sábado, julho 31, 2010

Falso Recuerdo 3 - Cynthia Green

Hugo Caldas

Lembro de quando ela me procurou, por indicação de uma amiga, antiga aluna. Era um fim de tarde início de noite. Chegou transbordando disposição, após toda uma curva de estafa do trabalho de nove às cinco. "Quero falar inglês em um mês"! Gostei da sua maneira, corajosa, decidida. Nâo sou de me impressionar e me envolver com alunos. Experiências anteriores não deixaram boas recordações. Houve uma aluna que me mordeu o braço, inconformada com uma nota recebida. Outra, tanto perturbou, olhando e acenando para alguém, estávamos no quinto andar, na calçada. Reclamei, ela saiu estabanada da sala e voltou em minutos com o noivo a tiracolo, um tenente do exército, a querer satisfações. Vivia o país os tempos obscuros de uma ditadura ampla geral e irrestrita.

Como disse, não sou de me encantar. Mas com ela aconteceu, eis tudo! Cíntia era o seu nome, o que de pronto me remeteu à personagem Cynthia Green do romance de Ernest Hemingway, "As Neves do Kilimanjaro". Não tinha ares de mulher fatal. Não era bela, muito menos feia. Sua presença agradava-me. Inteligente. Extravasava-lhe sensualidade nos gestos e nas palavras mais simples. Contei-lhe sobre a personagem e o romance. Daí por diante ela começou a se assinar "Cynthia Green" nas inúmeras mensagens eletrônicas que me enviava. Contratamos um período inicial de três meses de aulas. Ao final do contrato estabelecido comecei a notar que o nosso convívio havia se transformado em um exercicio de "se você vem as quatro eu fico feliz as três". As aulas transcorreram por mais três meses. A vida continuava, ele falava da sua rotina de trabalho (em inglês) e de repente começou a cismar que a sua chefe estava pegando demais no seu pé. Um belo pé, por sinal.

As aulas continuavam sempre em ritmo acelerado. Subitamente se dipôs a uma mudança. Ela decidiu fazer um concurso dentro da sua área, turismo. Fez o tal concurso, passou, fechou o pequeno apartamento no subúrbio onde morava sozinha e voltou para Vera Cruz, sua terra natal. Fazia já um certo tempo que não freqüentava.

Uma bela manhã ei-la de volta. Trazia uma caixa de chocolates e estava metida em um vestido branco, levíssimo, que lhe caía muito bem, curtinho, a revelar suas pernas bem torneadas. Sandálias brancas de tirinhas realçavam os seus pés bonitos. Estava linda. Parecia recém-saida de um banho, cheirava a alfazema e flutuava ao andar com seus passos curtinhos.

Bem ao lado do escritório havia o que se costumava chamar de "winter garden". Um pequeno vão que a governanta, Tia Hipólita, inventou para cuidar e regar algumas plantas. Era um pequeno espaço com uma mesa e algumas cadeiras.....

Cynthia Green... na escola, pela manhã? Após tanto tempo ausente? Apressei o passo para ir ao seu encontro.

Após os beijinhos de praxe nos sentamos e ela contou-me as aventuras. Havia sido promovida no novo cargo e seria transferida para São Paulo. Conversamos, rimos e comemos chocolates. Chegou a hora da despedida.

Nos abraçamos demoradamente. A cabeça ameaçou girar. A sua boca resvalou astuciosa no meu rosto, o sangue me ferveu nas veias, a pele arrepiou, fiquei absolutamente alucinado. Somente algo fora do normal poria fim à situação.

Esse algo seria a Tia Hipólita chegando para regar as suas plantas. Fuzilou aos dois com um olhar de lince, como que dizendo...

– “que assanhamento é esse? Ele é casado, minha filha”.

Estávamos tão próximos, ainda abraçados que eu sentia o seu corpo quente e sua respiração alterada.

- "Deixa pra lá", disse num quase sussurro. "A gente se vê por aí". E se foi, para sempre da minha vida.

Melhor assim. Ela não teve como conhecer a minha escova de dentes.

quarta-feira, julho 28, 2010

Eu não disse?

Deu em O Globo

Marina diz ser contra extraditar Battisti

Candidata verde critica ainda aumento de repasses da União a municípios, que causa ‘estranhamento’. A presidenciável do PV, Marina Silva, disse ontem que, caso fosse presidente, não permitiria a extradição do ex-ativista Cesare Battisti para a Itália, seu país de origem.

A verde argumenta que o Brasil sempre teve uma tradição de dar abrigo político a estrangeiros.

— O Brasil já deu (abrigo), inclusive, a ditadores. Por que em relação ao Battisti seria diferente? — disse Marina, em sabatina organizada pelo portal Terra.

(Tudo farinha do mesmo saco. HC)

Era O Que Faltava!

Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 12.292, DE 20 DE JULHO DE 2010.

Autoriza o Poder Executivo a realizar doação para a reconstrução de Gaza.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Fica o Poder Executivo autorizado a doar recursos à Autoridade Nacional Palestina, em apoio à economia palestina para a reconstrução de Gaza, no valor de até R$ 25.000.000,00 (vinte e cinco milhões de reais).

Parágrafo único. A doação será efetivada mediante termo firmado pelo Poder Executivo, por intermédio do Ministério das Relações Exteriores, e correrá à conta de dotações orçamentárias daquela Pasta.

Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 20 de julho de 2010; 189o da Independência e 122o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Celso Luiz Nunes Amorim
Paulo Bernardo Silva


terça-feira, julho 27, 2010

VIDEO DO DIA - 2

Ainda no clima "da Horta da Luzia", como prometido ontem, postamos hoje "Em Um Mercado Persa", também de autoria de Albert Ketelbey. Todos os meu três leitores hão de convir que, para quem teve uma infância povoada de boa música nunca poderá se acomodar com as "obras" que ouvimos hoje. Vale no entanto uma pequena observação: É que um roqueiro de nome Jacky James teve a cara de pau de se apropriar do tema central da música do Ketelbey e "compôs" uma coisa horrenda chamada "Take my heart". Não teve a honestidade de registrar de onde veio a "inspiração". Mas, abaixa o facho e vamos ao vídeo. HC


segunda-feira, julho 26, 2010

A IMPRESSIONANTE INFLUÊNCIA VOCABULAR DA LITERATURA

W. J. Solha

Tornou-se lugar-comum, na imprensa, reportar fatos como o acidente com o avião da TAM, que matou 162 passageiros, ou o deslizamento de terra no Morro do Bumba, em Niterói, como “tragédias anunciadas”, influência evidente do belo título que é o Crônica de uma Morte Anunciada, de Gabriel García Márquez. Claro que isso não é de hoje. Todo sujeito ciumento é um “Otelo”, desde que Shakespeare escreveu a peça a respeito do suplício do Mouro de Veneza. Todo homem excepcionalmente forte é um “Hércules”, desde que Eurípedes encenou a tragédia Heracles entre os gregos, Sêneca levou ao palco o Hércules sobre o Eta, entre os romanos. Do mesmo modo, toda viagem ou percurso repleto de percalços passou a ser “uma odisséia”, desde que Homero escreveu a história de Ulisses, cujo nome grego era Odisseu. Daí 2001 – Uma Odisséia no Espaço, o filme de Stanley Kubrik – daí Ulisses, o famoso romance de James Joyce, que consome cerca de 800 páginas pra contar o que foi um dia – 16 de junho de 1904 - na vida de um certo dublinense chamado Leopold Bloom. Se esse caminho, porém, é de mais sofrimento do que aventura, o rótulo é o de “via-sacra”, “via-crúcis” ou “calvário”, por conta do peso do texto evangélico, que transformou, também, todo traidor em “judas”, toda vítima em “cristo”, todo mau caráter em “judeu”, toda maldade humana em “judiação”, todo homem caridoso em “bom samaritano”, todo fim do mundo em “apocalipse”. Do mesmo modo, abrindo para o Velho Testamento, todo começo de qualquer coisa é “gênesis”, todo assassino é um “Caim”, todo lugar maravilhoso é um “paraíso”, toda debandada é um “êxodo”, toda enchente é um “dilúvio”, todo vidente é um “profeta”, toda figura com salvadora liderança é “messiânica”, toda decisão sábia é “salomônica”, todo embate desproporcional, tipo camundongo Jerry contra o gato Tom, Oliveiros contra Ferrabrás, Vietnã versus Estados Unidos, é uma luta de “Davi e Golias”.

Quem nunca classificou alguma cena terrível de “dantesca”, por conta da Divina Comédia de Dante? Quem nunca chamou o herói de uma causa perdida – como Vitorino Papa Rabo, de Zé Lins; ou o Príncipe Michkin, de Dostoiévsky - de “quixotesco” devido à obra de Cervantes? Quem nunca disse que um sujeito em dúvida terrível é “hamletiano”? Caramba, já vi muita gente demasiado séria ser chamada de “Dom Casmurro”, por causa do livro de Machado de Assis. E de “masoquista”, devido ao romance A Vênus de Peles , de Leopold Ritter von Sacher-Masoch, no qual um personagem somente chega ao orgasmo depois de surrado pelo amante da esposa. Claro que você acaba de se lembrar de que “sádico”, se deve ao Marquês de Sade e a seus romances – como Os 120 Dias de Sodoma. Do mesmo modo, “pantagruélico” é o comilão por excelência, desde que Rabelais escreveu seu romance Pantagruel, e “acaciana” é sempre uma figura pública tipo Conselheiro Acácio, pseudo-intelectual pomposo, desde que Eça de Queirós escreveu o romance O Primo Basílio.

