quinta-feira, janeiro 31, 2008

VENTURAS E DESVENTURAS DOS SOBREVIVENTES DA ESCOLA SANTA THEREZINHA DE DONA TÉRCIA BONAVIDES


Breno Grisi

Ao ler o Recuerdo sobre a escola Santa Therezinha, a dúvida é: Rir ou chorar! A figura que o Hugo Caldas pintou de Dona Da Luz é perfeita. Ainda tenho na memória suas ameaças e algumas de D. Tércia, como por exemplo "está começando a botar as unhas de fora" e “fazendo figura com o chapéu alheio." Nesses momentos suas bochechas gordas estufavam e alguns perdigotos ejetavam-se no ar. Mas não me lembro de ter visto nenhuma ameaça física a qualquer dos alunos. Mas tinha conhecimento de que o beliscão, um castigo sutil, era comum.

No terceiro ano primário tínhamos uma professora, D. Noemia (minha mãe me disse que tinha sido colega dela na Escola Normal) que era um pouquinho complicada. Uma vez ela me manteve retido na escola até que eu conseguisse resolver um problema de matemática; eu estudava de tarde, estava ficando escuro (tinha que ir a pé até a Camilo de Holanda, perto da Maximiano Figueiredo) e comecei a chorar; e ela com ar e risinho de bruxa, aproximava-se de mim e vociferava: "Olha como ele fica vermelhinho e bonitinho quando chora, parece um camarão." Passei um bom tempo da minha vida traumatizado com problemas de matemática, principalmente na hora de provas, quando eu tinha a sensação de que não iria conseguir resolver os problemas da prova antes do tempo. Acontecimentos desse tipo na infância exercem um efeito imprevisível na vida adulta, já dizem os psicólogos.

D. Noemia costumava juntar uns 3 ou 4 de nós em frente à mesa dela para "tomar a lição" e um dos colegas, Milton Cartaxo (irmão de Divaldo Cartaxo), uma vez a caminho da escola disse-me: "eu hoje mato D. Noemia! comi um monte de batata doce, ovo, cuscuz e tomei um copão de leite". Na hora de tomar a lição, arrodeada pelos alunos-vítimas do dia e com Milton nos empurrando para ficar pertinho dela, ela começava a esfregar o nariz, com um lencinho bem-bordado e, já não mais agüentando... com o nariz vermelho e se abanando disse: "um de vocês hoje ESTÁ PODRE! Podem ir se sentar"! E Milton saía rindo e feliz com o sucesso dos peidos eficientes que tinha soltado. E minha vingança de criança tinha se perpetrado através do meu grande amigo Milton Cartaxo.

Havia folga nas quinta-feiras (e aulas no sábado) porque esse era o dia em que D. Tércia tinha que ir dar aulas de Geografia na Escola Industrial, que ainda era nas Trincheiras (próximo à balaustrada); e para isso ela pegava o bonde em frente à própria escola. Eu detestava ter que ir para a escola nos sábados, porque nas quinta-feiras não havia amigos na vizinhança para brincar.

Lembro-me perfeitamente das demonstrações de orgulho que ela tinha dos ex-alunos que se deram bem na vida. Vez ou outra ela nos apresentava um deles, inclusive o João Agripino Maia, embora na época ainda não tivesse se projetado na política nacional.

O quintal da escola era uma área proibida. Não me lembro de ter ido lá hora nenhuma. Passávamos ao lado quando queríamos ir ao "quartinho" (parecia ser proibido chamar sanitário ou banheiro).... E muitas outras venturas e desventuras ... que temos para contar, agora para os netos.

brenogrisi@yahoo.com.br

NOTA DA REDAÇÃO
Breno Machado Grisi é um paraibano de João Pessoa que nos apareceu por obra e graça das webs e internets da vida. Cursou o primário na Escola Santa Therezinha de Dona Tércia Bonavides, o secundário no Colégio Pio X. Formado em História Natural pela Universidade Federal da Bahia. Mestrado em Botânica na USP, PhD em Biologia na Universidade de Essex, Inglaterra. Pós-Doutorado em Rothamsted Experimental Station, Inglaterra. Hoje desfruta o mais doces dos ócios numa bem merecida jubilação. Nas horas vagas, que como aposentado “abundam”, continua lendo, principalmente sobre ciência, fotografando a Natureza e dialogando com os amigos através do cyberspace. Quem quiser saber mais do nosso mais novo colaborador que se digne ir à página do Google colocar o seu (his) nome e mandar ver. Boas cheganças meu caro Breno. H.C.

terça-feira, janeiro 29, 2008

DIVERSIDADE CULTURAL NO CARNAVAL DE PERNAMBUCO


Aline Chaves Alexandrino
(Foliã Juramentada)

Começo essas considerações afirmando que escrevo com a autoridade que os meus quase 60 anos de carnaval pernambucano de rua me dão, tendo feito o ensino fundamental na rua Imperial e pracinha do Diário, graduação nas ladeiras de Olinda e pós-graduação no Galo da Madrugada. Em segundo lugar sou absolutamente neutra, uma vez que nunca pertenci a qualquer agremiação (porque quero participar de todas) e aprecio tanto a simplicidade do bloco de sujos quanto a grandiosidade do Galo. Finalmente, ressalto que não tenho preconceito com qualquer ritmo ou melodia, de qualquer local deste planeta, desde que me toquem a alma, o corpo e o coração. Isso posto, já posso começar a radicalizar em relação à música de Carnaval de Pernambuco.

Moro numa rua por onde passa um bloco já tradicional no Recife: o Cabeça de Touro, do Engenho do Meio. É uma festa maravilhosa que ocorre no sábado antes do de Zé Pereira e mobiliza toda a população do bairro e adjacências. Entretanto, de uns anos pra cá tenho ficado insatisfeita com o que tem acontecido com o Touro e não somente com ele, a pretexto de uma tal de diversidade cultural: o percentual de músicas que não são do Carnaval, e que durante o mesmo são executadas pelas orquestras que acompanham os trios elétricos (com a honrosa exceção da Frevioca, e das exigências de Enéas no Galo!), é muito significativo.

