quarta-feira, dezembro 31, 2008

BRASILEIROS MAIS RICOS TÊM IDH MAIS ALTO DO MUNDO


PNUD - Brasil (Brasília, 22/12/2008)
Rico do Brasil supera o da Suécia em IDH. A elite brasileira lidera lista de 32 países analisados em estudo; os 20% mais pobres têm IDH pior do que os 20% mais pobres de Vietnã e Paraguai.
O IDH do Brasil cresceu e o país é septuagésimo no ranking mundial.

Os brasileiros mais pobres vivem em condições de desenvolvimento humano comparáveis às da Índia, enquanto os 20% mais ricos vivem em situação melhor que a fatia mais rica da população da Suécia, Alemanha, Canadá e França (informações do relatório do PNUD que analisa os números recentes do Índice de Desenvolvimento Humano - IDH) e cita um estudo europeu que conclui que países que atingiram alto desenvolvimento humano (IDH maior que 0,800) nos últimos anos, como o Brasil, ainda têm parte da população sofrendo privações comuns às de países do fim da lista.

No Brasil, a fatia mais rica tem um IDH de 0,997, próximo do máximo (1,000). O número é maior que o IDH do país que encabeça o último ranking obtido, a Islândia (IDH de 0,968); e supera o valor correspondente aos 20% mais ricos de todos os outros países calculados, incluindo o do Canadá (0,967) e o da Suécia (0,959), terceiro e sétimo lugar na lista, respectivamente.
O atual IDH do Brasil, uma média de todo o país, é de 0,807, mas os mais pobres estariam sujeitos a condições correspondentes a um IDH de 0,610, ficando abaixo do segmento dos mais pobres: Indonésia (0,613), Vietnã (0,626), Paraguai (0,644) e Colômbia (0,662). O IDH dos mais pobres brasileiros é comparável ao IDH da Índia (0,609).

"Os resultados mostram que a desigualdade no desenvolvimento humano foi bastante alta, e maior ainda em países em desenvolvimento”, afirma o relatório do PNUD. O texto acrescenta que a América Latina é o continente que apresenta as maiores desigualdades. No Brasil e em países como Guatemala e Peru, a diferença do IDH dos 20% mais pobres para o IDH dos 20% mais ricos só não é superior à de alguns países da África, como Madagascar e Guiné.
O relatório do PNUD ainda destaca outras formas de desigualdade. Segundo o documento, uma criança que nasce em algum dos 20 países do topo do ranking pode viver até os 80 anos, mas se ela nascer nos países de IDH mais baixo, sua expectativa de vida não é maior que 49 anos.

... NOSSAS DIFERENÇAS SOCIAIS ESTÃO SENDO MINIMIZADAS... NO TOPO DO RANKING !!!

Informações coletadas do PNUD pelo Professor (aposentado) de Ecologia, da UFPB, Breno Grisi

terça-feira, dezembro 30, 2008

O Mamam é nosso

Plínio Palhano

O Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam) tem como ação expandir - principalmente no Recife - as manifestações artísticas e culturais que nos atingem na contemporaneidade e, como o nome aponta, na mesma medida, as do modernismo. É um agente importante das informações da história atual e, por conseguinte, supõe-se (ou deveria ser) conectado aos artistas e produtores que a realizam: o Museu não poderá fugir da missão primordial de convergir com essas forças múltiplas da cultura visual e plástica no município.

Desde o seu início, como Galeria Metropolitana de Arte Aloísio Magalhães, a sua participação tem sido fundamental na tentativa - ainda não alcançada - de se entrelaçar à sociedade e à comunidade artística, para que se torne uma instituição viva.

O Museu é nosso, queremos todos vê-lo cada vez melhor com permanentes ações que facilitem a participação dos vários segmentos artísticos e sociais, liderados por uma direção que pudesse consolidar uma estratégia na qual unisse as diversas opiniões para os campos de sua atuação.

O que é fundamental, em um museu, é a voz do artista, a dos que pensam a arte em sua cidade, e a da sociedade que freqüenta as suas salas: sem essa participação, estará sempre em águas mornas, na inutilidade do pretenso elitismo controlador, desprezando os talentos que poderiam acrescentar ao crescimento da instituição.

Portanto, é preciso convocar essas pessoas que podem realizar um museu para encontros, debates, palestras, fóruns, seminários, etc., e dar-lhes uma injeção de ânimo para entrarem em ação efetiva de plena contribuição ao Mamam, como é a tendência universal da prática dos museus, no mundo desenvolvido, porque, acima de tudo, o museu é a casa do artista e do público.

Não se pode concretizá-lo sem essa participação democrática, que deveria agir com plena liberdade, autonomia cultural, sem a subserviência a curadores que tentam influir (e influem) em outras regiões, cumprindo, os daqui, o papel de discípulos, enquanto aqueles se aliam aos grandes e poderosos internacionais que lhes ditam o que devem fazer e pensar em seus países: constituem a hierarquia da curadoria, que inicia com os curadores municipais; em seguida, os estaduais, os federais, os continentais e os intercontinentais...

Nós entendemos que deve haver uma oxigenação cultural com outras regiões, outros artistas e curadores, isso é saudável e natural. Ali, estiveram em exposição obras de grandes nomes internacionais, como as gravuras de Picasso; as de Goya; as de um dos nossos maiores gravadores nacionais, Gilvan Samico; as esculturas de Rodin; as pinturas de Monolo Valdés; e as de Jean-Michel Basquiat, e a participação de curadores que contribuíram, nessas amostras, com mérito. Mas o que é prejudicial são as oxidações nocivas, paralisantes, da hegemonia de curadores que não acompanham as expressões e particularidades da história da arte local e do Nordeste. Basta o bom senso para ter uma visão aberta e definir o caminho do meio para a ação do Mamam.

Plinio Palhano é artista plástico.
ppalhno@hotlink.com.br

segunda-feira, dezembro 29, 2008

LESLIE CARON - A Feia Mais Bonita do Cinema



Elpídio Navarro

Tem uma marchinha que diz 'eu hoje amanheci pegando fogo, fogo...", mas que fogo que nada, o que eu ando pegando mesmo de uns tempos pra cá é nostalgia, saudade de momentos que não voltam mais. E agora a televisão a cabo proporciona com mais assiduidade esses momentos, muitas vezes já totalmente esquecidos e que, de repente, ressuscitam mexendo com nossas emoções. Tudo através do cinema e da música.

Hoje assisti à "Sinfonia de París", filme de 1951, que vi pela primeira vez em 1952, acho. Lá se foram 56 anos. Na época era normal ter tesão por uma mulher, mesmo considerando-se uma idiotice pensar nela, a gente estando no Cinema Plaza e ela em Hollywood. Mas era gostoso pensar, rever na tela, ouvi-la cantando, imaginar coisas... E que coisas!

