domingo, fevereiro 25, 2007

DOIS PRIMOS, UM DESTINO...


Minha amiga Naza, é entre outras coisas uma bela de uma atriz. Nos idos de mil e novecentos e preto e branco, saimos com o Teatro do Estudante da Paraiba, mambembando por terras mineiras onde ela fez o maior sucesso. Me aparece agora com esta curiosa história. Bem vinda minha querida. H.C.


NAZARETH XAVIER


Meu sogro era um exímio contador de histórias. Cada vez que o visitava, ele tinha sempre um dos seus “causos” para me contar. Eu achava delicioso ouvi-lo e ele, sabendo disso, esmerava-se nas suas narrações. Certa feita, contou-me esse inusitado fato:

Segundo ele, tudo aconteceu no início do século XX. Ana, uma prima sua de apenas dois anos de idade, era o xodó da família. Gorduchinha, linda, faceira, cativante, cheia dos encantos próprios de uma meninice bem cuidada. Parecia vender saúde; nunca havia sido acometida por nenhuma doença, nem mesmo aquelas tão comuns à infância: catapora, coqueluche, caxumba, sarampo e outras. Um dia, porém, desmaiara de repente. O médico foi chamado às pressas e, sem ter uma explicação plausível e para surpresa geral, atestou sua morte. A família não acreditava no que via: uma criança tão saudável, tão cheia de energia, morrer assim sem mais nem menos! Não havia mais o que fazer. Agora, era se conformar com a vontade divina e cuidar do enterro. E assim foi feito.

O pai da criança era um alto funcionário do Governo e, por isso, o séqüito foi acompanhado pela banda de música do Palácio Governamental. O enterro, ao som da marcha fúnebre, descia, solenemente, a rua da República em direção ao Cemitério Senhor da Boa Sentença. Uma grande multidão seguia a pé, como era costume na época. Antes da entrada que levava o féretro ao cemitério, a criança levantou-se, abruptamente, do caixão. Os acompanhantes ficaram em polvorosa. Foi gente correndo para todo lado... Ninguém estava entendendo, absolutamente, nada. No meio de toda confusão, as especulações começaram: uns diziam que se tratava de um milagre; outros achavam que era coisa do diabo. O fato é que ela havia sofrido um ataque de catalepsia e, por pouco não fora enterrada viva.

Anos mais tarde, um outro primo seu, de nome Guilhermino, que não tinha nenhum parentesco com a sua prima Ana, deixou o Brasil para realizar o grande sonho da família: ter um doutor com o diploma expedido pela Universidade de Coimbra.

E lá se foi Guilhermino para Portugal, sozinho e carregado de saudades.

Passado algum tempo em terras portuguesas, o nosso estudante foi surpreendido por uma epidemia de cólera que assolou o país e, como centenas de outros doentes, não resistiu. No dia em que foi dado por morto, havia muita gente a ser enterrada. Diante do grande número de cadáveres, foram usadas valas comuns, pois, os cemitérios já estavam lotados. Os corpos estavam todos amontoados em grande número. A noite chegou e o coveiro teve que parar com o sepultamento deixando para continuar a operação no dia seguinte.

Ao raiar a madrugada, Guilhermino, que estava entre os que esperavam sepultura, voltou a si; desempenhando um grande esforço, arrastou-se até onde pôde; ao perceber a presença de transeuntes pediu socorro, dizendo-se sedento. Deram-lhe água, prestaram-lhe os primeiros socorros e levaram-no a um hospital onde foi tratado a tempo de curar-se. Por pouco, também, não fora enterrado vivo.

Para a alegria da família, Guilhermino concluiu o seu curso e voltou para o Brasil portando um belo canudo coimbrense e cheio de vida e saúde. Aqui chegando, foi apresentado a uma moça muito bonita, de esmerada fidalguia, portadora de muitas virtudes; tamanhos atributos fez despertar nele uma grande simpatia pela jovem e, não demorou muito, apaixonou-se perdidamente, por ela sem entretanto, saber o que lhe acontecera, pois a moça em apreço era simplesmente, a tal Ana “cataléptica”.