Isso se justificaria se Pernambuco não fosse o celeiro cultural que sempre foi e não tivesse músicos de primeira linha, na questão do Carnaval. Só de memória falo de Capiba, Nelson Ferreira, Carnera, Zumba, Levino Ferreira, João Santiago, os irmãos Valença (dentre os que já se foram) e Getúlio Cavalcanti, J. Michiles, Alceu Valença, mestre Salu, os maestros Spock, Duda, José Menezes, Ademir Araújo, o excepcional Claudionor Germano, para não falar no multicultural Antônio Nóbrega e nos Madureira. Ainda assim sei que estou fazendo injustiça a muita gente mas é que a memória depois dos “enta” não é mais de confiança. Quem não estiver nessa lista me perdoe.

Também se justificaria a "diversidade" musical, se o frevo fosse tocado durante todo o ano, juntamente com os maracatus, caboclinhos, cirandas e côcos. Mas não é assim que as coisas acontecem. Alguém por aí já ouviu o frevo ser tocado durante as festas de São João? Ou nos desfiles de escola de samba? E durante os eventos de rocks, funks, pagodes, bregas e axés? Duvi-dê-o-dó!!!

Durante o ano inteiro temos que conviver com o que a indústria cultural (?!) nos enfia goela abaixo, num nível de descarte e de superficialidade que assustam, desencantam e desiludem. Onde estão a delicadeza e o lirismo dos frevos de bloco, com os corais femininos tão afinados? Em que emissoras se escondem os metais endiabrados dos frevos de rua que parecem chamar os passistas e suas sombrinhas (exceção para o programa de Hugo Martins na Rádio Universitária)? Em que programas se podem ouvir as flautas dos índios, os tambores do maracatu e o toque da ciranda e do côco, que nos dão a certeza da nossa origem multifacetada como povo?

Esses sons só aparecem no Carnaval, nas ladeiras de Olinda, atrás das orquestras no chão espremidas pelo povo (como devem ser as orquestras no Carnaval), molhadas de suor ou de chuva, com os músicos disputando o ar das ruas com os foliões e tocando, mesmo quando a gente acha que não vão agüentar mais. Surgem de mansinho nos becos do Recife Antigo, atrás dos blocos dos mascarados, dos namorados, das crianças e dos boêmios. Durante o resto do ano o frevo silencia e só há tempo e espaço para outros sons e ritmos.

No entanto, o Carnaval de Pernambuco mostra sua força quando o Galo da Madrugada sai, como todo ano, com uma multidão colorida e iluminada, só cantando a nossa música. O mundo todo vê a apoteose daquele coro de milhares de vozes porque, como dizia Vinicius de Moraes, “mais que nunca é preciso cantar, e alegrar a cidade...” É emocionante ouvir a multidão cantando “Voltei Recife...”, “Roda, roda, roda e avisa...”, “Ao som dos clarins de Momo”, “Batutas de São José, isto é, parece que tem feitiço”, “Ei pessoal, vem moçada”, e entoando “...frevo, frevo...” nos intervalos das orquestras. É bem diferente de ouvir "ela é problemática...", ou "beber, cair e levantar...", até a exaustão.

Nosso Carnaval é multicultural porque tem um acervo respeitável de cultura popular, representada pelo frevo, maracatu, ciranda, caboclinhos, côco, caiporas, papangus, bois, ursos e cavalo marinho. Precisa mais?! Portanto, a partir de tudo isso, e do fato de que a nossa música carnavalesca é escanteada no resto do ano, é que acredito que, a não ser que isso se modifique, somente ela deveria reinar no período de Momo. Nós já somos multiculturais e já temos diversidade. Por que temos obrigação de importar outros ritmos e sons, se temos um acervo que dá e sobra para o Carnaval?!

Ao contrário, é preciso que incentivemos o aparecimento de novos compositores e intérpretes, a exemplo do que acontece com a orquestra de Spock que dá uma nova roupagem ao frevo, porém não esquece as origens. Ou como já vinha acontecendo com Getúlio, Michiles, Alceu, Nóbrega e os Madureira, que têm feito uma releitura do canto, da música, e da dança carnavalescas, com o maior sucesso. Poder-se-ia até conceder que, ao invés de cantarmos o que se ouve durante o ano inteiro, a ponto da exaustão (para não dizer da náusea...), utilizássemos tais canções em ritmo de frevo, maracatu e caboclinho. Mas nunca, sob nenhuma hipótese, supor que nossa cultura não é suficiente para preencher os dias de Momo.

Nós pertencemos a um Estado diferente (nem melhor, nem pior) de todos deste país, porque mantemos de forma praticamente eqüitativa a influência das três raças que nos formaram e que até hoje estão nas nossas caras, corações e mentes. Uma terra que tem os músicos que citei anteriormente, um Estado tão original que até seu próprio nome é formado de letras que não se repetem, não precisa importar músicas para a sua festa maior. Se nós, pernambucanos, não defendermos a nossa cultura, quem há de? Se nós, descendentes da mistura de mamelucos, cafuzos e mulatos, não demonstrarmos o nosso orgulho multirracial, e multicultural, quem o fará? Precisamos preservar, incrementar e divulgar esta música tão rica e bela que encanta a todos, brasileiros ou não, que aqui chegam durante o Carnaval.

Além do mais, o turista que vem a Pernambuco vem porque quer ver algo diferente. Quer saber qual é o nosso diferencial. E a desculpa de que tem gente que não gosta de Carnaval e não quer ouvir só o frevo não cola: quem não gosta de Carnaval fica em casa ou vai à praia, e quem não quer ouvir a nossa música carnavalesca, tem todas as outras para curtir durante todo o ano. Deixem o Carnaval para o os nossos ritmos!...

Sei que estou comprando uma briga e já vou arranjar uma proteção contra as pedras, mas é por tudo isso que falei, e por mais uma enormidade de coisas que não sei dizer (só sei sentir quando entro na rua da Concórdia com o Galo), que declaro em alto e bom som que, enquanto a nossa música carnavalesca não tiver a divulgação que merece durante o ano inteiro, protesto contra esta "diversidade" cultural. E finco pé na reafirmação da multiculturalidade do Carnaval de Pernambuco!

terça-feira, janeiro 22, 2008

Neste verão o sol abunda.


