sábado, abril 30, 2011

Um Conto de Fadas Hodierno

Hugo Caldas

Ao ser defenestrado do poder em 1952 por um grupo de jovens militares pertencentes à sociedade secreta denominada "Oficiais Livres", dirigida por Gamal Abdel Nasser, o Rei Faruk do Egito, injuriadíssimo, deitou a seguinte falação:

- "No fim deste século somente existirão cinco reis no mundo. Os quatro do baralho e o da Inglaterra".

Como se pode constatar Sua ex-Majestade errou nos cálculos. No mundo hoje, existem as seguintes monarquias: Reino Unido, Suécia, Noruega, Dinamarca, Japão, Espanha, Bélgica, Liechtenstein, Luxemburgo, Mônaco, Holanda etc. Contando ainda com: Vaticano, Andorra, Camboja, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Malásia e Suazilândia. Todas elas vão muito bem, obrigado.

A Monarquia é um regime político onde o Rei, geralmente de forma hereditária, é reconhecido como chefe do Estado. O Rei tem por ofício, sobretudo, o de reger e coordenar a administração do Estado com vistas ao bem comum, além de promover a harmonia social.

Tudo isso vem à propósito do "Casamento do Século" do Príncipe William da Inglaterra e Kate Middleton dora em diante denominada Princesa Katherine de Gales e mais um monte de outros títulos. Para nós, pobres tupiniquins de aquém-mar, foi um Deus-nos-acuda. O maior frenesi, todo mundo acordando cedo, conheço gente que até abdicou da caminhada na praia, para ficar grudada na tela da tv esperando, ó suprema felicidade, o vestido da noiva. Aliás, o que os programas de televisão, todos eles, discutiram sobre vestidos, bolsas, chapéus, não caberia no livro Guinness dos Recordes. Porém o item vencedor dos comentários foi o beijo. Muita gente reclamou do "selinho". Queriam o que, um desentupidor de pias? Não seria o local nem a hora. As academias promoveram a instalação de aparelhos de televisão para que os seus "atletas" assistissem ao casamento real sem sair das esteiras rolantes. Outros viram a solenidade pela televisão dos bares e padarias abertos a essa hora. O nosso fuso horário nos dá um atraso de 4 horas em relação aos ingleses. Nem por isso o espetáculo deixou de ter audiência aqui em Pindorama. Todos, absolutamente todos os canais de TV, transmitiam o evento urbe et orbe.

Tudo realmente muito bonito, como "num conto de fadas", frase mais ouvida durante todo o dia. Tudo muito bem orquestrado. Britanicamente. Coisa feita por inglês para inglês ver. Eles adoram. Faz parte da sua tradição. Todo aquele povo nas ruas com bandeirinhas, a saudar a nobreza, muitas flores, muitos cartazes, crianças carregando pequenos balões em forma de coração e tudo mais. Houve alguém que ditou certa vez: "inglês só existe em divã de psicanalista". Não sei, mas não me surpreendeu nem um pouco, constatar que o cerimonial escalou antigos aviões da Batalha da Inglaterra, na Segunda Guerra Mundial, para sobrevoar com toda a pompa e circunstância o céu de Londres. Alguém mais imaginaria um feito de tal natureza? Só inglês mesmo.

Inglês faz tudo certinho, seja o que for, à tempo e à hora. Principalmente à hora. Na década de sessenta conheci um austríaco que lutou ao lado dos alemães na África. Dizia ele que os ingleses mandavam uma primeira saraivada de balas de canhão. Poucas acertavam. Então paravam, passavam mais ou menos uma hora refazendo os cálculos e mandavam outra canhonada que atingia 99,9% dos alvos. Era o terror dos tedescos.

Voltando ao entusiasmo delirante, ao arrebatamento nativo verde e amarelo, fico deveras impressionado, pois tudo isso vem de certa forma corroborar que nós, brasileiros, vivemos ainda com o Rei na mente e no coração, para não usar a desgastada e demodé expressão no "inconsciente coletivo". Para nós, Rei é sinônimo de excelência, coisa boa, ou como diz a malta, tudo de bom. É Rei dos Parafusos pra aqui, Rei dos Galetos pra lá... acho que Freud explica. Explica mesmo? Então como justificar a derrubada do Rei no último plebiscito? Muito provável por falta de educação e de informação. A seguir, uma história bem catita acontecida no ano da graça de 1992. Desempenhava o locutor que vos fala a condição de franqueado de uma autarquia do governo da qual não citarei o nome e muito menos o santo protagonista do causo. Eram tempos de plebiscito e um dos itens a ser votado era se a monarquia deveria ser restaurada no país.

Na sucursal a qual eu me reportava havia um crioulo (sem ofensas, patrulheiros) que era a alegria personificada. O Negão era a maior simpatia. Vivia sorrindo, trabalhando ou não. Eis senão quando, de uma hora para outra, Dorival (nome fictício) começou a definhar, entristecer a cada novo dia. Emagrecera a olhos vistos. Indaguei a razão do fato inusitado. Contaram-me que seus colegas, para tirar um sarro com a cara dele inventaram que se a monarquia fosse restabelecida a escravidão iria voltar, mas que ele não desesperasse pois os seus amigos, iriam fazer uma vaquinha para comprá-lo de volta. E o pobre do Dorival acreditou!

Mas, voltemos ao real evento. Deve ter sido mesmo um dia memorável para os nubentes, malgré já terem morado juntos por oito anos. Separaram-se e voltaram, casaram e serão felizes para todo o sempre como todo conto de fadas que se preze. Seguramente que gostaria de ter estado em Londres ontem. Não especificamente pelo casório, mas principalmente para ter a chance de ver os velhos e belos Lancasters, Spitfires e De Havillands voando novamente, riscando os céus da Inglaterra.

Vida longa aos noivos.

Bonito por quê?

José Virgolino de Alencar

Censo 2011: 60 mil casais gay com união estável


A apresentadora Leilane Neubarth, ao comentar a estatística acima, relativa aos casais gays, bradou com excesso de alegria: "que coisa bonita".

Não me venham com essa besteirada de homofobia sobre o que quero perguntar, no estrito direito de expressar minha opinião, que não tem nada de delituosa: bonito por quê?

Então, o restante dos casais heterossexuais é uma coisa feia?

FRASE DO DIA

"Vamos votar logo a volta de Delúbio ao partido que com o casamento real, amanhã o assunto só renderá notinhas nos jornais."

Senadora Marta Suplicy (PT-SP), antes da aprovação pelo Diretório Nacional do PT da refiliação de Delúbio Soares ao partido

Sinal dos Tempos.

J. P. Fontoura

Estamos presenciando um surto de manifestações de desagravo proliferando na mídia, que são, no mínimo, estranhos... ...Pois me causam estranheza quando desagravam: Lula, Dilma, José de Alencar, Collor, Sarney, Aécio Neves, Tarso Genro, Bolsonaro, agora Cabral... ...E as perdas materiais e morais que seguimentos da sociedade sofrem pelas ações desses agentes públicos? Quem os agravará?

Onde fica a dignidade da sociedade presenciando a extemporaneidade metafísica dessa pregação? Em que adiantará, no "vago do Tempo e do Espaço", dizerem impropriedades, sabendo que, nesse mesmo tempo, muitos desses, agora desagravados, cometiam ou cometem seus crimes?... Por que viram as costas à “verdade”, que jaz copiosamente profanada?...

Poucas pessoas, “do bem” ou que se dizem do bem, ignoram quem essas personagens, realmente, são no contexto político. Como supor que a Imprensa e seus Agentes os ignore, pois que não são idiotas... ...ou são? A lógica desse procedimento me leva crer que agem dessa forma conscientemente!

Do Blog J. P. Fontoura - O Portal:

O FINO DA HIPOCRISIA


Carlos Mello

Campanha publicitária do Citibank espalhada pela cidade de São Paulo através de Outdoors:

"Crie filhos em vez de herdeiros."
"Dinheiro só chama dinheiro, não chama para um cineminha, nem para tomar um sorvete."
"Não deixe que o trabalho sobre sua mesa tampe a vista da janela."
"Não é justo fazer declarações anuais ao Fisco e nenhuma para quem você ama."
"Para cada almoço de negócios, faça um jantar à luz de velas."
"Por que as semanas demoram tanto e os anos passam tão rapidinho?"
"Quantas reuniões foram mesmo esta semana? Reúna os amigos."
"Trabalhe, trabalhe, trabalhe. Mas não se esqueça, vírgulas significam pausas..."
"...e quem sabe assim você seja promovido a melhor ( amigo / pai / mãe / filho / filha / namorada / namorado / marido / esposa / irmão / irmã.. etc.) do mundo!"
"Você pode dar uma festa sem dinheiro. Mas não sem amigos."

E para terminar:

"Não eduque seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz. Assim, ele saberá o valor das coisas e não o seu preço."

sexta-feira, abril 29, 2011

Educar é preciso

Leda Nagle, Jornal O Dia on line

Já não sei mais se estou ficando uma velha rabugenta ou se as pessoas estão ficando completamente sem noção. Começo a ler os jornais de manhã e as histórias que vejo me levam a crer que o mundo está de cabeça pra baixo — e não estou falando só do absurdo que aconteceu em Realengo. No Rio Grande do Sul, um professor deu um tapa na cara de uma aluna. No Rio, uma professora, que não conseguia silêncio na sala, ameaçou os alunos com a seguinte pérola: “Se vocês não ficarem quietas, eu tiro minha AR-15 da bolsa”.