Os redivivos casaram-se e foram felizes para sempre...

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Ipuarana - Falso Recuerdo de Infância/Adolescência. Onde Ainda Se Buscam Respostas. Uma Viagem Ao Imponderável

HUGO CALDAS

A igreja do Rosário em Jaguaribe foi um marco na minha infância. Não tinha um estilo definido mas era imponente. Convento de frades franciscanos, na maioria de nacionalidade alemã, que vinham para cá nos catequisar e nos arrancar das garras do pecado. Durante a 2ª Guerra Mundial os frades se tornaram potencialmente nossos inimigos. Soldados do 15 RI, armados, ficavam postados junto ao altar durante a celebração da missa. Nunca entendi o que existia de tão importante no proletário bairro de Jaguaribe que pudesse ser do interesse do Eixo Roma-Tóquio-Berlim.

Foi lá, na Paróquia do Rosário, que tomei lições de catecismo, com Dona Hermengarda para a primeira comunhão. Certa vez um colega, meio desavisado perguntou se a Hóstia Consagrada era igual a rodinha do desenho do mosaico da sala. Foi devidamente admoestado com uma descompostura em regra. Foi lá, no campinho de futebol dos frades que pela primeira e última vez joguei uma partida de futebol, envergando o uniforme de goleiro do segundo quadro da Cruzada Eucarística. Fizeram um complô para que eu viesse a jogar contra os trangolões da Congregação Mariana. Por artes do tinhoso me apareceu um penalty. Decidi que iria ficar no gol apesar da minha proverbial incapacidade para o nobre esporte bretão e tem mais, recusei de pronto um novo complô para me substituirem. O cobrador mandou um chute certeiro que atingiu minha barriga me jogando ao chão, desacordado. Mas a bola não entrou. A maior glória. Acordei com Frei Serafim passando um chumaço de algodão com arnica nas minhas ventas, a fim de ressucitar o heroi daquela tarde. Lá também eu ia com a minha mãe assistir as Missões... "eles têm a foice e o martelo mas nós temos a cruz"... era nesse clima de sagrada beligerância que se davam os sermões pronunciados no português canhestro dos piedosos frades. Aos domingos me vestia de coroinha e de posse de um pequeno cofre de madeira ia fazendo a coleta para as Santas Missões. Minha Tia Aurinha adorava me ver desempenhando esse papel, e muito séria, fingindo não me conhecer, às vezes, segurando o riso, depositava a sua contribuição. Mais tarde à mesa do almoço o assunto só podia ser eu, no meu piedoso ofício de coroinha.

Frei Serafim era irmão leigo. Pintava bem e ainda podem ser vistos alguns trabalhos seus adornando o pequeno púlpito ao lado esquerdo da nave central. Lembro que ajudei nesse trabalho. Limpava os pincéis. O porteiro do convento era Seu Inácio que se considerava frade sem nunca ter sido. Usava batina, cordão branco, terço de contas de madeira escura e pesada, corte de cabelo igual, e às vezes até inventava de falar engrolado que nem os alemães. Só que o resultado era um alemão baixinho, atarracado, meio amarelo e cara de lua cheia. Era uma figura curiosa. No subterrâneo ficava o túmulo de Frei Martinho, que diziam ser milagreiro, o que se poderia perfeitamente constatar à visão de inúmeros ex-votos, muletas, e uma infinidade de fotografias. Mas deveríamos ter a autorização de Seu Inácio para qualquer visita. Ele adorava exercer essa prerrogativa.

O tempo passou...

