sexta-feira, agosto 29, 2008

Ressaca Olímpica e Outros Sucessos


Hugo Caldas

Hoje, sexta-feira 29 de agosto, estou batucando estas maltraçadas ainda em plena ressaca das malfadadas Olimpíadas - Beyjing 2008. Por mais incrível que possa parecer, continua a plebe rude a falar e muito sobre o nosso pífio desempenho na terra do Mao. Veja esta:

A TV informa que a farra olímpica nos custou simplesmente a merreca de seiscentos milhões de reais; o que dá aproximadamente quarenta milhões por cada uma das nossas míseras medalhas. Seria trágico se não fosse cômico. É como disse o outro, o Brasil foi alí, pegar um bronze em Pequim. Acho que chega por hoje? Que nada! A ressaca continua.

E entonces, para que os meus poucos e diletos leitores aproveitem bem o final de semana aqui vão alguns dados provenientes da nossa querida vizinha e irmã Argentina, terra dos campeões Olímpicos de Futebol. Apertem pois os seus respectivos cintos.

Gasolina comum igualita a nossa sem álcool - 1,99 pesos = R$ 1,00
Gasolina Super 2,30 pesos = R$ 1,15
Gasolina Fangio de alta octanagem 2,89 pesos = R$ 1,45
É do conhecimento de todos que a Petrobrás exporta há décadas, para a Argentina nossa gasolina ao preço vil de R$ 0,65 por litro. Ta na cara que estamos sendo roubados. Por quem? Eu sei!

Trafegar nas estradas Platinas, com pagamento de pedágio, e mais uma terceira pista, mantidas, diga-se de passagem, em muito boas condições, custam para o trecho de 300 kilometros 3,40 pesos ou seja, R$ 1,70. Para os gaúchos, por exemplo, percorrerem a mesma distância dentro do país em estradas precaríssimas, o preço é de R$ 28,00 . Existe, pelo amor de Deus, explicação lógica para uma diferença tão grande? Claro que existe, aliás muitas: Cartões corporativos, senadores a 600 mil por mês, deputados a 200 mil por mês, e o resto vocês já conhecem.

E tem mais sobre los hermanitos. Se a moda pega por aqui...

A Argentina está julgando e condenando ex-generais a prisão perpétua. Um tribunal acaba de condenar dois ex-generais da época do regime militar no país, 1976-1983, a penas de prisão perpétua pela morte do senador Guillermo Vargas Aignasse. Os generais Domingo Antonio Bussi e Luciano Benjamín Menéndez, ambos octagenários, foram considerados culpados pelo seqüestro, tortura e morte do senador, em 1976. Aignasse foi detido no dia do golpe militar no país, e supostamente libertado, porém jamais foi visto novamente.

E por falar em general:

Conta-se que conhecido empresário, hoje radicado nos States, sonhava com a legalização do jogo no país. Certa vez encontrou o então presidente General Figueiredo em famoso hotel de São Paulo. O General-Presidente lhe fez uma confissão:

- "Tenho te visto dando dignidade ao que defendes. Não sou contra cassinos. Milico não ganha esse tanto que dizem, por aí. Eu mesmo nunca entrei num cassino. Sou contra por simples comodidade. Se eu aprovar o jogo, vou ter que dar 419 cassinos para os 419 f.d.p. da Câmara dos Deputados! Essa é a razão de eu ser contra”.

Não terá sido o General-Presidente um tantinho assim irrefletido? O atual Operário-Presidente falou certa vez em 300 picaretas, os quais hoje são seus amigos de infância. Trezentos vezes oito, noves fora nada, a Câmara tem hoje 513 f.d.p. Será? Ou deixei alguém de fora?

E por falar em ditador, me vem à mente uma catita canção que o Teatro de Estudantes da Paraíba costumava cantar nas viagens por esse Brasil afora onde tivesse um festival pra gente ganhar:

“Lá em baixo está o General Craveiro”.
Lá em cima o Oliveira Salazaire
Juntaram-se os dois na varanda
Fizeram propaganda
Pra guerra se acabaire...”

(quem lembrar de outras estrofes que nos mande oh, pá!)

Mas dizem que o ditador Oliveira Salazar oferecia banquete, em Lisboa, ao Presidente Juscelino Kubitscheck. Aproximou-se então um velhinho puxando conversa sobre literatura. JK se lembrou de um dos livros favoritos da sua infância. "A Ceia dos Cardeais."