No interior de São Paulo, um motorista de transporte escolar se irritou com dois meninos de 8 anos, que brigavam dentro da van, parou o veículo e deixou os garotos na beira da estrada. Eles foram obrigados a andar três quilômetros a pé para chegar em casa. E, como a falta de noção começa cedo e não faz distinção de classe, numa escola classe A, da Zona Sul do Rio, uma menina de 6 anos fica entediada durante uma aula e fala para a coleguinha ao lado: “Queria que esta tia morresse”. A coleguinha ouviu e decidiu que, se a menina não desse a ela o lápis importado que usava, contaria tudo pra tia. No dia seguinte, a mãe da autora da frase foi ao colégio com a filha, fez a menina pedir desculpas à tia e recuperou o lápis. Noutro ponto da cidade, um garoto ameaçou uma coleguinha com faca de cozinha em plena sala de aula.

Alguma coisa muito esquisita está acontecendo com a educação que estamos dando às nossas crianças. E não falo da educação formal, das aulas de Português, História e Geografia. Falo de valores mesmo, que vêm de outra forma de educação, da formação da cidadania. É claro que isto se aprende na escola também, mas se aprende, principalmente, em casa, com exemplos, conversas e amor. E com limites. Dizer não dá muito mais trabalho do que dizer sim, mas a vida real é cheia de nãos e é preciso aprender a lidar com eles.

E chega desta história que tudo acontece por causa do bullying, que, aliás, no meu tempo de colégio, chamava encheção de saco. Apelidos como ‘rolha de poço’ e ‘baleia’ para os mais gordos, ‘Dumbo’ para os orelhudos e ‘Olivia Palito’ pras muito magras sempre existiram e duvido que parem de acontecer porque é bullying. Claro que não é educado, que devem ser combatidos, discutidos e explicados, mas não podem justificar chacinas e perversidades.

Não é tão simples assim. Do contrário, nenhum de nós teria sobrevivido aos tempos de colégio. Todos os ‘pelas’ daquela época teriam se transformado em assassinos.

Chega também de ficar mostrando o dia inteiro os vídeos deste assassino monstruoso, de dar a ele a condição de galã do mal.

Vamos prestar atenção nas nossas crianças, conversar com elas, dar bons exemplos, ensinar a fazer o bem, dizer não quando for o caso. Em nome do futuro, por uma sociedade melhor, por amor e pelo amor, sem medo e sem culpa.

Leda Nagle é jornalista, escritora e apresenta na TV o ‘Sem Censura’

Arnaldo Jabor

Natureza está se casando com os instintos de morte dos homens.


O HUMOR E O PODER

José Virgolino de Alencar

Acho interessante a reação dos apaixonados lulistas ante as críticas que se faz ao presidente da República e ao PT. Não tendo argumentos para rebater a crítica, lá vêm eles afirmando que o crítico vai morrer de raiva e, querendo ser gaiatos, terminam suas besteiradas com uma orkutiana série de rs’s significando risos.

Ora, os ilustres aparentemente risonhos áulicos do poder precisam saber que, em época nenhuma, em lugar nenhum do mundo, há humor a favor, não existe humor do poder sobre os opositores. Quando tentam fazer graça a favor, geram mesmo é um sorriso amarelado, nada engraçado.

Por outro lado, no mundo inteiro, quando se abre páginas de humor, e são muitas, encontra-se motivo para rir dos poderosos, porque os verdadeiros humoristas são habilidosos observadores da eterna ópera bufonídea encenada pelos donos e vassalos do poder.

Esse riso faz bem à vida, à saúde, às idéias, ao pensamento, à criatividade. Ideal não mata e nem tira o humor de ninguém. O que tira o humor de certas pessoas são as suas próprias alopradas trapalhices, quando se incluem nas troupes que se aboletam nos palácios e perdem totalmente a noção da realidade. Quando flagrados na parlapatice e vêem exibidas as ridicularias, aí sim, eles perdem o humor, perdem a esportiva, partem para a agressão e ficam fuçando à procura de fatos que desqualifiquem o crítico/humorista.

E não é só o humor puro que tira do sério os poderosos. A palavra, mesmo sem intenção de fazer graça, ao contrário, procurando mostrar fatos e verdades, também arrasa o humor dos totalitaristas, autocráticos, ditadores, imperadores e assemelhados.

Não consta que Brecht morreu de raiva ao, com sua palavra certeira, abalar os alicerces do III Reich. Quem deve ter implodido de ódio foi o ditador Adolf Hitler.

Aqui no Brasil, quem ajudou a defenestrar Getúlio do aparentemente inabalável Estado Novo foi a palavra incisiva e verdadeira do paraibano José Américo de Almeida, numa entrevista ao então jornalista Carlos Lacerda.
Getúlio Vargas, que anos depois voltou ao poder, populista, pai dos pobres e mãe dos ricos, deu um tiro no coração, certamente não pelo bom humor do poder, mas as bem humoradas críticas dos jornais e escribas da época definitivamente destruíram sua vontade de rir. E até de viver.

Tomás Antônio Gonzaga, com seu cáustico humor em cima do Fanfarrão Minésio, não matou de raiva, mas chegou perto, o governador Luís da Cunha Menezes, a quem ridicularizou de modo desconcertante, em suas Cartas Chilenas, que é matéria-prima de nossa literatura.

Na atualidade, humoristas como Zé Simão, Marcelo Tass, Jô Soares, Millôr Fernandes, Marcelo Lyra, com o fino traço do humor inteligente, humor entremeado com um ideal de pensador e não pura gaiatice despropositada, têm, com certeza, estragado a alegria de muitos vassalos que nessa hora não aparecem com seus paupérrimos rs’s.

Enfim, o riso do poder é o riso da hiena, é o sarcasmo que não se peja de vomitar seu escárnio sobre uma situação político-social que, no Brasil atual, joga na exclusão uma massa enorme de gente sofrida.

E isso não tem graça nenhuma.

Artigo publicado em maio/2009, no Blog da Maria Helena, na seção “Olhem o que achei lá na gaveta”, tendo sido a minha estreia no citado Blog. Republico agora, por estar bem atual a dualidade humor x poder.

quinta-feira, abril 28, 2011

Túnel que une Paraíba ao Ceará desabou


Carmen Pompeu


O Estado de S. Paulo

Parte do túnel Cuncas I, que integra as obras da transposição do Rio São Francisco, desabou. O túnel foi uma das últimas obras visitadas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Nordeste antes de sair da Presidência da República. O acidente ocorreu na última quinta-feira, 21, mas só foi revelado agora.

Lula durante visita às obras, em dezembro do ano passado

Com 15 quilômetros de extensão, o túnel liga os municípios de Mauriti (CE) e São José de Piranhas (PB). De acordo com operários que trabalham no local, parte do teto ruiu. Os construtores tentavam abafar o caso e, segundo o jornalista Alex Gonçalves, do Radar Sertanejo, fiscais não permitiram a entrada de jornalistas no local.

Um operário contou que os trabalhadores ouviram um barulho e saíram correndo de dentro do túnel. Minutos depois, um bloco de pedras desabou em cima de algumas máquinas. Os operários reclamam da falta de segurança na obra. No fim da tarde dessa quinta-feira, 27, a assessoria de imprensa do Ministério da Integração Nacional informou, em nota, que o deslizamento de solo na entrada do túnel ocorreu devido à “consistência não uniforme do solo encontrado naquele ponto”.

O Blog inicia com esta matéria A série "Eu Sabia que essa Bomba iria estourar na minha mão".

quarta-feira, abril 27, 2011

Campanha pela Reforma Tributária e Financeira no Brasil, já!


DIFERENÇA ENTRE “POUPAR” R$100,00 E “DEVER” R$100,00

QUE PAÍS É ESSE ?

SAIBA A DIFERENÇA ENTRE POUPAR 100 REAIS E DEVER 100 REAIS PELO MESMO TEMPO, NO ATUAL SISTEMA TRIBUTÁRIO E FINANCEIRO NO BRASIL.

Se um correntista tivesse depositado R$ 100,00 (Cem Reais) na poupança em qualquer banco, no dia 1º de julho de 1994 (data de lançamento do Real), teria hoje na conta a FANTÁSTICA QUANTIA de R$ 374,00 (Trezentos e Setenta e Quatro Reais).

Se esse mesmo correntista tivesse sacado R$ 100,00 (Cem Reais) no Cheque Especial, na mesma data, teria hoje uma pequena dívida de R$139.259,00 (Cento e Trinta e Nove Mil e Duzentos Cinqüenta e Nove Reais), no mesmo banco.

Ou seja: com R$ 100,00 do Cheque Especial, ele ficaria devendo 9 Carros Populares, e com o da poupança, conseguiria comprar apenas 3 pneus.

Não é à toa que o Bradesco teve quase R$2.000.000.000 (Dois Bilhões de Reais) de lucro liquido somente no 1º semestre, seguido de perto do Itaú e etc…

Dá para comprar um outro banco por semestre!

E os juros exorbitantes dos cartões de crédito?

VISA cobra 10,40 % ao mês

CREDICARD cobra 11,40 % ao mês.


Em contrapartida a POUPANÇA oferece 0,62 % ao mês.


Do Blog Ne Quid Nimis...

O Brasil Anedótico

Joaquim Manuel de Macedo

Franqueza e Prudência (1)

Professor das princesas, filhas de Pedro II, Joaquim Manuel de Macedo, o célebre romancista de A Moreninha, desempenhava o seu mandato de deputado geral, quando o conselheiro Francisco José Furtado, organizador do gabinete Liberal de 31 de agosto de 1864, o convidou para a pasta dos Estrangeiros.

Recusada a honra, mandou o Imperador chamar o escritor à sua presença, e indagou o motivo do seu gesto, quando possuía tantas qualidades para ser um bom ministro.

- Admita-se que eu tenha as qualidades que Vossa Majestade me atribui, - respondeu Macedo: - mas eu não sou rico, requisito indispensável a um ministro que queira ser independente.

E decidido:

- Eu não quero sair do Ministério endividado ou ladrão!

