segunda-feira, setembro 30, 2013

Ainda Brasil à meia-noite

 Ipojuca Pontes


O artigo de Martinho Moreira Franco sobre as “sessões só para homens” do Cine Brasil está a inspirar os cuidados de alentado ensaio sociológico sobre a vida sexual do paraibano (vá lá, pessoense) em meados do século passado. Quem se habilita? (Wills Leal, pelo açodamento preguiçoso, não vale).

 De início convém anotar que o boom das nossas sessões dos filmes “só para homens” não se deu nos anos 60, mas, sim, nos anos 50. Em especial no verão de 1956, quando a Capital havia sido foi tomada pelos “assustados” da Boate Samburá, em Tambaú, ao som 3x4 do onisciente Waldyr Calmon, atraindo, antes do “Balanço das Horas”, a gana das nossas inquietas adolescentes; do aparecimento da insaciável doméstica Jacaré, que iniciou, depois das 21 horas, entre os escuros bambus da Lagoa, boa parte dos estudantes do Liceu Paraibano nos quefazeres do sexo; e, para jubilo da nossa vida noturna, as exaustivas provas do recordista Moura Brasil que, em cima de uma bicicleta, varava dias e noites dando voltas em torno do Parque Solon de Lucena, cujos espectadores queriam ver (para crer) como o ciclista, pedalando sem parar, descomia de noite o que comia de dia.

Os filmes pornográficos projetados no Cine Brasil eram explorados por dois “distribuidores” de Recife: eles conseguiam, junto às autoridades locais, na base da propina, liberar as fitas “improibidas” para menores de 18 anos. As filas, para uma João Pessoa de uns 150 mil habitantes, eram grandes; algumas delas, passando pelo cartório de Damásio Franca, na esquina da General Osório, enroscavam a Silva Jardim, nossa zona mais chula, onde Julinha, concorrente de Jacaré, apagava por escassos cruzeiros o fogo da ralé.

Os filmes eram em preto e branco, bastante desgastados e mostravam, em geral, a lascívia de velhos tarados por cima das carnes alvas e enxundiosas das moçoilas. Os closes mais audaciosos eram guardados para o clímax de cada ato, em particular os do clássico minete, especialidade em que Dr. Meira, prata da casa, tornou-se mestre. A platéia, sempre operosa no vai-e-vem das mãos ágeis, por motivos óbvios – ou melhor, não óbvios - urrava quando a fita se quebrava e a projeção era interrompida.

No final do espetáculo, os espectadores  mais endinheirados corriam para agitada Maciel Pinheiro, onde Saloia e Isaura, duas cafetinas de peso, acolhiam a todos com entusiasmo. Os menos aquinhoados dobravam a esquina da Silva Jardim e caiam em cima da paciente Julinha, que desempenhava seu papel com rara eficiência.

Na sala e projeção do Cine Brasil, só ficava o engraxate Coquinho que, portando vassoura, balde e pano embebido em creolina, procurava recompor a improvável limpeza para a sessão do dia seguinte, pois nenhum dos briosos funcionários da casa aceitava encarar semelhante tarefa.
  
Bons tempos! 



sábado, setembro 28, 2013

O Clipe do Dia


Que tal um cafezinho?

“O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota"



É o título de uma coletânea de textos de autoria do filósofo sem carteirinha, crachá ou livro-ponto Olavo de Carvalho (foto), lançado há duas semanas pela Editora Record (615 páginas, R$ 51,90). Os artigos foram selecionados e organizados por Felipe Moura Brasil, um jovem de vinte e poucos — bem poucos — anos, que também cuida de notas explicativas e referências bibliográficas que remetem o leitor tanto à vasta obra do próprio Olavo como à teia de autores e temas com os quais seus textos dialogam ou polemizam. Moura Brasil informa que a seleção obedeceu a seu gosto pessoal e à necessidade de partilhar a sua experiência de leitor e estudioso da obra de Olavo. Esse moço é a prova de que a inteligência e a autonomia intelectual sobrevivem mesmo aos piores tempos. E os piores tempos podem não ser aqueles em que o amor à liberdade é obrigado a resistir na clandestinidade — afinal, resta a esperança no fundo da caixa —, mas aqueles em que a divergência se torna, por si, uma violência inaceitável. Nesse caso, a própria esperança começa a correr riscos. O livro, o que não chega a ser uma surpresa, provocou um enorme silêncio — que é uma das formas do moderno exercício da violência. Os leitores, no entanto, estão fazendo a sua parte, e ele já figura em 10º lugar na lista dos “Mais Vendidos”, na categoria “Não-Ficção”, na VEJA desta semana.
“O Mínimo…” reúne, basicamente, artigos que Olavo publicou em jornais e revistas, inclusive nas revistas “República” e “BRAVO!”, das quais fui redator-chefe — e a releitura, agora, em livro, me remeteu àqueles tempos. Impactam ainda hoje e podiam ser verdadeiros alumbramentos há 10, 12, 13 anos, quando o autor, é forçoso admitir, via com mais aguda vista do que todos nós o que estava por vir. Olavo é dono de uma cultura enciclopédica — no que concerne à universalidade de referências —, mas não pensa por verbetes. E isso desperta a fúria das falanges do ódio e do óbvio. Consegue, como nenhum outro autor no Brasil — goste-se ou não dele —, emprestar dignidade filosófica à vida cotidiana, sem jamais baratear o pensamento. Isso não quer dizer que não transite — e as falanges não o fustigam menos por isto; ao contrário — com maestria no terreno da teoria e da história. É autor, por exemplo, da monumental — 32 volumes! — “História Essencial da Filosofia” (livros acompanhados de DVDs). Alguns filósofos de crachá e livro-ponto poderiam ter feito algo parecido — mas boa parte estava ocupada demais doutrinando criancinhas… Há o Olavo de “A Dialética Simbólica” ou de “A Filosofia e seu Inverso”, e há este outro, que é expressão daquele, mas que enfrenta os temas desta nossa vida besta, como disse o poeta, revelando o sentido de nossas escolhas e, muito especialmente, das escolhas que não fazemos.

O livro é dividido em 25 capítulos ou macrotemas: Juventude, Conhecimento, Vocação, Cultura, Pobreza, Fingimento. Democracia, Socialismo, Militância, Revolução, Intelligentzia, Inveja, Aborto, Ciência, Religião, Linguagem, Discussão, Petismo, Feminismo, Gayzismo, Criminalidade, Dominação, EUA, Libertação e Estudo. Cada um deles reúne um grupo de textos, e alguns se desdobram em subtemas, como a espetacular seleção de textos de “Revolução”, reunidos sob rubricas distintas, como, entre outras, Globalismo, Manipulação e Capitalistas X Revolucionários.
Vivemos tempos um tanto brutos, hostis ao pensamento. Vivemos a era em que o sentimento de “justiça” ou o de “igualdade” — com frequência, alheios ou mesmo refratários a qualquer noção de direito — reivindicam um estatuto moralmente superior a conceitos como verdade e realidade; estes seriam, por seu turno, meras construções subjetivas ou de classe, urdidas com o propósito de provocar a infelicidade geral. Olavo demole com precisão e brilho a avalanche de ideias prontas, tornadas influentes pelo “imbecil coletivo” e que vicejam muito especialmente na imprensa — fenômeno enormemente potencializado pelas redes sociais.
Em 2003, o jornal “O Globo” ainda publicava textos como “Orgulho do Fracasso”, de Olavo. E se podia ler (em azul):
Língua, religião e alta cultura são os únicos componentes de uma nação que podem sobreviver quando ela chega ao término da sua duração histórica. São os valores universais, que, por servirem a toda a humanidade e não somente ao povo em que se originaram, justificam que ele seja lembrado e admirado por outros povos. A economia e as instituições são apenas o suporte, local e temporário, de que a nação se utiliza para seguir vivendo enquanto gera os símbolos nos quais sua imagem permanecerá quando ela própria já não existir.
(…)
A experiência dos milênios, no entanto, pode ser obscurecida até tornar-se invisível e inconcebível. Basta que um povo de mentalidade estreita seja confirmado na sua ilusão materialista por uma filosofia mesquinha que tudo explique pelas causas econômicas. Acreditando que precisa resolver seus problemas materiais antes de cuidar do espírito, esse povo permanecerá espiritualmente rasteiro e nunca se tornará inteligente o bastante para acumular o capital cultural necessário à solução daqueles problemas. O pragmatismo grosso, a superficialidade da experiência religiosa, o desprezo pelo conhecimento, a redução das atividades do espírito ao mínimo necessário para a conquista do emprego (inclusive universitário), a subordinação da inteligência aos interesses partidários, tais são as causas estruturais e constantes do fracasso desse povo. Todas as demais explicações alegadas — a exploração estrangeira, a composição racial da população, o latifúndio, a índole autoritária ou rebelde dos brasileiros, os impostos ou a sonegação deles, a corrupção e mil e um erros que as oposições imputam aos governos presentes e estes aos governos passados — são apenas subterfúgios com que uma intelectualidade provinciana e acanalhada foge a um confronto com a sua própria parcela de culpa no estado de coisas e evita dizer a um povo pueril a verdade que o tornaria adulto: que a língua, a religião e a alta cultura vêm primeiro, a prosperidade depois.