- "Ainda pretendo homenagear, com um busto, o grande português que foi Júlio Dantas", disse Juscelino...

O velhote reagiu com ironia:

- Que foi, não, doutor presidente...

- "A Divina Providência ainda não foi servida de me chamar para o seu reino!"

Era o próprio.

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domingo, agosto 24, 2008

BEIJING, BEIJING, PAU PAU!


Hugo Caldas

Lá pelos idos de 2.500 a.C., os gregos realizavam festivais esportivos em honra a Zeus no santuário de Olímpia, o que originou o termo Olimpíada. Os Jogos Olímpicos podem, entretanto ter começado em torno de quinze séculos antes de Jota Cristo. O evento, por sua transcendental importância era tão respeitado que até interrompia uma eventual guerra. Desses jogos participavam apenas os cidadãos livres, disputando entre sí provas de atletismo, luta, corrida de cavalo e pentatlo, salto em distância, arremesso de dardo e de disco, etc. Os vencedores recebiam uma coroa de louros. Igualzinho hoje em dia.

Agora, nesses tempos modernosos, de quatro em quatro anos, milhares de atletas de centenas de nações se reúnem em um determinado país, para a disputa de uma enfiada interminável de modalidades esportivas. Verdadeiro congraçamento. A própria bandeira olímpica já representa essa união de povos e raças, pois que é formada por cinco anéis e suas respectivas cores, entrelaçados, representando os cinco continentes. O credo Olímpico, "O importante é competir,” foi criado pelo barão Pierre de Coubertin quando fez ressuscitar as Olimpíadas lá por volta de mil e oitocentos e preto-e-branco e tinha por finalidade enaltecer o prazer cavalheiresco de competir, independentemente do resultado. A lealdade e a generosidade também eram consideradas. "O essencial não é conquistar mas ter lutado o bom combate.” Este Ideal Olímpico é de uma ingenuidade comovente em face da natureza dos homens.

"A glória para os vencedores e aos perdedores as batatas.”

Alguém explica, por exemplo, as diversas modalidades de "glória"? Ouro, Prata e Bronze? Glória de primeira classe, de segunda e terceira? Glória é glória, ora! Este foi, entretanto, o mote desde os primeiríssimos jogos na antiguidade. Competia-se, compete-se e continuar-se-á (gostei) a competir ferozmente pelo privilégio de ser o número um, o merecedor de todas as bene$$e$ que poderão advir. Já dos sórdidos interesses políticos dos Jogos, nem vale a pena falar. Todo mundo está carequíssimo de saber. Entretanto a libertinagem vem de longe. Theodósio I, O Grande, imperador bizantino, achou por bem abolir os Jogos em pleno ano de 394 d.C. na justificativa de que as competições haviam perdido seu verdadeiro espírito e estavam corrompidas. Além do mais os jogos eram considerados uma celebração pagã. Que coisa, hein!?

Hoje, a paz, a amizade, o bom relacionamento, a honestidade, a fidalguia entre os povos, são dizem, ainda os princípios que devem reger os jogos. Ironias à parte, Rússia e Geórgia deveriam ser representados pelos presidentes dos seus respectivos países, que subiriam ao ringue de boxe a fim de resolver as suas diferenças no tapa. Mas ainda há um cabedal de coisas e loisas que têm conseguido tirar o sono e o apetite de muita gente boa nessas Olimpíadas.

Por onde andaram, por exemplo, "las chicas" do vôlei cubano? O pessoal do boxe? Não existem mais atletas por lá? Fugiram todos? Apareceu um cubano, um tal Angel Valodia Matos, do Taekwondo, meio mequetrefe que andou agredindo o juiz e foi, juntamente com o técnico, afastado das competições internacionais. Eu acho é pouco! Não vi a Coréia do Norte! E agora pasmem: soube que há paraibano competindo pela Geórgia! Dizem que tem brasileiro na Itália, na Espanha e Oropa França e Bahia. O que está acontecendo neste mundo de meu Deus? Dizem até, que aquele chinês gigantão joga basquete nos EUA o outro, menor pouca coisa, está na Inglaterra e tem africano na Austrália. Pode?