A quanto mulherengo já demos o nome de “casanova”, devido ao libertino escritor Giácomo Casanova, que – segundo afirma nos vinte e oito volumes de suas memórias – enumerou cento e vinte e duas mulheres que possuiu ao longo da vida! Ou de “Don Juan”, por causa do personagem fictício que, por suas inúmeras conquistas amorosas, compareceu em várias obras de arte, como a peça Don Juan Tenório, de José Zorrilla, e a ópera Don Giovanni, de Mozart!

Um dos casos mais famosos de apropriação desse tipo é o de Freud, que viu no personagem clássico de Sófocles – Édipo Rei – o protótipo do portador do complexo emocional que envolve amor e ódio na relação filho-mãe-pai, tendo Gustav Jung estabelecido a mesma relação filha-pai-mãe no Complexo de Eletra, partindo das peças de Sófocles e Eurípedes que contam como essa personagem matou a mãe, Clitemnestra, pra vingar a morte do pai, Agamênon.

Quanta História por trás de cada palavra!

Início de semana

Confesso que o Blog pegou meio sobre o pesado com a "atual conjuntura" do país. Também pudera, não se pode ficar agora inventando notícias boas e otimistas. Não me chamo Cândido e não tive nenhum professor chamado Pangloss. Não retiro uma só das matérias da semana que passou. Vamos ficar na expectativa do que nos reserva esta que se iniciou ontem. Face à indigência da atual música que temos a desdita de ouvir que tal uma mudança? Para isso, como meninos educados, será necessário uma bela poltrona e pôr-se a jeito para uma boa música. Compartilho com vossências, esta peça que costumava ouvir em uma antiga vitrola, quando menino na casa do meu avô. Não, não era um gramophone. Era realmente aquele tipo de vitrola que trocávamos a agulha quanto gasta. Havia uma caixinha de metal cheia de agulhas novas. Estou a me referir à "No jardim de um Mosteiro", de Albert Ketelbey, compositor britânico sem a relevância dos compositores clássicos, barrocos ou os mestres do romantismo. Foi um compositor menor que sabia, com a sua bela melodia dar o recado como ninguém. Mas chega de papo. Vamos ao vídeo. Ah, era uma bolachona de 78 rpm (rotações por minuto) com selo grená e letras douradas. Aumentar o som para que possam perceber o máximo que os efeitos especiais da época conseguiam: som de pássaros que deleitavam o peito do garoto que vos fala. O lado B nos trazia "Em Um Mercado Persa", que postaremos amanhã. HC.





domingo, julho 25, 2010

A Voz da Besta-Fera!

Dinheiro plástico

Marcus Aranha

Uma das maiores invenções do século passado, no campo financeiro foi o cartão de crédito.

Com um método extremamente simples para permitir a entrada do cidadão nesse sistema financeiro, você faz um cadastro junto a uma entidade financeira e oferece comprovantes de renda que possam mostrar que você tem um determinado ganho que possa cobrir as despesas a realizar.

Uma investigação rápida junto aos órgãos fiscalizadores de crédito, do tipo SERASA, diz se você é um sujeito sem culpas no cartório ou um devedor contumaz.
Se você é “boa praça” no mundo financeiro, recebe incontinente o seu “cartão de crédito”, um pedaço de plástico resistente com seu nome, data de validade e outros códigos que a operadora utiliza quando você compra com o seu dinheiro plástico.

Para os prevenidos e comedidos o cartão é um instrumento valiosíssimo. Para os perdulários e incautos é uma faca de dois gumes.

Para estes há o risco de comprar deitando e rolando durante o mês inteiro e ao receber a fatura do cartão e verificar que ela é praticamente o valor do salário. Aí o jeito é pagar parte da fatura e arcar com pesados juros sobre a dívida que vem no mês seguinte.

Mas para o comércio em geral o sistema é excelente, pois quem vende não corre o risco de não receber. Na hora compra, consultada automaticamente a Central do Cartão que vai ser utilizado, e havida a liberação da compra, quem vende, vende tranqüilo, pois não corre o menor risco de ser lesado.

Hoje em dia qualquer estabelecimento comercial aceita pagamento com o cartão de crédito. E mais: consultórios médicos, clínicas, laboratórios, hospitais, dentistas e outros, aceitam o pagamento dos serviços que lhe prestou com dinheiro plástico.

E mais ainda: dividem o pagamento em várias vezes, coisa que o sistema permite. Até motel funciona com cartão de crédito; se pintou uma mina no pedaço, não é por falta de dinheiro que você que você vai deixar de dar sua transadinha. O cartão de crédito resolve o problema.

Dizem as más línguas que há igrejas aceitando doações e pagamento de dízimos com o cartão de crédito.

E compras pela Internet?

O volume dessas é altíssimo! O distinto acessa ao site de vendas, escolhe o que quer, preenche um cadastro e fornece o número de ser cartão de crédito. A empresa vendedora checa alguns dados e libera a venda.

O comprador recebe o objeto desejado em casa através de uma firma de encomendas ou dos Correios.

Ninguém imagina a quantidade de dinheiro que rola através dos cartões de crédito que são utilizados em compras pela Internet.

Agora surge mais uma novidade para o uso do famoso cartão.

Os advogados de São Paulo foram autorizados pela seccional paulista da OAB, para receber honorários no cartão de crédito.

Mais uma categoria profissional trabalhando com o dinheiro plástico. A partir de agora os escritórios de advocacia daquele Estado estão autorizados a receber pagamentos com o cartão, e até fazer parcelamentos.

Tai... Em São Paulo, mesmo não tendo dinheiro, você não vai tão fácil pra cadeia por falta de advogado.

Basta ter um cartão de crédito.

Jornalismo falido X jornalismo on line

Ipojuca Pontes

“O jornalismo é a segunda mais antiga profissão do mundo” – Bernard Shaw

A partir de 1º de setembro o ex-poderoso “Jornal do Brasil”, hoje com uma tiragem diária de 15 mil exemplares, deixará de circular. O periódico matutino, fundado em 1891 para defender a Monarquia, dirigido entre outras figuras por Rui Barbosa, vinha funcionando com um déficit operacional na ordem de R$ 100 milhões. Segundo Nelson Tanure, seu proprietário, o jornal será mantido apenas nas páginas eletrônicas da Internet – tal como ocorre hoje com a “Tribuna da Imprensa”, de Hélio Fernandes, fundada em 1949 por Carlos Lacerda.

A falência do jornal impresso atinge em especial a chamada grande imprensa e, com efeito, para analistas da matéria a extinção de sua supremacia parece estar cada vez mais próxima. Na França, por exemplo, os diários “Libération” e “Le Monde”, ambos de esquerda, ainda que contando com subsídios governamentais, andam pelas tabelas. De fato, vão devagar quase parando: “Libération”, fundado por Jean Paul Sartre (em 1973), sobrevive apelando para o jornalismo digital e o “Le Monde”, mal das pernas, cambaleia amparado na grana suja de esperma do gangster Xavier Niel, sujeito que começou a vida explorando casas de show em que mulheres nuas podiam ser vistas através de vitrines contorcendo-se em movimentos eróticos.

A falência do jornalismo à esquerda não fica restrita a França de Sarkozy: na Inglaterra, segundo a “Economist”, nada menos de 70 jornais fecharam suas portas, sem choro nem vela, no biênio 2008/2009. O próprio “New York Times”, o templo mundial do jornalismo “politicamente correto”, perdendo assinantes e receitas publicitárias em cascata, enfrenta no momento uma dívida em torno de US$ 1 bilhão – o que o obrigou a abrir mão do controle de vários jornais da cadeia em todo país, salvando-se apenas o “Boston Globe” (ninguém sabe até quando).

Sim, é fato: para continuar circulando, a The New York Times Co teve de vender a W. C. Carey & Company o prédio sede de 52 andares, situado na 8ª Avenida, no coração de Manhattan, passando a pagar o aluguel dos 19 andares onde outrora reinou como Deus desaconselha e o diabo manda: pedante e mentiroso.

Pior: para não pedir concordata, a família Sulzerberg Ochs, que controla The New York Times com 19% das suas ações, viu, sem poder pestanejar, o empresário mexicano Carlos Slim Helú (dono no Brasil das empresas telefônicas Claro e Embratel) aumentar para 17% o controle acionário do jornalão sabe-tudo.

Pior ainda: para salvar o volumoso investimento avaliado em US$ 267 milhões, o mexicano Slim - gordo, ensebado e bigodudo como o Sargento Garcia, de “O Zorro” - começou por impor cortes nos gastos com um exército de correspondentes e fechar sucursais no exterior. Em 2009, The New York Times tinha registrado um prejuízo de US$ 74, 5 milhões.

Muita gente boa aponta o jornalismo eletrônico como o principal responsável pela ruína dos jornalões. Os motivos não são nada desprezíveis: blogs e sites não gastam com papel nem mantêm grandes redações, nem tampouco sofrem com perdas de receitas publicitárias – embora hoje, como se tornou evidente, o jornalismo on line comece a morder firme nas contas das grandes e pequenas agências de propaganda.

Por outro lado, graças ao avanço da tecnologia digital, o jornalismo eletrônico conta com um dispositivo excepcional: sua dinâmica permite acompanhar e refazer a notícia a cada segundo, sempre em cima do fato, possibilitando até mesmo a transmissão de imagens ao vivo, usando, para tal fim, o vasto acervo imagístico exposto no YouTube.

No entanto, não é apenas no plano da operacionalidade que o jornalismo on line causa rebuliço. Se a imprensa é, em essência, notícia e análise, o jornalismo eletrônico permite as duas coisas – o que o torna mais ágil, denso e promissor, cumprindo, em qualidade e quantidade, um papel sem paralelo no jornalismo de todos os tempos.