(…)

Retomo
Grande Olavo de Carvalho! Dez anos depois, com o país nessa areia, como ignorar a força reveladora das palavras acima? Olhem à nossa volta. O que temos senão um governo incompetente, que fez refém ou tornou dependente (com Bolsa BNDES, Bolsa Juro, Bolsa Isenção Tributária) uma elite não muito iluminada, combatido, o que é pior, por uma oposição que não consegue encetar uma crítica que vá além do administrativismo sem imaginação, refratária ao debate, que foge do confronto de ideias como Lula foge dos livros e Dilma da sintaxe?
O país emburrece. Eu mesmo, mais de uma vez, em ambientes supostamente afeitos ao pensamento, à reflexão e à leitura, pude constatar o processo de satanização do contraditório. É mais difícil travar com intelectuais (ou, sei lá, com as classes supostamente ilustradas) um debate racional sobre a legalização do aborto do que com um homem ou uma mulher do povo, de instrução mediana. E não porque aqueles tenham os melhores argumentos. Ao contrário: têm os piores. Olham para a sua cara e dizem, com certo ar de trunfo, como se tivessem encontrado a verdade definitiva: “É uma questão dos direitos reprodutivos da mulher”. Digamos que fosse… Esses tais “direitos reprodutivos” teriam caído da árvore da vida, como caiu a maçã para Newton, ou são uma construção? Por que estaria acima do debate?
Mais um pouco das palavras irretocáveis de Olavo (em azul):
Na tipologia de Lukács, que distingue entre os personagens que sofrem porque sua consciência é mais ampla que a do meio em que vivem e os que não conseguem abarcar a complexidade do meio, a literatura brasileira criou um terceiro tipo: aquele cuja consciência não está nem acima nem abaixo da realidade, mas ao lado dela, num mundo à parte todo feito de ficções retóricas e afetação histriônica. Em qualquer outra sociedade conhecida, um tipo assim estaria condenado ao isolamento. Seria um excêntrico.
No Brasil, ao contrário, é o tipo dominante: o fingimento é geral, a fuga da realidade tornou-se instrumento de adaptação social. Mas adaptação, no caso, não significa eficiência, e sim acomodação e cumplicidade com o engano geral, produtor da geral ineficiência e do fracasso crônico, do qual em seguida se busca alívio em novas encenações, seja de revolta, seja de otimismo. Na medida em que se amolda à sociedade brasileira, a alma se afasta da realidade — e vice-versa. Ter a cabeça no mundo da lua, dar às coisas sistematicamente nomes falsos, viver num estado de permanente desconexão entre as percepções e o pensamento é o estado normal do brasileiro. O homem realista, sincero consigo próprio, direto e eficaz nas palavras e ações, é que se torna um tipo isolado, esquisito, alguém que se deve evitar a todo preço e a propósito do qual circulam cochichos à distância.
Meu amigo Andrei Pleshu, filósofo romeno, resumia: “No Brasil, ninguém tem a obrigação de ser normal.” Se fosse só isso, estaria bem. Esse é o Brasil tolerante, bonachão, que prefere o desleixo moral ao risco da severidade injusta. Mas há no fundo dele um Brasil temível, o Brasil do caos obrigatório, que rejeita a ordem, a clareza e a verdade como se fossem pecados capitais. O Brasil onde ser normal não é só desnecessário: é proibido. O Brasil onde você pode dizer que dois mais dois são cinco, sete ou nove e meio, mas, se diz que são quatro, sente nos olhares em torno o fogo do rancor ou o gelo do desprezo. Sobretudo se insiste que pode provar.
Sem ter em conta esses dados, ninguém entende uma só discussão pública no Brasil. Porque, quando um brasileiro reclama de alguma coisa, não é que ela o incomode de fato. Não é nem mesmo que exista. É apenas que ele gostaria de que existisse e fosse má, para pôr em evidência a bondade daquele que a condena. Tudo o que ele quer é dar uma impressão que, no fundo, tem pouco a ver com a coisa da qual fala. Tem a ver apenas com ele próprio, com sua necessidade de afeto, de aplauso, de aprovação. O assunto é mero pretexto para lançar, de maneira sutil e elegante, um apelo que em linguagem direta e franca o exporia ao ridículo.
Esse ardil psicológico funda-se em convenções provisórias, criadas de improviso pela mídia e pelo diz que diz, que apontam à execração do público umas tantas coisas das quais é bom falar mal. Pouco importa o que sejam. O que importa é que sua condenação forma um “topos”, um lugar-comum: um lugar no qual as pessoas se reúnem para sentir-se bem mediante discursos contra o mal. O sujeito não sabe, por exemplo, o que são transgênicos. Mas viu de relance, num jornal, que é coisa ruim. Melhor que coisa ruim: é coisa de má reputação. Falando contra ela, o cidadão sente-se igual a todo mundo, e rompe por instantes o isolamento que o humilha.
Essa solidariedade no fingimento é a base do convívio brasileiro, o pilar de geleia sobre o qual se constroem uma cultura e milhões de vidas. Em outros lugares as pessoas em geral discutem coisas que existem, e só as discutem porque perceberam que existem. Aqui as discussões partem de simples nomes e sinais, imediatamente associados a valores, ao ruim e ao bom, a despeito da completa ausência das coisas consideradas.
Não se lê, por exemplo, um só livro de história que não condene a “história oficial” — a história que celebra as grandezas da pátria e omite as misérias da luta de classes, do racismo, da opressão dos índios e da vil exploração machista. Em vão buscamos um exemplar da dita-cuja. Não há cursos, nem livros, nem institutos de história oficial. Por toda parte, nas obras escritas, nas escolas de crianças e nas academias de gente velha, só se fala da miséria da luta de classes, do racismo, de índios oprimidos e da vil exploração machista. Há quatro décadas a história militante que se opunha à história oficial já se tornou hegemônica e ocupou o espaço todo. Se há alguma história oficial, é ela própria.
Mas, sem uma história oficial para combater, ela perderia todo o encanto da rebeldia convencional, pondo à mostra os cabelos brancos que assinalam sua identidade de neo-oficialismo consagrado — balofo, repetitivo e caquético como qualquer academismo. Direi então que açoita um cavalo morto? Não é bem isso. Ela própria é um cavalo morto. Um cavalo morto que, para não admitir que está morto, escoiceia outro cavalo morto. Todo o “debate brasileiro” é uma troca de coices num cemitério de cavalos.
Encerro
Leia esse livro de Olavo de Carvalho. Ninguém, no Brasil, escreve com a sua força e a sua clareza. Tampouco parece fácil rivalizar com a sua cultura, fruto da dedicação, do trabalho no claustro, da aplicação, não da busca de brilharecos. Leia Olavo: contra o ódio, contra o óbvio, contra os idiotas e a favor de si mesmo.
Por Reinaldo Azevedo