Hugo Caldas

Lá vem chegando o verão, cantou o poeta. Tempo de sol, de sal, de saúde, de gente bonita ornamentando as praias. Lá vem chegando também: Pivete, rato de praia, cheira-cola, trombadinha, assalto, arrastão, coliformes fecais, mendigo profissional, alta desenfreada e criminosa nos preços do sorvete nosso de cada dia, da água de coco, frutas e cervejas, poluição sonora, trio elétrico bradejando aos quatro ventos a abominável música baiana, carro de som de político ladrão, epa, tubarão comendo surfista, turista alemão comendo...
Um deslumbramento para a mais pura babaquice tupiniquim. E o calor do bute? De derreter os untos, de ananases, como diria o personagem do Eça de Queiroz.

Cheguei à Mauricéia desvairada em abril de 1959 e até hoje não acostumei com a canícula. Oh, terrinha quente e cheia de muriçocas. Aliás, essas pestes de muriçocas me perseguem. Senti na pele essas abomináveis criaturas em Caracas (pré-Chavez) onde são conhecidas como "sancudos." Outra vez, em Los Angels me deparei com uma monstruosidade, parrudão mosquito de primeiro mundo no hotel. Um horror! Aqui, moro na praia, mas não vejo nem sinal de mar. Muito menos ouço o barulho do mar. Não sinto o cheiro do mar. Ao contrário, sinto cheiro de óleo diesel. O mesmo cheiro que senti quando por aqui cheguei pela primeira vez. Ficou na minha memória olfativa. É, as cidades têm cheiro. O de Salvador é acre, entrando pelas ventas. Xixi puro. O centro do Recife não fica atrás. Com esse calor então, torna-se absolutamente inviável tentar viver por aqui. Não existe dinheiro para limpar as ruas, para cuidar da urbe. Melhor brindar Escola de Samba do Rio de Janeiro com 3 milhões de Reais do Erário Municipal. Hoje mesmo, vi na TV, 3 funcionárias públicas, provavelmente da prefeitura, felizes da vida porque "iam realizar o sonho das suas vidas," ou seja desfilar em plena Sapucaí, na Estação Primeira de Mangueira, devidamente paga para exaltar os 100 anos do Frevo. A realização deste "sonho" nos custou 1 milhão por cabeça.

As pessoas parecem se acostumar com todo esse descaso. Julgo que ninguém liga mais pra nada. Tudo muito sujo. Todos acham muito normal e tudo se configura em motivo para um sorrisinho meio maroto, sardônico. Não, não é sorriso amarelo de desapontamento. Talvez um tique nervoso. Cuido que todo mundo aceite como normal, a imundície.

Sujeira, porém de outra natureza, é quando os preços continuam a subir. Mormente no inicio do ano. Sempre a mesma ladainha. A compra do material escolar para os filhos. Entressafra e queijandos. Os debiloides se contorcem em incríveis acrobacias para cumprir com os compromissos assumidos na euforia das festas de fim de ano seduzidos que foram pelo marketing criminoso de uma mídia deletéria e seus apelos mirabolantes. Compre, compre, compre! Eu acho é pouco!

É no verão, nesse começo de ano, quando mal atravessamos as festas que já emendamos no carnaval. Em pleno janeiro tudo leva a crer que o carnaval deste ano será como sempre, muito superior ao do ano que passou. E tome comercial na TV, e tome samba enredo, mais parecem um caminhão cheio de japoneses, tudo igual epa, olha o politicamente incorreto aí, gente!

Com todo esse papo de verão forçoso será reconhecer que o clima da terra mudou e muito. Para pior. Os guardas de trânsito do Recife na década de 50, encarapitados numa espécie de guarita no meio da rua, envergavam fardamento cáqui composto de dólmã abotoado ou gravata. Os propagandistas de laboratório além de carregar uma bolsa pesadíssima, vestiam terno de tropical, com gravata. O calor não era essa maluquice de hoje. Na Avenida Guararapes ficava o Bar Savoy, reduto do melhor e mais honesto chope das redondezas. Recanto boêmio, abrigava a mais fina flor da intelectualidade da época. Era lá que matávamos a nossa sede. De chope gelado e de cultura. É lá que ainda hoje se encontra, espero, a placa com trecho de um poema de Carlos Pena Filho:

"Por isso no Bar Savoy,
o refrão é sempre assim:
São trinta copos de chope,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.”

O Recife era mesmo risonho e franco. Outros tempos, outras circunstâncias. Hoje, uma bela cidade maltratada. Os antigos casarões da Rua da Aurora lembram em sua arquitetura, São Petersburgo antiga capital da Rússia, que a comunistada teima em chamar de Leninegrado. Sem dúvida, novos tempos.

hucaldas@gmail.com
hugocaldas.blogspot.com

Palavra puxa palavra...


Anco Márcio de Miranda Tavares

Eu nem me lembro em que dia da semana nasci. Se foi na segunda ou no sábado. Se foi numa segunda tanto melhor. No sábado meus pais geralmente iam pra feira e não poderiam ficar em casa me esperando. Me lembro que quando nasci, chovia. Uma chuva fina dessas que a gente sabe que vai acabar logo, estiar cedo.

Me lembro de eu, menino, no Grupo Escolar de Ingá do Bacamarte com uma professora que tinha régua e compasso. A régua ela usava pra dar lapadas na gente quando dizíamos errada a lição: "Frederico era um bom menino, mas um tanto preguiçoso. Um dia resolveu olhar as formigas e então".

Dessa narrativa besta vinha a história de Frederico, que era lida por todos nós os meninos com os Es abertos, assim : FrÉdÉrico, um som horrível quando lido pela turma toda. Só me lembro bem que o menino ficava bom aprendendo com as formigas que devia sempre fazer seus deveres e estudar.

Depois me lembro de mim ainda menino, mas já maior, aluno de Dona Amélia, na Escola de Aplicação, tirando um três na primeira nota e prometendo a mim mesmo me recuperar e tanto estudei, tanto estudei que no final do ano tirei primeiro lugar e me deram um dominó feio como recompensa.

Corte. Depois lembro de mim no Bar de Rufino, no meu Jaguaribe, tomando de vez em quando uma lapadinha de cana que eu tinha comprado pra tomar com o meu amigo Bolero, de quem se dizia que fumava maconha e outras coisas mais. Na minha frente mesmo, Bolero nunca fez essas coisas.