Ademais, para fazer a análise qualificada, o jornalismo de site dispõe de tempo, espaço e liberdade (inimagináveis nas folhas de hoje em dia), conjunto de privilégios só entrevisto nos primórdios do bom jornalismo inglês, quando tipos como Samuel Johnson, Bernard Shaw, Addison e Hazlitt faziam da notícia “essays” generosos, férteis de conhecimento e objetividade crítica.

Por sua vez, o jornalismo eletrônico, quando exercido à vera, sem a inibição dos códigos de redação e intermediários de praxe, cria uma ambiência especial, feita de independência, pesquisa e ousadia que só encontra paralelo no extraordinária clima de parceria que se estabelece entre quem escreve e quem lê. Não é por outro motivo, penso, que há quem passe entre 10 e 12 horas por dia navegando (termo preciso) na internet, transformando-se o navegador num potencial repassador de matérias, ou seja, num internauta.

Em troca, o que nos dá os jornalões?

De início, uma soma de mistificações, distorções e mentiras de estontear qualquer Mike Tyson. Com efeito, salvo hiatos, o seu noticiário, editoriais e as “análises” dos seus “formadores de opinião” estão sempre, no seio da grande imprensa, sonegando a realidade em função de interesses ideológicos “politicamente corretos” – vale dizer, “utópicos”.

Querem um exemplo da perversão? Recentemente, o ex-candidato à presidência da Venezuela, Alejandro Peña Esclusa, um cidadão honrado e opositor pacífico, foi preso em sua residência pelos esbirros de Hugo Chávez, que usaram como pretexto, para tirá-lo de circulação, evidências falsas, afirmando possuir ele um arsenal de bombas num guarda-roupa. Peña Esclusa não é qualquer um: trata-se de um líder integro que provavelmente será, quando a nuvem negra do chavismo passar, o futuro presidente da Venezuela.

Pois bem: o que dizem os nossos jornalões sobre o lastimável atentado? Nada ou muito pouco, uma pequena notícia de pé de página, sem direito a chamada, foto ou perfil em box. Onde anda o departamento de pesquisa dos jornais brasileiros que nada nos contam sobre Peña Esclusa, um líder democrático trancafiado por um ditador delirante? Será por ser ele considerado de “direita”?

O jornalismo livre e consciente tornou-se uma impossibilidade na chamada grande imprensa nacional: o capachismo ideológico tomou conta de tudo. Mas ele é, ou deveria ser, soberano, visto repudiar qualquer vestígio de opressão ou despotismo, venha de onde vier. Nesta perspectiva, a denúncia da brutalidade cometida por Chávez contra Peña Esclusa deveria ser matéria de primeira página, com direito a acompanhamento diário até a sua libertação.

Em suma, eis o que eu queria dizer: o papel do jornalista consciente, com o dom que Deus lhe deu, é o de apurar e dizer a verdade - custe o que custar. Se possível, de maneira clara, integra e objetiva. Cumprir tal tarefa, no entanto, está ficando cada vez mais difícil no jornalismo tupiniquim, com suas alianças espúrias e seus interesses inconfessos. Os jornalões se esmeram, apuram a roupagem visual, contratam “vedetes” e abrem dezenas de colunas para roubar o tempo do leitor.

Tudo sem muita importância. Pois diante da grande imprensa um espectro se impõe e apavora: o do jornalismo on line, livre e altivo como um falcão em vôo pleno.

sábado, julho 24, 2010

A invenção da pintura

Plínio Palhano

A invenção da pintura percorreu um longo caminho até alcançar a contemporaneidade. Desde a época das pinturas rupestres, quando nossos antepassados encontravam meios de representação do mundo que os circundava, nascia a necessidade da imagem, que permanece no espírito criador do homem. As técnicas, ainda rudimentares, com sangue e minerais, estão gravadas em rochas como expressões milenares das primeiras demonstrações do pensamento plástico que motivaram artistas do século XX e de hoje em suas obras. Alguns estudiosos afirmam que aqueles criadores impregnaram as cavernas com pinturas dos seres que conheciam na intenção de captá-los de forma mágica para, então, concretizar a caça, como se eles não vissem a diferença entre o objeto da criação pictórica e aqueles animais. As formas e a dramaticidade dessas pinturas são tão magníficas que fez Picasso observar que “não aprendemos nada”.

As técnicas foram se aperfeiçoando e se consolidando pelos séculos de forma gradual, a partir, principalmente, das pinturas egípcias em murais que decoravam os túmulos e as obras arquitetônicas em geral, nas esculturas das representações dos deuses e faraós e em papiros; uma pintura em que a cor era utilizada com teor estritamente simbólico e místico, deixando marcas peculiares de uma grande civilização. Já a pintura grega possibilitou um movimento das figuras, a proporcionalidade, a ilusão da tridimensionalidade através das formas sombreadas e a introdução, no espaço, de alguns conceitos de perspectiva. Herdeira imediata da tradição da arte grega, a pintura romana aperfeiçoou os aspectos técnicos e estilos, dando um passo fundamental e deixando o legado à pintura bizantina, como também a toda pintura da Idade Média europeia e do Renascimento.

Até então só se conhecia a pintura em afresco, em iluminura, a têmpera e a encáustica. Mas a revelação da pintura a óleo encontrou em Florença um campo fértil para absorvê-la e torná-la tão nobre que seria a preferida depois de propagada nos ateliês. A novidade veio do Norte, e atribui-se ao flamengo Jan Van Eyck (c. 1390–1441) a invenção, que, paralela à importância da descoberta da perspectiva científica — realizada pelo arquiteto Fellippo Brunelleschi (1377–1446) —, buscava aperfeiçoar a sua obra, dando-lhe uma riqueza nos detalhes que a pintura a têmpera não oferecia. Diz-se que as primeiras obras de Van Eyck chegaram a Nápoles e Urbino atraindo a atenção. Até que o veneziano Antonello de Messina (c. 1430–1479) viaja para Flandres com o fim de iniciar-se na nova técnica. De volta, instala-se em Veneza e passa a novidade aos italianos, em particular a Domenico Veneziano (c. 1410–1461). Só depois os florentinos começam a experimentar a técnica a óleo. Não se tem conhecimento sobre como, exatamente, a pintura a óleo chegou ao ateliê de Andrea Del Verrocchio (1435–1488), mas ele foi um dos primeiros a utilizar a nova revolução, em Florença. Leonardo da Vinci (1452–1519) e Perugino (c. 1445–1523), discípulos de Verrocchio, quando jovens, desenvolveram-na ao máximo, deixando a herança para Rafael Sanzio (1483–1520).

Após o período de todas as técnicas confrontadas pelos grandes mestres na história, prolongando-se ao nosso século, o artista contemporâneo encontra os materiais — entre estes, a tinta acrílica — disponíveis com uma riqueza científica imensa para utilizá-los de maneira livre a ponto de negar, em alguns casos, a própria preocupação de conservação da obra. Não somente a liberdade ante a utilização desses materiais, mas também de criar o seu próprio caminho sem as interferências de escolas, movimentos, estilos, curadores, etc. A pintura, no mundo, encontra-se em vigor e volta a reinar em vários acontecimentos da arte — apesar da sua morte anunciada há anos —, porque é uma das expressões (entre outras linguagens compatíveis com as recentes tecnologias) refinadas que falam diretamente do pensamento poético de um criador e na qual encontramos uma concepção intransponível e única.

Plínio Palhano é Artista Plástico
ppalhano@hotlink.com.br

Agenda de Lula 24/07/2010


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva passa o fim de semana em Brasília (DF), sem compromissos oficiais. Em tempo: Tomando cana, dizendo as habituais mentiras e se achando ótimo. HC

sexta-feira, julho 23, 2010

TUDO RESOLVIDO!