sexta-feira, setembro 27, 2013

Sarau Artísico


SARAU DA BIBLIOTECA PÚBLICA DE OLINDA


Lula Gonzaga



SARAU DA BIBLIOTECA PÚBLICA DE OLINDA
Toas as ultimas sextas feiras a Biblioteca de Olinda realiza o Sarau Literário com lançamentos e apresentação de livros, recital de poesias e música sempre as 19.30hs.
Nesta sexta teremos Anildomá Williams Souza, que vêm de Serra Talhada, do complexo cultural como o Ponto de Cultura "Cabras de Lampião", Museu do Cangaço e trás para o Sarau Artístico Literário o tema: "Lampião, nem herói nem bandido - História ". Teremos o convidado também especialista no tema, o professor Jovenildo Pinheiro do Arquivo Público de Olinda.
A Biblioteca é coordenado por Viana e o Sarau por Silvana Delácio.
Informações: Silvana Delácio fones  81 - 9824.6468 - 8660.1879
Facebook:  Silvana Delácio

Clipe do DIa

De João Pessoa a Campina Grande em 50 minutos

Eu Só Queria Etender...


Cubanas vão dividir casa com piscina e trabalhar em posto sem banheiro


MÁRIO BITTENCOURT - Folha de S.Paulo
Recém-chegadas a Macaúbas (BA), município a 613 km de Salvador e em estado de emergência por causa da seca, as médicas cubanas Dunia Broche, 40, e Dorys Cristina del Rosário, 52, terão uma vida de contrastes nos próximos três anos.
Nos momentos de folga, elas terão uma vida de luxo para os padrões locais.
As cubanas vão dividir uma casa com piscina, pomar, jardim, churrasqueira, salão de jogos, ampla garagem e quatro dormitórios, sendo um deles com banheira de hidromassagem. O aluguel da casa, de R$ 1.200, será pago pela prefeitura.
"A casa é espaçosa, tranquila. Quero aproveitar a piscina e chamar a minha amiga [médica cubana da cidade vizinha] para passar o final de semana aqui", diz Dunia.
Já no dia a dia de trabalho a vida não será tranquila. Todas as manhãs, serão obrigadas a fazer uma pequena viagem de cerca de uma hora entre a casa, na zona urbana, e os postos de saúde da zona rural onde irão atuar.
Os postos para os quais foram escaladas para trabalhar pelo programa Mais Médicos, do governo federal, ficam em povoados a 30 km e a 40 km do centro da cidade. As opções de trajeto são precárias estradas de terra.
No povoado de Lagoa Clara, o posto de saúde está com os sanitários interditados ao público. Apenas o banheiro do consultório funciona.
Já a unidade de saúde do povoado de Lagoa do Maurício nem sequer está pronta. Faltam equipamentos, que devem chegar em duas semanas, segundo a prefeitura.
"Espero que resolvam logo esses problemas. Mas já vi isso na Venezuela. Tudo bem, vamos trabalhar e ajudar da mesma forma", disse Dorys.
A demanda diária desses postos é de 20 a 30 atendimentos. E nenhum deles tem médico fixo atualmente. Em Lagoa Clara, a estudante Jussiara Guedes, 19, grávida de sete meses, espera a estreia das cubanas.
"Só fiz uma consulta aqui, quando estava com três meses de gestação", afirmou.
Quem também espera por Dunia e Dorys é o agricultor Noé Barbosa, 65. "Estou com a receita do remédio vencida há três meses. Sem ela não dá pra pegar remédio. Preciso de um médico só para me dar a receita", disse à reportagem.
FESTA DO PIJAMA
As duas médicas cubanas chegaram na noite de anteontem ao município baiano. Ontem, elas conheceram a casa onde vão morar.
Já combinaram com funcionárias locais da Saúde uma festa do pijama e churrascos com cerveja aos finais de semana.
As cubanas e as funcionárias planejaram também uma espécie de troca de culturas: Dunia e Dorys aprendem a dançar forró e depois ensinam as brasileiras a bailar ao som de salsa e merengue.
Solteiras, as médicas deixaram suas filhas em Cuba. Dorys tem uma de 30 anos e Dunia, duas, de 9 e 12 anos.

Esses Ingleses

"o Brasil estragou tudo?"

Edição da revista britânica que chega hoje às bancas mostra Cristo Redentor caindo, uma atualização da capa de 2009 que afirmava que o Brasil decolava

REVISTA EXAME - O Brasil está novamente na capa da The Economist. A nova edição da revista, que acaba de ser divulgada e deve chegar hoje às bancas, mostra um Cristo Redentor voando desgovernado e pergunta: "o Brasil estragou tudo?".
É uma atualização da capa de 12 de novembro de 2009, que mostrava um Cristo saindo da pedra como um foguete com o título "O Brasil decola".A reportagem de 14 páginas ainda não está disponível, mas uma prévia no site resume o conteúdo. A The Economist lembra que o Brasil passou quase incólume pela crise de 2008 e conseguiu crescer 7,5% em 2010, mas agora está estacionado em uma expansão anual do PIB em torno de 2%.
A revista também cita os protestos de junho e diz que os cidadãos do país estão insatisfeitos e tomaram as ruas contra o alto custo de vida, serviços públicos ruins e a ganância e corrupção dos políticos.
"Dilma Rousseff, presidente do Brasil, conseguirá reiniciar as máquinas? A Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos vão ajudar a recuperação brasileira ou simplesmente trazer mais dívidas?", questiona o texto.
Nesta sexta-feira, a correspondente da revista no Brasil e autora da reportagem Helen Joyce vai responder a perguntas sobre o país através do Twitter.
No fim de 2012, a The Economist recomendou a saída de Guido Mantega do governo. Em junho deste ano, criticou a performance do ministro com ironia. No mesmo mês, uma reportagem de capa da revista disse que os protestos brasileiros e turcos tinham muito em comum.
 

domingo, setembro 22, 2013

A Charge do Dia


Desabafo

(ou de conhecimentos e sabedorias) (ou, para não dizer que não falei do mensalão...)

           

Aline Alexandrino

Quando ainda dava aulas na universidade, um dos assuntos que mais chamava atenção dos alunos era aquele referente ao conhecimento. Estávamos numa instituição criada para o repasse e desenvolvimento do mesmo e, no entanto, isto não parecia claro. Boa parte do tempo, os alunos reclamavam do acúmulo de dados que tinham de reter na memória, sem que muitas vezes entendessem como aquilo tudo iria servir à sua futura atividade profissional. O que eu tentava explicar-lhes era que para chegar ao conhecimento são necessárias algumas etapas. Como minha área de atuação se refere à saúde, vou dar como exemplo o caso do conhecimento adquirido sobre a prevenção e tratamento da pressão alta.