O lado negativo dessa barganha é que os atletas são cooptados através do sórdido recurso da naturalização. Tem neguinho brasileiro (epa) jogando de goleiro no Vietnam! No Japão! Nas Arábias então, nem se fala! E pode trocar assim, sem mais nem menos de nacionalidade? É o cúmulo! A que ponto chegamos oh, Pindorama! Daqui a pouco só ganhará medalhas quem estiver com as burras abarrotadas de dinheiro.

Parece até que as Olimpíadas viraram balcão de negócio, feito um certo congresso nacional que todos nós conhecemos. Com lei de oferta e de procura. Muitos atletas que por uma razão ou por outra não tiveram o necessário apoio em seus respectivos países são negociados que nem batata-doce, por outras nações evidentemente montadas no ouro.

Seria prudente o COI coibir, (hoje estou terrível) essa prática determinando, por exemplo, que o atleta tenha, pelo menos, no ato da inscrição, a certidão de nascimento do país pelo qual o indigitado pretenda competir. Ou talvez fosse melhor, quem sabe, uma olimpíada apenas de atletas e não de nações. Acaba logo com a palhaçada de hino, bandeira e o cacete a quatro e vamos depositar logo a grana na conta bancária da rapaziada que em última instância são os donos incontestáveis da festa.

Porque não me ufano do meu país

Mister será ter em mente que o Brasil é a terra dos torcedores que se dedicam de corpo e alma a reclamar do desempenho de nossos sofridos atletas, quando na realidade deveriam sacudir suas neuroses nas fuças dos nossos dirigentes incompetentes, para dizer o mínimo, que nada fazem a não ser aparecer quando surge uma câmera de televisão. Essa malta de reclamões deveria era se insurgir contra a total ausência de políticas de planejamento em longo prazo direcionadas ao apoio do atleta. A CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), muito provavelmente deve ter pago as passagens de uma récua de dirigentes para a festança em Pequim mas os prometidos ingressos para que a família do César Cielo pudesse assistir a sua vitória nunca chegaram. Pai, mãe e irmã tiveram que pagar do próprio bolso ou ficariam de fora do Cubo d'Água e da alegria da festa. Existem histórias paralelas às Olimpíadas que se viessem à luz fariam corar um senador da república! Li hoje em jornal do sul maravilha que os "convidados" das CBDs, CBFs, e COBs da vida foram 200! Quase o mesmo total de atletas e preparadores. Farra homérica!


Procurem saber em http://colunistas.ig.com.br/flaviogomes o que fizeram com o Pedrão Toledo, técnico do Jadel Gregório em Pequim. A matéria tem o título de: "O Pedrão sabe."

Efemérides...

Participaram da cerimônia inaugural dos Jogos Olímpicos, Beijing 2008, 14.000 dançarinos, dos quais nove mil eram soldados; "tem pai que é cego!" Logo nos primeiros dias, a televisão, rádios e sites franceses abriram grande espaço para discutir o fracasso dos seus atletas. O ministro de Esportes (francês, evidentemente) prometeu realizar uma sindicância na preparação dos atletas para o futuro. Igual que nem aqui em Pindorama.

Pretensão e água benta...

Quem dá conta do fiasco dos nossos atletas? A Rede Globo evidentemente, por trombetear via Galvão Bueno as excelências dos nossos competidores. Fica-se criando uma imagem que não condiz com a verdade. E eles, atletas coitados, acreditam. Ficam se achando os pés da besta. Pan no Rio de Janeiro é uma coisa. Olimpíadas no outro lado do mundo é outra. Ano passado, os EUA em total desprezo e desrespeito aos Jogos Pan-americanos, mandaram o seu time reserva de futebol feminino. Perderam de 5 x 0. Agora, nestas Olimpíadas as gringas do time titular vieram com gosto de gás. Deu no que deu, um resultado nada elogioso, nada justo para as nossas meninas. Lutaram, porém...

E mais uma vez o Galvão Bueno se superou

- Essas meninas jogaram com a alma, com o coração com raça, "a bola é que não quis entrar.” Ora, melhor será sempre ter em mente o velho adágio: -

"Quem não faz, leva!"