(1) Salvador de Mendonça - Artigo n'O Imparcial - 1913

O MAESTRO INDEXADO

Rubens Nóbrega

Jornal da Paraíba - 26.04.2011

O professor e jornalista Arael Menezes tevê o privilégio de conhecer o Maestro Joaquim Pereira, aquele que por lei deveria ser nome de escola em João Pessoa, mas não é porque o prefeito Luciano Agra não quer.

A propósito dessa inexplicável indexação (ou nem tanto?), Arael lembra Damásio Franca. O ex-prefeito da Capital dizia que a Paraíba, especialmente João Pessoa, “é profundamente ingrata com os seus filhos, muitas vezes até procurando desvanecê-los, quando brilham em outros pagos.

“Vez por outra se torna uma realidade maior, como é o caso levantado em sua coluna, verberando o esquecimento do maestro Joaquim Pereira, figura impar no cenário musical da Paraíba anterior aos anos 70, do século passado, junto com outros nomes como Rino Visanni, Olegário Mororó, Severino Araujo, Tenente Lucena e Nozinho (desculpe pelo apelido, pois a memória me traiu) complementa.

Arael conheceu Joaquim Pereira ( ao tempo em que ele comandava como Mestre (este o título oficial) a Banda de Música do 15º Regimento de Infantaria (hoje 15º Batalhão de Infantaria Vidal de Negreiros). O professor também conviveu com os filhos do maestro, dentre os quais Josil, “que se fez cantor de radio, com destaque nos programas de auditório da Rádio Tabajara.

O professor recorda ainda que pouco antes de se incorporar ao Exército, como conscrito cumprindo serviço militar, assistiu às despedidas do maestro promovido a um posto superior na sua carreira no Exército, foi feito Mestre da Banda da Academia Militar do Exército, em Agulhas Negras, para onde se mudou com a família.

“Vale lembrar também que ele foi um dos primeiros residentes do Jardim Miramar, para onde regressou quando aposentado (reformado) e onde recebia homenagens especiais de seus ex-conduzidos na Banda do 15º RI, que faziam uma alvorada, com retreta, em sua porta em todos os aniversários”, revela Arael.

Na coluna sobre o Maestro Joaquim Pereira, publicada na quarta-feira (20), esqueci de dizer que ele saiu ao pai: aos oito anos, lá em Caiçara, já era marceneiro dos bons e músico dos melhores, tal e qual seu José de Oliveira e Silva, que também atendia pelo nome de José Faustino.

Faltou dizer também que Joaquim Pereira jamais tocou ‘forró de plástico’. Nem formou dupla sertaneja com seu ninguém, o que torna ainda mais estranho o veto ao seu nome por esse que é uma das pétalas mais vividas da Republica dos Girassóis.

Que venha o referendo!


Do Blog Ponto & Vírgula


Política e outros temas polêmicos - 26 de abril de 2011

Uma carta do leitor Gil Cordeiro Dias Ferreira, na seção de cartas dos leitores no 'O Globo' nesta semana traduz o pensamento de muita gente sobre o referendo proposto pelo senador José Sarney, presidente do Senado Federal, sobre o desarmamento.

Que venha o novo referendo pelo desarmamento. Votarei NÃO, como da primeira vez, e quantas forem necessárias. Até que os Governos Federal, Estaduais e Municipais, cada qual em sua competência, revoguem as leis que protegem bandidos, desarmem-nos, prendam-nos, invistam nos sistemas penitenciários, impeçam a entrada ilegal de armas no País e entendam de uma vez por todas que não lhe cabe desarmar cidadãos de bem.

Nesse ínterim, proponho que outras questões sejam inseridas no referendo:

Voto facultativo? SIM!
Apenas 2 Senadores por Estado? SIM!
Reduzir pela metade os Deputados Federais e Estaduais e os Vereadores? SIM!
Acesso a cargos públicos exclusivamente por concurso, e não por nepotismo? SIM!
Reduzir os 37 Ministérios para 12? SIM!
Cláusula de bloqueio para partidos nanicos sem voto? SIM!
Fidelidade partidária absoluta? SIM!
Férias de apenas 30 dias para todos os políticos e juízes? SIM!
Ampliação do Ficha-limpa? SIM!
Fim de todas as mordomias de integrantes dos três poderes, nas três esferas? SIM!
Cadeia imediata para quem desviar dinheiro público? SIM!
Fim dos suplentes de Senador sem votos? SIM!
Redução dos 20.000 funcionários do Congresso para um terço? SIM!
Voto em lista fechada? NÃO!
Financiamento público das campanhas? NÃO!
Horário Eleitoral obrigatório? NÃO!
Maioridade penal aos 16 anos para quem tirar título de eleitor? SIM!
Um BASTA! na politicagem rasteira que se pratica no Brasil? SIM !!!!!!!!!!!

terça-feira, abril 26, 2011

Direto ao Ponto

Eliane dos Santos Silva

Augusto Nunes
(Veja)

A miséria que Lula jura ter acabado invade o Planalto e cobra a promessa aos berros: ‘Todo mundo aqui pensa que pobre é burro’

O ex-presidente Lula aproveitou a entrevista ao jornal ABCD Maior, editado pelos metalúrgicos do rebanho, para fingir que acabou mesmo com a fome e a pobreza que, erradicadas no Brasil Maravilha do cartório, teimam em exibir-se o tempo todo em milhares de esquinas do país real. “Dilma vai lançar o programa de combate à miséria absoluta, onde fará um pente fino para descobrir quais são os pobres que ainda não foram atendidos”, gabou-se o recordista nacional de bazófia e bravata.

Tradução: são tão poucos os exemplares da espécie virtualmente extinta que só com a mobilização dos recenseadores do IBGE será possível localizá-los ─ e descobrir as misteriosas razões que os levam a recusar a carteirinha de sócio do Clube da Nova Classe Média. Lula deveria ter combinado com os fatos, soube-se nesta segunda-feira. Uma representante dos milhões de pobres que só tem têm três refeições por dia no país-do-faz-de-conta invadiu o Planalto para desmentir aos berros a fantasia do palanqueiro.

Depois de driblar a segurança do Palácio do Planalto, a brasileira Eliane dos Santos Silva só foi detida quando subia a rampa do segundo andar que dá acesso ao gabinete de Dilma Rousseff. Impedida de falar com a presidente, revelou aos gritos o motivo da viagem ao coração do poder: quer a casa própria que Lula e Dilma prometeram à população de baixa renda durante a campanha eleitoral.

“Todo mundo tem direito à habitação”, protestou Eliane, com uma criança no colo e chorando. “Eu sou mãe de três filhos. Direito para pobre, não tem. Para rico, sempre arranja uma brechinha. Todo mundo aqui pensa que pobre é burro”. Não pareceu mais otimista ao saber que um assessor anotaria a reivindicação. À saída, os jornalistas colheram outra informação interessante.

Enquanto espera a casa prometida, Eliane dos Santos Silva sobrevive em São Bernardo do Campo. A uma viagem de ônibus do apartamento do ex-presidente que, por 200 mil reais, topa contar em palestras de 50 minutos o milagre que hoje o impede de enxergar um único pobre em todo o Brasil.

A Frase do Dia

"Hay que cambiar los métodos". Salvador Dalí

Não Sei se Você se Lembra

Nosso Patrono

Stanislaw Ponte Preta

(Sérgio Porto)

ENTÃO, não sei se você se lembra, nos veio aquela vontade súbita de comer siris. Havia anos que nós não comíamos siris e a vontade surgiu de uma conversa sobre os almoços de antigamente. Lembro-me bem — e não sei se você se lembra — que o primeiro a ter vontade de comer siris fui eu, mas que você aderiu logo a ela, com aquele entusiasmo que lhe é peculiar, sempre que se trata de comida ou de mulher.

Então, não sei se você se lembra, começamos a rememorar os lugares onde se poderia encontrar uma boa batelada de siris, para se comprar, cozinhar num panelão e ficar comendo de mãos meladas, chão cheio de cascas do delicioso crustáceo e mais uma para rebater de vez em quando. E só de pensar nisso a gente deixou pra lá a vontade pura e simples e passou a ter necessidade premente de comer siris.

Então, não sei se você se lembra, telefonamos para o Raimundo, que era o campeão brasileiro de siris e, noutros tempos, dava famosos festivais do apetitoso bicho em sua casa. Ele disse que, aos domingos, perto do Maracanã, havia um botequim que servia siris maravilhosos, ao cair da tarde. Não sei se você se lembra que ele frisou serem aqueles os melhores siris do Rio, como também os únicos em disponibilidade, numa época em que o siri anda vasqueiro e só é vendido naquelas insípidas casquinhas.

Ah... foi uma alegria saber que era domingo e havia siris comíveis e, então, nos dois — não sei se você se lembra — apesar da fome que o uisquinho estava nos dando — resolvemos não almoçar para ficar com mais vontade ainda de comer siris. Passamos incólumes pela refeição, enquanto o resto do pessoal entrava firme num feijão que cheirava a coisa divina do céu dos glutões. O pessoal — aliás — achava que era um exagero nosso, guardar boca para um siri que só comeríamos à tarde, porque podíamos perfeitamente ter preparo estomacal para eles, após o almoço.

Mas — não sei se você se lembra — fomos de uma fidelidade espartana aos siris. Saímos para o futebol com uma fome impressionante e passamos o jogo todo a pensar nos siris que comeríamos ao sair do Maracanã.

Então — não sei se você se lembra — saímos dali como dois monges tibetanos a caminho da redenção e chegamos no tal botequim. Então — não sei se você se lembra — que a gente chegou e o homem do botequim disse que o siri já tinha acabado.


A crônica acima consta do livro "Garoto Linha Dura", lançamento da Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1964, pág. 163.