Em primeiro lugar, foi preciso coletar dados, ou seja, mensurar inúmeras vezes a pressão arterial, até que se estabelecesse uma média e, a partir daí, ficasse determinado o que seria uma pressão alta.
A segunda etapa referiu-se às informações, que nada mais são do que o resultado de uma análise cuidadosa de vários dados. Constatando-se, a partir de dados confiáveis, que o indivíduo que apresenta pressão arterial alta, também apresenta correlações, por exemplo, com diabetes, arteriosclerose, derrame, problemas cardíacos, e problemas renais, aos poucos vai sendo construído um conjunto de informações que possibilitam ao médico entender melhor o funcionamento de um organismo humano submetido a uma pressão alta.
Finalmente, o conhecimento resulta da análise dessas informações, quando então o médico adquire uma visão geral do que deve ser feito para prevenir e tratar a pressão alta.
O que não se enfatiza devidamente, na formação dos profissionais, é que o uso deste conhecimento deve, necessariamente, ser aplicado com sabedoria, caso contrário, corre-se o risco de uniformizar o tratamento, ou a prevenção, pelo uso dos chamados protocolos, que nem sempre se adéquam a todos os indivíduos, pelo fato de que cada ser é único no que se refere às suas características fisiológicas. E a aplicação com sabedoria só ocorre quando o profissional pratica, de forma sistemática, uma qualidade chamada sensibilidade.

É a sensibilidade que faz com que o médico seja mais firme nas explicações e exigências para com um dado paciente, enquanto que com outro seja mais cuidadoso na exposição do problema, sob pena de que ocorra uma não-adesão ao tratamento, devido a medo, negação, ou qualquer outra situação que inviabilize a aceitação de que terá de haver mudanças essenciais no comportamento do indivíduo afetado. Portanto, para que o conhecimento seja aplicado da melhor maneira possível, faz-se necessário que o profissional em questão tenha sensibilidade bastante para utilizá-lo com sabedoria.

Tudo isto foi para dizer que esta semana vi novamente acontecer a contradição entre conhecimento e sabedoria. Uma grande parte da nação ficou esperando uma decisão da mais alta corte do judiciário.

Esta decisão estava eivada de expectativas, em função de anos (para não dizer séculos...) de esperança de que os princípios do direito fossem aplicados a todo e qualquer indivíduo, cumprindo o preceito de que todos são iguais perante a lei. Algo aberrante já havia acontecido na semana anterior, onde um “representante” do povo foi mantido no cargo pelos seus pares, apesar de condenado pela justiça e preso numa cadeia. A esperança foi ferida de morte quando quatro dos onze ministros votaram a favor de que se protelasse mais uma vez (além dos sete anos que já tinham se passado), um processo onde todas as chances tinham sido dadas para que explicações satisfatórias fossem apresentadas, onde os advogados dos réus eram devidamente qualificados para atuar em favor dos mesmos, e onde já havia uma condenação obtida após a apresentação de todas as provas e de um amplo direito de defesa.
Porém, o golpe final foi dado pelo último juiz que devia votar, e que o fez baseado num amplo conhecimento das leis, justificando por intermédio desse conhecimento que o processo deveria ser revisto em algumas de suas partes, para que os réus tivessem uma chance de revisão do julgamento. Foram duas horas em que se ouviu um homem expor todo o conhecimento acumulado em séculos de estudo do direito, mas onde não se observou a sensibilidade que levaria à aplicação com sabedoria.
Não houve sensibilidade em relação ao fato de que o povo brasileiro está cansado de ser explorado, enganado e humilhado pelas pessoas que deveriam protegê-lo e representá-lo. Não houve sensibilidade para entender que o sentimento de impunidade reinante nos últimos anos deixa uma insegurança e um medo que fazem com que as pessoas saiam de casa para trabalhar, ou estudar, como prováveis vítimas e voltem para casa como sobreviventes. Não houve sensibilidade para entender que a aplicação da lei nem sempre significa que a justiça se fez e que isto é um motivo de frustração social que pode levar à apatia, ou à violência gratuita.

A frustração foi de tal ordem que o que deveria acontecer normalmente, ou seja, a ida das pessoas às ruas para protestar e reivindicar os seus direitos, não aconteceu. Também ficou a sensação incômoda (e perigosa) de que a mais alta corte de justiça do país não está muito segura do que julga, uma vez que pode voltar atrás no julgamento, apesar do tempo decorrido no processo e das defesas apresentadas. Dessa sensação decorre o sentimento de que não adianta de nada recorrer à justiça, uma vez que as pessoas que deveriam tomar a atitude necessária para mudar a situação apenas expõem seu conhecimento (amplo e bem fundamentado) sobre o assunto, mas esquecem de usá-lo com sabedoria. Finalmente, apesar de ainda não estarem claras todas as conseqüências dos atos de cinco juízes do STF, o cheiro de pizza no ar resulta na incômoda sensação de que Rui Barbosa tinha razão quando disse (em 1914): “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude. A rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”...
    

quinta-feira, setembro 19, 2013

Noventa anos

Plínio Palhano

Minha mãe nasceu em 12 de setembro de 1923, na cidade de Paulistana, Piauí. Descendente das famílias Léda e Palhano, esta última de origem italiana, que chegou ao País com a grafia Pagliano. Neta do poderoso lendário político republicano das terras do Maranhão, chamado coronel Leão Léda. Seu nome de solteira era Maria Amélia Léda Palhano. Quando encontrou o meu pai — falecido em 1980, no Dia do Professor, aos 60 anos —, Humberto da Costa Soares, estudava no Colégio Diocesano, em Petrolina. Ele, jovem professor daquela instituição, vindo dos estudos do Seminário de Olinda. Quase se tornou padre. Saiu com o conhecimento suficiente para ensinar latim, francês e português, aos 18 anos. Um trabalhador da educação que deixou marcas na história da formação de pessoas na cidade sertaneja. Aqui, no Recife, também como professor, chegou a dar doze aulas por dia, nos três expedientes, em vários colégios tradicionais, sendo contemporâneo de outros, que, à época, eram nomes de destaque na Educação, ele era um dos mais jovens. Terminou os seus dias terrenos como magistrado.

 A jovem estudante Maria Amélia irradiava uma beleza contagiante, perfil delicado, olhos castanhos-claros, cabelos ondulados finos, e de temperamento leve. Conseguiu reunir muitos amigos desse tempo, que permaneceram ao longo de sua vida como bons companheiros. Nessa relação entre professor e aluna, surgiu a afinidade que se consolidou em casamento. Tiveram os primeiros filhos em Petrolina, dois deles. E o restante no Recife. Como meu pai foi filho único, optou em fornecer sêmen, produzindo sete filhos. Para manter essa descendência, tiveram que dar muito duro. Gastaram as solas dos sapatos para garantir a nossa gororoba e paciência para educar cada cabeça!

Mas Saturno — o deus romano do tempo, que a tudo consome; em grego, Cronos — é cruel, confirma-nos pensar que a vida é uma ilus
ão. Como permaneci, após a morte do meu pai, convivendo com Maria Amélia Palhano da Costa Soares, nesses últimos 30 anos, fui notando nos seus olhos a perda do brilho, após infartos e cirurgia para implantar um marcapasso. Hoje, nos seus 90 anos, vejo-os nublados, como sinais do tempo, que nos traz principalmente dor...