Riobaldo Tatarana

Há que tempo não escrevo para este blog! Ninguém notou minha ausência, mas mesmo assim gostaria de explicá-la. É que tenho andado doente, não do corpo, mas da alma. Doença que atribuo, em parte, a este mesmo blog, que só fala de coisas tenebrosas, luladas, politicadas, safadezas e roubalheiras mil. Que diabo, seu, não dá pra falar de coisas mais amenas? Mulheres, por exemplo? Já não basta a mídia nacional, enchendo nosso saco com crimes covardes de goleiros e marreteiros?
Vejam bem, falei “em parte”, porque de fato o que me enegreceu a alma foi a notícia péssima que recebemos o mês passado: Dona Mira, nossa formidável cozinheira, nossa cordon bleu, a quem estimamos como uma irmã de fé culinária, vai embora. Miserere! O caso é o seguinte: a filha dela casou com um cidadão de um burgo, situado nos confins do hinterland paraibano, quase na fronteira com o Ceará. O casamento foi lá, dirigi mais de oito horas para chegar naquela cidade, que se chama Patos. O lugar é quente como uma fornalha, e seco. O pai do noivo, para significar a aridez local, me saiu com essa metáfora: “Aqui, quando chove, cachorro acua lama”. O rapaz era ajudante de pedreiro, e parecia ganhar o suficiente para viverem endividados. Acontece que sofreu um acidente de moto, ficou “sem força nos braços”, e já pedreiro não é. Solução? Dona Mira tem de mudar para lá, com o marido e o filho, para acudir.
O plano é terem uma carrocinha de cachorro-quente – não daquele cachorro-quente paraibano que aprendi a amar, com carne moída, cebola, pimentão e tomate – mas dessa contrafação chamada “hot-dog”, na verdade uma salsicha suspeita dentro de um pão, acompanhada de batata palha, ketchup, maionese e quanta porcaria mais couber. Esperam com isso sustentar a família. E aí lá se foi meu sossego, as comidas e comidinhas divinas, os papos com o marido, as pescarias com o filho. Oh, destino cruel, que me assalta com essa catástrofe, no ocaso de minha vida.
Para piorar as coisas, minha mulher, que sempre foi uma criatura sensata, conheceu numa feira de artesanato em Olinda (lugar sobremodo odioso e arriscado!) os membros de uma seita que prolifera em algum ponto das Minas Gerais. Dois sujeitos e uma mulher, todos sujos e cheios de badulaques, infernaram nossa vida por alguns dias, até convencerem a patroa de que desta vez não tem jeito mesmo: o mundo vai acabar no ano 2012! Está previsto no calendário maia, ou asteca, e disso eles já receberam confirmação de alienígenas que só eles conseguem ver. Uma tsunami gigantesca arrasará todos as cidades costeiras do país – pensei que era somente João Pessoa! – e não ficará pedra sobre pedra, como na profecia bíblica.
Confesso que depois dessa partida iminente da nossa Mira, fiquei até consolado, pensando: É bom mesmo que acabe essa porcaria! Por que ficar fingindo que está tudo bem, que os coqueirais, que o marulho das ondas, que os camarões fritos... De que serve essa inútil paisagem sem os quitutes Mira-bolantes? Perdi o gosto. Minha pobre mulher, que é uma pessoa impressionável, já começou a indagar se não haveria um lugarzinho assim aprazível, em Penedo – não a bela cidade alagoana, às margens do velho Chico, pois que o rio também pode virar mar e aí morreríamos afogados da mesma forma. Mas a Penedo da serra fluminense, perto de Resende, onde em um passado remoto costumávamos fazer “camping selvagem”. Ali, numa altitude de 2 mil metros, estamos a salvo de qualquer tsunami.
Essa idéia apocalíptica preocupou-me. Não pelo estrago que vai fazer no país. Importa-me bem este velho Brasil, já condenado à morte pela incúria da politicagem. Mas pelo incômodo que virá com essa mudança – a minha rede, os meus passeios pela praia, o meu caju com a cachacinha de cabeça... São hábitos que não se perde fácil. Por outro lado, como diziam os franceses, à quelque chose malheur est bon” (em língua de gente, “há males que vêm para bem”). Porque muita gente safada vai sumir, o país ficará com novas praias, os catadores de lixo poderão amealhar verdadeiras fortunas...
Mas aí fui sobressaltado por uma lembrança terrível: e Brasília? Que acontecerá à nossa “capital federal”? Encarapitada nos cimos do planalto central, não há tsunami que a alcance, e aquela gente boa que lá mora continuará no seu dolce far niente, às nossas custas. Levei essa dúvida à minha mulher, que a repassou a seus amigos esotéricos. E eles logo acudiram explicando que não é bem assim. Há um reino subterrâneo, ou subaquático, de onde sairão discos voadores dotados de raios de destruição, que liquidarão toda a gente má, independente do lugar onde vivam. Eles têm a ficha de todos os políticos corruptos do Brasil – isso é que é memória ROM! – e não deixarão nenhum escapar. Ah, bom!

quinta-feira, julho 22, 2010

PARA ONDE VAMOS?

Peguei emprestado no BLOGSTRAQUIS do Moacir Japiassu. HC

RANGEL CAVALCANTE

Para onde vai um país em que um em cada três dos seus habitantes recebe dinheiro do governo sem trabalhar? A indagação vem a propósito da declaração
do presidente Luiz Inácio Lula da silva de que legará ao seu sucessor um país em que uma em cada três famílias receberá o benefício da bolsa-família, um universo de 63 milhões de brasileiros. Isso significará o mesmo que sustentar na ociosidade toda a população do Uruguai, Paraguai, Bolívia e ainda a metade dos 40 milhões dos hermanos argentinos.

Nunca na história desse planeta se viu um assistencialismo de tamanha dimensão. Isso significa que dois de cada três brasileiros terão que trabalhar e pagar os impostos mais escorchantes do mundo para sustentar um terceiro que não faz nada.

Ora, o companheiro Raul Castro alertou no ano passado que esse tipo de espécie de cupim que devora os mais elementares princípios da família. Os cubanos, que inventaram a bolsa-família antes de FHC, concluíram que esse tipo de ajuda é um péssimo exemplo para as crianças que vêm os pais ganhando dinheiro do Estado sem fazer nada e assim logo adquirem o vício da ociosidade remunerada. Tanto que as autoridades cubanas decidiram mudar a coisa, depois que uma pesquisa constatou que arranjar um emprego e trabalhar é a sétima prioridade dos jovens do país.

Há anos havia no Brasil as famosas frentes de serviço que socorriam os nordestinos nos períodos de seca. Legiões de homens e mulheres eram alistadas e recebiam dinheiro e comida do governo. Em contrapartida, trabalhavam na construção e recuperação de estradas, açudes e outras obras públicas em toda a região. Mesmo assim eram criticadas por casos de corrupção e por sofrerem a influencia do coronelismo. Essas frentes não viciavam nem humilhavam o cidadão. E nem criavam uma legião de parasitas vivendo em simbiose com os
cofres públicos.

A malha rodoviária do país está em frangalhos. Assim como os portos, as escolas e os hospitais públicos. Acabaram as ferrovias, que a Europa e os Estados Unidos continuam construindo. E as poucas obras viraram o imenso bolo com a qual se banqueteiam as empreiteiras, quase sempre escolhidas por processos viciados. Está na hora de o governo repensar esse assistencialismo demagógico. Vamos dar dinheiro e comida a quem necessita. Mas em troca de algum trabalho.

O Brasil precisa disso. Do contrário já se pode vislumbrar muito bem para onde um país em que grande parte de seus habitantes esquece aquilo que o companheiro Raul Castro chamou - repetimos - de necessidade vital de trabalhar. E o maior risco é o de nos transformarmos pelo voto numa ditadura democrática como a do companheiro Hugo Chávez.

Para os amigos, sigilo; para os inimigos, devassa


José Nêumanne

Nem a chuva nem o fenômeno do encolhimento da multidão (o PT esperava 100 mil, mas só mil pessoas foram a seu comício no Rio, sexta-feira) arrefeceram a disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de desrespeitar o "império da lei", definição de qualquer democracia que se preze. Diante dos mil gatos molhados pelos pingos da chuva que o aplaudiram, mas ignoraram a presença de sua candidata à sucessão, Dilma Rousseff (PT), Sua Excelência vociferou contra "uma procuradora qualquer aí" que, segundo ele, tenta inibir sua presença na campanha.

Só que essa violação do juramento que ele fez em 1.º de janeiro de 2003 e repetiu quatro anos depois, o de obedecer e fazer cumprir o sistema legal sob a égide da Constituição da República, não se manifesta apenas nas palavras do chefe supremo do petismo no poder, mas mais ainda nas ações de seus correligionários. Para ficarem no poder eles têm feito tudo e mais um pouco. E não serão o pudor nem as normais legais que os inibirão. Comprova-o o caso Eduardo Jorge Caldas Pereira. Esse cidadão era secretário-geral da Presidência nas gestões de Fernando Henrique Cardoso e hoje é vice-presidente do PSDB, legenda pela qual o ex-governador de São Paulo José Serra disputa a chefia do governo que Lula ocupa e quer, de qualquer maneira, entregar à sua ex-ministra Dilma.

Em 2001, na vigilante e competente oposição que fazia, e que o PSDB e o DEM não sabem repetir depois que Lula assumiu o governo, o PT escolheu esse tucano de pouco poder e menos visibilidade como alvo de investigações a respeito de malversação do dinheiro público. Os petistas acusavam-no de chefiar uma rede de influências para beneficiar empresas. A denúncia foi encampada pelos procuradores da República Luiz Francisco de Souza, que passou a ser chamado de Torquemada, sobrenome do frade dominicano, caçador de bruxas, perseguidor de judeus, inquisidor-geral nos reinos de Castela e Aragão e confessor da rainha católica Isabel, e Guilherme Schelb, ambos muito conhecidos à época pela pertinácia com que perseguiam "malfeitores" na gestão pública. As denúncias foram publicadas pela Folha de S.Paulo, processada pelo acusado. Em 2006, o jornal foi condenado pelo juiz Fabrício Fontoura Bezerra a pagar-lhe R$ 200 mil, porque ele nunca sequer chegou a ser acionado na Justiça por tais acusações. Ao longo de cinco anos, segundo relatou o juiz na sentença, as investigações abertas contra ele pelo Ministério Público Federal, pela Receita Federal, pelo Banco Central do Brasil, pela Comissão de Fiscalização e Controle do Senado Federal e pela Corregedoria-Geral da União nunca encontraram algum crime que pudesse haver cometido.

Eduardo Jorge representou ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra os procuradores cujas suspeitas se tornaram matéria-prima das publicações que o juiz considerou caluniosas. Em 2007, esse conselho os suspendeu por 45 dias e, dois anos depois, a pedido do persistente Eduardo Jorge, reconheceu ter sido este vítima de perseguição pessoal por ambos. Desde então, ninguém mais ouviu denúncias de nenhum deles.

E não têm faltado, em sete anos e sete meses de República petista, assuntos que eles pudessem investigar, se seu objetivo fosse de fato o interesse público. Souza e Schelb, por exemplo, nunca se propuseram a apurar se é verdadeira a delação do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson (RJ), de compra de apoio parlamentar pelo governo no episódio, sub judice no Supremo Tribunal Federal (STF) ? conhecido como "mensalão". Da mesma forma, a isenção missionária de ambos não os levou a denunciar os responsáveis pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Pereira, cujo único delito conhecido é o de ter testemunhado que vira o então ministro da Fazenda Antônio Palocci, do PT, frequentar assiduamente uma mansão suspeita em Brasília.