O Espantalho

Do Blog J. P. Fontoura – O Portal

Ele tem tentado ser útil, mas em vão, pois não lhe ouvem!... Gritar pouco adianta, enfraqueceram suas cordas vocais, por isso só consegue murmurar muito baixinho na esperança de que o “tempo e o vento” levem seu murmúrio à multidão, na esperança de que reverberem sua voz já enrouquecida... Prenderam, também, seus braços para que não apontasse e suas pernas para que não andasse; encheram-lhe de palha e puseram-lhe “rotos trapos” para que aparentasse o que é... ...um espantalho... ...Mas na ânsia da maldade se esqueceram de lhe tirar a lógica e a razão através das quais ele vê, ele ouve e consegue se comunicar com a realidade...

Nos últimos tempos ele tem estado apreensivo com o que vê: corvos invadiram o milharal e, mancomunados com ratazanas e um séquito de ratos miúdos, saqueiam, indiferentes à sua presença e isto lhe dói muito, se sente imprestável e incapaz de lhes dar um pontapé no traseiro...

Não pode gritar; não pode bater panela; não pode soltar rojão; não pode pintar a cara... ...que inútil está se sentindo... ...que droga!... ...Mas Povo é assim mesmo... ...Oh! Perdão, eu quis dizer que espantalho é assim mesmo!...

Cansado de observar só o milharal ele resolveu espichar sua visão até mais adiante e constatou, sob uma nevoa turva, que sobem e descem uma rampa na casa grande da fazenda, onde se percebe que estão em constante festa num vai e vem frenético que lhe assusta.

De tempos em tempos ele percebe que o patrão, acompanhado da Capataz, recentemente nomeada, vem até o milharal com outras pessoas e ficam gargalhando de satisfação e murmurando sobre coisas estranhas que não consegue entender...

– Precisamos que fulano faça isso, que beltrano faça aquilo para que aqueles sicranos nos ajudem saldar os compromissos – Mas ele não entende bem quem, nem que compromissos são esses...

– Se não tivéssemos vencido pela terceira vez descobririam “tudo”... – ...O que foi que venceram?... ...O que será esse "tudo" a que se referem?...

Ele está muito assustado por se sentir inútil...

– Que droga!... Diz ele... – ...mas Povo é assim mesmo... ...Oh! Perdão, outra vez, mas que cacoete... ...quero dizer, que espantalho é assim mesmo!...

J. P. Fontoura

segunda-feira, abril 25, 2011

Armai-vos Uns aos Outros


Em face da violência que grassa a Pindorama nossa de cada dia, o Blog imbuído do mais alto fervor patriótico dá a sua modesta contribuição. Queremos colaborar com o Replay daquele plebiscito ridículo. É preciso desarmar os justos para que os injustos possam matar em paz. Paz, botocudos, Paz! HC

A ERA DA INCERTEZA

W. J. Solha

Todo mundo conhece a lenda folclórica hindu em que sete cegos se deparam, pela primeira vez, com um elefante. Um se abraça a uma das pernas do paquiderme e diz que ele é como uma coluna; outro, tocando-lhe o ventre, sentencia que se trata de algo como um tonel; o terceiro, pegando-lhe o rabicho, considera que, ao contrário, o elefante é uma porcariazinha curta e fina, e isso provoca novo desacordo: o do cego que apalpara a tromba do animal, etc, etc.

Vivi algo semelhante em 1992, depois de ver vários VTs do concerto “Os Indispensáveis”, com música do Eli-Eri, texto meu, participação de vários solistas, sinfônica, grupo de dança Sem Censura e coral da UFPB. Cada um desses VTs foi encomendado por um participante, e o resultado foi que nenhuma das versões afinal disponíveis mostrou o espetáculo como um todo. O contratado por Eli-Eri concentrara-se no maestro, o tenor Elton foi quase que onipresente na sua versão, uma das dançarinas também centralizou totalmente a fita que encomendara, e assim por diante. Eli-Eri percebeu a mancada e me pediu que fizesse uma cópia que juntasse todos aqueles pontos de vista numa montagem cinematográfica da coisa, e foi só quando todos tivemos uma visão de conjunto do que vivêramos.

Pois bem. O americano John Kenneth Galbraith tem um livro de que gosto muito: “A Era da Incerteza”, de 1977, em que traça a trajetória da Economia, de Adam Smith até os anos 70. O inglês Bryan Magee tem, também, uma obra excelente, “História da Filosofia”, com os caminhos do pensamento mais abrangente (incluindo economia), dos gregos até a morte de Karl Popper, em 94. Tudo muito bom, até que dou com uma divergência notável entre os dois. O que havia de sólido, antes que tudo se desmanchasse no ar que respirávamos? Para o americano, as certezas tinham estado com o capitalismo imperialista, de um lado, Marx do outro. Para o inglês, elas se encontravam nos duzentos anos de ciência e filosofia, a partir de Descartes e Newton.

Galbraith, convicto:

- Se alguém tivesse que escolher uma cidade da qual observasse a mudança, seria Cracóvia, escolhida como base por Lênin, o homem que, mais do que qualquer outro, dirigiu e catalisou a dissolução da antiga ordem. Todo mundo esperava – baseado na confiante análise de Marx e Engels – que a revolução eclodiria em breve, e num país industrialmente desenvolvido, com um operariado forte, consciente e revoltado. Aí surgiu Vladimir Ilitch, impaciente com o fato de que os novos tempos cada vez mais desautorizavam seu mestre... e com uma novidade: em lugar de multidões armadas, muito melhor seria que os revolucionários se limitassem a “um grupo de homens intimamente ligados, intelectualmente disciplinados e inteiramente dedicados à causa”. Logo, por que a grande virada não ser na sua Rússia subdesenvolvida e agrária?

Para a “História da Filosofia” porém, a bagunça começou um pouco antes da Revolução de 1917.

- Na virada do século XX – diz Magee - um gênio científico, Einstein, surgiu em cena, produzindo teorias incompatíveis com as de Newton (...) e as conseqüências disso foram cataclísmicas. Sempre, desde Descartes, a busca da certeza estivera no centro, ou quase, do pensamento ocidental. (...) Agora tinha de ser abandonada, porque a certeza – como argumentava Popper – está tão indisponível para a política quanto para a ciência.

Como na lenda hindu - a dos cegos em torno do elefante - e como nas várias versões do VT d”Os Indispensáveis”, a verdade sobre o aparecimento da Era da Incerteza me parece estar não só em Magee, não só em Galbraith, mas nos dois juntos. Lênin errou ao não ouvir Marx, precipitando-se na construção de uma União Soviética com alicerces na areia, e que, por isso, no final do mesmo século em que foi criada, se esfacelou. A Revolução poderia ter acontecido noutra nação? Certamente, não: como disse o próprio Galbraith, as reivindicações de “O Capital” e do “Manifesto de 1848” fizeram com que o capitalismo selvagem achasse melhor perder alguns anéis do que os dedos.... e resistiu.

Magee, ao considerar a Teoria da Relatividade, de 1905 - tornando toda certeza relativa – a causa de todo esse mal-estar instaurado no século XX, foi pouco relativista, pois na verdade ela apareceu num contexto propício à sua eclosão, assim como, também, à eclosão das teorias de Freud, e, antes delas, as de Darwin e do próprio Marx, e à do cinema, com a exibição, em 1895, de dois filmes dos Lumière - "A saída dos operários da Fábrica Lumière" e "A chegada do trem à Estação Ciotat" – ao tempo em que Cèzanne fazia a transição do que fora a arte até então, para a que viria no início do século XX.

Não foi em vão que Spinoza cunhou a impossível expressão “sub specie aeternitatis”, como o ponto de vista – da eternidade - que deve ser buscado como ponto de partida pra análise de qualquer coisa.

W.J. Solha - Escritor, Dramaturgo e Ator
wjsolha@superig.com.br

O JARDIM DE MINHA MÃE

Fábia Lívia

Numa manhã de orvalho, acordei com tanta saudade pensando em ti.

Olhei através das janelas do quarto em busca das tuas flores. Eram as mesmas flores e quase o mesmo jardim: faltava você perto de mim.

Lembrei dos tempos em que me contavas estórias e me ensinavas valores através das simples coisas do dia-a-dia.

Os anos se passaram, eu me lembro muito bem, ainda era uma garotinha encantada pelo fascínio das cores nas flores daquele mundo que parecia, então, sem fim.

Foram tempos de uma rara beleza, proporcionados por tua criatividade e carinho que eu traduzi com minha imaginação, em magia.

A beleza vista e interpretada pelos olhos de criança, preservada no coração em memória a ti, minha mãe, Arlira.

Era um jardim maravilhoso aquele jardim de minha mãe.

Alegre, colorido, vibrante!

Cheio de vida e de vidas.

Joaninhas

Abelhas

Mosquitos

Mariposas

Vaga-lumes

Besouros

Pintinhos

Percevejos

Borboletas

e também uma ema!

Estes eram parte dos habitantes reais ou imaginários do jardim.

Havia alguns que cantarolavam todo o dia, enquanto outros passavam despercebidos e em silenciosa atividade.

Silenciosa atividade? Perguntava a mim mesma.

Ainda criança e muito curiosa, queria saber:

- Quem é que vivia assim calado mas não quieto e sem ser percebido? Como era possível?

- Olhe bem ao seu lado, dizia minha mãe.

- Veja bem onde pisa. Viu só quanta beleza?

Eu parava em cada flor para apreciá-la e cheirá-la.

Minha mãe me acompanhava e dizia:

- Veja esses tons de cores tão diversas.

- Sinta que perfume, mas não ponha o seu nariz muito dentro das flores porque pode ter formigas.

- Ouça como canta bonito esse passarinho!

Era tudo maravilhoso, tudo era lindo àos meus olhos!

Encantada com as cores, eu queria levar comigo quase todas as flores.

Minha mãe me advertiu:

- não as arranque! Toque-as com delicadeza e de preferência apenas olhe bem para elas. Leve-as na lembrança para quando chegar em casa você desenhar e pintar o que viu.