Plínio Palhano é artista plástico

domingo, setembro 15, 2013

Edição Extra - Centenário

Américo Celso Caldas, 1913-2013

Itinerário de uma vida:

18 de setembro de 1913. Nasce na cidade de João Pessoa, caçula da Família Caldas Brandão. 
Pais: Trajano Américo de Caldas Brandão Júnior e Amélia Emilia de Vasconcelos Caldas.
1933. Falecimento do seu pai, o velho Doutor Caldas.
1934. Integra-se ao Fomento Agrícola do Ministério da Agricultura, onde permanece até a aposentadoria.
1936. Falecimento da sua mãe Amélia Emília.
8 de dezembro de 1936. Contrai núpcias com Maria Dalva Pereira.
25 de novembro de 1937. Nascimento do primeiro filho, Hugo Pereira Caldas.
1937. Presta concurso para o Banco do Brasil é aprovado em 7º lugar, porém nunca foi nomeado.
1941. Realiza o seu grande sonho, voar. Recebe o seu Brevet de aviador da 1ª Turma de Pilotos do Aeroclube da Paraíba. 
Década de 1940. Dá seguimento à sua vida, entre o Fomento Agrícola, as célebres tardes de sábado a bordo do Piper PP-TKO, voando e tirando fotos da cidade. Ele possuía a época um dos maiores acervos de fotografias aéreas de João Pessoa. Fotos valiosas que devem estar esquecidas em algum lugar.
1945. Nascimento do segundo filho, Guilherme Pereira Caldas em 11 de janeiro.
Falecido em 1986
1947. Nascimento do Terceiro filho, Manfredo Pereira Caldas em 25 de setembro.
Década de 1950. Acata conselho médico e meio a contragosto interrompe o grande sonho de voar. Já se prenunciavam possíveis problemas cardíacos.
Década de 1970: Aposentado, vem morar no Recife perto de seu filho e netos.
6 de março de 1975: No final da manhã de uma quinta-feira, o meu pai nos deixou para sempre. Me encontrava juntamente com a minha mãe à sua cabeceira. Estava hospitalizado, convalescente de uma cirurgia quando de repente, franziu um pouco o cenho, começou a perder a respiração e se apagou mansamente, acredito sem maiores dores e sofrimento. Desde esse dia ele me faz uma falta que até hoje não consegui superar.


NETOS: do casamento de Hugo Pereira Caldas com Rachel Ferreira dos Santos: Maria Eugênia Ferreira Caldas - Trajano Américo Ferreira Caldas
Do casamento com Marilurdes (Mary) Lessa Albuquerque Caldas: Hugo Américo Albuquerque Caldas - Eden Albuquerque Caldas
Da união de Manfredo Pereira Caldas com Ely Santos: Américo Celso Caldas (falecido) - Elizabete Santos Caldas
Betinha Santos Caldas
- Da união com Maria Madalena Prata Soares - Lucas Soares Caldas

- Do casamento com Antonia Vanda Trigueiro Caldas não há descendência.

Bisnetos:Do casamento de Trajano Américo Ferreira Caldas com Geraldine Dauvergne:
Todos nascidos e moradores na cidade de Montpellier, França

Naomi Louise, Gabriel Américo e Tainá Marie Ferreira Caldas


Uma perguntinha para Seu Américo: "Está vendo em que se transformou a família que você iniciou naquele longínquo 8 de dezembro de 1936?


Confesso que se torna difícil produzir mais um texto sobre o meu pai, após constatar tanta coisa boa escrita para ser lembrada. O propósito deste encontro, é exatamente esse: Lembrar Seu Américo. Cada um de nós tem uma bela história pra contar. H.C.

  
Celso Almir J. Lins Falcão - amigo desde o Ginásio

"Seu Américo era alto, elegante, sóbrio, passava por nós, quando chegava do trabalho, e nos cumprimentava. É a melhor lembrança que ele me desperta, a de um adulto que nos dizia boa noite. A nós, meninos tímidos e inseguros, sentados na calçada da porta da sua casa.
Agora, ele chega aos cem anos e a minha lembrança remonta aos anos 50. Ele era jovem, naquele tempo. Hoje, tanto Hugo, seu filho, quanto eu, somos mais velhos do que ele. Mas ainda me conforta a lembrança de que ele nos dirigia uma palavra de consideração quando passava por nós, que não nos julgávamos merecedores de nada. Com um gesto simples de cortesia, talvez ele soubesse que nos ajudava no processo tumultuado de aprendermos a nos situar no mundo."

Carlos Cordeiro de Melo - meu amigo mais antigo (jardim da infância)

Eu era criança, Hugão (embora bem mais velho que eu) também era criança, a gente brincava na calçada da Epitácio Pessoa quando ele passou, vindo do trabalho, de terno e gravata, alto e desempenado. Achei que ele parecia com algum artista de cinema americano (Randolph Scott?) e, embora não tivesse cara de mau, provocava um misto de temor e respeito. Essa imagem ficou gravada por muitos anos. Já rapazes, homens feitos na zona e na birita, fomos a um “assustado” (uma festa improvisada que se fazia naquela época, nas casas de família) na casa dele, e mais uma vez vi-o de longe, altão, sério, mas capaz de sorrisos.

É dessa época um episódio – do qual Hugão não lembra, mas minha memória é elefantina – que talvez mostre melhor o tipo de homem e pai que ele era: o desligado do Hugo conversava e, por um gesto maquinal, puxou as folhas de um galho de acácia que tinha perto de casa. Depois, sem se dar conta, pôs as folhas no bolso do casaco e esqueceu. Daí a algum tempo, as folhas já murchas, Tia Dalva, provavelmente dando um jeito na casa, descobriu as folhas e ajuizadamente mostrou-as pro marido. O qual entendeu o que qualquer um de nós imediatamente concluiria: é maconha! Chamou o Hugão num canto e aí, só depois de muita explicação, surgiu a cômica verdade.

Seu Américo. Tia Dalva. Quantos terão tido a ventura de nascer de pais como eles? Eu, graças a Deus, tive. E é impressionante como, ao cabo de tantas décadas, e tendo-o conhecido tão pouco, me fique uma memória tão viva e tão grata. Agora, que se completa um século de seu nascimento, evoco essas lembranças, aqui para nós, que continuamos nessa abençoada terra de tantas lágrimas e tão escassa paz. Não sei onde eles estarão a essa altura. Se de lá puderem ver o que fazemos e ouvir e ler o que falamos e escrevemos, recebam meu abraço. Vocês nos deixaram uma gratíssima lembrança e uma amarga saudade.


Guy Joseph
Voar e Sonhar

Américo Caldas era uma pessoa que perseguia sonhos e logo aprendeu a voar, pois os aviões eram parte das paixões de sua vida. Pilotava aviões do Aero Clube da Paraíba e nos céus, sonhava com os Douglas DC-3 e Constellations da sua época.  Apelidado carinhosamente de "Memeco", por sua mulher, dona Dalvinha (irmã da minha Mãe), e pelos seus familiares. Memeco incorporava uma "carranca", agravada por um grosso bigode, que o tornavam ainda mais sisudo. Na intimidade dos amigos, no entanto, era o papo alegre, sempre contando histórias divertidas, das quais havia participado ou, que lhe haviam contado. Adorava cinema e suas estrelas e sabia tudo, com relação à sétima arte e seus bastidores. Até andou fazendo alguns filmes, com uma câmera de 16 mm. Mas, as condições tecnológicas, da época, difíceis, caras e inacessíveis, não o estimularam a continuar filmando. Costumava alugar rolos de filmes, para projetar em casa, fazendo a alegria da criançada da vizinhança, que invadia o seu jardim para assistir as sessões do tio Américo. Feliz da vida, no controle da projeção, ficava observando as carinhas fascinadas e de olhos vidrados da tela, que exibia desenhos animados e as comédias do "Gordo e o Magro".
Memeco" adorava as Big Bands e contava com excitação, um duelo que se tornou célebre, entre as orquestras de Tommy Dorsey e a nossa Tabajara, de Severino Araújo, que em contra ataque, executou "Rhapisody in Blue", em ritmo de Samba. O auditório da Radio Tupi, veio abaixo! Dizia Memeco.
Tio Américo, fotografava e levava a sério o hobby. Foi através dele, que comecei a aprender as coisas da arte de fotografar e revelar. Não esqueço, a grande emoção de ver, pela primeira vez, uma imagem surgindo no papel, mergulhado na banheira do banho revelador, sob a luz vermelha de segurança, no laboratório improvisado na cozinha de dona Dalvinha, que terminada a sessão, sempre lhe dava uma bronca, pela pia manchada de produtos químicos fotográficos. Eu, por solidariedade, me sentia receptor dos carões e os aceitava, como parte do aprendizado. Lembro bem, que chegamos a construir um ampliador, usando o corpo e a lente de uma velha câmera de "fole", um chassis de madeira (que abrigava o negativo), e uma grande lata quadrada de biscoitos Cream-Cracker, que tinha a função de esconder a lâmpada do "ampliador". E... A "coisa" ampliava!