A mídia publicitária tem também a sua parcela de culpa. Fica inventando comerciais onde o pessoal aparece como super seres interplanetários. E aí nós é que acreditamos. O pouco que conquistamos se deve única e exclusivamente ao esforço de cada um. Digno de nota foi a sinceridade retratada pelo choro da Mauren Maggi ao ouvir o Hino Nacional no pódio. Chore não, minha linda. A medalha é sua. O mérito desse ouro foi todo seu. Esse país não lhe merece. Seja feliz. Nós devemos muito, principalmente aos "paitrocínios," já que ninguém recebe o mínimo minimorum das autoridades desse governo para a sua devida preparação. Nem passagem de ônibus. Não me apraz citar outros nomes aqui. Vocês sabem perfeitamente de quem, ou o que eu estou falando.

"Acabou! Felizmente acabou!" - Luciano do Vale, repórter da TV Bandeirantes, ao final do jogo Argentina 3 x 0 Brasil.

Acabou-se o que era doce. Deve acontecer agora o encerramento dos Jogos. Não estou absolutamente animado a assistir. Vai que eles acham de fraudar as imagens como fizeram na abertura! Tremendo desrespeito com a garotinha de voz linda porém dentes tronchos! Parabéns aos nosso atletas e se preparem todos para daqui mais uns quatro anos outra patuscada. Quem viver verá!

O custo total para preparação dos Jogos Olímpicos de Pequim foi estimado em 40 bilhões de dólares. É muita grana. E dizem que a China ainda é um país comunista! Também, eles ganham dinheiro com tudo. Desde o mercado fraudulento da pirataria (mostrado na tv) até aos fuzilamentos quando a conta da bala usada na execução é enviada à família do condenado para o devido ressarcimento. Já que na República Popular da China se fuzila adoidado... chega a ser um bom negócio.

O gasto com os Jogos Olímpicos de Atenas há quatro anos foram 12 bilhões de dólares. Quanto se gastará em Londres, 2012? Será que teremos cacife para a promoção do Rio, 2016? E a Copa do Mundo em 2014? Alguém precisa urgentemente dizer ao Pelé para sair dessa. É fria! Por outro lado, nossos políticos vão ter que abdicar das suas benesses, lucros, sinecuras e quejandos. E sacrifício extremo, vão ter que renegar os cuecões e mensalões da vida, bem como esquecer as malas recheadas de dólares enviadas pelas Farc tão pródiga em financiar certas candidaturas tupiniquins. Então, onde buscar essa dinheirama toda pra jogar fora? Na bola da vez? Na panacéia universal? No engana-trouxa da hora? No pré-sal, ora!

Olimpíadas aqui, quar!

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sábado, agosto 23, 2008

Cores Sonoras De Nosso Viver Atônito


Cláudio Mattos

Cores, sons, barulhos e gritos.
Dispersos no ar, soltos na imensidão
de nossa inconsciência.

Substâncias de amor a nos penetrar intensamente por todos os lados.
Porque no amor é assim, cada gesto,
cada olhar, parece espada a furar nossas conchas
E que vai lá no fundo, bate na alma e traz ao final
uma alegria inexplicável!

Mais sons, e cores se mostram ao anoitecer! Ao tecer da noite!
E o amor continua rasgando de uma maneira linda os corações!
Risos, Sorrisos, ao luar! Músicas loucas, calmas talvez
Jazzzzzzzzzz

O amor é isso, calma e plenitude!
Há também angústia, claro.

Música e sua infinitude de sons e alegria
Que se espalham preenchendo os vácuos tristes
De nosso silêncio, morbidez e frieza.
É tudo que faltava !

Luar branco e belo, beijando o mar
e se deliciando em suas ondas....

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quinta-feira, agosto 14, 2008

"Romeu & Julieta" em Dona Inês


Guy Joseph

Por volta do longínquo ano de 1850, vaqueiros que procuravam bois desgarrados, avistaram fumaça que se erguia ao pé de uma grande rocha. Achando estranho foram verificar o fato e encontraram embaixo de um cajueiro uma mulher branca e um escravo. Ela se dizia senhora de um engenho em Pernambuco e se chamava Inês. Os vaqueiros logo desconfiaram que ela estivesse fugindo.

Aos poucos, o lugar foi sendo frequentado, pois a mulher e seu escravo serviam alimentação para os viajantes, que se deliciavam com o sabor da comida da D. Inês. Em vista do acontecido o lugar ficou conhecido como Serra de Dona Inês. Com o tempo a história foi sendo esquecida, mas o nome de Dona Inês se conservou até hoje. Dessa mulher e do escravo ninguém mais ouviu falar. Próximo ao local existia um poço com água de ótima qualidade onde os vaqueiros e viajantes que ali passavam se serviam. Pouco tempo depois começaram a surgir alguns sítios e fazendas, na região.

