
Anco Márcio de Miranda Tavares
Eu fui um menino feliz... Morei numa casa que tinha um imenso quintal. Mais ou menos uns cinquenta por vinte. Começava numa rua e acabava na outra. Nele tinha uma imensa mangueira de manga do tipo comum que dava muitos frutos e tinha um enorme galho à sua esquerda. Pedimos um balanço a papai...
Ele que nunca negava nada à gente, comprou cordas resistentes, comprou uma tábua grossa, escavou quatro entradas na tábua, amarrou as cordas e eis o balanço feito. Isso pra menino do interior há mais de cinquenta anos, sem tv, sem video game, sem ouvir nem falar em computador, era uma festa...
Eu e meus irmãos fazíamos fila pra se balançar. Nesse balanço, nos nossos sonhos, voávamos até os ceus e brincávamos de piloto de avião. Nosso pai tinha feito nossa felicidade, no nosso quintal onde eu era um xerife à cata de bandidos imaginários que só existiam mesmo na minha mente.
Afora essa mangueira, no quintal tinha apenas umas bananeiras, que dava bananas anãs, que a gente comia, ou que minha mãe fazia doces de rodelas. O quintal era nosso paraíso. Só éramos proibidos de ir num lugar dele: na cisterna que juntava água pra nos servir. A cisterna era profunda e perigosa.
Empurrávamos com os pés e eis o balanço nos ares, nos levando a lugares distantes, que antes a gente só ia mesmo na nossa imaginação. No balanço também, mas a gente fazia de conta que era verdade. De vez em quando meu pai daixava suas ocupações e vinha empurrar a gente no balanço.
Era nessas horas que o tosco artefato era mais prazeroso, pois ia beeeeeeeem alto e a gente nem tinha medo, pois o papai estava ali por perto. E hoje, aos quase 63 anos, eu daria um ano de minha vida pra voltar àquele quintal e ser balançado pelas mãos fortes de meu pai. Ah, como seria bom que os pais nunca morressem!!!
www.ancomarcio.com
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