Tio Américo e os Maçons
Lise Cavalcanti

 Tio Américo era especial. Realmente Uma figura especialíssima. Teria muitos tantos outros adjetivos para melhor definir a peculiar personalidade do Tio, mas, denominá-lo como “Tio especial-especialíssimo” faço justiça a sua figura sempre tão terna e afável, divertida e perspicaz, firme e criativo nas situações em que era necessário usar essas virtudes para poder exercer a sua condição do Tio cuidadoso e extremado diante dos melhores destinos para os seus amados sobrinhos.
Morávamos no Bairro do Miramar, em João Pessoa, onde vivemos a maior parte da nossa adolescência. Nas sempre frequentes viagens de papai e mamãe em estudos da UFPB, Tio Américo assumia o papel de Tutor Voluntário dos sobrinhos em apoio aos nossos pais ausentes.
Nesse tempo, acredito que o Tio já usufruía do tempo livre proporcionado pela aposentaria e para ele era uma delícia e muito divertido poder cuidar das nossas vidas.
Uma passagem curiosa que mantenho gravada na minha memória e que na época das nossas imaturidades nos causou grande pânico.
Eu e Raïssa, ( minha irmã primeira ), que naquele tempo éramos matriculadas no Conservatório de Músicas, localizado na Rua Duque de Caxias, Centro da Cidade, onde estudávamos piano. Considerávamos aquelas aulas de início das tardes sempre como enfadonhas e cansativas, e, assim, resolvíamos, vez por outra “gaziar”  as “insípidas”  para irmos ao cinema. 
Em uma dessas escapadas, na volta para casa, para economizarmos mais um dinheirinho, já que as mesadas eram bem limitadas, resolvemos usar o “Bonde” que nos proporcionava um certo encanto por que cobrava um valor bem mais acessível às nossas limitadas finanças.
Nessas “gaziadas” não percebíamos a discreta vigilância do Tio Américo que coincidentemente sempre nos avistava nessas viagens como usuárias do atraente Bonde.
Sabíamos que Tio Américo pertencia a Associação Maçônica da Cidade, onde atuava com muita intensidade e nós morríamos de medo dos Maçons. Dessa forma, dispensávamos o maior respeito por Tio Américo  acreditando que a Maçonaria poderia dirigir os nossos destinos para o bem ou para o mal, mediante nossos comportamentos.
Como as “gaziadas” tornaram-se muito frequentes, Tio Américo resolveu agir. Inesperadamente nos avisou que os Maçons estavam na “nossa cola” e sabiam das nossas faltas nas aulas de piano e dos nossos passeios de Bonde.
Pânico Geral:
Depois de levarmos uma formidável bronca de papai e de mamãe, resolvemos acabar com as “gaziadas” para nos livrarmos das “punições” que com certeza sofreríamos dos Maçons e que podiam acabar drasticamente com os nossas vidas.

A partir de então transformamo-nos em alunas assíduas e aplicadíssimas nas aulas de piano onde conseguimos aprender os exercícios com  esmero e dedicação chegando até a desenvolver alguns clássicos de Mozart, e Chopin e de alguns outros compositores menos cotados.

Vocês, por favor acreditem: 
Tio Américo e os Maçons foram figuras importantíssimas na nossa formação cultural, fazendo-nos abandonar de vez com os passeios no Atraente Bonde e as escapadas para os cinemas de início das tardes mornas e calorentas, transformando as nossas aulas em compromissos atraentes, inadiáveis e imperdíveis. 


Uma aventura em 1930. 

Cenario: Rua Duque de Caxias. Caminhão repleto de soldados rebeldes estacionado perto do antigo Colégio Pio X. Rapaz de 17 anos chega para assistir às aulas daquela tarde. A farda do estudante pouco diferia do uniforme cáqui dos rebeldes. Arranjam-lhe um lenço vermelho e o jovem combatente está quase pronto para a frente de batalha no Recife, não sem antes invadir, em companhia de alguns soldados, o Colégio das Neves onde estudava a minha futura mãe, sob a justificativa esfarrapada de caça a um perrepista. À vista daquela porção de homens decididos e armados pelos corredores do estabelecimento fez com que muitas freiras desmaiassem. Os "invasores" arrependidos e nervosos (matar freira e padre dá um azar danado) decidem voltar para o caminhão que os levaria para a guerra no Recife, de  onde o nosso estudante retorna preso dois dias depois, por ordem expressa do senhor seu pai, o Desembargador Caldas Brandão. O Recife inteiro já havia caído, com exceção de um um "carro blindado" que vivia atazanando a vida do inimigo e de um atirador solitário encastelado com uma metralhadora Ponto 50 numa das guaritas da Casa de Detenção, a varrer tudo que se movesse na Praça Joaquim Nabuco. Os rebeldes da Paraíba mal conseguiam se mexer, protegidos por enormes pneus de trator. À noite, o Sargento Nunes chega se esgueirando como podia por entre os pneus e grita: “Tem um estudante por aqui?” Eu, responde o nosso herói. “Ta preso”, vai voltar comigo para a Paraíba de madrugada“.

A Viagem de Volta:
Confiaram-lhe uma pasta, contendo documentos importantes e algum dinheiro para ser entregue em mãos ao tenente Juarez Távora que se encontrava homiziado na casa de Odon Bezerra, em Tambiá. Em hipótese alguma deveriam parar o carro. Para qualquer tetativa de parar o automóvel a ordem era atirar para matar. Nas proximidades de um lugar conhecido como Maricota, divisaram alguém no acostamento dando com a mão. Sem  diminuir a marcha o Sargento Nunes perguntou, ordenando:

- Qual é a ordem, estudante? O nosso herói sem um pingo de convicção aperta o gatilho. Neste exato momento o carro é crivado por uma formidável rajada de balas... Ninguém se feriu mas o carro chegou ao destino todo costurado com os tiros..

Em Tambiá, o Tenente Juarez Távora os recebeu em pé, verificou o conteúdo da pasta, encaminhou-se até o estudante e disse circunspecto:

- "A Pátria está muito orgulhosa e agradecida pelo seu trabalho". Um dia você será devidamente recompensado. Fez-lhe um pequeno afago nos cabelos e retirou-se. Já de volta ao automóvel o Sargento Nunes pensava:

Entregar a pasta ao Tenente Juarez foi fácil. E mal disfarçando um sentimento de afeição... "O duro vai ser entregar esse estudante ao Doutor Juiz".

E assim foi feito. O Doutor Caldas os recebeu vestindo um robe de chambre por cima do pijama azul. Ajeitou mecanicamente o pince-nez no topo do nariz e...

- Doutor Juiz aqui está o seu rapaz, são e salvo.

- Sargento, eu e a minha família lhe somos eternamente gratos pela proteção dada a esse maluco. Vira-se para o nosso herói e:

- "Agora é conosco"! Ciente do que poderia acontecer, o Sargeno Nunes apressa o passo para a saída, dá um abraço afetuoso no estudante e diz num quase sussurro: "Boa sorte, você vai precisar"!

A BRONCA

- Isso é coisa que se faça!
- Mas, meu pai...
- Não tem MAS nem meio MAS. Você é menor de idade e eu sou o seu pai. Não poderia ter ido sem a minha permissão. Sua mãe adoeceu e passou mal, por sua culpa...