A primeira casa do povoado foi construída pelo padre José Teixeira e a capela foi erguida em 1905 em homenagem a Nossa Senhora da Conceição. A emancipação política se efetivou no ano de 1959. Ao visitarmos a cidade de Dona Inês, procuramos conhecer melhor a história da fundação do Município e verificar o que era lenda, acontecimentos ou fatos reais, que nos desse alguma pista, para desvendar parte da memória local. Infelizmente, sabe-se muito pouca coisa.

Segundo relatos orais, Dona Inês seria a filha de um poderoso Senhor de Engenho de Pernambuco, que se apaixonara por um negro escravo. Este, temendo ser morto pelo pai da moça, resolveu fugir. Dona Inês o acompanhou na fuga, tendo os dois enamorados chegado a um local, onde existiria um Quilombo. Por estar acompanhado de uma mulher branca, o escravo fugitivo não pode ser acolhido pelos irmãos de raça, ficando o casal acampado às margens de um lago, no pé de uma serra, quando foram vistos por tropeiros e viajantes.

A história ou lenda é muito interessante e contém todos os ingredientes de um romance, que poderia ser bem trabalhado, para chamar a atenção para a cidade de Dona Inês, atraindo investimentos, visitantes e turistas. Esse tema daria para ser transformado em filme ou novela, bem ao estilo de “Romeu & Julieta”, resgatando a memória do surgimento da localidade.

Atualmente, o local denominado pelos habitantes, como Recanto de Dona Inês, encontra-se em acelerado processo de destruição patrocinado por uma pedreira, que faz a extração e exploração de rocha, para transformação em paralelepípedos e brita.

Lamentavelmente, uma parte da história de Dona Inês, pode virar pó.

Nota: Texto extraído do site "Sim, Paraiba" que vocês poderão acessar na lista de LINKS, alí do lado direito de quem vai! H.C.

quarta-feira, agosto 13, 2008

Caros Amigos e Amigas


Carlos Aranha

Foi em 27 de julho que mandei a última mensagem nesta lista. O assunto: a estréia de Clotilde Tavares como colunista semanal do "Correio da Paraíba".

Entre a noite de 28 e a madrugada de 29, a saúde desandou. Rapidamente, fui atendido no Hospital Santa Paula. Quando saí, foi para um ultrasom abdominal completo na UD, clínica de meu sobrinho, Marcus Filho. Depois, exames laboratoriais, no Analysis. Em seguida, o repouso quase absoluto em casa, usando novos remédios, mudando a alimentação, criando um diferente "relógio biológico".

Tive (como ainda tenho) uma pessoa muito especial no acompanhamento da minha saúde: o médico Marcus Aranha, que, apesar de sua séria doença, teve disponibilidade, força e paciência em me ajudar, dando preciosas orientações. Mais duas pessoas foram bacanas e necessárias: o casal amigo Juan e Terezinha Fialho.

Em conseqüência, não estou escrevendo a coluna "Essas coisas" para o "Correio da Paraíba" desde que veio a crise. Saindo dela? Estou. Mas, não estou abrindo o Orkut nem usando o MSN e pouco usando o email. Esta lista, inclusive, não é mais a mesma (em quantidade e qualidade); ao menos, por enquanto.

Apesar de estar pensando (e melhor do que antes da crise, garanto), não tenho idéia exata de quando voltarei com a coluna (se ainda nesta semana ou na próxima) e com a Lista Essas Coisas "on line".

Sei que aprendi ainda mais a viver enquanto recolhido em minha casa, na tranqüilidade do primeiro quarteirão de Cruz das Armas, voltando a usufruir de uma boa qualidade de vida. Tenho lido muito, escutado discos, meditado. Isto me fez voltar a acreditar no planeta Terra, em mim e em nós (sem exceções). Redescobri-me um pacifista e meu pensamento cosmopolita ampliou-se. Quando retornar a todas atividades normais, com certeza repartirei o que aprendi, esperando contribuir ainda mais com a nossa luta pela sobrevivência da Terra (o que hoje deve ser a meta maior) e lutando para que a péssima política partidária e eleitoral hoje praticada no Brasil não sepulte nossos ideais de cultura, educação, comportamento, solidariedade, arte e paz.