Ipuarana. De repente me vejo em meio a um bosque de eucaliptos onde ficava o convento/escola dos frades franciscanos. Ainda hoje o perfume da planta me traz recordações. Passei alí tres profícuos anos estudando. A rotina diára era pesadona. Iniciava às 5 da manhã com banho coletivo de chuveiro com água fria. Todos de camisão que era para não ficar inventando bobagem. Às 6 horas, missa na capela. Às 7 hs deveríamos estar no final do café da manhã para logo após iniciarmos as aulas que iam até o meio dia. Tínhamos todas as matérias curriculares acrescidas de noções de teologia, grego e astronomia. À tarde, após o almoço, banca de estudos a fim de preparar as tarefas do dia seguinte, até às 4 horas - daí então até as 5hs, um joguinho de futebol ou, para os menos afeitos, um mastro com uma bola pendurada por uma tira de couro chamado de "Speedy Ball." Novamente banho, terço na capela e jantar às 7hs. Mais meia hora de estudos e recolhimento para tudo reiniciar novamente no dia seguinte.

Certo dia encontrei na sala destinada às visitas, um recorte de "O Diário de Pernambuco." Um dos artigos me chama particularmente a atenção pois dava conta de uma mãe de santo de Água Fria, bairro do Recife, que praticamente dominava toda a comunidade. Nada se fazia ou se deixava de fazer sem o consentimento dela. Ninguém casava/descasava ou fazia/desfazia qualquer negócio sem o "Nihil Obstat" dela. Um assombro esse tipo de acontecimento, esse domínio sobre as pessoas em plena segunda metade da década de 50 do século passado.

Corri a mostrar o achado ao frade monitor da minha sala, com quem adorava conversar fazendo mil e uma perguntas inconvenientes, Frei Boaventura, um holandês que gostava mais de esportes do que de religião. Após a leitura, olhando-me firmemente, disse-me ele:

- Veja você, hoje em pleno século vinte uma pessoa muito provavelmente ignorante exerce esse poder, imagine há quase dois mil anos um sujeito altamente inteligente como Jesus Cristo, com mania de ser Deus, o que não faria. E olha que Ele fez muita coisa. Mudou o mundo...

... e continuaria conjeturando sobre os feitos do Nazareno não o tivesse interrompido...

- Como assim, "mania de ser Deus"...
- Bom, na realidade Ele era o Filho de Deus Vivo...
- O senhor disse claramente..."mania de ser Deus"...Que significa isso?

Dessa vez ele me olha mais firmemente...

- Quando você vai entrar de férias?
- Em setembro próximo.
- Pois vá, aproveite bem suas férias e... não volte...!
- O que? Será que eu ouví bem? E a minha vocação?
- Que vocação coisa nenhuma meu caro. Você está aqui apenas para estudar. Vá tirar definitivamente a Prova dos Nove. Descubra se o seu lugar é aqui ou lá fora.

- Frei Boaventura, disse-lhe eu, reconheço que sou meio incômodo, meio abelhudo, fazendo as perguntas que costumo fazer, mas não será fácil. Terei que abdicar de muita coisa.
- Se você arranjar uma namorada as coisas simplificam. Viva a sua vida. Não se vive tudo de uma vez. A vida se vive por etapas. Aproveite, meu caro. Um dia você vai me agradecer.

E assim foi feito. Saí de férias e não mais voltei. E foi aí que Amelinha de Lourdes entrou na minha vida. Fui convidado para ser seu par no casamento de Celina, sua irmã mais velha. Foi o começo de tudo. Foi o inicio de um amor turbulento, com idas e vindas. Daqueles amores difíceis de serem esquecidos. Um belo dia eu prometo contar.

O tempo passa novamente...

Aeroporto dos Guararapes, Panair do Brasil, inicio dos anos sessenta. Chego para o trabalho meio ressabiado por ter que entrar no primeiro dos famosos pernoites. Verifico a lista de passageiros embarcando para a Europa. Tinha lá, logo o primeiro nome:

Frei Markus Boaventura ofm. Era ele, voltando para casa. Aposentadoria. Falei aos colegas em poucas palavras da importância que ele exerceu na minha vida. Pedi que todos ficassem comigo no balcão pois não sabia como iria reagir à presença de quem mudou praticamente tudo desde aquela conversa no campinho de futebol numa tarde morna da década de cinqüenta. Frei Boaventura chegou logo em seguida, acompanhado por alguém do Arcebispado. Um pouco mais envelhecido. Olhou para mim e logo me reconheceu.