Leslie Caron foi uma dessas mulheres. Não sei se por ser diferente, pois chegava a ser feia, não sei se pelas belas coxas que exibia dançando, pois era bailarina, não sei se até por ser impossível para mim como mulher.

Disse que ela era feia, mas não era, era linda mesmo sendo feia. Tinha alguma coisa nela que a tornava irresistível. Talvez hoje pudesse dizer que era o charme (naquela época ninguém usava o termo), mas, ao que parece, charme é abstrato, e o que eu via nela nela era concreto. O olhar, a voz, o sorriso ou mesmo as coxas. Eu não tinha a mínima capacidade de julgar a atriz, a bailarina ou a cantora. Só a mulher.

Hoje, mesmo levado pela emoção de revê-la, já posso afirmar que ela foi uma bailarina excepcional, cantora e atriz. Agora, aos 77 anos, apareceu pela última vez em um seriado para a TV, em 2006. No seu último filme, em 2003, ainda mostra, de alguma forma, aquele charme de outrora. (22-12-2008)

Elpídio Navarro é professor universitário, dramaturgo e diretor teatral, além de editor do www.eltheatro.com

sábado, dezembro 27, 2008

Considerações de final de ano

Hugo Caldas

Pois é, o ano da graça de 2008 está indo embora. Ou já se foi, quando porventura estas mal traçadas vierem a lume. Acho até que passou mais rápido que os outros que já vivi. Ofereço então essas considerações, a fim de uma reflexão mais profunda por parte dos meus tres leitores. Façamos, portanto, uma retrospectiva do que, por artes do demo, nos chamou a atenção neste ano que se finda.

Diferenças Parecidas

Diariamente me deprimo com as notícias de Pindorama. Cuido por exemplo, que nós, via de regra, criticamos com mais virulência tudo o que ocorre nesta terra em que se plantando tudo dá, principalmente quando nos comparamos aos países de primeiro mundo, a terra do Tio Sam, por exemplo, que tanto macaqueamos.

Vejam quanta semelhança:

Recentemente vimos pela TV, soldados do exército e dedicados voluntários roubando donativos provindos de todo o país e que seguiriam para as famílias de Santa Catariana, atingidos pelas enchentes. O que evidentemente nos indignou a todos.

Lá, na terra do Tio Sam, durante a tragédia do furacão Katrina, em Nova Orleans, milhares de doações que deveriam ter sido entregues às famílias atingidas, também desapareceram. Ninguém sabe ninguém viu. O mesmo aconteceu recentemente no Texas, agora em época natalina, quando centenas de milhares de doações que iriam para instituições para ajudar famílias carentes, foram literalmente roubadas.

O governador da minha pequenina e heróica, apesar de cassado, continua enrolando no poder. O governador corrupto de Illinois, acusado de tentar vender o cargo vago de senador, pela eleição do Obama, continua no exercício do cargo, mandando e desmandando, no melhor estilo tupiniquim, mesmo após o escândalo ter sido descoberto.

Vimos o esquema de mais 50 bilhões de dólares do espiroqueta da bolsa de valores de Nova Iorque, o tal Bernard Maddoff. O malandrão, o cérebro da picaretagem piramidal, no entanto será preso, devendo se apresentar às Cortes algemado pelas mãos e pés vestindo berrante macacão laranja. Já por aqui qualquer Daniel Dantas da vida termina por defenestrar delegados da Polícia Federal. Não é à-toa que que na cultura dos filmes B, americanos os bandidos sempre se refugiam no Rio.

O que intento dizer é que em todo país do mundo, há corrupção. Seja na política, no setor financeiro, na saúde ou na educação. Existem até os que roubam biscoito de menino.

Estava eu em gozo de merecidas férias nos EUA na década de 70 quando um figurão do sistema presidiário do Estado da Florida foi flagrado com a boca numa botija de milhões de dólares. O capadócio vendia alvarás de soltura para criminosos endinheirados. Preso e processado, arranjou um alvará para si próprio. Um belo dia sem conseguir provar a sua irreprochável conduta, reuniu a imprensa no seu escritório para uma coletiva. No meio da entrevista sacou de dentro de um envelope um revolver e atirou na própria boca. Existe um video no YouTube. Pois é, há disso também. Pena que a moda não pega por aqui.

Dadas as diferenças, proporcionalmente, percebo que as semelhanças são inúmeras.

O caso da pichadora

"A dificuldade dos jovens artistas para mostrar o que fazem é enorme: estão fora do mercado, encontram poucos lugares para expor, para debater com outros artistas e com a crítica."

Foi por essas e outras que lá em São Paulo, Caroline Pivetta (belo sobrenome) da Mota, de 23 anos, entrou no prédio da Bienal com um grupo de outros desordeiros e entendeu de pichar paredes que estavam em branco. Foi em cana. Comoção geral.

Arte? Que Arte? Isso de pichar a propriedade alheia é puro vandalismo. Encontrou a indigitada moçoila inúmeros defensores. Até o Jabor, a quem admiro, saiu em sua (dela) defesa.

Diz ela: "Estava me manifestando contra (sic) os desfavorecidos, os que não têm acesso àquela coisa toda". Manda bem a jovem meliante: "Tanto grafite quanto "picho" são underground, coisa do fundão. Não são feitos para exposição em galeria. A parada que eu faço é na rua, é para o povo olhar e não gostar. Uma agressão visual". Ao sair da cadeia a energúmena ameaçou voltar ao saudável ato de danificar a propriedade alheia com sua arte! Pichação e grafite são transgressores. Eu mesmo tive o muro da minha casa pichado dois dias após ter sido pintado para o natal. Respeito é bom e eu gosto.

E para finalizar, mas não menos importante imploro aos meus amigos que não me façam receber, ler, ouvir e pronunciar palavras e expressões tais como:

1) "Amo de paixão"

2) "Minha esposa" e sua variante, "Meu esposo"

3) "Legal" (para designar algo bom, bonito, etc) Talvez seja um caso perdido. Contudo poderá ser aceito se algo que for designado ruim, feio, etc seja "Ilegal".

4) Locutores da Globo pronunciando "respónsabilidade". É de matar!

5) Locutores da Globo e adjacências se referindo "ao Pernambuco".

6) Pessoa que ao cometer pequeno erro no meio de uma conversa, diz "minto" antes de voltar a falar.

7) Baiano dizer “É massa!”

8) Receber aqueles PPS debilóides com musiqueta idem contando geralmente uma história edificante, com citações de Chico Xavier, Ghandi, e outros personagens menos votados pela plebe ignara.

9) A palavra "Tipo"

10) Pessoas que mandam "Um beijo no coração". Melhor fuzilar!

Feliz 2009.

hucaldas@gmail.com
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sábado, dezembro 20, 2008

Do sapato, sua origem, sua serventia

Hugo Caldas

O sapato é uma peça do vestuário que tem por finalidade proteger os pés das pessoas. Em inglês a palavra shoe deriva de uma outra palavra do inglês arcaico, sckh que, por sua vez, provém do latim obscuro, vindo a significar oculto, ocultar, guardar os pés.