O doce ostracismo em que vive hoje essa dupla que já foi malvada só perde para a completa impunidade gozada por Waldomiro Diniz, cujo crime confesso de tentar achacar um empresário da jogatina nunca foi investigado pela solerte Polícia Federal (PF) nem pelo ex-implacável MP do Distrito Federal. Mas isso não quer dizer que as sentenças favoráveis ao vice-presidente nacional do PSDB tenham arrefecido o ânimo dos contumazes quebradores do sigilo de adversários dos arapongas militantes a serviço do PT no poder. Desta vez, cópias das declarações do Imposto de Renda (IR) de 2005 a 2009 de Eduardo Jorge integravam um dos quatro dossiês preparados pelo "grupo de inteligência" da campanha de Dilma.

O secretário da Receita, Otacílio Cartaxo, foi convocado a depor na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal, à qual disse que já foram identificados os servidores responsáveis pelos "cinco ou seis" vazamentos ocorridos. A imprecisão dessa "informação" já denota por si só o pouco-caso com que ele lidou com as explicações que tinha de dar aos senadores. E também se negou a dar seus nomes antes do fim das investigações, prometido para 120 dias. Ou seja, para depois do segundo turno da eleição presidencial, disputada por um candidato do partido do qual a vítima da quebra de sigilo é dirigente e pela candidata para quem trabalhavam os suspeitos de terem violado esse direito pétreo do cidadão. Neste ínterim, o corregedor-geral da Receita, Antônio Carlos Costa d"Ávila Carvalho, reduziu pela metade (e, mais relevante, para antes do pleito de outubro e novembro) o prazo dado pelo secretário: 60 dias.

Até o terrível comissário Laurenti Beria, que a serviço de Stalin se comprazia em atirar na nuca de "inimigos do povo", morreria de inveja dos colegas petistas que violam o sigilo alheio em terminais de computadores e usufruem o inviolável direito de serem mantidos em segredo pelo espírito de corpo do chefe direto e pelo desprezo a tudo o que não lhe convier do chefão geral.

quarta-feira, julho 21, 2010

Charge do Dia

W. J. Solha

Lembro-me de como os artigos de Fernando Monteiro que eu lia na revista Bravo me impressionavam, anos atrás. Não procurei seus livros, porém, porque supunha que encontraria neles meus próprios livros, premonição desagradável alimentada, certamente, pela angústia que o Contraponto, de Huxley, me causou em sua leitura e releituras, pelas páginas – como as minhas – cheias de grandes nomes e de frases em itálico. De repente a presença do pernambucano começou a fechar o cerco. O maestro Eli-Eri Moura, para quem fiz o libreto da ópera Dulcineia e Trancoso, recebe sua visita e é por ele contratado para criar a trilha sonora de uma megaprodução cinematográfica recifense, montada por um pool de igrejas protestantes, e o pintor Alberto Lacet também é posto a serviço do mesmo filme, passando – fascinado - a me bombardear com uma série de textos do novo amigo, por e-mails. Um título – ainda do final dos anos 90 - começa a me martelar a cabeça: Aspades ETs Etc. E é aí que vou ao Sebo Cultural, para assistir ao lançamento de uma coletânea de contos de que participam outros dois amigos – Astier Basílio e Rinaldo de Fernandes – e pergunto, no balcão:

“Vocês têm o Aspades, do Fernando Monteiro?”

A orelha do livro que o narrador português diz que não é romance, mas a ficha catalográfica que sim, é de Marco Lucchesi, poeta e tradutor carioca que se apresentou comigo num dos serões do projeto Tome Poesia, do Antonio Mariano, e que, na ocasião, deixou-me embasbacado pela vastidão de sua cultura – que se derramou de seus poemas e ensaios para o diálogo de largo espectro que manteve comigo. Os títulos de algumas de suas obras – como Sphera e Bizâncio – têm a ver com outros, de Fernando Monteiro, tipo Akhenaton e Vi uma foto de Anna Akhmátova, que, por sua vez, me remetem a filmes de Júlio Bressane, como Cleópatra, São Jerônimo e Dias de Nietzsche em Turim. A arte dos três é de europeus que não cabem no país. Há uma espécie de poética do autor, quando seu personagem Vasco Aspades fala de seu filme Vozes da Água, dotado “de grande verdade pessoal” e “da validade artística que dá a toda narrativa um “tom” evanescente que é, entretanto, firme como as cores dos estuques policromados de alguns túmulos etruscos, com seus afrescos na sombra, seus corcéis e aves de tinta, cães e peixes de prata sumindo em rede pintada de lembranças para os olhos dos mortos”. O texto me pareceu tão maravilhoso quanto difícil, às vezes levado a uma loucura à maneira de Lorca, que me obrigou a reler trechos imensos em voz alta e pausada, para poder sentir chão sob os pés, desorientado na supramencionada “evanescência”, onde – frequentemente, diz Vasco – “é necessário olhar para o que não nos pede para ser visto”. Esta, por exemplo, é uma frase que se tem de ler três vezes para ser assimilada.

Fernando Monteiro traz, de sua outra arte - a de seu personagem - um conhecimento fundo, revelado numa frase lapidar, na qual constata que “O cinema é a arte do rosto”. Claro que ela nos força a lembrar de A Paixão de Joana D´Arc, de Dreyer, obra-prima toda em closes, não só da Maria Falconetti como de todo o elenco, extremamente expressivo, que conta, inclusive, com a bela e poderosa expressão de Antonin Artaud.

Mas como é intensa!

Talvez Fernando Monteiro e seu editor devessem ter invertido o título do livro para ETs ETc Aspades, permitindo ao leitor uma gradativa ascensão ao universo do escritor a partir de outras narrativas bem mais acessíveis, como ETs Etc e Transit, onde – ao contrário do que faz em Aspades – brinca com tudo que sabe de cinema e literatura. Soberbamente escrito, por exemplo, ETs Etc tem momentos nos quais seu narrador me lembra Sam Spade e Philip Marlowe, personagens dos clássicos romances policiais de Dashiel Hammet e Raymond Chandler. Veja isto, por exemplo:

“Lá fora tudo tinha aquele brilho molhado que, nas cidades, faz a gente ter vontade não só de ir para casa, mas de aprender a tocar sax para ficar improvisando coisas em noites chuvosas”. Caramba.

No mais, são histórias... construídas, sem a menor intenção de parecerem reais, mas realmente... scherzi – brincadeiras de altíssima qualidade. Ao dar com um cadáver dentro de um apartamento que encontra com a porta apenas encostada, por exemplo, seu narrador nos confessa: “Nos filmes, as mulheres gritam – e os homens recuam um pouco. Eu não sei se recuei um pouco.” Noutro ponto: “Foi nesse estado de angústia crescente, como se diz nos maus livros, que, numa manhã...”E “Um mês depois, casamos, tudo rápido como nos filmes de produção apressada pela falta de recursos”.

Resumindo: Aspades ETs Etc são, para mim, uma bela, uma enorme surpresa.

W.J. Solha, com essa cara de um sorridente D. Pedro II, é dessas pessoas inacreditáveis. Ator, dramaturgo, escritor, poeta, toca mais ou menos uns 18 instrumentos. Conta a lenda que nos idos de mil novecentos e preto e branco fez um concurso para o Banco do Brasil e foi nomeado para Souza no alto sertão paraibano, belo contraste para o paulista de Sorocaba. Nunca mais voltou à terra natal. Sorte nossa. Que este seu primeiro texto seja o início de uma série para o prazer e deleite dos leitores deste Blog.
A casa é sua, Mestre. HC.

VIDEO DO DIA

A Bienal da Política Obscura

Plínio Palhano

Toda Bienal, principalmente no Brasil, é polêmica, e, no mundo, existem mais de duas centenas delas. A anterior (2008), de São Paulo, foi chamada — como é do conhecimento público — a do Vazio, porque deixou um dos andares do edifício sem nenhuma utilidade. Esse andar foi preenchido pelos pichadores, que, dizem, serão representados este ano, na 29ª Bienal, em vídeos e fotos, num provável ato estratégico e preventivo com o fim, talvez, de domesticá-los e evitar que se atrevam a repetir a “transgressão”. Os curadores ainda têm o desplante de dizer que não sabem se o que os pichadores fazem é arte. Ora, se não sabem, para que servem esses vídeos e essas fotos?

Esta Bienal de 2010 é a da Política Obscura, porque, segundo o conceito dos atuais curadores, não se pode distanciar arte da política — isso dito sem maiores explicações. Mas a que política eles se referem? A dos conchavos? A das cartas marcadas? Diz-se que a permanência de políticas estranhas na Bienal é fato, sem nenhuma dúvida.

A unanimidade entre os pensadores e críticos das Bienais é que essas instituições estão em crise, falidas, nelas havendo pouquíssimas surpresas, principalmente no aspecto da concepção, mas, no Brasil, acrescentam-se as dívidas financeiras exorbitantes. E já que a curadoria fala da aproximação da arte com a política, seria fundamental dar outra dimensão ao evento, com uma verdadeira política, transparente e objetiva, sem as afirmações e os conceitos dúbios que geram apenas especulações e não atingem a finalidade de uma Bienal.

Bombeiros acusados de roubar donativos de vítimas das chuvas em Alagoas


Como diria Odorico Paraguassú, "é com a alma enxaguada pela áqua da tristeza que constatamos: Até os Bombeiros"!? HC

Odilon Rios, especial para o GLOBO - em 21/07/2010

MACEIÓ - O Ministério Público de Alagoas investiga um esquema coordenado por um coronel, um capitão e um tenente do Corpo de Bombeiros para desviar material doado pelos brasileiros a moradores atingidos pelas enchentes. O furto foi denunciado por um integrante do próprio Corpo de Bombeiros. Foram desviados carregamentos de sandálias de dedo, sabonetes, objetos de uso de pessoal e até talheres.