- "E então, eu não tinha razão?" E como se a conversa que tivemos há 5 anos atrás tivesse acontecido há 5 minutos, emendou...

- "Você daria um bom sacerdote mas um péssimo frade."

A volta para a Europa foi a sua derradeira etapa. Frei Markus Boaventura ofm - uma grande influência na minha vida - morre seis meses depois.

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sexta-feira, fevereiro 16, 2007

A SINFONIA DOS SAPOS

Membro da Associação Americana de Urologia (AUA Board Certified), da Sociedade Brasileira de Urologia e correspondente das sociedades Européia, Norte-americana e Latino-americana de Urologia, Dr. Amaury Medeiros é também autor de diversos artigos em jornais, revistas nacionais e estrangeiras e de vários livros. Membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, da Academia Recifense de Letras e da Academia Pernambucana de Letras, APL. Uma honra tê-lo conosco. H.C.

AMAURY MEDEIROS

Luiz da Câmara Cascudo, em seu Dicionário do Folklore brasileiro, nos conta fatos interessantes sobre os sapos. Ressalta sua presença inevitável nas nascentes e fontes de água como elemento protetor de grande valia na preservação do equilíbrio ecológico. Os indígenas chamavam-no "mãe da chuva". Ao longo da história da civilização, o sapo tem sido um figurante vivo e constante na literatura oral. Nas fábulas de Esopo - personagem meio lendário que viveu no século 6º a.C e teve influência nos diálogos de Xenofonte e nos escritos de La Fontaine - ele aparece como participante cômico e, às vezes, de astúcia arteira e vencedora. Dois exemplos opostos são o sapo que viaja para a festa no céu dentro da viola do urubú, e a sua aposta de corrida com o veado. Não esquecer que o sapo foi, em certa época, elemento indispensável como vetor na transmissão de mágicas e feitiçarias.

Nosso poeta maior, Manuel Bandeira, não escapou da influência dos batráquios. Em Carnaval, sua voz faz-se satirizante com Os Sapos, poema que seria uma espécie de hino nacional dos modernistas. "Enfunando os papos,/Saem na penumbra,/Aos pulos, os sapos./A luz os deslumbra." Lá na frente de casa, num relance de infância, vejo-os que surgem saltitantes, peitos insuflados. "Não mexam com os pobres bichinhos! Cuidado que a mijada deles pode cegar!" Os meninos maldosos desferiam-lhes chutes nos trazeiros e morriam de rir. O sapo-boi olhava de esguela e berrava em ronco aterrorizante: "Meu pai foi à guerra!" "Não foi!" "Foi!" "Não foi!"

Recentemente, quando o sol se escondia com mansidão por detrás das nuvens carregadas de cansaço, o mano Adilson me convidou para assistir a uma exibição sinfônica. Fiquei surpreso por nos encontrarmos no interior são beneditense, às margens do Rio Pirangi. No beiral líquido, quedamo-nos estáticos na reverência da paz reinante. Parecia-nos escutar o silêncio do mundo, como fazia nossa saudosa mãe. De súbito, um ruído musical coaxante, isolado e único. Seguiram-se notas dissonantes, que mais semelhavam um ajuste instrumental, as quais, pouco a pouco se integravam numa harmonia repetitiva. Obedecendo a certo ritmo, as notas se alternavam atingindo progressões ascendentes e descendentes, agudos e graves, quebrando o sossego crepuscular na beleza sinfônica do coaxar dos sapos. Como sob o comando de uma batuta oculta e misteriosa, de repente as vozes silenciavam, num uníssono, para recomeçar em seguida no mesmo diapasão de sonoridade.