Meu celular continua 83-8836-3780.

No entanto, peço que qualquer contato telefônico comigo somente seja feito a partir da próxima semana, pois, apesar de ter voltado ao trabalho no "Correio da Paraíba" (não tão intensamente como antes), estou ainda mais "interno" do que "externo". A não ser que seja uma situação excepcional, importante e inadiável.

Repetindo meu querido Augusto dos Anjos no "Último credo":

"Creio, perante a evolução imensa,
Que o homem universal de amanhã vença
O homem particular que eu ontem fui!"

Beijos fraternais.

Carlos Aranha é jornalista na Paraíba e meu amigo.
Hugão

sexta-feira, agosto 08, 2008

Recuerdo 33 - O Major Ambrósio


Hugo Caldas


"Lá vem você bulir aqui!"

Era assim que ele, deliciado com a minha costumeira visita, saudava a entrada da pequena criatura de dois para três anos de idade, manhã cedinho, ainda em pijamas, mãos nos bolsos, em sua oficina de marceneiro, numa das dependências do velho sobrado. Era o meu avô, o Major Ambrósio Pereira, que nos deixou quando eu, mais taludinho, andava pelos meus sete anos. Doença misteriosa. Lembro bem de uma espécie de bola no seu pescoço, a barba branquinha, por fazer. Duas manchas amarelas de tabaco no bigode branco. As dores lancinantes. Não havia remédio que as aplacasse. Somente a aplicação de injeções de morfina. Mortifica-me lembrá-lo dessa maneira. Dia da sua morte chamaram o primo Hélio para me levar ao cinema. Quiseram me poupar do sofrimento. Coisa mais sem jeito! Criança sabe das coisas.

- "Veja Seu Ambrósio, disse-lhe uma tarde o médico que o cuidava, já está mais do que na hora de o senhor parar com esse cigarro de uma vez por todas, homem! E concitando-o, eu mesmo parei há uns oito meses, e estou respirando bem melhor, me sinto outra pessoa. Mais confiante, mais forte."

- "Vais morrer com uma saúde de ferro!" Retrucou fuzilando o médico com seus pequenos olhos azuis. Foi o que efetivamente ocorreu. O médico faleceu em um acidente de automóvel coisa de seis meses depois.

Melhor mesmo será recordá-lo na convivência da minha primeira infância em Pilar, no seu sobrado. Recordar os felizes dias das férias, passados caçando borboletas nos jardins da praça principal da cidade. Da cidade que como prefeito, ele comandou por diversas vezes. Foi também delegado. Figura singular era o Major Ambrósio Pereira, meu avô. Cabelos quase totalmente brancos, olhos azuis, bigodinho ralo meio tirado a claro/escuro, brancão todo, baixa estatura, mas diziam à boca pequena, um gigante nas atitudes.

Descendia dos Pereira de São Miguel de Taipu, da linhagem de Francisco Antonio Pereira, irmão gêmeo de Antonio Francisco Pereira, o Barão do Bujarí, estabelecido em Goiana, PE. Esse era o meu "Vovô Ié-Ié!” Assim era que, por insondáveis desígnios eu, um pingo de gente, o chamava carinhosamente. Convivíamos afetuosamente, numa camaradagem própria de quem se entende acima de qualquer coisa. Uma piscada de olhos, um assovio contavam muito. Dizem, neto é filho com açúcar. Confesso que durante essa fase ele foi a minha referência paterna.

Era seu costume me colocar escanchado na sela junto com ele e sair troteando pela cidade para me exibir, orgulhoso. Eu era o seu primeiro e único neto homem. Havia uma neta que ele não conhecia morando na cidade de Campos, RJ. Encontrando seus amigos e correligionários políticos, parava o animal embaixo de um pé de fícus, outros amigos se achegavam trazendo cadeiras, e aí então tocavam uma prosa infindável. Eu amuado, não queria ficar ali parado. Queria andar mais. Quando eu reclamava para voltarmos ao passeio ele, invariavelmente, usava de um hábil e engenhoso artifício...

- Vamos parar um pouco! O cavalo deve estar cansado! E diante do meu olhar incrédulo continuava, matreiro...