- A natureza é linda. Ela tem o seu lugar certo para viver e crescer. Se ela esta bem aqui, deixe ela aqui ficar. Preserve-a!

- Mas quem vive escondido e calado por aqui? Insisti em saber. Vamos ver?

Ela sorriu e disse:

- Sim!

Num cantinho bem perto do muro, havia um buraco redondinho e escuro onde muitas formigas entravam silenciosamente carregando consigo pedacinhos de folhas picotadas.

Muito espantada eu fiquei a admirar, mas também a imaginar: por quê as formiguinhas podiam picotar as folhas e eu não podia levar comigo aquelas flores?

Sem resposta minha mãe me levou para dentro de casa dizendo apenas que não deveria tocar nas formigas.

Passaram-se dias e eu não me esqueci das formigas e nem das flores.

Fui às escondidas para o jardim e me enfiei por baixo das plantas onde encontrei lindos cachinhos de Begônias. Eram cor de rosa com pontinhos brilhantes à luz do sol.

Como pode ser tão bonita? De que é feita? E o que tem dentro, pensava eu.

Assim eu apertei uma por uma, abri e picotei todas elas para ver o que poderia descobrir.

Ao perceber o que acontecera com suas flores preferidas, minha mãe me perguntou o que eu achava que tinha acontecido. Eu respondi:

- Não sei, acho que foi uma formiga escondida durante a noite.

E ela então me respondeu:

- Ah, certamente! Mas "Deus vê a formiga preta, que numa noite escura, caminha sobre o mármore negro!"

Acho que foi neste dia que nasceu Lila*. Vestida com saia lilás ela passeia com sombrinha de renda à luz do sol do meio dia.

E viva Lila!

* Lila, a Formiguinha: bordado por minha mãe com linha varicot em pedacinhos de tecido. Parte das ilustrações (todas feitas por ela quando eu tinha 5 anos) que eu "ressuscitei" das traças e mofo e agora serão parte do livro de artista que estou fazendo em homenagem à ela.

quinta-feira, abril 21, 2011

A Páscoa e os bastidores da Paixão



Hugo Caldas





Antigamente, quando eu era menino, a Páscoa era celebrada sem esses salamaleques de hoje, tais como Coelhinhos e Ovos de Chocolate. Tradição? Deletéria invenção da ganância comercial. Os coelhos são da família dos leporídeos, não são ovíparos, ou seja não põem ovos. Muito menos de chocolate. Já imaginou o pobre coelhinho botando um ovo daquele tamanho? Um horror! Mente doentia quem inventou toda essa historiada.

Bacalhau era comida de pobre. O velho Cavalcanti, avô paterno do meu primo Guy Joseph, se dava ao luxo de ficar sentado na calçada de casa com uma barrica de bacalhaus ao lado, distribuindo com os pobres da Paraíba. Hoje, você precisa pedir empréstimo ao banco pra comprar um quilo.

Na Páscoa se celebra a ressurreição do Cristo depois da sua morte por crucificação. As comemorações da Páscoa na realidade se iniciavam na missa do Domingo de Ramos. A minha avó trazia da igreja uma palha de coqueiro que ela mesma transformava cuidadosamente em uma pequena cruz e colocava dentro do santuário em meio aos seus santos prediletos. Ali a pequena cruz iria permanecer durante todo o ano até o póximo Domingo de Ramos quando então, tudo recomeçava.

Durante as celebrações da Semana Santa nas igrejas, belas e intermináveis missas solenes, bem como cerimônias fora do comum como o Lava-Pés. Nas ruas toda a pompa e circunstância da Procissão do Senhor Morto com a Banda de Música tocando a Marcha Fúnebre. Não se usavam sinetas e sim "matracas," instrumento de madeira e argolas de ferro que agitadas produziam um som de estalidos secos e sinistros. As imagens dos santos nos altares estavam sempre cobertas por um pano roxo. Cenas que pareciam imaginadas pelo maluco do Fellini nos seus filmes memoráveis.

Na Rádio Tabajara apenas música clássica, especialmente na Sexta-Feira Santa. Íamos ao cinema e aos circos mambembes. No cine Metrópole a praxe era assistir à "Paixão de Cristo made in Hollywood". As cópias de tão antigas e estragadas que dizia-se, "os soldados romanos não conseguiam identificar Jesus para prendê-lo".

Os circos "Deus-tomara-que-não-chova", eram o máximo, onde o texto estava mais para comédia do que para um drama:

"Este pão que vós vai cumê é o meu corpo. Cumei-o. Este vinho que vós vai bebê é o meu sangue. Bebei-o".

Circos mais tradicionais como O Gran Circo Garcia e o Circo Nerino invariavelmente levantavam as suas lonas na Lagoa, e levavam espetáculos mais elaborados. Porém, sempre havia um senão. No Circo Garcia, durante uma das funções da "Paixão de Cristo", acho que ainda hoje alguém deve lembrar, uma briga feia entre Jesus, que andava enrabichado pela mulher de um dos centuriões, o qual sentindo-se injuriado aproveitou o ensejo para o flagelar de verdade, baixando o sarrafo sem dó nem piedade. O Cristo jogou a cruz ao chão e deu de garra de uma "sete polegadas". Fechou-se o tempo.

A Paixão de Cristo de Nova Jerusalém sempre mexeu comigo. Cheguei a ensaiar um mês (ensaio de mesa) o papel de Caifás. Foi logo após a grande reformulação do espetáculo com a conseqüente redução de uma centena ou mais de papéis para apenas 20 ou 30 personagens fixos. O resto seria figuração. Pimentel que dirigia a Paixão à época se lembrou de mim e isto me envaideceu muito. Tive, no entanto, que pedir para sair em razão de estar envolvido na implementação de uma escola de línguas aqui no Recife. Era muita trabalheira, o que requeria a minha presença. Ainda hoje lastimo ter saído.

Sempre acreditei que teatro é bem melhor para quem faz do que para quem assiste. Existem histórias incríveis acontecidas nos bastidores e coxias dos teatros. Uma delas nas apresentações de Fazenda Nova. O caso eu conto tal como me foi relatado.

Tudo aconteceu no início da década de setenta.

Muito se falava sobre o desempenho de Clênio Wanderley no papel de Judas Iscariotes, o traidor que recebeu um mensalão de trinta moedas de prata. O enforcamento na figueira então, era o seu ponto alto. Clênio, um misto de dentista e ator/diretor era uma pessoa irascível ao dirigir uma peça e um doce de pessoa na convivência diária, apesar de forçar uma cara de Mefistófeles nordestino. Eu mesmo fui dirigido por ele em uma peça de Ariano Suassuna, "O Auto de João da Cruz", uma das minhas últimas incursões pelo teatro da Paraíba.

Clênio adorava quando descobria na platéia amigos ou conhecidos seus porque aí então ele se esmerava na interpretação. Certa noite, um dos ganchos do colete onde se prendia a corda para o enforcamento partiu-se, o laço saiu do prumo e o movimento brusco apertava-lhe cada vez mais o pescoço. Qualquer tentativa de se livrar e tomar o fôlego, a corda estreitava. Ele estrebuchava. O pessoal da técnica bem como o resto do elenco a tudo assistia, alguém até comentou: "Deve ter muita gente conhecida de Clênio assistindo porque ele hoje está se botando". Foi quando se deram conta do que realmente estava acontecendo. Ouviu-se um grito: "corre que o homem está morrendo." Rapidamente apagaram as luzes e correram a acudir o Judas.

O pobre do Clênio quase morre enforcado mesmo.

quarta-feira, abril 20, 2011

Brasil: o país do ladrão que rouba ladrão que rouba ladrão que rouba ladrão que...


Redação Mídia@Mais em 18 de abril de 2011

Aconteceu em Porto Alegre, capital longe de ser a mais violenta entre as brasileiras: um bandido roubava o carro de um casal quando foi surpreendido por...uma quadrilha de ladrões, que levaram o carro, o dono do carro e a arma do primeiro assaltante que fugiu correndo, mais pobre do que antes do crime.

O caso ocorreu na zona norte da capital gaúcha, e terminou num rápido sequestro-relâmpago do dono do carro, que foi libertado horas depois. Ele não quis falar com a imprensa e, até o momento, o primeiro ladrão não deu queixa do roubo de seu instrumento de trabalho:

A única boa notícia na história toda é que o primeiro bandido, ao ver que era assaltado, não reagiu, exatamente como manda a imprensa politicamente correta. Espera-se agora, para completar o circo, que a quadrilha entregue suas armas na próxima campanha do desarmamento. Assim, fica tudo resolvido, certo?

JESUS, CIDADÃO ROMANO?

Clemente Rosas

Já refletiram os leitores sobre o curioso fato de que não há qualquer registro da vida do famoso rabi da Galileia, também chamado Cristo, entre seus doze e trinta anos? Esse claro na história do grande místico oferece espaço para escritores não religiosos, seguindo uma tendência da literatura moderna, tecerem nele a sua ficção, como Dan Brown, em “O Código da Vinci”, e outros menos cotados.

Por esse caminho enveredou também W. J. Solha, com o seu “Relato de Prócula”, um bom romance que, surpreendentemente, não vem recebendo a atenção merecida, nem mesmo o protesto de algum cristão menos tolerante com ateus e agnósticos. Talvez porque o seu autor – poeta, pintor, ator e dramaturgo, com vários prêmios literários no currículo – embora paulista de Sorocaba, tenha escolhido viver, desde seus verdes anos, na Paraíba, fora do circuito sulista de fama e badalações.