Os egípcios dominavam a arte de curtir o couro e eram eram hábeis confeccionadores de calçados. Seus escravos faziam sandálias de couro, palha, papiro ou de outra fibra qualquer de palmeira. No entanto, no antigo Egito, era bastante comum as pessoas andarem descalças carregando as sandálias penduradas ao pescoço. Usavam-se calçados apenas quando absolutamente necessário. Os nobres, entretanto estavam sempre calçados com sandálias coloridas. Até o grande Faraó Tutancamon usava sandálias e sapatos de couro de porco, cravejados de enfeites de ouro. Evidências, entretanto mostram, que os sapatos foram inventados, no final do Período Paleolítico.

Na Mesopotâmia eram comuns os sapatos e sandálias de couro cru, amarrados aos pés por tiras do mesmo material. Os coturnos eram entrançados nas pernas e representavam o símbolo da alta posição social do dono dos pés que os usavam.

Na Grécia Antiga, chegaram a lançar moda, como a de modelos diferentes para cada pé, direito e esquerdo. A maledicência entretanto afirma que um administrador da cidade de Atenas, meio sobre o détraqué, estando de pileque calçou inadvertidamente os pés trocados. Daí a tão propalada moda.

Na Roma Antiga, o calçado indicava a classe social. Os cônsules usavam sapatos brancos, os senadores sapatos marrons, presos por quatro fitinhas pretas de couro atadas a dois nós, e o calçado tradicional das legiões de César era a bota de cano curto que evidenciava os dedos.

Na Idade Média, tanto homens como mulheres costumavam usar sapatos de couro curtido, fétidos, porém abertos, de cores berrantes e que tinham a forma semelhante ao das sapatilhas de balé.

Nas regiões frias do planeta, o mocassim, criação dos indígenas norte-americanos, e as botas russas de cano longo, são até hoje confeccionados para a devida proteção dos pés. Nos países mais quentes a sandália, bem como o chinelo, são evidentemente os mais usados. Na Holanda, ainda é comum o uso do popular tamanco de madeira feito em uma só peça.

Na Europa do século XIV, a moda ditava calçados de bico tão fino e longo, alguns com até 50 cm de comprimento, que para conseguir caminhar, era preciso prendê-los, com um cordão de seda, à coxa ou à cintura. Haja Deus! De certa forma esse tipo de sapato deve ter inspirado nossos atuais designers que fizeram renascer algo parecido com o tal bico fino, ótimo para matar baratas, encurralando-as nos cantos da parede. Já na França de Henrique IV, os sapatos eram tão estreitos que, para conseguir calçá-los, os elegantes da época tinham que ficar pelo menos duas horas com os pés mergulhados em salmoura gelada para que encolhessem.

Nas cortes venezianas, a moda eram os calçados perpetrados em cima de plataformas altíssimas. Tão altas que se tornava praticamente impossível caminhar com eles nos pés, a não ser com a ajuda de criados que seguravam as dondocas pelos sovacos e assim as arrastavam pelos insondáveis caminhos e salões da cidade.

Mas o cúmulo dos cúmulos eram os microscópicos sapatos usados pelas mulheres chinesas, até recentemente. Medindo cerca de 15 cm, eles obrigavam as coitadas a reduzir drasticamente o comprimento do pé. Uma tortura. Vá que se goste, que nem eu, de pés pequenos, mas aí já é exagero. Para o sucesso da empreitada, as chinesas, desde o nascimento, tinham os pés amassados sobre um cilindro de metal e, então, firmemente enfaixados até quando Deus dispusesse.

Nas Filipinas, a ex primeira-dama Imelda Marcos, viúva do ditador Ferdinando Marcos está lançando sua própria grife. Ela sempre foi conhecida pela imensa coleção de sapatos, estimada em mais de 3.000 pares variados. Enquanto colecionava sapatos, o marido governava o país dominado pela pobreza. O ditador foi defenestrado e no exílio Imelda comeu do pão que o diabo amassou. Agora de volta às Filipinas, com essa grife, ela pretende vender as peças da sua coleção particular por preços que variam entre US$ 20 e US $100, valores bem modestos mas que poderá ajudar a ex primeira-dama a colocar na mesa o leite das crianças.

Todos nós temos na vida, um caso a ser contado e relembrado, sobre sapatos. Às vezes histórias fantásticas povoam o nosso imaginário. Às vezes simples e doces lembranças. Quando completei quinze anos, o meu pai me presenteou com o mais recôndito sonho de consumo que povoava a minha jovem mente. Um sapato Fox. Pretinho retinto, bem confeccionado, confortável, dava ao pé uma elegância ímpar. Ótimo para dançar nos inúmeros "assustados" da época. Brilhava ao sol e às luzes da noite. Jamais esqueci o velho companheiro de guerra. Veio o ditoso mimo tomar o lugar de um horroroso sapato TANK, com chapas de metal no solado, que usávamos para irmos às lides escolares. Ainda hoje relembro com saudade o meu Fox. Era pau pra toda obra. Combinava com qualquer roupa e era "chic" usá-lo. Nunca que eu sofri de aberrações tais como calos e joanetes. Era o mesmo que pisar nas nuvens. Companheiro de todas as horas, espécie de conselheiro, não permitindo jamais que as minhas pobres canelas tremessem em situações constrangedoras.

Lé com lé, cré com cré, um sapato em cada pé, assim cantava o menestrel!

Nos dias de hoje, o calçado transcendeu sua finalidade inicial que é de proteção aos pés e passou a servir como adorno, acessório de moda, e bem mais recentemente lá pelas bandas de Bagdá, transformou-se em arma usada, nos momentos de ira, contra presidentes outrora poderosos, em visitas surpresas a paises que acabaram de destruir. Deve ser reconfortante quando o alvo é atingido.

Sapatadas em presidentes! Se a moda pega pelas bandas de cá não sei, mas bem que eu gostaria!



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quinta-feira, dezembro 18, 2008


OS HERÓIS ESTÃO CANSADOS


No fim do mês de novembro próximo passado, faleceu aos 86 anos, Charles “Charlie” Brown, piloto do B-17 “Ye Old Pub”, que foi salvo pelo ás da Luftwaffe Franz Stigler no Natal de 1943. Brown ficou famoso pela história, aqui relatada em postagem recente, vivida durante a Segunda Guerra Mundial à bordo da sua agonizante B-17. Brown e Stigler se reencontraram no Canadá em 1986. Stigler ainda voava um Messerschmitt 109 em shows aéreos. Os dois se tornaram grandes amigos, até o falecimento de Stigler em março deste ano.

Em março deste ano também faleceu a esposa de Brown, Dolores. Charlie sucumbiu a uma doença cardíaca pouco tempo depois.