Depois comecei a ouvir vozes, mas notei que eram as vozes de pesssoas que moravam lá em casa, mas que na minha ressaca pareciam vozes estranhas, vozes vindas de cavernas ou bat cavernas, vozes que apareciam somente pre me perturbar, mas isso passou logo.

Depois as salas de aula chatas com os professores me mandando calcular senos e cosenos, logarítimos, valor de X, equação e inequação... Depois as meigas namoradas da porta da Igreja, beijos roubados, beijos doados, bejos molhados, mas sempre beijos, sempre dados com afeto.

As viagens, as longas viagens de Maria Fumaça de Ingá até aqui, com a gente respirando aquele fumaça oleosa e mato passando pela janela, as casas passando pelas janelas , as vacas pastando ao longe, mais parecendo vaquinhas de brinquedo, o tempo correndo a vida indo embora devagar pela janela do trem.

Meu pai muito doente, minha mãe aperreada, minha avó aperreada a casa toda aperreada, o chefe doente e a gente tendo de viver num aperto de fazer gosto... É como eu disse, palavra puxa palavra, puxa palavra e gente vai em frente dedilhando esse velho violão da vida...

segunda-feira, janeiro 21, 2008

RETORNO


Celso Japiassu


Os sons se multiplicam

nos ecos de antigamente.

No quarto e em silêncio,

um homem procura

entender o fim das coisas.



Resquícios.

Tema de selvagens

mutações que o tempo evoca

e bebe o espanto,

afogado nas areias de um deserto:

sementes, folhas, galhos,

plantações de formigas devoradas.



Paredes de cupim, teias, o odor

da urina de homens e animais,

as sombras que habitam este lugar.

terça-feira, janeiro 15, 2008

POLITICAMENTE CORRETO


Hugo Caldas

Meninos, em verdade vos digo. Comecei o novo ano com o pé esquerdo. Sabe o meu comentário do dia 31 de dezembro, aquele sobre a repressão policial no Quênia, por conta da fraude nos resultados das eleições presidenciais? Pois é, recebi inúmeros telefonemas (como descobriram o meu número?!) e um catatau de e-mails desaforados, inclusive de uma entidade baiana, todos me recriminando por haver usado "preconceituosamente a expressão negrinho adolescente magrelo". Exigiam imediato desagravo!

Ok, vocês venceram! Será que "pequeno afro-descendente mirrado" desagrava?

Politicamente correto. Quem inventou essa presepada? Os sete magos do Sião? Os oito babacas de Bayeux? O Mangabeira Unger? Isso é coisa de quem não tem absolutamente nada que fazer. Coisa de americano rico que via de regra ri à-tôa, pois. Cunharam por lá o eufemismo African-American, que veio dar com os costados no Brasil. Aqui, como tudo se copia, deve-se dizer, "Afro-descendente." E começaram a levar à sério. A neurose já acontece há muito tempo. Conhecí gente importante da Música Popular Brasileira, que implicava com o "Samba do Crioulo Doido" por considerar o engraçado sambinha do Sergio Porto sumamente preconceituoso. Pode? Essa gente está a ver chifre em cabeça de cavalo.

Será que ninguém se toca por exemplo, em reconhecer a existência de figuras de linguagem, as chamadas formas carinhosas? "Sou doido por essa neguinha", dizia Painho, personagem do Chico Anysio. Meu Nego/Minha Nega, é como uma ex-aluna, simpática personagem da alta sociedade pernambucana se refere a todo mundo. Isso é preconceito?

Muito bem. A Africa era conhecida como "O Continente Negro". Passa a ser "Continente Afro-descendente?" Nêgo Bom, o pernambucaníssimo doce de banana deverá ser daqui por diante, um "Afro-descendente benévolo?" E O Negrinho do Pastoreio, e a Nega Fulô do Jorge de Lima? A Nêga Maluca, que me chegou de repente enquanto eu jogava sinuca, seria o que? "Afro-descendente que sofre das faculdades mentais?" Vamos falar sério?

Em "Fogo Morto," o mais belo romance de Zé Lins do Rego há inúmeras citações e usos da palavra "negro" ou "negra". Negro Passarinho, Negro Floripes, Negro Manoel de Úrsula, Negro Macário, Negra Margarida, uma longa série. O que vão fazer? Processar Zé Lins e seus descendentes? Ora, façam-me o favor!

Expressões tais como: "A coisa tá preta." Chico Buarque, em "Meu Caro Amigo" rimou "a coisa aqui tá preta" com Marieta... O que vem provar mais do que nunca a não ocorrência de preconceito. Dê uma passadinha no Aurélio e veja que ele registra a palavra Atro, como: Negro, Escuro, Tenebroso, Lúgubre, Medonho, Aziago, Infausto. Preconceito? Isso tudo foi por obra e graça da Santa Madre Igreja. Negro e índio não tinham alma. E os orientais? Os judeus? Estes foram impiedosamente transformados em categorias gramaticais, ora substantivo, ora verbo. Judiar. Nem Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira escaparam dessa. "Por que tamanha judiação," cantada em verso e prosa em "Asa Branca." Tudo isso está muito arraigado em nossas mentes, o que, a meu ver, não se configura jamais como o mais desprezível exemplo de preconceito. Quem conta um conto aumenta um ponto. Ou tira um ponto ou mais. Vejam abaixo:

Um fato, a deposição do Imperador D. Pedro II. Duas versões

1 - "O embarque noturno era uma exigência dos representantes da República recém-proclamada - não queriam manifestações de apoio que pudessem redundar em repressão e derramamento de sangue. Provocou uma das poucas reclamações do imperador deposto."

"Não sou nenhum fugido", repetiu duas vezes.

Matéria da revista Veja, 14 de novembro de 2007 - O Rei e Nós, da editora Vilma Gryzinski.


2 - "Conduzido, com a familia imperal, para o cais Faroux, afim de embarcar na lancha que o devia levar para bordo do Parnaíba, o imperador Pedro II não deixava de protestar:"

- Não embarco; não embarco a esta hora!

E ao braço do Conde d'Eu, que o puxava docemente:

- "Não embarco a esta hora, como negro fugido!"