Em qualquer circunstância, no entanto, é de se esperar que o trabalho não seja olhado com a luneta do sacrilégio. Afinal, desde a “Vida de Jesus”, de Renan, publicado em 1863, aceita-se uma abordagem não hagiológica para o fundador da grande crença monoteísta da humanidade. Não devem, portanto, as autoridades cristãs seguir a linha dos fundamentalistas islâmicos, decretando “fatwas” para os irreverentes, mesmo que um dos seus autoproclamados fiéis – George W. Bush – tenha demonstrado acreditar em um Deus dos ocidentais, mais poderoso do que o dos muçulmanos, e pronto a derrotar infiéis de todos os matizes. Bem mais do que Solha ousou Dan Brown, ao imaginar uma esposa para o Cristo, uma figura feminina no quadro “Última Ceia”, uma luta interna dos discípulos do Mestre pela sua “herança”, e outras “heresias”. E tanto Kazantzakis quanto Saramago escreveram, como leigos, belas obras sobre a figura humana de Jesus de Nazaré.

Mas vamos ao livro. O relato de Cláudia Prócula, esposa de Pôncio Pilatos, intuído e formulado pelo principal personagem – um padre excêntrico que, no primeiro momento, tenta o suicídio, e finda optando pela apostasia – é surpreendente: Yeshua (nome hebraico) seria um judeu cooptado pelo Império, convertido em cidadão romano, como Filon de Alexandria e Flávio Josefo, e preparado para conter a rebeldia judaica com a sua doutrina de amar os inimigos, oferecer a outra face, dar a César o que é de César e esperar a redenção em um reino de outro mundo. Isso explicaria o esforço do pretor em salvar seu agente secreto da execução, e depois o plano de retirá-lo da cruz, ainda vivo, e a seguir do sepulcro, secretamente, despachando-o de volta para Alexandria, onde teria vivido dos doze aos trinta anos, e sido educado. A notícia da ressurreição completaria a tarefa pacificadora.

O romance, porém, não fica só nisso. Ambientado em Pombal, no interior da Paraíba, e com muitos componentes autobiográficos, ele narra fatos reais quase inacreditáveis, como a formação, nos anos sessenta do século passado, naquela cidadezinha sertaneja, de um núcleo de intelectuais capaz de produzir romances, fazer teatro e até cinema. “O Salário da Morte”, primeiro longa metragem paraibano, foi produzido lá, e dirigido por Linduarte Noronha, autor de “Aruanda”, o documentário pioneiro da cinematografia da minha terra. Entre os intérpretes, a atriz “global” Eliane Giardini, então adolescente. À frente do grupo, dois jovens funcionários do Banco do Brasil: o autor do livro e o romancista José Bezerra Filho, meu antigo companheiro de serviço militar, interlocutor de temas variados, como as características das nossas serpentes venenosas e as virtudes do socialismo.

Irreverente e impactante em muitos aspectos, mas revelando cultura e erudição, além do domínio da técnica narrativa, o livro merece ser lido e criticado. Quanto à versão profana da vida de Jesus, embora coerente, é matéria de ficção, que jamais será provada. Como, de resto, boa parte dos Evangelhos: o censo que teria provocado a viagem de José e Maria para Belém da Judeia, onde nasceria seu filho, por exemplo, não consta dos registros históricos do Império Romano.


Clemente Rosas Ribeiro
Consultor de Empresas

Poeta da "Geração 59"

clementerosas@terra.com.br

terça-feira, abril 19, 2011

Escondida Tambaú

José Virgolino de Alencar

A foto 1 mostra a Praia de Tambaú, tal qual ela é (em parte), bela, fascinante;

A foto 2 representa os espigões (já em 2007) que me tiraram a visão de Tambaú que eu tinha quando fui, em 2003, morar em Miramar, no alto da barreira do Cabo Branco;

A foto 3, é de novo a floresta de concreto agora em 2011 (roubando a visão da Praia), que não existia quando, em 2007, me mudei para Tambaú/Tamandaré.



Diante dessa frustração, com a especulação imobiliária sempre me tirando a visão de Tambaú, fiz o poema abaixo, lamentando a impossibilidade de contemplar a bela praia, principalmente o nascer do Sol no horizonte ao nível do mar, ainda mais tendo em vista que é aqui, em Tambaú/Ponta do Cabo Branco, que o astro-rei nasce primeiro, no continente americano:

Escondida Tambaú (Frustração de quem olha mas não a vê)

Quero, preciso, contemplar-te Tambaú.
Os espigões, arranhando o céu, não deixam.
As torres, como florestas, se enfeixam.
Vendam meus olhos, não vejo teu mar azul.

Ah exuberante Tambaú, rainha do cone sul
Tuas águas, para a vista, injustamente se fecham.
Meus olhos, tristes, lacrimejantes, se queixam.
Não posso apreciar teu cenário a olho nu.
O céu é belo, sem nuvem, reluzente, límpido.

O sol brilha, forte, caloroso, intensamente,
Tudo acima do mar aberto é claro, nítido.
Mas, tuas águas azuis, ondas mansas, não as vejo.
Sinto um tufão a redemoinhar na mente.
Tenho frustrado (de ver-te) o meu ansioso desejo.

Teoria e prática na arte

PLÍNIO PALHANO

Há dois caminhos na arte global contemporânea que se encontram harmoniosamente. Um é o teórico; o outro, o prático. O teórico prega uma espécie de democracia das ideias e pretende o nascimento de uma inteligência coletiva absoluta em substituição à tão anunciada morte do gênio. A criação, para os ideólogos desse caminho, é um processo de reapropriação artística. O prático move bilhões de dólares numa acirrada competição, digna do mais exemplar capitalismo, que faz os megainvestidores -– entre eles, os estados -- caírem como patos no milho, porque ambicionam o retorno publicitário ou o do investimento, com riscos permanentes de consolidarem bolhas, como é fato no mercado de arte internacional.

O artista -- na concepção desses teóricos -- encontra pronto o substrato para a sua criação nas obras elaboradas por outros, e é nesse veio que ele surfa nas ondas das ideias. Ele pode se apropriar de um som, uma forma,uma imagem, palavras, isto é, a criação circula deixando sempre o seu rastro para que outros ainda possam utilizar desse material produtivo. A isso, o escritor e crítico britânico Nicolas Bourriaud chamou de pós-produção, usando, assim, um termo do âmbito do cinema, da televisão, do vídeo, etc. -- o qual reúne todas as etapas técnicas -- para explicar o processo criativo atual. Segundo Bourriaud, na arte contemporânea, “é possível produzir uma obra musical sem saber tocar uma única nota, utilizando discos existentes”.

Os teóricos fornecem o respaldo e o charme para por em circuito nomes de artistas que se tornam verdadeiros mitos no mercado de arte, que movimentam milhares de dólares para si e para os cofres dos seus mercadores, que também partilham dos lucros. A exemplo dos artistas Jeff Koons (americano) e Damien Hirst (britânico), que se tornaram verdadeiros magnatas, construindo, assim, uma nova modalidadede artista. É essa harmonia que impera entre a teoria aparentemente democrática e o capitalismo escancarado que submete todas as forças ao redor, como a mídia, a crítica, os galeristas, os marchands e até mesmo o público, que, naturalmente, é influenciado por esse poder avassalador do convencimento pela intensa publicidade. No mundo, há um início de despertar quanto a essas máscaras na arte, numa resistência através de artigos, livros e debates, o que certamente proporcionará meios para um possível renascimento.

Plínio Palhano é Artista Plástico
ppalhano@hotlink.com.br

segunda-feira, abril 18, 2011

Museu da Família

Dias atrás estava meio pra baixo e resolvi enviar um PPS (argh) sobre "O Museu da Família". Foi muito bem recebido. Postado agora, em forma de clip. HC

http://youtu.be/txdhlBjF3tI

Depósito bancário

Nosso Patrono

Stanislaw Ponte Preta
- Sergio Porto

Coisas ótimas têm ocorrido no Estado do Paraná, prenhes de belas demonstrações da ala paranaense do Festival de Besteira que Assola o País. Principalmente de­pois que o Coronel Pitombo resolveu ser crítico cinematográfico de araque e vive de viatura a rodar de um cinema para o outro, apreendendo filme que tem beijo.

Tem cada cara dodói, que eu vou te contar!

Mas o episódio para o qual peço espaço foge um pouco ao comum e tem provocado os mais variados comentários em Curitiba, onde o pessoal inscrito no Sindicato de Gozação se diverte a valer.

Deu-se que Curitiba tem agora um banco bacanérrimo, todo de vidro, que parece até um aquário com os peixinhos (funcionários) lá dentro. Claro que é um banco da turma do Nei Braga, conhecido pela plebe ignara e pelos depositantes em geral, pela sigla Banímpar.

Tão alinhado é o banco que passou a ser até visitado por turistas mixurucas, isto é, curiosos que ficam do lado de fora, olhando pelo vidro o pessoal lá dentro.

E eis senão quando — movido por vingança ou simples maluquice (até agora não foi apurado) — um cidadão entrou no banco com vontade de ir ao banheiro mas, ao invés de se encaminhar para o dito, usou o tapete da entrada principal, onde deixou um montículo constrangedor e provocou o maior pânico.

Na hora em que produzia o montículo o movimento era intenso, houve correria de senhoras, protesto de senhores, o gerente ficou indeciso e quase dá o alarma de assalto, mas depois recuou porque o que o cara estava fazendo no tapete não era assalto não. Enfim, foi uma confusão dos diabos.

O cara que fez o estranho depósito no banco dá turma do Nei Braga está preso, mas chovem os comentários jocosos. Dizem que, no ato do depósito, telefonaram para o governador contando o fato e usando o verbo vulgar para definir o que o cara fizera "pra o banco". E o governador gritou:

— Mas isto é um problema da SUMOC! — provavelmente achando que o verbo fora usado no sentido figurado.

Outros gozadores afirmam que o Coronel Pitombo está investigando para ver se não é agente comunista o autor da façanha, já que o apelido de Pitombo agora é "007 de Curitiba". E há quem afirme que o guarda que foi colocado na porta do Banímpar é para impedir que o caso se repita. Há quem afirme que o guarda foi posto ali para fornecer papel aos próximos depositantes.