“Ele não era do tipo que desiste fácil, mas ficou perdido sem ela”, confessa uma de suas filhas.
(pela transcrição - H.C. - Acima, foto do Cel Brown)

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Tião Boca de Caçapa


Elpídio Navarro

Existem personagens reais ou inventados, de cujas façanhas a gente nunca esquece. As aventuras do abestalhado (nem tanto) Tião Boca de Caçapa, eram contadas por Mirócene Amorim, companheiro de muitas jornadas teatrais. Biró, como era chamado pelos mais próximos, tinha um vozeirão daqueles que a velhinha surda que se sentava na última fila do teatro, acordava toda vez que ele falava. Ele se vangloriava ao dizer: "Posso não ser um Paulo Autran, mas todo mundo ouve o que eu falo num palco". E eu acrescento: em qualquer lugar! Já com problemas sérios de saúde na última vez que nos encontramos, perguntei o que sempre se pergunta: Como vai você? E com o mesmo vozeirão de sempre foi taxativo: "Com um pé na cova!" Faleceu algum tempo depois.

Mas as histórias que Biró contava de Tião Boca de Caçapa eu sempre lembro, pela graça, pelo inusitado e até mesmo pelo nome/apelido que arranjou: colocava, de uma vez, cinco picolés na boca e conseguia chupá-los ao mesmo tempo. Era como uma caçapa de mesa de sinuca. Não lembro ao certo onde residia pois a memória falha. Mas era numa cidade dividida por um rio.

Certa vez, no período chuvoso, era preciso transportar uma mesa de bilhar para o outro lado da cidade. O dono do pesado objeto não encontrara nenhuma caminhoneta nem carro-de-boi para fazer o serviço, devido as grossas chuvas que caiam e o aumento do volume da água e correnteza do rio. Tião Boca de Caçapa apresentou-se como solução, dizendo que levaria a mesa na cabeça. Todos duvidaram. O interessado no transporte relutou um pouco mas, sem outra saída, resolveu topar a parada. Boquinha da noite, já havia tocado a Ave Maria no rádio, lá vai Tião Boca de Caçapa botando a tal mesa, coberta por uma lona, na cabeça protegida por um travesseiro e ajudado por mais quatro homens. Disse "Volto já já..." e desapareceu no escuro da noite. Deu mais de dez horas e nada de Tião voltar. Todos já estavam preocupados com o destino de Tião, quando avistaram um vulto se aproximando: era Boca de Caçapa de volta ainda com a mesa na cabeça, todo molhado e pedindo ajuda para tirar aquele incômodo de cima dele. "O que houve? O rio não deu passagem?", perguntaram. "Não, até que foi fácil. O ruim foi lá porque o endereço estava fechado e não tinha ninguém para ajudar descarregar. Então trouxe de volta..."

Tião morava sozinho num casebre até perto da farmácia, onde toda noite um grupo se reunia para jogar gamão na calçada, por conta da iluminação mantida pelo boticário na fachada do seu estabelecimento. Tião tinha sido amigado mas a mulher tacara-lhe um par de chifres fugindo com um boiadeiro de mudança para outra cidade. Ele achou melhor não ir atrás, preferindo ficar com uma cabrita que criava no fundo do quintal e não mais confiar em rabo de saia. Tião toda noite ia pilungar o jogo de gamão, mesmo sem entender nada do assunto. Gostava de espiar quem dava mais pontos com o bozó mas não entendia quando um outro resultado valia mais que dois seis. Os jogadores não gostavam das constantes perguntas dele sobre o jogo e um deles resolveu desafiá-lo com o objetivo de afastá-lo do recinto: "Tião, eu digo que você é macho mesmo se for agora ao cemitério, arrancar um cruz de um túmulo e trazê-la até aqui!" E os outros acrescentaram: "Vai nada, não tem coragem!" "E se aparece uma alma?" "Uma empreitada dessa é para quem tem culhões roxos!" E outras provocações mais. Tião Boca de Caçapa ficou por ali, desconfiado, sem dizer nada, foi se afastando e deu no pé. Gozação geral: "Até que enfim nos livramos dele..." disse alguém. O jogo continuou e depois de uns vinte minutos uma cruz suja de terra cai em cima do tabuleiro de gamão, jogada por Tião, dizendo: "Eu não sei ler não, mas tem o nome do dono escrito aí na cruz. Devolvam depois."

Não satisfeitos com a história da cruz, os parceiros do gamão resolveram fazer outra falseta com Tião, como troco ao susto que levaram. Propuseram um encontro na sexta-feira, à meia-noite, na porta do cemitério, para fazer uma oração pelos mortos. Todos iriam, eram seis. Tião topou. Nessa mesma noite, após todos terem ido para suas casas, foi até ao quintal agradar a cabrita já acostumada com sua visita e notou, não muito longe, um movimento de pessoas na parte de trás da casa do alfaiate. Imaginando tratar-se de ladrões querendo roubar, com cuidado aproximou-se. Eram seus desafiantes experimentando uma fantasia de "alma", um manto branco, capuz com abertura pros olhos. Entendeu tudo. Foi para casa e de um lençol branco fez a mesma vestimenta. Na sexta-feira, um pouco antes da meia-noite os seis apreciadores de gamão chegaram próximos ao cemitério, vestiram-se com as fantasias e esconderam-se enquanto esperavam a hora. Só não sabiam que Tião havia chegado primeiro e feito o mesmo. Quando deu meia-noite e Tião na aparecia, resolveram sair do esconderijo em fila indiana para esperá-lo no portão do cemitério. Quando chegaram, Tião que havia entrado no último lugar da fila, bateu no ombro da "alma" que estava à sua frente e perguntou: "Nós somos quantos?" Ouve como resposta: "Seis, cara! Por que?" Ao que Tião responde: "Por que eu estou contando sete..." Constatada uma "alma" a mais, todos disparam de volta sem olhar pra trás, inclusive Tião Boca de Caçapa que, por sua vez, correu para casa satisfeito, pensando fazer uma nova visita à sua cabrita de estimação.(15-12-2008)

Elpídio Navarro é professor universitário, dramaturgo e diretor teatral, além de editor do www.eltheatro.com

segunda-feira, dezembro 15, 2008

PACTO COM O DIABO - I

VALDEZ JUVAL

Lendo uma crônica de Luis Fernando Veríssimo - um dos meus autores preferidos - lembrei-me que também já havia passado pela situação de vender a alma ao diabo.

Veríssimo conta que por causa dele, o Internacional, time de futebol gaucho,conquistara o Campeonato Mundial Interclubes, no Japão, em 2006.

Tudo havia acontecido em consequência de um e-mail com a oferta do diabo pela sua alma em troca de qualquer coisa, podendo fazer dois pedidos.

A primeira que lhe veio a mente, de imediato e com o acordo do demo foi a conquista do Internacional. E aconteceu.

A segunda, não querendo ser tão egoista, pensou no Brasil todo, inclusive os Gremistas (maior adversário de seu clube).