As doações eram desviadas antes mesmo de chegar ao quartel do Corpo de Bombeiros, onde é feita a triagem dos donativos que chegam de todo o país para distribuição às cidades atingidas. Os produtos seguiam para outro galpão, onde os bombeiros participantes do esquema escolhiam os objetos que queriam. Só as sobras eram destinadas para a distribuição às vítimas.

Os promotores investigam agora se há participação de políticos na trama. O objetivo seria trocar os objetos doados por votos nas eleições de outubro. Ao todo, 15 cidades decretaram situação de calamidade, em razão da destruição provocada pela cheia dos rios Mundaú e Paraíba. Há 72 mil desabrigados e 29 desaparecidos.

Sandálias estavam no carro de um oficial dos Bombeiros

A descoberta do esquema ocorreu por acaso. No dia 12 de julho, um caminhão com mais de mil pares de sandálias Havaianas, doadas pelo fabricante, chegou a um galpão da Secretaria Estadual de Educação e Esportes, na Avenida Rotary, no bairro do Farol. Um livro de registros do galpão atesta a entrada do carregamento. No dia seguinte, houve um acidente com o portão do galpão, que caiu, ferindo o filho do vigilante.

Ao tentar ajudar o ferido, um oficial designado para fazer a separação dos donativos notou uma movimentação estranha: parte das sandálias estava sendo transferida para o veículo de um outro oficial. De acordo com o Boletim da Corporação, que circula internamente, o oficial deu voz de prisão ao colega. Mas logo um coronel e um deputado federal apareceram, e o crime acabou abafado.

Dias depois, houve outro flagrante de desvio: uma doação de R$ 50 mil em produtos de uso pessoal foi novamente saqueada por bombeiros, conforme atestam boletins internos do Corpo de Bombeiros e parte dos depoimentos ao Ministério Público, obtidos com exclusividade pelo GLOBO.

Esses produtos tinham sido doados pela Receita Federal. O secretário de Defesa Social de Alagoas, Paulo Rubim, fez o flagrante pessoalmente e determinou, no dia 17 de julho, a abertura de uma sindicância para apurar o caso. Um bombeiro está preso.

O Corpo de Bombeiros de Alagoas não quis se pronunciar sobre o desvio de donativos. O secretário Rubim não foi encontrado.

- Os oficiais alegam que a distribuição era desorganizada, e que, inclusive, chegavam pessoas ao Corpo de Bombeiros dizendo ajudar e levavam coisas para casa. Tinha gente que entrava com uma roupa ou uma sandália velha e saía com uma nova. Mas, não houve desvios feitos pelos bombeiros - alegou o advogado dos oficiais, Tales Azevedo.

terça-feira, julho 20, 2010

Brasil - Copa de 2014



Ontem o (des)governo mandou abrir as torneiras do nosso rico dinheirinho e liberou bilhões (foi tanta grana que não consigo escrever os zerinhos da quantia) para o superfaturamento das obras dos estádios e toda infra-estrutura. Lembram que o campeonato mundial de futebol será aqui em Pindorama? Pouco se me dá. A Copa pode ser o maior sucesso. Acima, foto da Comissão de Recepção do Estado do Rio de Janeiro já em período de ensaios, visando estar nos trinques durante o propalado evento. HC

O velório que antecedeu a posse

Pra que se tome ciência de como a Máfia da política não perdoa. Muito se falou à época sobre nebulosas conspirações. O fato é que, ao final de 1985 estando o locutor que vos fala em viagem de negócios à Venezuela (pré-Chavez), era insistentemente perguntado sobre a misteriosa morte do Dr. Tancredo. Os boatos sobre envenenamento teriam algum fundamento? Como poderia eu saber! O texto abaixo que recebi e repasso, é bastante oportuno. Ainda. HC

"A morte de Tancredo Neves, na véspera de sua posse como presidente do Brasil, estimulou inúmeras teorias conspiratórias. Em 14 de março de 1985, ele foi levado com urgência ao Hospital de Base de Brasília por um mal-estar que parecia simples, mas logo diagnosticado de diverticulite intestinal.

A coisa piorou. Tancredo Neves teve que passar por sete intervenções cirúrgicas em 38 dias de agonia. Então, chegou a nota de falecimento em 21 de abril, Dia de Tiradentes, no Instituto do Coração, em São Paulo. Cerca de dois milhões de brasileiros acompanharam o cortejo fúnebre do presidente que nem chegou a exercer o seu mais elevado cargo.

Na época, muitos boatos circularam. Um deles era que Tancredo, defensor das eleições diretas, teria sido baleado por um militar linha-dura, contra a democracia. O atentado teria acontecido enquanto era entrevistado por Glória Maria, da TV Globo , na Catedral de Brasília. A jornalista teria sido mandada para o exterior para abafar o caso.

Uma segunda versão, afirma que a morte de Tancredo fora causada por envenenamento. A hipótese é baseada pelo fato de que seu mordomo João Rosa – que acompanhava Tancredo na sua residência - fora internado com dores similares a de seu chefe. João morreu com o mesmo diagnóstico de Tancredo, após sete cirurgias e internado por 16 dias.

As idéias de uma suposta conspiração ganharam peso maior, após a revelação publicada na revista Veja de que na verdade Tancredo teria morrido um dia antes do anunciado. A fonte, um médico que acompanhou o estado clínico do presidente, teria falado que o cérebro de Tancredo parou na noite de 20 de abril. Mas devido por ser próximo ao feriado de Tiradentes, a data poderia ter sido escolhida para ser lembrado como um herói nacional."

segunda-feira, julho 19, 2010

Sutor Ne Supra Crepidam

José Virgulino de Alencar

O pintor grego Apeles(352 – 308 Antes de Cristo) é tido como autor da frase famosa, título desta crônica. Lenda ou não, conta-se que o pintor teve criticado um quadro seu por um sapateiro, que opinou sobre uma sandália de um personagem da pintura e estendeu sua crítica por toda a tela.

Apeles, de imediato, protestou, recomendando ao sapateiro que não opinasse além das sandálias, por seu ofício de sapateiro, soltando a frase: “sutor ne supra crepidam”, ou seja, “sapateiro, não vá além das sandálias”. Enfim, não emita opinião sobre o que não sabe. A frase virou aforismo, usado para aconselhar as pessoas a se limitarem a falar sobre o que entendem, não devendo ir além de seu parco conhecimento.

É da natureza humana essa mania que se tem de querer opinar sobre tudo. Do peão caipira ao gênio intelectual, todos se permitem emitir conceitos e opiniões sobre qualquer assunto, mesmo que no final não fale “coisa com coisa”, como diz o vulgo.

Há realmente sapiência nos ditos populares, nos aforismos até com um certo cunho filosófico criados por pessoas com pouquíssima instrução, mas com admirável capacidade de pensar. Porém nem tudo tem consistência de raciocínio.

Do brasileiro, por exemplo, diz-se que ele tem muito de médico, de político, de jurista e de técnico de futebol, entre outros possíveis conhecimentos. Receitar remédio para o amigo que se queixa de qualquer incômodo já é mania nacional. Todo mundo tem pronta a indicação de um medicamento para o mal que se lhe apresente.

Na política, a falação se estende por princípios, comportamentos, ética, moral, onde todo mundo defende um verdadeiro paraíso para o País, mas, no fim, nossa pátria amada está mesmo é para aquela fase de reparação de pecados que antecede a entrada no céu.

Em matéria jurídica, a discussão é acalorada sobre os vários ângulos do direito, proliferando constitucionalistas de todos os matizes dando lições sobre o que diz a carta-magna, embora ninguém, nem os juristas de fato e de direito, a costumem respeitar. Lei no Brasil soa como brincadeira de mau-gosto, havendo leis que “pegam” e leis que não “pegam”, mais estas do que aquelas.

No futebol, a pitacada vai longe, tendo todo mundo o seu time na cabeça, suas táticas, as armações em campo, os jogadores que devem ser escalados. A análise dos lances polêmicos são feitas com uma falação apaixonada, só não convencendo porque o ouvinte debatedor tem suas também inconvincentes interpretações. Na opinião pública, ninguém se entende sobre o futebol e, no campo, o preferido esporte do brasileiro já não encontra entendidos no domínio da bola e das táticas, fazendo hoje, o nosso futebol, um belo papelão no chamado tapete verde.

Diante, então, de tanta exibição de sapiência generalizada, a gente, cá com nossos botões, ouvindo as explanações de tanto conhecimento das coisas, vendo muito abelhudo opinando sobre as sandálias dos personagens da vida e se estendendo por toda a tela da informação, muitas vezes exigente de especialidade, dá vontade de repetir Apeles e gritar: “sutor ne supra crepidam”.

Essa vontade é maior, quando vemos altos responsáveis em altas responsabilidades públicas para as quais não estão, e isso é flagrante, preparados para assumi-las e conduzi-las, elaborando raciocínios que provocam uma verdadeira guerra nos seus neurônios, por tanta dissonância e contradição dos superficiais argumentos e das idéias conflitantes.

Em bom português, aconselhemos os ilustres sabichões do falso conhecimento: “Sapateiro, não vá além das sandálias”.

VIDEO DO DIA

Indio quer apito?

Ó PÁTRIA AMADA, ESTUPRADA, SALVE, SALVE!