Após ouvir uma série de reprimendas o nosso herói pondera que realmente desejava juntar-se aos revoltosos e dessa vez pede a permissão paterna. Permissão concedida, alista-se, volta ao Recife naquele mesmo dia e participa como ativo guerreiro da Revolução de Trinta ao lado dos Liberais.

A volta ao Recife veio confirmar o que se falava há muito. O Recife havia caído, apenas resistindo com um atirador solitário e um tal "blindado".

A soldadesca paraibana  encontrava-se refestelada em uma confeitaria da Rua da Imperatriz.quando o blindado apareceu. Tratava-se de um furgão, desses para a entrega de cigarros no qual acharam de colocar umas tantas placas de aço à guisa de blindagem.

Freou bruscamente em frente à confeitaria e suprema audácia, atirou para dentro do estabelecimento. Após constatar que não havia feridos, o Sargento Nunes grita:

- Moçada, vamos ver se esse blindado é bom mesmo: Ao meu comando: Fogo centrado!

O blindado rodopiou uma, duas, três vezes até bater em um poste do meio da rua. De súbito um fio de sangue escorre no estribo da viatura. Abrem as portas com cuidado: Dentro, onze legalistas mortos. Retiraram os mortos e os deitaram em fileira no leito da rua. O estudante ainda teve tempo para uma oração, enquanto trocava as perneiras de marca "Carnaúba", o que de melhor havia no mercado. Delicadamente colocou as suas perneiras usadas nas pernas do defunto.

Uma junta militar - Uma questão de Honra

Durante as escaramuças no Recife, um órfão, garoto de uns oito ou dez anos se integrou à tropa. Foi ficando, fazendo pequenos trabalhos, mandados e terminou que a tropa toda o adotou como mascote. 


Para não estender o texto que já se configura longo, as duas ultimas cenas serão postadas
nas próximas semanas. Hugo Caldas.


 


Memeco, Meu sogro
Mary Caldas
Quando Hugão pediu aos filhos para escrever algo sobre o seu avô paterno
Américo Celso Caldas, no centenário de seu nascimento, eu disse logo: “Eu quero escrever também”.Não poderia deixar passar esta oportunidade de homenagear o Sr. Américo, meu sogro.

O encontrei na festa de casamento de Janete e Fernando, em João Pessoa, onde nos hospedamos na casa de tia Bernadete no Miramar. Logo depois a pedido de Hugo eles mudaram para Recife. Fui dar as boas vindas no apartamento da Rua Santos Dumont, percebi de imediato a harmonia do casal Sr. Américo e D. Dalva que se chamavam carinhosamente de Memeco e Didinha. Conversávamos longamente, a casa impecável demonstrava o zelo da dona da casa que cozinhava divinamente e gostava de plantas em especial as samambaias que eram aguadas diariamente. Numa noite de sábado Hugo estava se barbeando e Sr Américo perguntou: “vai sair?” _ Vou. “Com quem?” “Com Mary”. Ele de imediato como pai o advertiu: “Veja bem o que vai fazer com Mary ela é moça de família”. Em seis meses recebi as alianças de noivado.

Mais uma vez Memeco intercedeu a meu favor quando descobriu a minha tristeza de não poder casar com Hugo devido a ser desquitado. Nunca vou esquecer nós quatro viajando até o Município de Pilar na Paraíba para pegar o batistério de Hugo e dessa forma oficiar o casamento no religioso.

Às onze horas de 29 de Abril de 1972, sábado, a felicidade tomou conta da Igreja de São José. Ele disse: “vocês estão abençoados por Deus”. Confessei a Sr Américo que ao sair a lei do divórcio no Brasil eu colocaria o nome Caldas através da união civil. Mas isso não mudou nada porque para mim eles eram a minha família desde sempre. Fazíamos tudo juntos com as crianças Nenena e Mino. Os fins de semana no Clube Alemão, outros na praia, os almoços deliciosos de D. Dalvinha.

Em 1976 nascia o nosso filho Hugo Américo quando prestei homenagem colocando o seu nome, três anos depois chegou Éden os netos que Sr Américo não os ninou porque havia
falecido no ano anterior.
O nosso casamento civil se realizou em 29 de Abril de 1993 às onze horas e tenho certeza que ele assistiu a tudo lá do andar de cima e nos deu a bênção.

Toda a ternura de Sr. Américo eu guardo comigo, que a sua estrela continue brilhando junto com a sua amada Didinha.




Meu Vô Américo:
Nenena Caldas
 Homem sábio na sua função profissional, lembro sempre de ouvir as pessoas dizerem que ele era o braço direito do meu pai nas escolas ... pés no chão ... Inteligente,  curioso, amava a fotografia e o vôo dos aviões ...

XIDIM, era assim que ele me chamava ... Nunca me preocupei em saber o que isso significava, pois sentia que era algo tão doce tão cheio de carinho! Que talvez qualquer interpretação perderia toda a doçura e  a sonoridade desse apelido único! Até hoje não sei o que isso quer dizer! Pouco importa, eu era o Xidim do vovô...

Tenho lindas memórias dele no apartamento da Rua da Aurora, Edifício Caetés... Um balcão de cozinha que era meu paraíso, não por ser um balcão qualquer, mas porque dali eu subia para pegar meu tesouro semanal: “uma caixa de chocolate BIS!”  Até hoje gosto desse chocolate e lembro que Vô Meco comprava pra mim. Sempre carinhoso comigo e com Vovó .... “A melhor comida era ela que fazia , a casa sempre estava linda porque  era ela que arrumava ...”Tudo que Dalva faz é perfeito”. Não se vê isso nos maridos de hoje em dia...

Cuidado, carinho, alegria, vontade de nos ver sorrindo. Tudo que sua pequena neta se lembra de seu adorado avô. Te amo Vô. Te amo para sempre.


Vô Américo
Trajano Américo (Mino) Ferreira Caldas
 Da convivência com Vô Américo trago lembranças de uma pessoa que gostava de conversar, sempre alegre, e que tinha um toque de brincadeiras onde não faltava um chocolatinho Bis, sempre guardado num movel da cozinha, que me entregava assim que chegávamos na sua casa, e que provávamos, sempre juntos...
Lembro-me bem dele sempre com uma máquina fotográfica a tiracolo.  Apesar de não me considerar um fotógrafo, tenho certeza que foi desse convívio que veio o meu gosto por "imagens"... pela fotografia.

Por falar em imagens, certa vez, me deparei com ele, na época em que morava no prédio Caetés, danado tirando fotos do céu. Era de noite e ele estava intrigado com umas luzes que apareceram quase que de repente. Pensativo e preciso não parava de fotografar. Jamais soube o que realmente houve no céu de Recife naquela noite, mas aquela imagem dele ali silencioso fazendo fotos guardo comigo até hoje.

Me lembro também de uma vez em que ele construiu um Forte (de papelão/cartolina) para os meus soldadinhos de chumbo... Fiquei maravilhado, achei tudo lindo e perfeito. Me lembro bem dele quando a Seleção Brasileira jogava, na época da copa de 1970… Ele adorava comentar os jogos, era um verdadeiro « técnico » (dos palpites)… Sem falar, claro das nossas alegres saidas ao Clube Alemão do Recife. Ele sempre com a sua máquina fazendo fotos…

Por certo foi um convívio curto, mas repleto de coisas simples e bonitas... O seu riso aberto e o seu jeito simples e brincalhão, pra mim, ficaram pra sempre gravados na minha mémoria...

Obrigado Memeco ;)

PS : Prestei uma pequena homenagem à ele quando meu filho nasceu em 2004 o chamando de Gabriel Américo Ferreira Caldas.



Meu Avô
Hugo Américo A. Caldas
Como teria sido a minha vida se eu tivessse conhecido Seu Américo?