Para muitos uma bobagem, perda de tempo, permanecer à beira do rio escutando o coaxar dos sapos como se fora uma sinfonia. Poucos têm a sensibilidade de encontrar alegria, festa e luz nas pequenas coisas da vida. Já que vivemos tão estressados, porque não buscar a paz interior, que tanto precisamos, nos imprevistos do mundo circundante? Em Jean Sateuil, o genial Marcel Proust nos aconselha gozar com doçura "o sentimento da plenitude da vida":
o mar e o sol dissolvido no mar, as papoulas trêmulas ao vento, as rosas purpúreas, as sombras dos pombos cinzentos que pisoteiam a grama, as borboletas e os pássaros que parecem anjinhos alados. É alegre o ouvido que escuta a música de Schumann ou a das moscas, "música de câmera estival". Ou a sinfonia dos sapos que se ocultam sob um tapete de baronesas no beiral do rio. Necessário que admiremos as manifestações da natureza, em cuja simplicidade se escondem os segredos da beleza plena. Urra o sapo-boi: "Meu pai foi rei" "Foi!" "Não foi!" "Foi!" "Não foi!"

Amaury Medeiros - amamed@hotmail.com


domingo, fevereiro 04, 2007

RECUERDO 18 - O DIA DA CAÇA, OU DE COMO EU DEMITÍ O MEU CHEFE!

HUGO CALDAS

Corria o ano de 1958. Cid Sampaio disputou e venceu as eleições para o governo do Estado de Pernambuco com o apoio de Luis Carlos Prestes e Gregorio Bezerra, dois ícones incontestes do PCB. Em um comício na Av. Dantas Barreto os tres apareceram juntos e a comunistada ensaiou uma sonora vaia quando Cid começou a falar. "Feliz é o povo que ainda pode vaiar os seus homens públicos," disse ele e a vaia morre no nascedouro.

No governo, Cid criou uma empresa mista estadual que se propunha a fabricar 27,5 mil ton/ano de um produto novíssimo. A Borracha Sintética. Para isso, além dos conchavos de sempre, Cid criou o Bônus BS, Bônus da Sorte, um adicional de 0,5% ao Imposto de Vendas e Consignações a fim de criar a Coperbo - Companhia Pernambucana de Borracha Sintética. Cada consumidor trocava o valor do Bônus BS, constante na Nota Fiscal, de qualquer compra ou transação comercial efetuada, por ações da Coperbo. Diziam, em tom de piada que as "Meninas da Rua do Rangel," não podendo dar o devido e competente BS, sofreram uma queda considerável na "arrecadação."

Mas de onde viria essa tão famosa fábrica? Se não me falha a memória, terminamos como sempre, comprando uma sucata. Dessa vez acho que do Canadá que também conseguiu emplacar uma empresa de engenharia mecânica para entrar na montagem da planta.
A empresa na realidade repassou a tarefa para a sua subsidiária brasileira e apenas se limitou a fiscalizar o bom andamento dos trabalhos.

Fui contratado como intérprete da parte brasileira, ligado à diretoria, formada por engenheiros de São Paulo. Era o elo de ligação entre as duas empresas. Vivia como aquelas "sombras" que de vez em quando aparecem em programas da TV. Colado ao engenheiro chefe dr. Pedroso, participando de reuniões de serviço com a chefia canadense, um trabalho insano. Estava tão afiado na tradução simultânea, que já podia me ver algum dia, trabalhando como intérprete da ONU.

Eis que certa segunda-feira, ah, as segundas-feiras, alguns dizem que definitivamente elas não deveriam existir - se nem a de carnaval é de boa serventia - o operador de um dos guindastes não compareceu ao trabalho, mercê quem sabe, de uma ressaca braba.

O guindaste em questão diziam, era o maior em atividade na América Latina e apenas um operador devidamente habilitado poderia manejá-lo. Mas sabe como é o brasileiro e seu famoso jeitinho. O dr. Pedroso resolveu tudo de imediato. Mandou um outro operador absolutamente sem qualificação para aquele tipo de trabalho dar continuidade aos serviços. Não poderíamos nos dar ao luxo de um dia parados.