- Pergunte a ele, vá!... Eu inocente, perguntava...

- Você está cansado, cavalo?

O Major Ambrósio astuciosamente puxava de leve as rédeas, fazendo o animal inclinar a cabeça para frente e para trás como que respondendo afirmativamente à minha ingênua indagação. Eu de besta, acreditava piamente. Longe de mim pensar que meu avô, tão dedicado, tão carinhoso comigo, que fazia carrinhos de madeira para mim, iria me enganar de maneira tão vil. Lembro que certa vez me fez uma pequena réplica de um carro de boi, com cana de açúcar dentro e tudo, em seguida encharcou o eixo e as rodas com uma mistura de querosene e carvão para dar aquele chiado característico.

O tal cavalo, um alazão com uma estrela branca na testa, quando descansado, na volta para o sobrado, cumpria um estranho ritual feito cavalo de padre, que pára na porta dos paroquianos. Sozinho, rédeas soltas, ia estancando em portas estranhíssimas, de onde surgiam umas mulheres mais estranhas ainda. Belas algumas, outras nem tanto. Não era mesmo, flor que se cheirasse, o meu avô Major Ambrósio. Certa noite, à mesa do jantar em comemoração ao noivado dos meus pais ele saiu-se com essa:

- "Pois é, Seu Américo, (meu pai) um homem tem que ter a matriz em casa e uma filial lá fora para que tudo dê certo no casamento”. Levou evidentemente, uma bela descompostura de Dona Maria Eugênia das Mercês Pereira (Dona Dondinha), minha avó.

Sobre o temperamento digamos, volúvel do Major Ambrósio Pereira, atrevo-me a comentar sobre um assunto tabu na família. Tinha-se como verdade as suas costumeiras aventuras amorosas. Nunca, entretanto que eu saiba, alguém chegou a fazer uma única menção, por mínima que fosse. Havia como que, um acordo tácito. Refiro-me à uma das filhas de uma amiga da família que tinha (e tem) todas as características das outras filhas do Major, minhas tias. Por compreensíveis mistérios todas se pareciam entre si, e cuidavam umas das outras com o maior carinho. Alguns anos atrás essa dita pessoa se submeteu a uma cirurgia delicada e foi o maior alvoroço, o maior cuidado. Nunca tirei nada à limpo, até porque a mim não competia, mas bem que eu gostaria de saber desse lado da história. Já que não mencionei o nome do santo, é de se supor que o tabu permanece.

Hoje, inexplicavelmente após sessenta e quatro anos de seu passamento, sinto uma imensa saudade do meu avô. Gostaria que, quando lá em cima eu chegar, o porteiro me informasse:

- "A marcenaria do Major Ambrósio é bem ali, na Alameda das Flores, nº 48." Então eu iria até lá e ele me abriria a porta dizendo, bonachão:

"Lá vem você bulir aqui!"

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quarta-feira, agosto 06, 2008

"A DIFÍCIL VIAGEM DE SI A SI MESMO"


José Virgulino Alencar

Lembrando Drummond: o homem enfrenta “a dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo”.

Completo eu: o homem tem enorme dificuldade de encontrar seus bons sentimentos e o auto-entendimento exatamente dentro de si mesmo. Deus fez o homem à sua imagem e semelhança. Contudo, a criatura afastou-se do Criador, deu um retoque em si mesmo e hoje ele(o homem) não tem mais nada a ver com o projeto original.

Não chego ao surrado conceito de que “é melhor um cão amigo do que um amigo cão” para se referir ao homem pouco amigo. Um pitbul, por exemplo, nunca será amigo de ninguém, nem do próprio dono. ...

Por outro lado, o homem, ainda que mau, sempre terá alguém de quem ele seja amigo.
Mas, convenhamos, o homem cada vez mais se distancia do sentimento da fé, a base sobre a qual Deus projetou o ser que Ele desejava representá-lo na Terra.

Como a esperança é a última que morre e para que não nos enterremos no pessimismo, vamos dar um crédito ao homem do futuro. Podemos ser utópicos e sonhadores. O sonho não faz mal.

Contudo, atingir o ideal, a perfeição, não é fácil. Assim, como o ideal é pouco possível, temos que, pragmaticamente, transformar o possível no ideal a ser atingido. Parece paradoxal, ter um ideal e não lutar convictamente por ele, acomodando-se no possível. É que a realidade rima com idealidade, mas, como as paralelas, nunca se encontram ou, na teoria matemática, encontram-se no infinito onde nossa mente não alcança.