Coluna de Tobias Monteiro - "O Jornal", 5 de dezembro de 1925.
Citação em "O Brasil Anedótico" - Humberto de Campos

Alguém poderá explicar a razão do desaparecimento da palavra "negro" na versão apresentada pela revista? O que motivou a mutilação da notícia? Receio de um processo por preconceito? É provável. Um politcamente exarcebadamente correto? É provável também. Fica a indagação e o protesto pela deturpação histórica. Prefiro acreditar na versão do Tobias Monteiro que a publicou no "O Jornal" em 5 de dezembro de 1925. Trinta e seis anos passados da ocorrência.

E para fechar essa conversa de hoje. Não tinha idéia da popularidade e da circulação do Blog. Panglossiano incorrigível, fico a tirar proveito da situação. Vejo agora que as minhas mal traçadas não são lidas apenas pelos amigos e colaboradores. Bom, não é mesmo? Assim quando quizer apoquentar as cabeças pensantes (sic) da mundiça que me destratou, já sei. É só postar algo politicamente incorreto. Quem viver verá.

hucaldas@gmail.com

terça-feira, janeiro 08, 2008

Matrioska


Carlos Cordeiro de Mello


Deixei a fase perquiritiva. Agora estou na fase fruitiva.

Quando vim morar aqui, já lá vão dez anos, pensei em abandonar-me à morte por inanição, como Gogol. Puro dramalhão. Minha ex-mulher, e sobretudo meu comborço, gostaram da mudança. Livraram-se assim de duas inconveniências: minhas passadas desesperadas pela rua e minhas ameaças de vingança. Meu ex-filho limitou-se a avisar: “vai ser difícil visitá-lo naquele fim de mundo”. Essa indiferença foi que me magoou. Nosso último diálogo foi há três anos.

- Alô, filho? Sou eu.
- Ôi. Tudo bem?
- Tudo bem. E com você?
- Tudo ótimo.
- E então, que está fazendo? Já se formou?
- Há mais de um ano.
- E que tal? Arranjou trabalho?
- Não exerço a profissão. Trabalho com recursos humanos.
- Ah, é? E está gostando?
- É bom.
- ................
- Está bem. Me liga um dia desses.
- Você também, quando puder. Ou quiser.
- Deus o abençoe, filho.
- Tchau.

Não me pediu o telefone. Aliás, se quisesse falar comigo, bastava solicitar o número à telefônica. Depois disso, telefonei três vezes para ele, mas nunca retornou minhas ligações. Traição da mulher, descaso do filho. Por quê? Essa pergunta – para a qual nunca tive a resposta – atormentou-me durante muito tempo. Foi a sofrida fase perquiritiva. Mas justamente o muito tempo que levou acabou sendo seu próprio remédio. Nada resiste ao passar do tempo.

Esse cotovelo de mundo, afastado de tudo, é o lugar ideal para mim. Não tem quase nenhum dos confortos do meio urbano. Uma farmácia, um mercadinho, um salão de cabeleireiro, alguns botequins, mais nada. Sem agência de banco ou de correio, nem médico ou posto de saúde. Um degredo, abençoado degredo. Foi aqui que pude comprar essa casa, ter meu quintalejo, um pequeno jardim. Um quarto é o de dormir, o outro é uma espécie de escritório e oficina, nele me distraio lendo, escrevinhando essas bobagens ou consertando velhos relógios. Tudo serve para passar o tempo. Aqui ninguém me visita.

A empregada é discreta e rápida. Tentei puxar conversa, ela explicou que o marido é ciumento, por isso tem de voltar para casa cedo. Se ele soubesse que trabalha para um homem sozinho, talvez nem deixasse. Fez essas confidências em tom sério, enquanto eu observava horrorizado suas grossas varizes. Vem duas vezes por semana, cozinha, lava, passa, varre a casa, espana os móveis. Eu como pouco, sujo pouco, não chega a ser muito trabalho.

Às vezes vou à igreja. Não tenho religião, nem mesmo sei se creio em Deus. Mas é bom ouvir os hinos, a pregação, cumprimentar o pastor. É uma igreja batista, mais conforme comigo. Tentei a igreja católica, achei a missa longa, as pessoas tristes. Há outra igreja evangélica, mais humilde, porém barulhenta, os crentes cantam e rezam aos berros, como se Deus fosse surdo. Vou ficando com os batistas, não todo domingo, para não pensarem que quero ser um deles.

Aquele que vai passando ali é o Ricardo, meu único amigo na cidade. Graças a ele, entrei na fase fruitiva. No começo, apenas nos cumprimentávamos. Um dia, estava na farmácia quando ele entrou. Saudou o vendedor e pediu remédio para dor de cabeça. Não era para ele, mas para a esposa. Pegou o envelope, pagou e saiu mas, ao atravessar a porta, deixou a cartela cair. O vendedor nem se mexeu, mas eu apanhei o pacotinho e fui atrás dele. Consegui alcançá-lo logo, ele agradeceu muito. Explicou que a esposa é sadia, mas às vezes tem dor de cabeça. Talvez do excesso de sol, pois gosta de cuidar do jardim. Confesso que tive inveja dessa felicidade.

Fomos conversando até sua casa, ou o que sobrou dela. O incêndio foi violento e repentino. Uma explosão do bujão de gás, a esposa carbonizada em poucos minutos, ele do lado de fora sem nada poder fazer. Felizmente tudo já passou. Uns dias depois do encontro na farmácia, cruzei com ele na saída do mercadinho. Levava um saco de terra adubada. Disse-me que ela resolvera plantar rosas. Comentei que as mulheres gostam muito de rosas e ele entendeu que eu falara da minha. Combinou trocarmos mudas, as preferidas da mulher dele pelas preferidas da minha. Aceitei.

Passei uma semana de cama, com uma gripe forte. Quando saí à rua, cruzei com meu amigo, que perguntou onde eu andara. Contei que tinha estado em Caxambu, com minha mulher. Ele aprovou o programa, estava justamente pensando em fazer o mesmo. Pediu-me indicação de hotel, de pontos turísticos. Forneci tudo, ele anotou em um papel e saiu agradecido.