Teria sido mais íntegro
Teria mais fascínio por aviões
Teria ido mais vezes a João Pessoa
Teria mais um herói na minha infância
Teria sido mais feliz
Teria tido mais contato com Os Caldas
Teria mais disciplina
Teria sido um homem melhor...



"Vovô Américo. 
Eden A. Caldas


Eu nunca te conheci mas por ser pai do meu pai você deve ter sido um cara muito
 inteligente."



Ao meu bisavô.
Claudio (Cacau) Henrique Caldas Mattos
Meu avô duas vezes
Não o conheci nem mesmo uma
As histórias que o circundam são de carinho
As reuniões de família dos Caldas, como seriam?
Muitas imagens me vêm

Os óculos ray-ban de lentes verdes que deveria usar
Fotógrafo. Aviador... Talvez um calmo senhor...
No fim das contas hoje tenho esse poema como uma prova
Prova de que como historiadores inatos que somos
Gostamos de contar o que não vimos
Resta-me dúvidas como a todo ser humano
E por mais incompleto que possa ser esse poema
O foi como o meu encontro com meu bisavô
Um hiato, um acorde à sétima sem resolução
Por vezes espanta, mas também faz pensar.
E acabar sentindo saudades do que nunca viu, nem conheceu.

sábado, setembro 14, 2013

O Clipe do Dia

Meu garoto....

A grana dos médicos cubanos

Ipojuca Pontes

    
Senhoras e senhores, agora que ficou definitivamente consagrada a mutreta dos médicos cubanos no Brasil, estabelecida de forma insidiosa entre o governo petista e a ditadura dos irmãos Castro, convém aqui especular sobre os destinos da elástica baba financeira que vai escorrer para os cofres da Ilha Cárcere. A pergunta básica é a seguinte: para onde vai o dinheirame - algo entre um bilhão e meio e três bilhões de reais, ou mais - extorquido do bolso do indefeso trabalhador brasileiro?  
     
Sobre o destino do grosso ervanário já foram levantadas várias hipóteses. Senão, vejamos: em data recente, um militante de “O Globo”, porta-voz da esquerda festiva, reproduzindo informe oficioso, noticiou que  parte da grana dos 4 mil médicos cubanos contratados poderá servir para amortizar fração do empréstimo de US$ 980 milhões contraída pela ditadura comunista do Caribe junto ao BNDES do Dr. Lula, ao que se diz  apenas parcialmente aplicado na reconstrução do Porto de Mariel e na reforma do aeroporto de Havana. 
   
Outra hipótese levantada com insistência nos  sites da internet é que pelo menos metade da grana tomada do contribuinte nativo em nome do programa Mais Médicos retornaria ao Caixa Dois do PT para financiar a campanha eleitoral do próximo ano. De fato, levando-se em consideração que o pagamento mensal dispensado a cada médico cubano será na ordem de 60 reais - segundo o cirurgião caribenho Carlos Rafael Jimenez, em recente depoimento no Congresso Nacional -, não resta  dúvida quanto ao potencial bilionário da campanha presidencial da guerrilheira Dilma. (Neste particular, é bom recordar a operação de milhões de dólares contrabandeados em caixas de Havana Club Rum, em vôo originário de Cuba, remetidos por Fidel Castro para “dar força” à reeleição de Lula. Na denúncia publicada pela revista Veja, em julho de 2005, o falso diplomata cubano Sérgio Cervantes, notório “observador” das FARCs, teria sido o agente da operação. 
     Já na Ilha Cárcere, por sua vez, a certeza (e não mera hipótese) entre os perseguidos políticos é de que a grana bilionária do programa Mais Médicos, sacado do bolso do parvo povo brasileiro, servirá para Raul Castro - “alcoólatra e brutamontes confesso”, no dizer  do jornalista Carlos Franqui, Ex-Íntimo do Vampiro do Caribe - ampliar o aparelhamento da DGI (Direción General de Inteligência), órgão da polícia secreta que, na Ilha Cárcere, exerce implacável repressão sobre a população em geral e, em particular, sobre os dissidentes em desacordo com os métodos do comunismo dos irmãos Castro. Como se sabe, a DGI, só em Havana, emprega cerca de setecentos mil espiões para manter sob severa espreita cada quarteirão da desgastada cidade.
     Por fim, há a hipótese dos que admitem, com  considerável dose de razão, que os irmãos Castro, sinistros predadores do subcontinente, simplesmente enfiarão no bolso o grosso da grana do programa petista, subtraído de forma astuciosa da lograda patuléia cabocla. Amparando a conjetura, basta assinalar recente reportagem da revista Forbes (especialista em quantificar e qualificar a fortuna dos milionários) que elegeu Fidel Castro como um dos homens mais ricos do mundo. A revista informa, sem meias palavras, a razão do vasto patrimônio em dólares de Fidel: os pagamentos dos negócios externos de Cuba são depositados na conta pessoal do insaciável ditador.  
   
Em resumo: bem medido e pesado é possível que cada uma dessas hipóteses seja factível. Pior: no frigir dos ovos, os vastos recursos enviados ao “Paraíso do Caribe” poderiam servir a todos os propósitos acima apontados e mais outros que o desconfiado leitor pode livremente descortinar.
    
PS – Fidel tem horror aos médicos-enfermeiros cubanos, não confia neles. O tirano se trata com médicos espanhóis e seus exames são analisados em clínica de Boston. Chávez se meteu a besta com a medicina da ilha e se ferrou.                  

quarta-feira, setembro 11, 2013

Jornal da Aliança


LUZ DOMADA

Plínio Palhano

Oswaldo Goeldi (1895–1961) representa um dos artistas brasileiros da maior expressão na xilogravura, que expandiu a sua arte, internacionalmente, para importantes centros culturais. Economizava em seus cortes na madeira para proporcionar uma precisão magnífica na definição das formas xilográficas. A luz sai do preto, como que irradiando uma luminosidade noturna. Uma luz como se a víssemos atravessar num bloco escuro ou penetrar numa caverna. Uma magia impressa e uma visão própria do mundo. Os temas são a simplicidade. Animais domésticos, cenas de rua com homens anônimos, trabalhadores, a morte, o crime, pescadores que labutam em ondas bravias, peixes. Nunca o artista descreveu os prazeres da burguesia, o que o interessava era o trabalho ou o vazio dos transeuntes. A sua integração com os materiais do ofício era de um mestre que observava todos os meios para atingir a perfeição; os instrumentos cortantes e as madeiras eram selecionados de forma que oferecessem as melhores possibilidades técnicas.

Nasceu no Rio de Janeiro e aos seis anos partiu para a Suíça com os pais. Goeldi não foi um artista precoce. Só em 1915, aos vinte anos, após abandonar a Escola Politécnica de Zurique, começa a se dedicar às artes plásticas. O contato com a Europa forneceu o veículo para encontrar grandes artistas que o influenciaram. Mas o seu empenho foi transitado pelo autodidatismo, realizando desenhos preciosos, para, então, abrir esses contatos. O primeiro artista a influenciá-lo foi Alfred Kubin, um ilustrador austríaco com quem o artista brasileiro manteve correspondência durante toda sua vida; indiretamente recebeu as influências de Guaguin, Van Gogh, Edvard Munch e James Ensor.



Na volta ao Brasil, em 1919, recebe crítica pesada dos conservadores da Academia Imperial de Belas-Artes que não aceitaram as influências sobre a obra do artista, vindas do expressionismo alemão. É aqui que ele inicia as suas atividades como gravador e aperfeiçoa a xilogravura de forma brilhante. Realiza ilustrações para jornais, revistas, livros, que foi uma das formas que encontrou para manter a sobrevivência, sua e da arte. Com o tempo, Goeldi faz a ponte com escritores, poetas e intelectuais, fornecendo ilustrações para suas obras. Drummond o descreveu como “o pesquisador moral sobre a noite física”.