De qualquer forma, foi um escândalo danado. Tendo inclusive — o banco fechado, logo após o acontecimen­to. Uns dizem que fechou para balanço. Outros dizem que fechou para descarga.

VELHA HISTÓRIA

Mario Quintana

Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que apanhou um peixinho. Mas o peixinho era tão pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem ficou com pena.

E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois guardou-o no bolso traseiro das calças, para que o peixinho sarasse no quente. E desde então ficaram inseparáveis.

Aonde o homem ia, o peixinho acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelas calçadas. Pelos elevadores. Pelos cafés.

Como era tocante vê-los no "17"! - O homem, grave, de preto, com uma das mãos segurando a xícara fumegante de moca, com a outra lendo jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava uma laranjada com um canudinho especial...

Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora pescado. E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao peixinho:

-Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te mais tempo ao carinho do teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua família. E viva eu cá na terra sempre triste...

Dito isso, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho na água. E a água fez um redemoinho, que depois foi serenando, serenando...até que o peixinho morreu afogado.

PS. Para o meu caro amigo Jorge Roseni Zaupa, gauchão macho pacas dos Pampas, na constatação de que nem todo gaúcho tem que necessáriamente ser macho pacas. HC

A Frase do Dia

A Dilma constata:


Na China, pra vitória definitiva do comunismo, só estava faltando mesmo o capital. Millor Fernandes

domingo, abril 17, 2011

A Foto do Dia

Que tal uma segunda-feira com um mimo aos meus amigos do "Cordão Encarnado"? O Che parece dizer: "Façam o que eu digo mas não façam o que eu faço".

OS BILONTRAS

Maria Lucia Victor Barbosa



A escalada inflacionária está aí à nossa porta, um preço a pagar pela popularidade do ex-presidente Lula, um rei bilontra, debochado, irreverente, malicioso, piadista, informal e populista, segundo José Murilo de Carvalho, em sua obra "Os Bestializados"

Na sua obra, “Os Bestializados”, o historiador mineiro José Murilo de Carvalho volta aos primórdios da República para apresentar uma visão história, política e social cuja essência, no meu entender, se repete nos dias atuais.

A essência está no modo de ser bilontra ou tribofeiro, característica do brasileiro como um todo. Explicando melhor, na revista O Bilontra, citada por Carvalho e editada em 1886, por Artur Azevedo, esse tipo é o espertalhão, o velhaco, o gozador ou tribofeiro.

Em 1891, ainda conforme o autor citado, Artur Azevedo lança outra revista, O Tribofe, termo ligado à trapaça e que caracteriza a capital da República onde tribofeiros estavam por toda parte: “na política, na bolsa, no câmbio, na imprensa, no teatro, nos bondes, nos aluguéis e no amor”. “Como diria o próprio tribofe: ‘Ah, minha amiga, nesta boa terra os mandamentos da lei de Deus são como as posturas municipais, ninguém respeita”.

José Murilo mostra que no Brasil “normas legais e hierarquias sociais foram aos poucos se desmoralizando, constituindo-se em um mundo alternativo de relacionamentos e valores onde predominam o deboche, a irreverência, a malícia”.

Essa mentalidade com toque carnavalesco me parece perfeita para explicar o porquê da popularidade do ex-presidente Lula da Silva. O povo consagrou um rei bilontra com o qual se identificou, um monarca debochado, irreverente, malicioso, piadista, informal, populista, dotado de oratória tosca e tarimba adquirida em palanques de sindicatos, adepto do “deixa a vida me levar”.

Lula da Silva também é um homem de rara sorte. Escapou da origem simples e ingressou no mundo de poder e riqueza sempre apoiado por compadres e companheiros. Recebeu, ao chegar à presidência o para-casa pronto do governo anterior, coisa que espertamente seu partido chamou de “herança maldita”, mas que foi copiada e tocada para frente sob as facilidades do céu de brigadeiro da situação externa, até 2009, quando adveio a crise internacional que aqui foi alcunhada de “marolinha”, bem ao estilo gozador do “salvador da pátria”.

A propaganda intensificou trapaças que alteraram a visão de realidade da infraestrutura, da Educação, da Saúde. Criativamente truques contábeis foram utilizados pelo Tesouro. A corrupção governamental foi tida como normal. Os exorbitantes privilégios do “rei e da família real”, que contrastaram com a oratória do “pobre operário” não chocaram os bilontras que nas pesquisas afirmaram: “se eu estivesse lá faria a mesma coisa”.

Quando de novo as eleições chegaram, bilontras hipnotizados pela arenga do líder dirigiram-se às urnas e, obedientes, elegeram Dilma Rousseff. Era a maneira de manter Lula lá.

E Lula continuou. Remontou o ministério à sua imagem e semelhança, conversa com sua comandada diariamente, conforme a imprensa. Estrategicamente, porém, o ex-presidente não se expõe, sendo que a presidente é mostrada com bastante parcimônia.

O ocultamento da sucessora pode se dar por dois motivos: primeiro, esconder aquela certa dificuldade de raciocinar com fluência que era evidente durante a campanha. Segundo, tentar evitar ao máximo a vinculação da verdadeira herança maldita à presidente. Naturalmente, os marqueteiros dirão que a blindagem se deve a uma estratégia premeditada para construir uma imagem da própria Rousseff. Não precisava. Ela não é Lula.

A herança maldita não inclui somente a vergonhosa manutenção em nosso território do terrorista Cesare Battisti, a compra de aviões franceses, o valor do salário mínimo, a insatisfação do PMDB com a distribuição de cargos, as críticas à política externa brasileira que apoia regimes de déspotas violadores de direitos humanos. A herança maldita, que emblematicamente começou com a “tragédia das pedras” na região serrana do Rio, inclui o único fator que os bilontras são capazes de perceber, pois, se estão cada vez mais cínicos, corrompidos, indiferentes à imoralidade pública reinante, logo começarão a se ressentir e a se inquietar quando perceberem a inflação descontrolada que corrói seu poder aquisitivo.

Para eleger sua sucessora o governo Lula não mediu consequências e no último ano bateu recorde de gastos. Despesas do Tesouro, INSS e Banco Central, que em 2003 representavam 15,14% do PIB, atingiram 19,14% oito anos depois. A escalada de gastos públicos continua e dificultará o trabalho do Banco Central para conter a inflação. Contudo, quando o relatório oficial do Fundo Monetário Internacional (FMI) denunciou a deterioração das contas públicas brasileiras, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se limitou a ironizar de forma grosseira e arrogante dizendo: “Acho que o diretor-gerente (Dominique Strauss Kahn) saiu de férias e algum velho ortodoxo deve ter escrito esse relatório com essas bobagens sobre o Brasil”.

Ainda é cedo para julgar o governo Rousseff, mas pelo andar da carruagem, quando o ano começar depois do carnaval, os bilontras saberão se é bobagem ou não a escalada inflacionária.

NR: BILONTRA, sm, velhaco, patife

Maria Lucia Victor Barbosa é Socióloga e articulista. mlucia@sercomtel.com.br www.maluvibar.blogspot.com

BRÁULIO TAVARES E SUA NUVEM DE HOJE

W. J. Solha

Glauco Mattoso é recordista mundial de sonetos. Mais extravagante, porém, é o recorde de Bráulio, que jamais baixou seu padrão extraordinariamente alto na coluna diária que mantém no Jornal da Paraíba desde março de 2003.

Lembro-me de que Millôr me decepcionou quando vi seu Pif-Paf – delicioso quando lido a cada semana – acumulado em livro, mal-estar que se repetiu ante uma edição capa dura com as tiras diárias de Flash Gordon. Temi o mesmo quando Bráulio me disse que premeditava “A Nuvem de Hoje”. Mas acabo de reler de uma sentada essa primeira leva de cem artigos seus, publicação da Latus – Editora da Universidade Estadual da Paraíba - constatando, grato, que o acúmulo deles apenas fez aumentar a enorme admiração que sempre tive pelo jornalismo cultural do nosso romancista de ficção científica, roteirista de TV e cinema, compositor, etc etc.

Bráulio pertence a uma categoria de paraibanos que lêem muito, muito – como Luiz Carlos de Sousa, William Costa e Astier Basílio. Prova disso é que, nessa enfiada de textos relidos agora, pude sublinhar uma série de trechos de frases como Robert Henlein, em seu volume póstumo de correspondência, “Grumbles from the Grave”... “O Rio” (1953), de João Cabral, é descrito de forma cabal pelo seu subtítulo: “Relação da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente à cidade do Recife”... Nos capítulos 5 4 6 do seu livro “Guerreiro Togado”, Pedro Nunes Filho mostra a origem dessa cadeia comercial.

No romance “The Translator” de John Crowley (2002)…
As primeiras linhas de “O fiel e a Pedra”, de Osman Lins, descrevem uma lâmpada assim.
Em “Revolution in the Head”, Ian MacDonald descreve…

O episódio ( no 1º. Livro de Samuel) pode ser visto de outra forma... A descrição de Eric Temple Bell em “Men of Mathematics” é de cortar o coração... Quando li o livro de Josué Silvestre, “Lutas de Vida e Morte – Fatos e Personagens da História de Campina Grande 1945-1953”...

No livro “Editora Globo”, sobre esta casa editorial gaucha, Elizabeth Torressini transcreve....
Em seu saboroso e enriquecedor livro “Tropicalista Lenta Luta”, Tom Zé afirma a certa altura... Em seu magnífico livro “O Rastro dos Cantos” (“Songlines”, de 1980), Bruce Chatwin estuda a mitologia dos aborígenes australianos...