Resumo da ópera:

No primeiríssimo lance para apanhar um enorme tubo de aço e levá-lo para um outro local a agulha do guindaste entortou partindo-se logo em seguida. Foi uma comoção. E agora? Como sanar uma situação dessas? Todo mundo com o coração nas mãos. O que vai acontecer?

Cerca de dez ou quinze minutos depois do incidente constrangedor, a direção canadense irrompe sala a dentro, o gringo chefe, Dr. Parson à frente, botando fogo pelas ventas, pergunta:

- Quem é o intérprete aqui? Respondo,
- Sou eu, Dr. Parson.
- Onde está o seu chefe?
- O Dr. Pedroso está aqui ao meu lado, senhor.
- "Tell this son of a bitch he is fired"! Embaraçado, olhei para o Dr. Pedroso e disse,
- Dr. Pedroso, portador não merece pancada, me desculpe, mas o sr. está demitido. Evidentemente o "son of a bitch" não foi traduzido a fim de evitar maiores contratempos.

Hoje, passados tantos anos pode parecer piada, mas na hora do acontecido o ambiente ficara irrespirável e a bomba não explodiu por puro milagre. O tempo passou e a fábrica continua em pé lá no canto dela e todas as vezes que a revejo a evocação desse acontecimento me vem à mente, bem como a cara aparvalhada do Dr. Pedroso, olhos esbugalhados, boquiaberto fitando o infinito, sem se dar conta talvez do que acabara de acontecer. Bons tempos em que a gente podia demitir os nossos chefes.... Bons tempos?

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quinta-feira, fevereiro 01, 2007

POBRES NETOS

GUY JOSEPH

Lembro que antigamente (e isso não faz tanto tempo assim), a escola pública era excelente! Nos anos 50/60 o Liceu Paraibano, por exemplo, não era pra quem queria, pois só conseguia uma vaga, aquele estudante que tinha disposição e determinação para estudar. Não adiantava o jeitinho, do papai e sua influência política, se o filhinho não tinha capacidade e inteligência para acompanhar o programa do Liceu. Foi aí, talvez, que se iniciou o desprestígio do bom ensino gratuito, em benefício da escola particular, paga. O termo, "pagou-passou", era conhecido pelos estudantes que se esforçavam na escola pública gratuita, de qualidade, enquanto os filhinhos endinheirados freqüentavam a escola paga e, obviamente, passava. Existia o severo exame de Admissão ao Liceu, que era o terror dos estudantes que sonhavam entrar para o Liceu. Não era como o vagabundo vestibular, de nossos dias, que nada avalia e contempla o acaso ou a sorte na múltipla escolha.

E o corpo docente, do Liceu? Era de se tirar o chapéu e não se esquecia, jamais, quem passava pelas mãos de uma Daura Santiago Rangel, Mauri Ribeiro, Manoel Cavalcanti e Maria Bernadette (meus pais), Alaíde Chianca, Zé Maria, Linalda de Arruda Melo, Walter Rabelo, Giácomo Zaccara, Pedro Nicodemos, Artur Moura, Olivina Olívia, Milton Paiva, Afonso Pereira, entre tantos outros. Eram mestres, que ministravam suas matérias e iam mais além, na transmissão de princípios éticos e morais, os quais, os ex-alunos nunca mais esqueciam. Ensinamentos que orientavam o cidadão para a vida e que por sua vez, passava adiante e aos seus descendentes, o que aprendera, no ideal do "ser".

Tudo isso me vem à memória, ao assistir a um anúncio comercial de cerveja, na televisão, que prega a bebedeira, a molecagem, a sacanagem, o deboche e desrespeito aos semelhantes, como grandes feitos, a serem contados aos futuros netos! Pobres netos... yeh, yeh!

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