Agora, toda vez que nos encontramos, conversamos um bocado. O assunto preferido é sempre as nossas mulheres. Ele me falou como a sua gosta de cozinhar. Aos domingos, sempre que o tempo está bom, almoçam no jardim. Confidenciei que a minha prefere jantar à luz de velas. Achou a idéia perfeita, vai propor o mesmo. Aliás, vai fazer-lhe uma surpresa: ele mesmo prepara a mesa, põe os castiçais, quando ela vier estará tudo pronto. Sugeri que pusesse umas rosas no centro da mesa, como eu faço, e ele gostou dessa idéia também.

Assim vou vivendo minha fase fruitiva. Estou muito bem com minha esposa, graças a Deus. Como não temos filhos, vivemos um para o outro. Estamos fazendo um jardim só de rosas, vermelhas, brancas, amarelas, um canteiro para cada cor. Ela é muito caprichosa, quer as roseiras bem podadas, a terra afofada. Já estamos fazendo planos para uma nova viagem, dessa vez a alguma cidade do litoral. Temos longas conversas toda noite, até bem tarde. Aos domingos, depois do culto, se o tempo está bonito, almoçamos no jardim. Fazemos uma longa sesta, depois uma caminhada pelo bairro. E à noite, jantamos sempre à luz de velas.

sábado, janeiro 05, 2008

DOUTAS E ZELOSAS ELUCUBRAÇÕES DE FIM DO ANO E COMEÇO DO IDEM


Hugo Caldas


Estava mesmo sem fazer muita coisa em dezembro portanto decidi assistir ao show do Reginaldo Rossi. Taí, gostei. Aquela história do artista ter que ir até onde o povo estiver é a mais cristalina verdade. Dessa vez o povo estava no Centro de Convenções. Emocionante ver o poravéu cantando junto com ele. A emoção em conluio com a nostalgia me perguntam agora onde estarão os ícones do passado?

Ídolos
Por onde andam Onilda Figueiredo cantando "nunca jamas pensei em querer-te tanto..." O garoto Paulo Molin, "Oliiinda eteeeerrrrrnnaa," Coroné Ludugero & Otrope? Mais uma plêiade de gente muito boa!

Soube que a Onilda Figueiredo deixou a carreira por um grande amor. Casou e constituiu família. Paulo Molin, ídolo da criançada da minha época cresceu, ainda cantou por certo tempo, virou jornalista, mudou-se para Guaxupé, cidade mineira, e faleceu em 2004. Fica entretanto nas nossas mentes a sua bela voz de garoto.
Coroné Ludugero e Otrope faleceram em um desastre de aviação em Belém. Ficam entretanto as suas atitudes molecas que às vezes beirava à audácia quando ele ignorava o perigo constante da revolução e chamava seus desafetos nos esquetes da TV Jornal do Commércio de "insubversivo". Luiz Queiroga, o criador do Coroné Ludugero e Otrope era casado com a cantora Mêves Gama de belíssima voz. Esse pessoal faz muita falta ao cenário pobre e ridículo do humorismo e da música brasileira. Dizem, aliás, que a MPB morreu. Eu acho que sim. Quem de vocês se lembra de uma música bonita de verdade destes últimos 20 anos? Ah, Sandy e Junior se separaram. Vão fazer uma falta...!

Deus existe mesmo? Será que Ele é brasileiro? Será que é obra Sua inundar os nossos vídeos com um vetusto senhor rareado nos cabelos e cantando com um cabide de roupa dentro do paletó pela milionésima vez, "Detalhes?" Ainda bem que o espetáculo deprimente só acontece a cada dezembro. Homem, dê-se ao respeito!

O Trio Jaçanã, com Zé Pequeno, Marlene Freire e Valter Lins, só para citar os da nossa região, ainda atuam e eu sei muito bem onde encontrá-los. Assim como o cancioneiro Ruy de Assis.

The chatos
O roqueiro decadente (esse povo deveria tomar um comprimido de Semancol e ir cuidar dos netinhos) Sting, ressuscitou a banda - argh - The Police para uma turnê caça-níqueis e foi recebido no Brasil como pop-star. Continua tão chato quanto na época em que virou babá de um outro chato, o beiçudo cacique Raoni.

Mentir não é pecado?
Me voltou à memória uma edificante historinha que passo a relatar:
Pedro Gondim era candidato ao governo da Paraíba e, ciente da religiosidade dos seus fiéis eleitores, decidiu ir a Roma e ver o Papa. Pelejou, mas o máximo que conseguiu foi tomar parte em uma daquelas audiências coletivas do Vaticano, onde vai todo mundo de bolo, misturado a dezenas de turistas. Porém, ao chegar de volta em João Pessoa só contou vantagens e mais vantagens numa entrevista:
Em dado momento, Sua Santidade, o Papa, me olhou nos lhos e disse:
"Pedro, volte para a Paraíba. Sua vitória já são favas contadas. Está garantida. Um abraço na comadre Alice"

Reserva civil Chavista já reúne 200 mil armados
Sob o manto respeitado do Exército venezuelano, o presidente Hugo Chávez Frías vem treinando um número crescente de civis para o que chama de "defesa nacional". Hoje, são mais de 200 mil voluntários, pertencentes à reserva do Exército, que recebem treinamento militar semanal, no qual, uniformizados, aprendem a manusear fuzis Kalashnikov, recebem noções de tática e estratégia militar e rudimentos de formação política e ideológica, a "ideologia bolivariana". Segundo o site da própria instituição, a missão da reserva, da forma como se constituiu a partir de 2005, é "preparar e manter o povo organizado para a condução de operações de resistência local ante qualquer agressão interna ou externa". Os reservistas já constituem um contingente maior do que o das forças regulares, 150 mil homens e mulheres. É preciso, imperioso ter muito cuidado com esse maluco!

Mais uma do Bufão
O Chavez continua a sua peregrinação em direção ao ridículo. Se arvorou todo em negociador oficial para a libertação dos reféns das Farc e levou um tremendo cano. Vocês sabiam que ele pagou aos guerrilheiros 10 milhões de petrodólares pela "soltura" dos três? Também, quem manda querer ser os pés da besta e negociar com terroristas?! Ele pensava que estava à vontade em casa. Eu acho é pouco, mas a culpa como sempre é do Bush. E do presidente Uribe.

