus mortos na Segunda Guerra Mundial, 5 bilhões de dólares. Aqui em Pindorama, a farra com o dinheiro público já pagou quase 2 bilhões de dólares, para as "vítimas e os heróis da resistência". Dinheiro, que se sabe, desviado da saúde, da educação, do saneamento básico, da segurança pública. Enquanto isso haja violência, haja dengue. Milhares de pessoas, esperando a morte, que pode ocorrer por falta dos medicamentos mais simples, até esparadrapo e mercurocromo, para não falar em falta de radioterapia. Enquanto isso os corruptos de hoje e sempre, roubam o dinheiro que é meu, seu, nosso, etc.

Queridos Amigos, coisas muito estranhas começaram a acontecer e custo a crer que aqueles que lutaram à época, estariam agora esperando a ocasião propícia para "se arrumar". Investimento nas horas más para colher frutos nada saudáveis no futuro? Será possível mesmo? Não, não quero acreditar nisso. Mas infelizmente as evidências estão aí para qualquer um constatar. A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça ignora qualquer crítica à forma utilizada de conceder indenizações a supostos prejudicados pela repressão da ditadura, e volta a distribuir o dinheiro do contribuinte. Ninguém diz nada? Parece que o país está anestesiado, somos o país da mentira. Estamos no melhor dos mundos, é isso?

Queridos Amigos, o Ziraldo e o Jaguar foram brindados cada um com UM MILHÃO DE REAIS além de uma conveniente aposentadoria mensal de cerca de OITO MIL REAIS.Tudo por danos causados pela Redentora. Eles nunca sofreram nada mais contundente do que "uma famosa gripe" que assolou a redação do "O Pasquim". Ao ser perguntado se teria sido torturado na prisão o Paulo Francis declarou afirmativamente:

"O carcereiro ouvia Wanderleia o dia inteiro com o radio nas alturas".
O episódio bem demonstra como ele e o grupo levaram à sério a tão alegada prisão. Aliás, o que diria hoje o famoso "Lobo Hidrófobo" se vivo fosse? Existe ainda uma récua de outros "injustiçados" que estão dando entrada na Comissão de Justiça para o recebimento de suas sinecuras institucionalizadas.

Queridos Amigos, eu também fui preso, está relatado no Recuerdo 7, de 11 da manhã de um dia até 3 horas da madrugada do dia seguinte. Isolado. Confundido com um perigoso terrorista argentino - epa - a família sem saber de nada pois me foi proibido usar o telefone. No trabalho ninguém tinha a menor idéia do que acontecia comigo. Me comportei, apesar do arbítrio, condignamente. Acho que foi aí que eu errei. Durante o interrogatório paranóico, onde só o fulano lá berrava, eu bem que deveria ter pelo menos dado um pontapé nas canelas do general. Se não tivessem desaparecido comigo eu teria ficado um bom tempo em cana o que me daria evidentemente o direito de hoje pleitear a minha Bolsa Ditadura para muito espertamente receber o meu.

Queridos Amigos, no mais é repetir o Barão de Itararé... ou terá sido o Stanislaw Ponte Preta?....

"Ou todos nos locupletamos ou restaure-se a moralidade"

hucaldas@gmail.com

sexta-feira, maio 02, 2008

Lições de sabedoria


Carlos C. de Melllo

“O essencial é invisível para os olhos”. Quem lembra dessa frase? Está no O "Pequeno Príncipe," livro que encantou algumas gerações do século passado, e que hoje é tido por muitos como cafonice e antigualha. Mas eu não receio ser tomado por antigo – na verdade sou-o – nem cafona – pois não ligo para preconceitos e estigmas de mentes tacanhas. Hoje os que se acham donos do mundo demonstram uma rejeição cada vez mais forte às coisas do espírito – das obras de arte aos textos sagrados. Já o grande poeta Jorge de Lima lamentava em suas Memórias “esse desprezo que votam certos graúdos e burros de hoje pelos poetas. Poetas vivendo em mundos de lua não servem pra capitalizações, negócios e sordícias, dirão que poetas são desprezíveis”.

Verifique você mesmo: pegue o jornal de hoje e veja como o espaço “nobre” é dedicado preferencialmente aos fatos políticos e econômicos (geralmente roubalheiras e traições), aos esportes (sobretudo o lado negativo da violência) e às ocorrências policiais, cada vez mais tenebrosas. Há uma curiosidade mórbida no ar, alimentada sinistramente pela televisão. Sobra pouco espaço para quem anda em busca de algo que eleve o espírito, areje a mente e proporcione algum alento à difícil caminhada nesse deserto de homens e idéias em que vai se transformando o mundo, e com ele nosso país.

Essas reflexões me ocorreram hoje com mais vigor, após a leitura do livro de crônicas "Lições de Viver", do escritor paraibano Carlos Romero. Faço desde já um desafio a qualquer futuro leitor desse livro: leia a primeira crônica e experimente parar. Aposto que não conseguirá. Porque o texto do Carlos é um delicioso biscoito fino, a gente experimenta e fica com aquele gosto de “quero mais”. São 60 crônicas, breves, leves como a brisa marinha que sopra sobre o Cabo Branco, residência privilegiada desse artista sensível, encantado com as coisas simples e maravilhosas que o Criador distribui em profusão pela terra.

A bendita curiosidade de Carlos pelo sol, pela chuva, pelas borboletas e passarinhos é um colírio, que abre nossos olhos para tanta coisa maravilhosa, que preferimos não ver, que trocamos irresponsavelmente pelas cenas de violência, pelo corre-corre, pela pressa amalucada do mundo. Por isso, esse cantor do cotidiano lamenta “os sem curiosidade, que olham as belezas da vida com muita indiferença, que passam sem ver as flores de um jardim, o azul de um céu, o verde das ondas do mar, uma lua solta entre as nuvens”.

Mas Carlos não se limita ao olhar emocionado e agradecido. Dessas coisas aparentemente sem importância, ele retira, com sua larga experiência, sua profunda cultura e sua inteligência privilegiada, lições de vida que encantam pelo bom senso e pela simplicidade. Quantos aproveitarão delas para sua vida? Quantos pararão para refletir sobre o que fazem e sobre o que deixam de fazer? Quantas vezes você, leitor, deixou de olhar para o mar azul à sua frente, porque estava de olhos fitos no relógio? Quantas vezes ficou surdo ao canto de um passarinho, por ter a audição bloqueada pelo celular? Quantas vezes trocou a conversa estéril na agitação do bar por uma lenta caminhada entre as árvores?

Só lhes digo isso: leiam o livro. Deixem-se penetrar por esse canto suave, cheio de doçura e sabedoria. Talvez ainda haja tempo para uma correção de rumo, antes do enfarte ou da depressão. Talvez você possa inverter essa equação mortífera do ter sobre o ser, da posse de bens materiais dos quais muitas vezes sequer usufruímos por falta de tempo, pela fruição daqueles bens sem dono e sem preço, que estão à sua disposição de manhã à noite. Porque, como diz o filósofo Thich Nhat Hann, citado por Carlos na última crônica do livro, “está morto quem não se conscientiza do momento que está vivendo.” Está mais do que na hora de pensar nisso.