Depois de muita conversa com o interlocutor do acordo ficou decidido que a nossa pátria seria transformada em um pais escandinavo. "Bastava desta indecência social disfarçada de bonomia, desta irresolução criminosa que passa por afabilidade, deste eterno adiamento de tudo."

Quando o diabo lhe perguntou se tinha certeza e se era para já, ele hesitou um pouco e respondeu: -"Bem, depois do carnaval."

E agora? Como terá sido a negociação por mais um título? Será que houve troca da intenção do segundo pedido para favorecer novamente o time na conquista da Copa Sulamericana?

LÓGICO QUE TUDO NÃO PASSOU DE UMA INSPIRAÇÃO POÉTICA!

PACTO COM O DIABO - II

De nossa parte tudo aconteceu em uma representação teatral onde interpretei o papel título de Fausto.

A produtora e diretora do espetáculo, D.Lindalva Cruz (esposa do General Ivanoe Neto - casal distinto e amigo), fizera uma adaptação do poema de Goethe.

Lá estivemos nós, no dancing do Clube Astrea da Paraiba, como se Teatro de Arena fosse e com mais alguns personagens, tivemos a vivência com Mefistófeles, demônio que atendeu ao apelo de Fausto.

Dr. Fausto vivia a lamentar-se. Devorara quase todos os livros possíveis, de medicina, de leis, de teologia. Seduziu-se inclusive pela magia para ver se ela lhe alcançava o império. Certa feita, sentado no campo, à beira do caminho, avistou ao longe um enorme cão preto que, posteriormente resolveu levá-lo para casa. O bicho, tudo focinhou e para tudo rosnou, uivou ou ganiu.

Em sua poltrona e sem entender como, estava lendo a frase do Evangelho, segundo S. João, "No princípio era o verbo!" cujo entendimento para Fausto, tudo começa com a ação e ao exclamar isto, em voz alta teve a atenção voltada para o cão. Em segundos ele se transformou. Era espantoso.

Aparece Mefistófeles, o demônio moderno, detrás do nevoeiro que, num repente, inundou o quarto. O próprio Satanás! Apresentou-se vestido como um goliardo, um andarilho medieval. Viera para tramar um pacto de sangue com aquele doutor desesperançado.

O seu demônio não tem o visual que dele faziam no Medievo. Nada de cheiro de enxofre, chifres, rabo ou cascos de bode. É um diabo da época do Iluminismo, um capeta secularizado. Aparenta ser igual aos humanos, ainda que imperando sobre ratos e insetos asquerosos. Trafega na sociedade com o desembaraço de um estudante ou de um fidalgo.

E Fausto desejou "as estrelas mais belas e os mais altos prazeres da Terra".

Pois a sua vontade foi feita! Desde aquela soturna visita, Mefistófeles fez dele o símbolo do homem moderno: industrioso, apaixonado pela técnica, voando sobre os montes e as paisagens, um amalucado sem maiores pruridos pelos estragos que faz.

Concluimos esta crônica com o que foi escrito no INDICE DE CULTURA E PENSAMENTO:

"Hoje, quando olhamos ao derredor, vemos que as perplexidades que atormentaram o criador daquele mitológico personagem da modernidade - a mesma mistura de susto e fascínio que ele revelou perante a emergência assombrosa da ciência e da técnica - são as mesmas nossas.

Valdez Juval da Silva é Promotor de Justiça da Paraíba (aposentado) e um dos fundadores do Teatro do Estudante da Paraíba = valdezjuval@oi.com.br

domingo, dezembro 14, 2008

Uma História Natalina


Hugo Caldas

Pelo fato de haver praticamente vivido dos 7 aos 12 anos de idade, dentro de um pequeno Piper Cub pilotado por meu pai, histórias sobre aviadores e aviões me são bastante caras. Abaixo, relato da maneira como me foi contada essa História Natalina. Vale ressaltar que até a Segunda Guerra Mundial nós sabíamos perfeitamente quem era o mocinho e quem era o bandido. Hoje, infelizmente...
H.C.

"Naquela manhã de 24 de dezembro de 1943, Charles Brown, de 21 anos, era o comandante do Boeing B-17 do 342º Grupo de Bombardeio em Kimbolton, Inglaterra. Seu B-17 era chamado “Ye Olde Pub” e se encontrava em terrível estado, após ser atingido diversas vezes por fogo antiaéreo e caças durante uma difícil missão de bombardeio de uma fábrica em Bremen, na Alemanha. Todo o equipamento de orientação, bússola, rádio, etc, estavam danificados e o avião absolutamente desorientado, se dirigia perigosamente cada vez mais para dentro do território alemão ao invés de voltar para a base em Kimbolton. Dos dez membros da tripulação sete estavam seriamente feridos e ele próprio sangrava, com um estilhaço encravado no ombro esquerdo.

Após um rasante sobre um aeroporto inimigo, Charlie Brown enquanto guiava o seu agonizante bombardeiro de volta para a base, sentiu o coração gelar quando olhou para a janela direita e viu que um Messerscmidt 109, avião de caça, armado até os dentes, voava junto à sua asa, perigosamente perto do que restava da sua Fortaleza Voadora.

O piloto de caça alemão, Franz Stigler havia sido ordenado a decolar e derrubar o que restava do B-17. Ao se aproximar do quadrimotor, o alemão não pôde acreditar no que estava vendo. Nunca tinha visto uma aeronave em estado tão ruim. Da cauda e da sessão traseira da aeronave pouco restava, o artilheiro de cauda estava ferido. O artilheiro de dorso tinha seus restos espalhados pela fuselagem. O nariz da aeronave estava esfacelado, e havia furos enormes por toda parte. Era só destruição.

Bem armado, Franz voou para o lado da Fortaleza Voadora e olhou fixamente para Charlie Brown que aterrorizado lutava para manter no ar seu destruído e ensangüentado avião. Parecia incrível que aquele B-17 tão despedaçado permanecesse no ar. Brown fazia de tudo para alcançar as costas da Inglaterra há 400 quilômetros dali.

Percebendo que os americanos não tinham a menor idéia de onde se encaminhavam, o piloto alemão começou a balançar as asas indicando que ele deveria virar 180 graus. Assim foi feito e Franz voou ao lado, escoltando o bombardeiro até o Mar do Norte, em direção à base na Inglaterra. Então, inesperadamente ele saudou Charlie Brown e voltou ao continente.

Ao pousar Franz, preencheu os formulários de praxe atestando haver derrubado o B-17 em pleno mar. Ele nunca disse a verdade a ninguém. Na chegada à Base, Charlie Brown e seus tripulantes contaram a verdade no relatório, mas receberam ordens de não comentar o incidente.

Mais de 40 anos se passaram e Charlie Brown não conseguia esquecer o incidente e queria encontrar o piloto da Luftwaffe que tinha salvado sua tripulação. O episódio do piloto alemão que recusou-se a atacar o adversário ferido continuava a lhe perseguir. Brown continuava no firme propósito de encontrar o piloto inimigo que o havia ajudado a chegar a base distante. Franz por sua vez jamais falou sobre a aventura, nem mesmo em reuniões no pós-guerra.