Soltura de mierda
Muito se falou nessa catita palavrinha "soltura" quando das negociações entre o Bufão Chavez e os terroristas das Farc. Ao final se constatou que a negociação foi mesmo uma verdadeira "soltura". Aliás, convido todos a um pequeno exercício de pesquisa: Procurem ver, na língua de Camões e Eça o que "Soltura" significa. O Aurélio on line registra. Vão lá. Pois vivendo se aprende.

O Bloco na Rua
Zé Inácio deu de mão beijada R$ 12 milhões para o samba do Rio. Dois dias após o presidente da escola de samba Mangueira, Percival Pires, renunciar por ter sido flagrado participando de comemoração do casamento do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, anunciou ontem no Rio que, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Petrobras e as petroquímicas Braskem e Unipar doarão R$ 12 milhões para as 12 escolas de samba do Grupo Especial do carnaval carioca de 2008. Deve ser uma compensação pelos dias parados na cadeia no tremendo desconforto passado pelos bicheiros na malfadada Operação Furacão. Aliás já devidamente esquecida e enterrada.

Mais outra de Zé Inácio
Ele foi só elogios ao Centro Niemeyer de Avilés, que o mestre projetou de graça para a rica Espanha e cobrou R$ 1 milhão e 900 mil à prefeitura de Recife pelo projeto do Parque Dona Lindu, (a que nasceu analfabeta) homenageando a mãe dele próprio.

Piadinha corrente na WEB
- Rapaz, o Niemeyer completou 100 anos.
- Pois é. Fui escalado para uma entrevista com ele. O homem tá lúcido?
- Beleza. Cabeça lúcida. Saúde de ferro, continua trabalhando.
- Ainda fuma?
- Ainda.
- Ainda é comunista?
- Ainda.
- E você me diz que ele tem a cabeça lúcida!?

Passagem do ano
Dia 31 de dezembro, a exata passagem do ano para mim foi de uma aflição, um pesar, mágoa, compaixão... É que uma cena dantesca assistida no jornal da tv me fez ver como o bicho homem é realmente uma fera. A reportagem dava conta dos acontecimentos no Quênia após a apuração da eleição presidencial. Polícia nas ruas reprimindo o povo descontente. Uma cena no entanto me derrubou. Um policial armado até os dentes, com todos os apetrechos, tais como colete protetor, armas de todo tipo, e um enorme porrete nas mãos que usava para espancar um negrinho adolescente e magrelo vestindo apenas um paletó maior do que ele e um par de bermudas meia-coronha de onde se viam suas canelas finas ensangüentadas. Em dado momento ele cai e o gorilão se aproveita para o surrar mais ainda. Sem ânimo para ir até a praia assistir a eterna babaquice dos foguetórios já tão repetitivos e para mim naquele momento sem o menor sentido. Senti vergonha de pertencer à humanidade. Como pode alguém proceder assim com um semelhante! Pobre matando pobre! Não consegui arredar o pé da minha casa. Fiquei só, meditando sobre a maldade humana.

No mais é enfrentar as vicissitudes do ano que se inicia.

hucaldas@gmail.com

sexta-feira, janeiro 04, 2008

O Brilho Ao Amanhecer


Claudio Mattos

Acordei num dia meio sem cor e percebi que fazemos nossa própria vida. Convidei um amigo para passear e descobri coisas e lugares que nunca havia visto antes...

Logo ao amanhecer, fomos conversar com as árvores e lhes contar nossas angústias, desejos, e lamentações. Viajamos dentro de nós mesmos e o tempo todo não sabíamos que éramos capazes de tal viagem. Uma viagem ao paraíso onde o silêncio é a mais bela música que já se ouviu, voávamos apenas com um simples toque do vento que sussurrava em nossos ouvidos, "aproveitem o milagre divino sem perceber os detalhes mesquinhos e pequenos, pois existem coisas muito maiores e grandiosas.” O fascínio dessa viagem era que, de onde estivéssemos poderíamos ir para qualquer outro lugar ainda mais encantador de onde não queríamos sair.

Foi chegando o meio do dia e decidimos ir a um rio. Não um rio qualquer, um rio que lhe fazia flutuar, como se fosse em um vôo. O importante era saber aproveitar os minutos preciosos que tínhamos. Olhar para o céu e deslumbrar toda àquela imensidão e perceber que tudo aquilo era apenas um pequeno pedaço da Obra de Deus. A cada segundo que passava, os problemas apareciam e fugiam da minha mente...

O deslumbramento era tal que as horas corriam sem que percebêssemos e quando pedimos ao rio para nos deixar à sua beira, ele nos informou que teríamos um viagem aérea. Em poucos segundos estávamos no céu cantando as belas músicas, criadas naqueles momentos a que provavelmente nunca mais iríamos nos lembrar... O gigante pássaro era lindo, todo azul-esverdeado, que quando o sol batia em suas penas doía os olhos de tanto brilho...

Depois desse emocionante momento, já nos encontrávamos no fim da tarde, e decidimos ir até a praia, para vermos o pôr do sol... Foi emocionante, parecia até que Deus estava se despedindo e dizendo que no outro dia voltaria para alegrar a vida das pessoas, com o brilho amarelo, que penetra em toda casa, em toda parte da Terra, trazendo consigo esperança.

A noite chegou, já não se tinha mais brilho, ou rio, muito menos podíamos voar, mas a melhor parte de um dia sonhador é dormir e sonhar com o amanhã sabendo que o sol vai raiar e que as flores vão brotar e que não há inverno que vá empanar a beleza da natureza; que não há homem poderoso que vá destruir a sua felicidade nem o seu sonho e o das outras pessoas... Pois o momento mais belo da vida é viver, todavia ao chegar ao fim do dia, quando parece que o sonho acabou, quando pensamos que nada mais é bonito, nos enganamos... pois é nesse momento que realmente começamos a viver. Nos sonhos tudo é perfeito e não há nenhum tipo de interferência... Apenas nós, o sonho e Deus, que no sonho está presente, e que quando acordarmos, Ele, como havia prometido vai estar lá, conosco para alegrar e dar brilho a mais um dia de nossas vidas.

cacaldas2005@gmail.com
carpediemclaudio.blogspot.com

terça-feira, janeiro 01, 2008

AINDA É NATAL...!