Carlos Mello

Aí em meados dos anos 80 trabalhei em uma favela, no Caju (Rio de Janeiro), com o pessoal de uma Comunidade Eclesial de Base. Todo fim-de-semana ia para lá, tentando montar um grupo de teatro com os jovens. A ideia era que eles mesmos compusessem uma peça, tirada de sua realidade, e eu tentaria ajudá-los a levá-la para o “teatro” – um lugar que os padres e freiras estavam nos ajudando a erguer. Nunca consegui formar um elenco com o qual pudesse fazer um pouco de laboratório e eventualmente compor e ensaiar uma peça. Toda vez faltavam dois ou três membros. Sabem por quê? Porque tinham sido presos, ou alvejados em algum tiroteio, ou estavam foragidos. Lembro de uma vez em que fomos visitar um garoto de apenas onze anos, que tinha levado um tiro na perna. Ele estava brincando próximo ao cemitério de automóveis – onde o DETRAN empilha os carros apreendidos e não reclamados pelos donos - e, ao escalar uma das pilhas de carros para soltar a pipa que ficara presa, foi alvejado pelo guarda.

Ninguém socorreu o garoto. Um taxista teve pena, levou-o ao pronto-socorro, o canalha do médico que o atendeu derramou iodo na ferida e mandou-o de volta. Ali estava ele, arrimado a um pedaço de pau. Não podia sair, porque tomava conta da irmãzinha, de cinco anos. Todo dia esquentava uma panela com arroz e frango, que a mãe deixara sobre o fogão – pois tinha de passar a semana na casa da família para a qual trabalhava. O garoto não chorava, não se queixava, respondia às perguntas por monossílabos. Creio que se não fosse o empenho da irmã Maria – uma serva de Deus realmente digna desse nome – o garoto teria a perna gangrenada e amputada em pouco tempo.

Dias depois, ligou para mim uma amiga, convidando-me a participar de uma passeata contra a violência. Iriam todos de branco, com velas acesas, percorrer as ruas chiques de Ipanema. Perguntei contra qual violência iriam protestar. Contra a violência dos deserdados, daqueles que Frantz Fanon chamou muito justamente de les damnés de la terre, que são obrigados a furtar para não morrer de fome? Ou contra a violência dos políticos corruptos, dos banqueiros rapaces, dos atravessadores que auferem lucros imorais negociando com alimentos? Ela não gostou de minha pergunta e bateu o telefone. É claro. A esquerda chique quer protestar somente contra aquilo que perturba seu bem-estar. Pouco se lhe dá a existência das centenas de favelas que pululam no Rio – como em ABSOLUTAMENTE TODAS as cidades brasileiras. Para eles, a favela NÃO é uma violência em si. É antes uma solução, como já pontificou um formidável esquerdista que governou este infeliz Estado.

O pior de tudo é que os miseráveis, que constituem uma parcela ponderável da população, estão isolados em seus guetos de miséria por uma muralha de aço que os impede de sair. Essa muralha é a educação, ou a falta dela. Dados recentíssimos do último ENEM apresentam esse quadro vergonhoso: de cada 1.000 alunos aprovados, 887 estudam em escolas particulares (não é por acaso que um dos colégios considerados como ilha de excelência é o São Bento, no Rio de Janeiro, onde estuda a fina flor dos ricaços cariocas). O restante está assim distribuído: 85 estudam em escolas federais (inexistentes na absoluta maioria das cidades brasileiras), 26 em escolas estaduais e apenas 2 em escolas municipais.

Se formos observar um outro parâmetro, a saúde, tão importante quanto a educação, o quadro é também dantesco. Embora Lula tenha declarado que este setor “está próximo da perfeição”, nós, que vivemos no mundo real, sabemos o que são os hospitais públicos e os postos de saúde. Para descrevê-los, seria necessário o gênio de um Dostoievski. E saúde não se restringe ao atendimento médico, como pensa o presidente. É um conceito muito mais amplo, que engloba saneamento, água potável, calçamento, vacinação em massa e outras medidas profiláticas. Devo fazer aqui um parêntese para dizer que não estou dizendo que o governo Lula é o responsável por este quadro caótico. Não. Afirmo até que os governos anteriores foram MUITO PIORES, incluindo o do palhaço do FHC. Em matéria de hipocrisia e descaso para com os pobres, o Lula ao menos organizou e institucionalizou a esmola e com isso realizou, em parte, o que prometera em sua linguagem rude: “encher a barriga do povo”.

Volta e meia lembro-me de uma das últimas cartas de Monteiro Lobato para seu amigo Godofredo Rangel. O velho escritor, que já perdera um filho, que fora preso por lutar a favor da indústria siderúrgica e petrolífera nacional, que escrevera algumas das histórias mais geniais para as crianças brasileiras, confessava agora sua amargura: partia desta vida com a certeza de que não havia solução para o Brasil. Outras lembranças me ocorrem. Por exemplo, as tantas vezes em que reagi com ira quando me diziam esta frase odiosa: “o Brasil é um país inviável” – e hoje tenho de engolir o que então julgava afronta. Doutra vez, em conversa com o então presidente do Sindicato dos Jornalistas, contou-me ele que durante um congresso da categoria em Cuba, haviam sobrevoado a ilha. Seu colega cubano comentara então: “este é o nosso país. Uma pequena ilha, com poucos recursos naturais. Não é como o Brasil, um quase continente, com todos os recursos imagináveis. Por que diabos vocês não fazem um país ali?”

É duro chegar à idade provecta em que me encontro, com tais lembranças. Mais duro ainda é observar o cenário atual da política brasileira e ver o que está diante de nossos olhos. Mudaram os políticos, mas continua alegremente o saque à pátria indefesa. Certo, temos petróleo, temos imensas safras de soja e milho, temos aço, temos alumínio, uma indústria poderosa em certos setores e nem sei que mais. Mas por que não temos um país? Por que continuamos sendo apenas um butim para os salteadores internacionais? Por que continuamos servindo de escárnio, com nosso Presidente falando platitudes, confundindo a geografia e agredindo a gramática? Por que nunca mais, desde Getúlio e JK, tivemos alguém a quem pudéssemos chamar de “nosso presidente”? Claro, os que estão gostosamente encarapitados no poder, os que receberam “indenizações” e “aposentadorias” milionárias, não suportam ouvir essas ponderações. É claro. Como é bem claro que para eles está tudo bem. Lula é o cara, Dilma é a cara. A cara desse pobre país, em que uma minoria de privilegiados sobrevoa diariamente os barracos e choupanas de milhões de seus compatriotas, a quem atiram esmolas surripiadas do magro bolso da classe média.

domingo, julho 18, 2010

Até os Correios!

MARCUS ARANHA

Os Correios saíram da categoria de orgulho nacional à problema nacional.

Em 1931, no governo de Getúlio Vargas foi criado o Departamento de Correios e Telégrafos. Mesmo preso a uma burocracia imensa e ensaiando os primeiros passos, o novo órgão saiu funcionando meio capenga, mas, servindo muito a população brasileira.

Pense o que era, naquela época, fazer sair da Bahia uma carta e fazê-la chegar ao Acre.

Com os militares no poder, em 1969 criaram a Empresa de Correios e Telégrafos que surgia com o intuito de modernizar o velho Departamento.

Passados alguns anos os Correios conseguiram moldar uma imagem de seriedade e eficácia, passando a transmitir aos brasileiros muita credibilidade e simpatia.

Não existem motivos para substituir os dirigentes de uma empresa pública após uma eleição, somente para abrir vagas para novos apadrinhados.

Mas, foi o que aconteceu com os Correios após a eleição do Presidente Lula. Para garantir apoios no Congresso Nacional, os Correios foram entregues de bandeja ao PMDB. O resultado é que técnicos competentes e experientes foram substituídos por “cristãos novos” cujas qualidades eram tão somente o QI (quem indicou).

O resultado está aí: os Correios deu com os burros n’água.

O Serviço de Encomenda Expressa (SEDEX) existente há quase 30 anos ficou muito mais caro, mas a rapidez da entrega da encomenda foi pr’ o brejo.

Eu mesmo, paguei quarenta reais por uma carta SEDEX colocada em São Paulo numa segunda feira, dirigida ao meu filho em João Pessoa; ele recebeu a dita cuja ás 5 da tarde da sexta. Vá ser “expresso” assim na baixa da égua.

O SEDEX 10 que entregava encomendas em 24 horas fechou as portas. Algum dirigente dos Correios ainda com um pouco de vergonha na cara achou que era demais cobrar uma fortuna para entregar uma encomenda no dia seguinte a da postagem e o destinatário só tê-la em mãos quatro dias depois.

O descalabro foi tão grande que resolveram acabar com o SEDEX 10 no país inteiro. A imagem dos Correios não estava indo pr’o brejo. Estava indo pra fossa, mesmo!

Tai... O uso de empresas públicas para aquinhoar aqueles que apóiam um determinado partido só pode dar nisso. Esculhambaram uma empresa que tinha uma imensa ligação com todos os brasileiros, aqueles que enviam uma carta a mãe muito distante ou precisam mandar urgente um documento importante com fim mais importante ainda.

Os Correios saíram da categoria de orgulho nacional à problema nacional.

E vale a pena lembrar que o mensalão apareceu em 2005 depois de uma denúncia de safadezas nos Correios envolvendo aliados do Governo Federal. Transmutaram a Empresa em moeda de barganha política e ela, por si só afundou: atrasos os mais absurdos na entrega de correspondências e encomendas, causando uma verdadeira explosão de reclamações por parte dos usuários.

O presidente Lula não faz mudanças drásticas principalmente que atinjam o presidente da estatal, Carlos Henrique Custódio, protegido do Senador Hélio Costa (PMDB) que já foi Ministro das Comunicações e é candidato de Lula ao governo de Minas Gerais.

Pois é... No Brasil a POLÍTICA desmantela tudo.

Até os Correios!

Frase Lapidar do Dia


No futebol, o Brasil ficou entre os oito melhores do mundo e todos estão tristes. Na educação é o 85º e ninguém reclama.
Cristovam Buarque, senador.