A realidade não aceita o ideal. Não há outro caminho. Temos que ser mais realista do que idealista, desde que não se aliene princípios, formados sob a égide da ética e da moral, moral aqui entendida não como falso moralismo, mas como norma comportamental compatível com a harmonia social. Pode não ser o melhor caminho, entretanto é o caminho pelo túnel onde no seu fim podemos ver luz, a luz da fé, crendo que a força espíritual dirige e domina a matéria.

Repetindo Drummond e embora concordando que é difícil e dangerosíssima a viagem do homem de si a si mesmo, acho entretanto que essa dificuldade pode ser transposta, não é fato inexoravelmente incontornável. Pode, pelo menos, vestir-se com o manto do aperfeiçoamento, inda que não atingindo a perfeição. Perfeito, só Deus, diz o vulgo popular.

Vamos, então, nos esforçar, nos auto-entender, para fazer a dificultosa viagem de si a si mesmo. Fazer disso uma expedição ao próprio íntimo, tentando descobrir-se.

Talvez assim descubramos e possamos entender nosso semelhante.

terça-feira, agosto 05, 2008

O Balanço do Quintal


Anco Márcio de Miranda Tavares

Eu fui um menino feliz... Morei numa casa que tinha um imenso quintal. Mais ou menos uns cinquenta por vinte. Começava numa rua e acabava na outra. Nele tinha uma imensa mangueira de manga do tipo comum que dava muitos frutos e tinha um enorme galho à sua esquerda. Pedimos um balanço a papai...

Ele que nunca negava nada à gente, comprou cordas resistentes, comprou uma tábua grossa, escavou quatro entradas na tábua, amarrou as cordas e eis o balanço feito. Isso pra menino do interior há mais de cinquenta anos, sem tv, sem video game, sem ouvir nem falar em computador, era uma festa...

Eu e meus irmãos fazíamos fila pra se balançar. Nesse balanço, nos nossos sonhos, voávamos até os ceus e brincávamos de piloto de avião. Nosso pai tinha feito nossa felicidade, no nosso quintal onde eu era um xerife à cata de bandidos imaginários que só existiam mesmo na minha mente.

Afora essa mangueira, no quintal tinha apenas umas bananeiras, que dava bananas anãs, que a gente comia, ou que minha mãe fazia doces de rodelas. O quintal era nosso paraíso. Só éramos proibidos de ir num lugar dele: na cisterna que juntava água pra nos servir. A cisterna era profunda e perigosa.

Empurrávamos com os pés e eis o balanço nos ares, nos levando a lugares distantes, que antes a gente só ia mesmo na nossa imaginação. No balanço também, mas a gente fazia de conta que era verdade. De vez em quando meu pai daixava suas ocupações e vinha empurrar a gente no balanço.

Era nessas horas que o tosco artefato era mais prazeroso, pois ia beeeeeeeem alto e a gente nem tinha medo, pois o papai estava ali por perto. E hoje, aos quase 63 anos, eu daria um ano de minha vida pra voltar àquele quintal e ser balançado pelas mãos fortes de meu pai. Ah, como seria bom que os pais nunca morressem!!!

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A meia lua no céu...


Cláudio Mattos


A meia lua no céu, bem no meio do céu, chega toda fogosa querendo chamar a atenção. A noite passa calma e silenciosa, não há pássaros cantando, nem corujas piando. As cigarras parecem ter tirado férias, deixando a noite sem seu sabor real.

Onde Deus, onde estão as vidas ? As vidas, as vozes, o choro? Onde andam as pessoas, cadê seus abraços, seus beijos, seus olhares profundos, puros, singelos, seus olhares tão doces...

Deus, as pessoas agora se escondem umas das outras. Se protegem em suas fortalezas, mal dão "bom dia" quando saem para comprar o pão nosso de cada dia. É difícil entender esse isolamento.

Alguém por favor pode me explicar porque até hoje eu não consegui entender? Por que economizamos gestos nós, humanos, precisamos uns dos outros?

Como se não bastasse, irritado com o mundo, o homem destrói a natureza e contamina os animais com sua frieza, deixando-os cada vez mais silenciosos. Mais sem vida, sem reação.


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