Quis o destino que eles se encontrassem numa reunião do 342º Grupo nos EUA em 1989, junto com outros cinco tripulantes do B-17. Brown escreveu numerosas cartas para fontes militares alemãs, mas teve pouco ou nenhum sucesso. Finalmente, uma pequena nota em jornal de veteranos da Luftwaffe exibiu uma resposta de Franz Stigler, ás de 28 vitórias aéreas. Ele, descobriu-se finalmente, foi aquele anjo misericordioso nos céus da Alemanha naquele fatídico 24 de dezembro, Véspera do Natal de 1943.

Foram 46 anos de espera, mas em 1989 Charles Brown, após uma troca de cartas, encontrou o misterioso homem do Me 109. Sabatinado, Stigler discorreu sobre detalhes comuns aos dois aviadores e não restou a menor dúvida sobre sua identidade. Na sua primeira carta para Brown, Stigler escreve:

- “Após todos esses anos, imagino o que aconteceu com o B-17, ele sobreviveu?”

Sobreviveu, por pouco. Mas porque o alemão não destruiu sua presa, absolutamente indefesa?

- “Não tive coração para aniquilar aqueles bravos homens, disse Stigler. Voei ao lado deles por um longo tempo. Eles tentavam desesperadamente voltar para a Base, e eu ia permitir que o fizessem. Eu não podia ter atirado neles”.

Após a guerra Stigler emigrou, para o Canadá e viveu perto de Vancouver, na Columbia Britânica. Um certo dia Brown voou para lá para uma reunião. Confraternizaram.

- "Ele quase quebrou minhas costelas, tão forte foi o seu abraço, disse Brown”.

Dai em diante os dois se visitaram com freqüência e apareceram juntos em eventos militares nos EUA e Canadá. No Air Force Ball de Miami em 1995, os dois receberam diversas honrarias. Franz Stigler faleceu no dia 22 de março de 2008, aos 92 anos de idade.

Toda essa história aconteceu porque Franz Stigler não disparou suas armas naquele 24 de dezembro de 1943."

Um Feliz Natal para todos.

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O Reitor e a História


MARCUS ARANHA

Cícero, orador, filósofo e político romano, que viveu entre 106 e 43 a.C., deixou escrito: “A história... testemunha dos tempos, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, arauto da antiguidade”.

E todos sabem que um povo sem História não é nada. A Medicina não chega a ser um “povo”, mas os nossos médicos são muitos e têm o respeito do verdadeiro povo desta terra.

A Medicina da Paraíba tem uma história e dela há uma parte importantíssima sendo destruída pelo tempo. Falo do prédio aonde funcionou pela primeira vez a Faculdade de Medicina, há 56 anos, que se encontra semi-destruído, abandonado, parte dele ocupado por pessoas ligadas ao movimento dos “sem teto”.

Localizado no Varadouro, a direita da Praça 2 de novembro, ao lado do Cemitério Boa Sentença, logo depois de construído abrigou o Serviço de Verificação de Óbitos da Capital.

Criada em 1951, a Faculdade de Medicina começou a funcionar em 1952 nesse edifício. Ou seja, há 56 anos, mais de meio século, no velho prédio da 2 de novembro, professores catedráticos ensinavam a 34 acadêmicos, a primeira turma a formar-se no nosso Estado. Quando a faculdade foi transferida para Rua Alberto de Brito, em Jaguaribe, permaneceram no Varadouro as disciplinas com prática em cadáveres: anatomia, histologia, anatomia patológica e medicina legal.

Hoje, alertados que a antiga escola médica estava desabando, um grupo de médicos liderados pelo Dr. Manoel Jaime Xavier lá esteve e decidiu promover uma reunião na Academia Paraibana de Medicina, onde compareceu o Reitor da Universidade Federal da Paraíba, o economista Rômulo Polari, que se fez acompanhar da Prof.ª Tereza Tavares, diretora do Centro de Ciências Médicas.

Entidades médicas estavam representadas: Fábio Rocha, presidente da Associação Médica da Paraíba; Dalvélio Madruga, presidente do CRM-PB; João Modesto representando a presidência da UNIMED; Romildo Montenegro, dirigente da UNICRED de João Pessoa. Num auditório lotado, estavam alguns octogenários professores que atuaram na velha Faculdade e alunos médicos que integraram a primeira e outras turmas. Foram muitas as recordações e as emoções no peito dos presentes.

Todos ansiosos em ouvir a solução que o Magnífico Reitor teria a oferecer para recuperar a nossa primeira Faculdade de Medicina.

O Reitor correspondeu ao título e foi realmente magnífico: acatou a idéia de restaurar o prédio localizado no Varadouro e nele instalar o Memorial da Medicina e um ambulatório médico funcionando como uma extensão do Hospital Universitário.

Antonio Carneiro Arnaud e Francisco Orniudo Fernandes serão os novos dirigentes da Academia Paraibana de Medicina e, com certeza irmanar-se-ão a Manoel Jaime em defesa dessa causa tão nobre.

Os reitores médicos da Universidade Federal da Paraíba contam-se nos dedos de uma mão: João Medeiros, Humberto Nóbrega e Guillardo Martins.

Rômulo Polari não é médico.

Mas como Deus escreve certo em linhas tortas, caberá a ele, um economista, recuperar o pedaço mais importante da História da Medicina na Paraíba: o berço do ensino médico.

Assim fazendo, ressuscitará uma testemunha dos tempos, na escuridão do esquecimento fará surgir a luz da verdade e dará mais vida a memória da Medicina paraibana.

E o povo da terra tabajara ficará grato a Rômulo Polari por ele lhe ter garantido ainda mais História.

Publicado em o CORREIO DA PARAÍBA DE 14 DE DEZEMBRO DE 2008

domingo, dezembro 07, 2008

Se o Reisinho da Casa Vai Demais ao Troninho ...


Hugo Caldas

Amigos, eu ando estupefato, perplexo, preocupado, aturdido, pasmado, entorpecido, atônito e assombrado. Temo que o Brasil esteja se encaminhando ao perigoso terreno da galhofa, como muito bem dizia o patrono deste Blog, o Excelso Mestre Stanislaw Ponte Preta, lá pelos anos sessenta. Essa história de querer taxar como "coloquial" as diatribes do rei, querendo livrar a cara de certas pessoas é absolutamente desastroso. Pessoas que, ocupam cargos ditos importantes mas que ao simples fato de abrir a boca já denotam de onde vieram. É baixo calão mesmo, senhores. É linguagem chula, dona moça, que não se admite a um chefe de estado. É puro desrespeito. É a santa ignorância. Por onde anda a tão falada "Liturgia do Cargo"? Juro que não é preconceito ou puritanismo. É nojo mesmo. Será que alguém em sã consciência pode dormir com todo esse ruído?