Companheiros de jornadas

Ipojuca Pontes

“Vou fazer um governo mais à esquerda do que Dilma” – José Serra

Durante a abertura da 2ª Cúpula América do Sul-África, realizada ano passado em Isla Margarita, na Venezuela, o ditador Hugo Chávez, com as bochechas infladas e a voz tonitruante de impostor latino, foi incisivo:

- “Minha candidata é Dilma. Ela será a próxima presidente do Brasil. Sei que vão me acusar de ingerência, mas o meu coraçãozinho é que está falando: minha candidata é Dilma!”

Lula, presente ao convescote amigo, lamentou ser uma desgraça Chávez não votar no Brasil, mas agradeceu o empenho do intrépido parceiro. Este, por sua vez, de braços dados com o sindicalista-presidente (fundador do Foro de São Paulo), foi ainda mais incisivo junto ao repórter de “O Globo”:

- “Mas Lula não se vai, hein! Ele fica, assim como Néstor Kirchner, que se foi, mas não se foi”... – completou, reportando-se ao caso da Argentina, cujo governo, formalmente nas mãos de Cristina Kirchner, na prática é presidido pelo marido, Néstor, ao lado da gang sindicalista.

Por que Dilma Rousseff inspira tanta confiança em gente do porte de Chávez, o delirante ditador venezuelano?

Bem, antes de tudo porque Chávez, de início fundador do “Movimento Quinta República” (considerado, então, de “extrema direita”), passou marcha a ré e, depois de ouvir Fidel Castro na ilha-cárcere do Caribe, tornou-se arauto da famigerada “Revolução Bolivariana”, um enclave cubano no seio da América do Sul.

Com efeito, o tenente-coronel Hugo Chávez se constitui hoje, para a esquerda continental, um exemplo invejável de como conduzir o poder político para chegar ao Socialismo do Século XXI: por meio da força ou da manipulação institucional, sobejamente articulada, ele tem sabido impor ao povo venezuelano uma agenda de duras medidas revolucionárias, no entender dos seus “companheiros de jornada”, dignas da maior admiração.

É fato: sob o tacão de Chávez, engrossado pelos bilionários dólares do petróleo, corrompem-se e dominam-se os poderes legislativo e judiciário; sufocam-se as liberdades de expressão; controlam-se sindicatos e fundos de pensões; reprimem-se nas ruas as massas insatisfeitas; desencadeiam-se perseguições férreas sobre presumíveis adversários - prendendo-os, exilando-os ou simplesmente matando-os; abastardam-se, por meio de subsídios ou ameaças fiscais, os empresários e as forças produtivas da nação.

Ademais, para aliciar a vontade campesina com promessas alvissareiras, promulgam-se decretos de expropriações de “latifúndios improdutivos” para repasses de terras que jamais se concretizam; criam-se, com as “missões bolivarianas”, do tipo bolsa-família, práticas assistencialistas que só fazem prolongar a fome endêmica da população carente; e, por fim, para se manter as massas anestesiadas, promovem-se permanentes campanhas publicitárias tocadas por especialistas na arte de mentir em larga escala.

Por outro lado, no plano político das relações internacionais, satanizam-se os Estados Unidos e a República de Israel ao apontá-los como responsáveis pelas mazelas prevalecentes nos países do chamado Terceiro Mundo.

Cuba, Brasil, Bolívia, Nicarágua, Paraguai, Uruguai, Equador, Argentina e a própria Venezuela são países aos quais os integrantes do Foro de São Paulo julgam em condições políticas mais estratégicas para se compor a sonhada União Revolucionária Socialista da América Latina (URSAL), prevista para emergir nas próximas duas décadas – ou mesmo antes disso.

No Brasil, em particular, as etapas para se chegar ao Socialismo do Século XXI foram claramente expressas no programa de governo da companheira Dilma, apresentado recentemente, em tom de controvérsia, à Justiça Eleitoral.

De fato, em que pese ter causado alvoroço, o documento programático da candidata de Lula não traz nenhuma novidade, pois, como é notório, os seus itens básicos vinham sendo formulados há vários anos pelos mentores do Foro de São Paulo em parceria com a “ala mais avançada” do PT, ambos responsáveis pelo Programa Nacional de Direitos Humanos, o famigerado PNDH-3. (Aqui, vale lembrar, este documento de teor totalitário, encaminhado ao Congresso Nacional pelo Secretário Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, foi repudiado em gênero, número e grau pela sociedade e instituições civis brasileiras).

Mas em que consiste o programa de governo da companheira Dilma?

De forma abreviada, o seu programa de governo, que incorpora sérias ameaças à democracia representativa (razão de ser do entusiasmo chavista), levanta, entre outros, os seguintes destaques:

1 - Controle “social” da mídia, dando ao governo instrumentos para castigar jornalistas, interferir na programação, no gerenciamento e na propriedade das emissoras de rádio e tv.
2 – Rever a Lei da Anistia, com o propósito de punir torturadores da era militar, excluída, no entanto, qualquer possibilidade de se penalizar subversivos e terroristas dos “anos de chumbo”, responsáveis por centenas de mortes, seqüestros e atentados, hoje encastelados no aparato governamental.
3 – Aumentar impostos para sobretaxar as grandes fortunas, no fundo uma manobra com o objetivo de garfar a poupança alheia e punir o empresário e o capital produtivo.
4 – Abolição da propriedade privada, com a criação de uma “instância agrária superior” para impedir que juízes determinem a reintegração de posse de terras invadidas pelo bando do MST.
5 – Legalização do aborto, em qualquer situação, por se tratar, tão somente, de um “problema de saúde”, alheio ao princípio do respeito à vida humana.
6 – Ampliação do dos poderes do Estado, com a criação de leis coercitivas e novas empresas estatais, conforme previsto pela “Revolução Bolivariana” de Chávez, cuja essência é a mesma que preside o “Estado Forte” do companheiro Lula.

Como se vê, não há grande diferença entre o que faz e pensa o revolucionário Hugo Chávez e o que pretende fazer (e, em parte, vem fazendo) a companheira Dilma Rousseff, de formação marxista-leninista. Ambos, conforme deixam claro, querem consertar o mundo “injusto e desigual” pelas vias milagreiras do socialismo – o mesmo que levou Cuba à ruína e o povo da ilha-cárcere à miséria permanente.

Os formadores de opinião da mídia amestrada, como era previsto, diante do programa radical enviado pelo PT ao TSE, no qual constava a rubrica da candidata, vêm considerando o documento surpreendente e contraditório. Eles se interrogam diante do óbvio: é de Dilma ou da ala radical do PT a autoria do programa levado à Justiça Eleitoral? Um documento que não leva assinatura, mas que é rubricado pela candidata, tem ou não tem validade? A versão radical do programa será ou não levada adiante por Dilma Rousseff, caso eleita?
Para mim, nada disso tem muito significado, ou melhor: o seu significado é justamente o da controvérsia. Como se sabe, é da natureza socialista fazer a política do jogo duplo com o objetivo expresso de tungar a democracia. O próprio Lênin, amparado numa hierarquia fortemente centralizada, fez da ambigüidade uma estratégia política, atuando ora às claras, ora de forma dissimulada, mas sempre inversa ao que propunha ou escondia das massas. “Iludir, falsificar ou dizer a verdade” – afirmava Lenin nas suas Teses de Abril – “é o dever de todo revolucionário que, para desnortear a Duma (parlamento russo), queira conquistar e manter o poder”.

O mais incrível, no entanto, é que José Serra, sendo da oposição e “sabendo das coisas”, tenha afirmado de público que “vai fazer um governo mais à esquerda do que Dilma”. É de doer. Assim não dá.

sábado, julho 17, 2010

"Papa Michael I"

O mundo, ao que parece, anda mais louco do que podem admitir as nossas vãs filosofias. O fato abaixo é prova cabal. HC

O piedoso cidadão da foto acima é David Allen Bawden, americano, eleito "Papa Michael I" por um grupo de seis Conclavistas católicos pós-sedevacantistas, sob a argumentação de que as eleições dos últimos seis papas seriam inválidas em razão de os eleitos serem todos modernistas.

Os Sedevacantistas argumentam ainda que se o Colegiado dos Cardeias não consegue eleger um Papa "válido", os Católicos como eles podem fazê-lo, sob o princípio da "Epikeia" (eqüidade). Agindo com base neste princípio, David Bawden foi eleito papa por seis pessoas em 1990 (incluindo ele próprio e seus pais).

Sua Santidade Michael I está em pleno gozo do seu sagrado ofício até a presente data.

Meu vice não caiu do céu

Da Folha.com 16/07/2010 - 20h49

"Meu vice não caiu do céu", diz Dilma ao ironizar adversário
A candidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff, ironizou nesta sexta-feira a escolha do deputado federal, Índio da Costa, para a vice na chapa de José Serra (PSDB). Em comício no Rio, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-ministra elogiou seu vice, o também deputado Michel Temer (PMDB), a quem classificou de "competente e capaz".

"Meu vice não caiu do céu, não é improvisado. É competente e capaz", afirmou.


É verdade. O Vice de Dilma Rousseff não caiu do Céu.

Caiu, literalemente, do Inferno.

Temer, um dos políticos mais viciados na politicalha brasileira, dono de extensa folha corrida, não poderia vir do Céu, mas, pelos seus graves pecados políticos, só pode cair numa chapa vindo nas asas do capeta.

A candidata Dilma está brincando com a opinião pública que conhece bem Temer, está escarnecendo o eleitor consciente, confundindo o cidadão que lê e sabe avaliar os fatos e as pessoas com a sua clientela da bolsa-esmola, sabendo ela que os esmolistas não leem, não entendem o horror de suas declarações.

Ora, ora, o sr. Michel Temer só mostra a sujeira que é a política nacional, lodaçal que a candidata oficial mergulhou com alma e coração.

José Virgolino de Alencar