Liana Alcantara

Que a luz do eterno baile transformador de tudo que existe, do que sabemos e do que não conhecemos, nos fortaleça a todos com esperança de que se escrevemos nossa história baseando-se no que está bem para si mesmo e para os demais, saberemos que aqui nesse mundo ou em outra dimensão da existência de tudo, estaremos sempre melhor que antes.

Seguindo o eterno movimento divinizante do universo! Seguindo a sabedoria da vida! Entendendo que as NOSSAS verdades não são eternas e nem únicas. Os paradigmas são efêmeros. O que se aprende logo teremos que desaprender para sermos mais saudáveis, sábios e para deixar entrar o novo e não morrermos de rigidez generalizada.

Entender que o universo sempre caminha para a transformação, renovação, evolução. Entender que na luta que edifica o bem comum e respeita as diferenças, aí está a boa batalha. Sei que todas estas palavras que estou escrevendo são uma pura redundância. E soam a uma mera repetição enfadonha.Tudo é tão óbvio e tão comentado de várias maneiras, tantas vezes e por tantas pessoas. E é por isso mesmo que repito, pois parece-me que a raça humana age por repetição insconsciente de tudo, pelo menos na maioria dos casos, e dessa forma batendo na mesma tecla e sendo até mesmo piegas, tenho esperança de que o homem imite nossas eternas retóricas do bem viver, bem querer, bem pensar, bem fazer, do não
"emburrecer".

Vejamos se assim mudam essa rigidez comportamental difusa em todos os povos.Crescente "desenvolvimento e crescimento" desde o ponto de vista do que é aceito como "razão humana". Crescentes guerras, violência,injustiça, intolerância, egoísmo, hipocrisia, "mesmismo" histórico. Crescente racionalização robotizada, crescente desamor próprio e pelos outros seres. Crescente falta de identidade HUMANA. Tantos sinais físicos que apontam o caminho à evolução e a humanidade decaindo embriagada por um surrealismo capitalista que apenas objetiva aumentar seus exércitos de marionetes, mais e mais. E seguimos perdendo o rumo e indo atrás de não sei quê, seguindo a corrente do não sei pra onde, mas vão me levando.

Por quê?

Acho que é porque as pessoas repetem alienadamente os mesmos erros e a mesma insensatez disfarçados de verdades absolutas. Creio que temos que começar tudo de novo. Ao menos eu e tu Hugo que estamos lendo tantos devaneios existenciais desta humilde amante da vida, que teima em acreditar que pra o ser humano ainda tem jeito, porque acho que em essência somos mais bons que maus.
O que passa é que um dia, não sei quando, pois cada um terá o seu, nos perdemos de nós mesmos e daí distorcemos o verdadeiro sentido de existirmos no contexto deste planeta.

Por isso digo, que temos que começar tudo de novo, à luz de novas, criativas e revolucionárias idéias. Seria a era da revoluçao MENTAL como artífice principal de uma nova realidade. Amanhã seremos paridos outra vez pela vida, e reeducaremos a nós mesmos com mais autenticidade, e não porque nos digam para sermos assim ou assado. Reeducaremos filhos, netos, parentes amigos e todos os desconhecidos, qualquer um. Um cachorro, um gato, uma barata, um rato,um leão. Nossos respeitos por todas as formas de vida. Do elétron ao infinito das galáxias. Nossos respeitos a toda forma de energia. Amaremos mais, como se hoje fôsse o último dia de nossas vidas atuais. Amaremos mais a nós mesmos e a qualquer pessoa ou coisa que apareça em nossa frente. Me abraçarei com uma linda árvore frondosa, mais vezes. Quanto tempo que não faço isso? E será um abraço de amor, de troca de energia renovadora, de limpeza do ser, em sua totalidade corpo, mente, espírito e contexto psico-social.

E dirão:

- Que louca essa mulher agarrada com uma árvore, ah ah ah, pobrezinha que piração.

E eu responderei a essa pessoa:

- Querida não vês que abraçando essa árvore, estou abraçando a ti e a mim mesma? E a convidarei para nos abraçarmos as três juntas, e assim entenderemos o AMOR UNIVERSAL! Tentando tocar o vento, tocaremos a sensatez dos homens. E nos curaremos a todos de nossas cegueiras!

Adoro uma frase de Lao-tsé do livro do tao chinês que diz mais ou menos assim:

"Se queres alcançar o conhecimento acrescente coisas todos os dias.
Se queres alcançar a sabedoria destrua coisas todos os dias".

Entao a Proposta é:

Recriemos o planeta como co-autores das leis da mãe natureza. Deixando-a que nos conduza suave ou fortemente, como a ela pareça mais conveniente. Tudo que seja anti-natural, rejeitaremos. Temos que regressar ao princípio de nós mesmos, às nossas origens. À mesma natureza, ao mesmo universo e rejeitar tudo que nossa mestra terra diga que é anti-natural. O que não oprima o ser, não o martirize, traumatize, bloqueie, cegue, o que não o entristeça, o que não o enferme holística e socialmente, o que não corte o livre pensar e criatividade, o que não corte as infinitas possibilidades de ser, estar e existir. O que não robotize o coração, o que não provoque dor da carne, da mente e do espirito em um ser vivo.

Sejamos NATURAIS, HUMANOS, INTELIGENTES e AMOROSOS!

Bem, e pra completar essa viagem "zen"de tua "cumade aqui", imagine que estou aí de teu lado, te abraçando. Vês que estou aí? Sentes agora que luz tão forte geram as boas amizades e os laços que temos, os seres humanos, entre nós mesmos, com a natureza, e com tudo que existe? E que FORÇA tem essa verdade?

A isso me refiro. Não se toca, não se vê... Mas existe e sentimos! Daí podemos revolucionar e recriar o que queiramos. Assim de simples. As complicações não são da vida, são das pessoas. E para mim é só mudar o foco existencial para as coisas que realmente são importantes no ato de viver.
E "bingo" para todos nós!

Um abraço enorme e um 2008 super, hiper, ultra FELIZ!!!!!



Liana é nossa correspondente na Espanha.