Veja abaixo:

"DIARRÉIA BRAVA" e "SIFU"...acabam de entrar em cena esta semana e vieram se juntar ao que já existia de puro besteirol, "PONTO G DA ECONOMIA," e outras baboseiras do ramo, além de umas metáforas futebolísticas e malucoides, absolutamente inadequadas para um Presidente da República. E pasmem, o site oficial do Planalto, devidamente orientado, censurou a joia da arenga presidencial, ao substituir a palavra "sifu" pela expressão "inaudível". Que coisa ridícula! Que palhaçada. A que ponto chegamos!

Enquanto isso na Brasílha da Fantasia...

Muito se fala "nas justas aposentadorias concedidas aos perseguidos pela ditadura". Quais, cara-pálida? A viúva do operário Manuel Fiel Filho, por exemplo, não recebeu indenização alguma, apenas uma pensão mixuruca no valor de dois salários mínimos. Já o Jaguar, que passou a vida toda biritando, e o chato do Ziraldo, que nunca arriscaram o pêlo e só foram em cana por alguns dias (a milicada tinha receio de arranjar mais problemas com esses mocinhos bonitos de Ipanema), receberam um milhão cada um, além de uma pensão de mais de 20 mil. O Carlos Heitor Cony, embora tenha, no início da quartelada encarado os generais com seus artigos no Correio da Manhã, também levou o dele. E cuido que ainda existe uma enorme fila de "perseguidos" à espera do bem-bom. Estou a me repetir, já falei sobre o assunto em postagem anterior.

Termos escatológicos, (será que ele sabe o significado?) senhores, não são evidentemente recomendáveis para citações em cerimônias oficiais. Respeite o Brasil presidente, que nós o respeitaremos. Mas como tudo hoje esbarra no palavrão... Palavrão, no cinema, no teatro e na televisão nos dias de hoje, é quase como vírgula, é pausa para respiração dos atores. Na boca do presidente, então...

E a porra-louquice das Cotas? O bom senso me faz crer que esse pessoal que instituiu esta coisa ridícula de cotas para negros, está variando. Em qual planeta do Sistema Solar eles vivem? A dificuldade de definir quem é ou não negro, agora é o de menos. Já engendraram que deverão embarcar no mesmo barco das cotas, os índios, os pobres (sic) e os alunos oriundos de escolas públicas. É certo que o problema existe. Mas desconfio que a solução seja outra. Tem mais é que voltar lá na base. Não se pode, em pleno século 21 ficar acreditando em varinha de condão. Atualmente já passam o aluno automaticamente de uma série para outra. A reprovação é proibida. As estatísticas mentirosas, tão orgulhosamente apresentadas (98% das crianças estão na escola), mas esse mesmo alunado se compõe de pessoas semi-analfabetas que mal sabem assinar o próprio nome ao final do que antigamente se chamava Ginásio. E ler então é uma tragédia, não conseguem mesmo. Conclusão: Estamos na iminência de formar um bando de médicos, engenheiros, advogados, etc. sejam negros, índios ou pobres, absolutamente incompetentes. Além de apresentar um ranço preconceituoso ao contrário. Há que se trabalhar e muito para se obter mais do que um Certificado de Torneiro Mecânico.

E aí vêm as estatísticas e o Apedeuta atinge 70% de aprovação como bom ou ótimo. Dá pra acreditar? A canalha empoleirada no poder revira os olhinhos. Qual o critério ou segmento da população usados para se chegar a tal conclusão? Qualquer que tenha sido pode ser enganoso, como tudo na estatística. "Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade", lembram? Hitler tinha noventa por cento de aceitação. Os outros dez ele mandava para as câmaras de gás. Chegaremos a isso? Temo que sim, pois se já esquecemos Mensalões, Delúbios, dólares na cueca, Marcos Valério, Genoíno e o assassinato do prefeito Celso Daniel, entre outros crimes.

Dia desses um amigo querido à propósito dos escatologismos tão em moda hoje em dia, saiu-se com essa: "Merda deve ser muito bom mesmo, pois um trilhão de moscas não podem estar enganadas." Um sábio, evidentemente.

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sábado, dezembro 06, 2008

VOCÊ É BRANCO? CUIDE-SE!!!

Ives Gandra da Silva Martins

Hoje, tenho eu a impressão de que o "cidadão comum e branco" é agressivamente discriminado pelas autoridades e pela legislação infraconstitucional, a favor de outros cidadãos, desde que sejam índios, afrodescendentes, homossexuais ou se auto-declarem pertencentes a minorias submetidas a possíveis preconceitos.

Assim é que, se um branco, um índio e um afrodescendente tiverem a mesma nota em um vestibular, pouco acima da linha de corte para ingresso nas Universidades e as vagas forem limitadas, o branco será excluído, de imediato, a favor de um deles! Em igualdade de condições, o branco é um cidadão inferior e deve ser discriminado, apesar da Lei Maior.

Os índios, que, pela Constituição (art. 231), só deveriam ter direito às terras que ocupassem em 5 de outubro de 1988, por lei infraconstitucional passaram a ter direito a terras que ocuparam no passado. Menos de meio milhão de índios brasileiros - não contando os argentinos, bolivianos, paraguaios, uruguaios que pretendem ser beneficiados também - passaram a ser donos de 15% do território nacional, enquanto os outros 185 milhões de habitantes dispõem apenas de 85% dele.. Nesta exegese equivocada da Lei Suprema, todos os brasileiros não-índios foram discriminados.

Aos 'quilombolas', que deveriam ser apenas os descendentes dos participantes de quilombos, e não os afrodescendentes, em geral, que vivem em torno daquelas antigas comunidades, tem sido destinada, também, parcela de território consideravelmente maior do que a Constituição permite (art. 68 ADCT), em clara discriminação ao cidadão que não se enquadra nesse conceito.

Os homossexuais obtiveram, do Presidente Lula e da Ministra Dilma Roussef, o direito de ter um congresso financiado por dinheiro público, para realçar as suas tendências, algo que um cidadão comum jamais conseguiria!

Os invasores de terras, que violentam, diariamente, a Constituição, vão passar a ter aposentadoria, num reconhecimento explícito de que o governo considera, mais que legítima, meritória a conduta consistente em agredir o direito. Trata-se de clara discriminação em relação ao cidadão comum, desempregado, que não tem este 'privilégio', porque cumpre a lei.

Desertores, assaltantes de bancos e assassinos, que, no passado, participaram da guerrilha, garantem a seus descendentes polpudas indenizações, pagas pelos contribuintes brasileiros. Está, hoje, em torno de 4 bilhões de reais o que é retirado dos pagadores de tributos para 'ressarcir' àqueles que resolveram pegar em armas contra o governo militar ou se disseram perseguidos.

E são tantas as discriminações, que é de se perguntar: de que vale o inciso IV do art. 3º da Lei Suprema?

Como modesto advogado, cidadão comum e branco, sinto-me discriminado e cada vez com menos espaço, nesta terra de castas e privilégios.