Conclusão: cultura livresca? Nem pensar. Ao contrário do que parece no rosário que desfiei acima, bateado na centena de textos de “A Nuvem de Hoje”, Bráulio demonstra, na grande maioria de seus artigos, paixão maior ainda pelo conhecimento peripatético – itinerante - apregoado pela escola de filósofos atenienses liderados por Aristóteles. Confira:

Vejo as ceguinhas (do filme “A pessoa é para o que nasce”) cantarem nas ruas de Campina, desde que me entendo de gente. Na feira, na Maciel Pinheiro, na calçada da Catedral ou da Livraria Pedrosa, ali estavam elas, desfiando suas cantigas e sacudindo seus ganzás.

Nos velhos tempos, vi bêbados anônimos, mecânicos de oficina ou boêmios aposentados recitando versos de Augusto dos Anjos nos botequins da rua Índios Cariris, no antigo Caldo de Peixe do velho Ferreira, no bar do Castelo onde comíamos costela antes de ir para o Amigão; na Riviera durante um “rato” e uma Casa Grande, no Corredor da Morte diante de uma cabeça-de-galo, ou amanhecendo o dia no abrigo da Praça da Bandeira, rebatendo a cerveja gelada com um cuscuz-com-galinha, pedindo um cigarro a um notívago sem rosto e ouvindo-o recitar: “Toma um fósforo... “

Arretado!

Éramos em geral uns cinco ou seis, mas lembro de bacuraus mais concorridos que tinham o dobro disto. O bacurau do Cine Capitólio era um prolongamento natural da “segunda sessão”, a última sessão noturna que acabava às 11 e pouco. As discussões sobre o filme, às vezes, incluíam uma ida rápida a uma lanchonete, mas o traço distintivo do bacurau é que ele prescinde de bares ou coisa parecida. O bacurau é praticado ao ar livre, de pé, e quem cansar que sente no batente da loja.

Muita coisa que sei de Cantoria foi o mestre Ivanildo Vila Nova que me ensinou. Naquele tempo, quando eu tinha 25 anos, ele 30, passamos muitas tardes ou noites num balcão de bar, eu tomando cerveja, ele tomando café, e conversando sobre qualquer assunto: nossas vidas, a vida alheia, Campina Grande, política, futebol, mas principalmente poesia.

Quando fui morar em Belo Horizonte, nosso ponto preferido era na Praça Afonso Arinos, em frente ao Hotel Del Rey.
Nunca conheci Dimas Batista ou Belarmino de França, mas fui amigo de Louro (Lourival Batista) quando ele já tinha 60 anos. Conversamos (eu e Vladimir Carvalho) há poucas semanas, aqui na Rua do Catete (a mais nordestina das ruas do Rio) e ele me pareceu com os quarenta e poucos de sempre: o passo rápido, o gesto inquieto, a cabeça elétrica.

Retrato notável!

Ando de ônibus até hoje e, em cada um dos meus percursos rotineiros, tenho os “palcos” onde sempre está acontecendo algo interessante, algo que me mantém curioso e alerta, que não me deixa ligar o piloto automático e desperdiçar alguns minutos que eu poderia aproveitar melhor pensando, imaginando, tendo ideias. Eu nunca moraria em Brasília, porque não dirijo carro, e aquela é uma cidade em cujas veias circula gasolina, não foi feita para pedestres, flâneurs, noctâmbulos ou peripatéticos.

Mas por quê isso? Ele diz:

As perguntas que a Rua nos fará nunca são as que esperávamos. Resultado: respostas inesperadas. Tal sistema de criação – em que à vida real, popular, se une uma base que não se percebe, mas é erudita – desemboca numa permanente originalidade, em que o conhecimento é, sempre, de primeira mão. Some-se a isso uma honestidade absoluta:
Os motes escolhidos pelos membros da comissão eram datilografados, envelopados e colocados no tal envelope pardo que, durante as 72 horas seguintes, ficava embaixo do meu braço, porque eu não queria correr riscos. Já cheguei a dormir com o envelope embaixo do travesseiro.

Venho lendo o “Ulisses” de Joyce há décadas. Nunca o li por inteiro, mas há capítulos que li 15 vezes. Ou seja: Bráulio adquiriu, ao longo da vida, uma capacidade seletiva enorme. Claro, pois quem – tão aberto a tudo – poderia dar conta do volume incomensurável de informações que recebe do mundo?

Veja este trecho, soberbo, dele:

Um oceano de informação. O problema é que o oceano é tão grande que podemos mergulhar nele e descer verticalmente centenas de metros SEM NUNCA ABANDONAR A SUPERFÍCIE. A superfície dele não acaba, é um oceano só superfície, sem profundezas. Que fazer? A solução é ter, para si – como ele diz - , uma “estética da recepção fragmentada”, daí sua franqueza ao dizer que jamais leu “Ulisses” inteiro. Acho comovente o trecho de um de seus artigos, em que – depois de dizer que deve a poesia ao pai, a prosa à mãe - ele fala do que deve ter sido a descoberta desse sistema que adotou por toda a vida:
Agachado junto às estantes e aos balcões da Livraria, sob o olhar sempre vigilante e sempre condescendente de seu Pedrosa, desenvolvi, desde menino, a arte de ler um livro por fora, quando não podemos comprá-lo: ler a contracapa, a orelha, o índice, o prefácio, as legendas das ilustrações. Essa fase marcou-o.

Ele fala com entusiasmo dos folhetins de capa-e-espada de Michel Zevaco, que devorou naquela época, e de como o nome de um dos personagens dessas estórias – Corpodibale – fez com que tivesse a “ideia estapafúrdia” – ao saber do “Corpo de Baile”, do Guimarães Rosa – de que o mineiro também lera Zevaco.

Quando o artista criador tem uma bússola intuitiva que lhe dá a certeza subconsciente do que quer, ele reconhece, de imediato, entre os fragmentos trazidos pelo acaso, aqueles que o levam na direção certa. Daí que ele descobriu, triunfante, outros nomes zevaquianos – Strapafar e Trinquemaille – nestes trechos do “Grande Sertão: veredas”:

“Ah, eu ia ver se, no engasgo da hora, ele ia querer se estrapafar.”“Cantava o trinca-ferro”

E veio a confirmação de tudo:

Rosa tinha, em sua biblioteca, uma edição francesa de “Les Pardaillans” de Zevaco (conforme Suzi Frankl Sperber, “Caos e Cosmos”). Nonadas? Não. De sacadas assim é que ele tira conclusões afiadíssimas:

A Cultura é aleatória, a Educação, planejada. A Cultura é difusa, a Educação é focalizada. A Cultura está em toda parte, a Educação se dá em recintos específicos. Qual é o contrário de Música Erudita? Eu diria que é “Música Espontânea”.

Quando Gil e Naná prestam homenagem às ceguinhas no palco do PercPan, o que temos ali é a gasolina de avião pedindo a bênção ao petróleo bruto de onde foi extraída. Chico César, apesar de surgido nos anos 1990, tem uma sonoridade mais parecida com a dos anos 1970 do que com a dos seus companheiros de geração. Qual o segredo de uma boa sextilha (com suas seis linhas de 7 sílabas cada, a segunda, a quarta e a sexta rimando entre si?) É saber derramar o texto nessa fôrma como quem derrama água num copo, sem sobrar nem faltar uma gota. Perfeito!!!

E do que se precisa, pra se fazer uma ficção científica?

Saber que seu objeto não é a espaçonave, mas a Viagem; não é o alienígena, mas o Estranho; não é o robô, mas o Duplo; não é o computador, mas a Máquina; não é o monstro mas o Inconsciente; não é o mutante mas a ruptura de conceitos e a transcendência rumo a uma realidade mais complexa.

Tudo seria pouco, não fosse o texto primoroso em que Bráulio aveluda suas jóias: Eram negros imensos, com tórax de barril e cada rebolo de braço maior que o do Superman.

Consumimos um Iraque de gasolina. (...) Consumimos uma Áustria de cerveja.
As ceguinhas sempre estavam em algum ponto do triangulo compreendido entre o Teatro, a Catedral e o Edifício Rique. Quando a gente se aproximava, mesmo antes de vê-las, mesmo a distancia, já começava a ouvir seu tríduo de vozes rusticamente harmonizadas, carregadas daquela melancolia milenar de quem pede cantando. Putz!

O mundo de Olavo Bilac nos lembra uma imensa galeria do Louvre cheia de quadros históricos e de langorosos nus femininos, pintados por Courbet, Degas, William Bouguereau, Alma-Tadema. (...) Já o de João Cabral nos arrebata para um deserto árido e cheio de arestas, povoado por cabras e retirantes; mangues pegajosos, cidades rústicas que mal se distinguem das colinas pedregosas que as cercam. (...) Lembra a fase de gravuras geometrizantes de Max Ernst, ou as xilografuras de cortes brutais de Segall, Scliar ou Darel.

Mas... bem. Depois de flagrarmos o menino Bráulio sacando o que podia da Livraria Pedrosa, ele nos presenteia com o momento em que o cinema – uma de suas muitas paixões – desperta, nele, o crítico perspicaz em que se tornaria, após a exibição do filme “O Corvo Amarelo”, de Heinosuke Gosho no cinema de arte do Capitório, em 67: Depois que (os personagens) partem, a câmara se detém num chapéu de palha que fica abandonado na areia. E surgiu a pergunta terrível: “Por quê?” Usei este filme para escrever minha primeira crítica de cinema, que nunca foi publicada. “A Nuvem de Hoje”.

Trata-se de uma seleção de colunas já publicadas, destinadas à História Literária da Paraíba. Eu já me servi de uma imagem digna dos folhetins que encantaram a infância de Bráulio algumas vezes, mas aqui está ela, de novo: se eu tivesse um chapelão emplumado, como o de Cyrano ou D´Artagnan, eu me curvaria, agora, ante ele, descobrindo a cabeça, no que faria minhas plumas arrastarem-se pelo chão.