Ives Gandra da Silva Martins é renomado professor emérito das universidades Mackenzie e UNIFMU e da Escola de Comando e Estado do Exército e presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.

N.R. Estamos reproduzindo, mesmo sem a devida autorização, pois acreditamos que quanto mais repassarmos estaremos dando luz ao que acima foi tão diligentemente tratado, melhor então, como lição de cidadania. H.C.





quinta-feira, dezembro 04, 2008

As regras gramaticais e Um Anúncio Feito à Maria

Valdez Juval

Desta vez não deverá haver dia do FICO nem grito às margens do rio Ipiranga, mas já é tempo de se lutar por uma independência intelectual para nos livrarmos do jugo acadêmico de regras gramaticais que, no nosso modo de pensar, complicam a cultura de um povo.

Confesso a minha total ignorância sobre a matéria a tal ponto que fui professor de português e, com sinceridade, escondi dos alunos o uso do tal trema.

E o trema está na nova reforma da ortografia mas, atentem, a eliminação somente ocorrerá nas palavras aguentar, arguido, frequente e tranquilo. E AINDA VAI SERVIR PARA MAIS ALGUMA COISA?

É apenas parte da nova reforma!

Vá lá que se estabeleçam regras mas regras necessárias.

Já observaram direitinho o que é a nossa gramática?

Não vamos longe... Uma das coisas pré estabelecidas é a pronúnica das letras e logicamente das palavras. Será que a pronúncia dos outros paises atrelados ao Brasil ou o Brasil atrelado a eles que se dizem da Lingua Portuguêsa falam e escrevem tudo direito e de acordo com os acordos? Tenham um pouquinho de paciência e escutem por um só instante como falam e vejam como escrevem os portuguêses. Igualzinho (?!) aos brasileiros, voces não acham? Ridículo! Mas, ridículo mesmo.

Para não fugir a regra do pais com o maior número de leis no mundo, vamos meter a caneta e assinar mais acordos, tratados, leis ou o que seja para se complicar ainda mais o que temos que aprender para se escrever e falar corretamente.

Preparem-se que uma nova reforma está por vir. E não vai demorar, como eles, que nunca sabemos quem são, estão apregoando. Já estive lendo que tem o h como referência. Será o Benedito?...

Lógico que não quero provocar polêmica pois não tenho intenção de voltar a estudar mas fui obrigado a recorrer a Internet. Segundo se diz, o acordo ortográfico não é matéria somente para literatos ou de qualquer casta de infalíveis. Imagine-se.

Vamos parar por aqui, por enquanto.

Uma pergunta final: Como esses b....... (quiz dizer bundões mas podem querer fazer comparativos com miss melancia e outras mais, apenas deixo os pontinhos para que não haja semelhança) vão ter que responder o já atual uso da linguagem dos internautas? E a própria indústria que ao se referir a Lingua Portuguesa destaca entre parenteses a Lingua Portuguesa do Brasil?

Sustento a minha opinião que a lingua de uma nação provém de seu povo, de sua cultura e somente pelo povo e pela cultura poderia ser modificada.

*****

Estava lendo Claudel.

Era uma tarde-noite para o dia de finados.

No quarto fechado, a temperatura quente, um mormaço irritante me excitava como que reclamando por uma leitura mais amena, sensual mesmo e que não forçasse o cérebro na busca do belo, procurando extrair palavras, ensinamentos e meditações que perturbam e cansam.

Fui devorando a leitura, ávido de um final que satisfizesse e compensasse o esforço desprendido.

A cabeça pesava mais e o cansaço aumentava.

Era a história de Violaine que agora já não era bela, jovem, mas definhada, cega e leprosa.

O beijo que dera em Canaoi foi o princípio de tudo.

E se depois tivesse que se arrepender, o momento que tivera na prática de seu desejo, compensaria a carne dilacerada, carcomida pela doença que pouco a pouco lhe levava ao fim.

Violaine morrera.

Longe, o sino da Igreja e um coro tocava e cantava o ângelus.

Terminava aqui o meu drama.

Era o fim de "L'anonce faite à Marie" (01-12-2008)


Valdez Juval da Silva é Promotor de Justiça da Paraíba (aposentado) e um dos fundadores do Teatro do Estudante da Paraíba = valdezjuval@oi.com.br

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Da assembléia dos ratos à masturbação jurídica brasileira


Elpídio Navarro

A fábula é antiga como o são as mais conhecidas: os ratos apavorados com um gato perigoso, reuniram-se em assembléia para deliberar. Matar o gato? Como? O inimigo era forte. Contratar um cachorro? Não. Não era confiável. A discussão chegou ao fim com a brilhante idéia do ratão gordo, sugerindo que se colocasse um guizo no pescoço do gato e assim, todas as vezes que o bichano surgisse o som do guizo o denunciaria, permitindo aos ratinhos, ratões e ratazanas, com segurança, procurarem seus buracos. Euforia! Brilhante idéia! Aplausos! Mas uma pergunta desmancha prazeres surgiu de forma contundente. E quem vai colocar o guizo no pescoço do gato? Desmancharam a assembléia...

Mas os ratos da Assembléia Legislativa da Paraíba evoluíram. Adquiriram a proteção de uma armadilha elétrica/eletrônica, organizando suas moradias próxima à caixa de força do sistema de ar refrigerado, que fica, disseram os jornais, por trás da cadeira do Presidente, o que, certamente, imprime uma maior garantia ao sossego da rataria. O gato, apelidado de 'paraí-bê-a-bá", já a algum tempo sem freqüentar aquele sítio de caça, jogou-se de peito aberto feito saqueador de armazém em época de seca (sempre é) no Nordeste, e fudeu-se!

O suicídio do gato causou um curto-circuito nas instalações elétricas do prédio que entrou na escuridão durante um balaio de sessões extraordinárias (sete) que visavam, também, melhorar a receita natalina dos deputados. Alguns deles, dos deputados, sentenciaram imediatamente: "É um atentado, uma sabotagem!". E apelidaram "paraí-bê-a-bá" de pedaço de fio com uma pedra na ponta, enquanto o bichinho assava feito churrasco nas costas do Presidente.

Agora me digam, senhores dramaturgos: essa história não é um bom tema para uma interessante comédia infantil?


MASTURBAÇÃO
Não é da masturbação erótica que faço referência no título desta página. Essa dos verdes anos e dos maduros também, hoje é salutar e chega a ser recomendada. Não sei se deixou de ser aquele pecado que a meninada contava ao padre em confessionário e os adultos omitiam. Naquele tempo tinha vários apelidos: "puxa-encolhe", "siririca", "bronha" e a tradicional "punheta".

Mas no caso da legislação ou da masturbação jurídica brasileira, prefiro o "puxa-encolhe", pois calha melhor com a danação de artigos e parágrafos existentes, uns desmanchando os outros, permitindo esse vai e volta de todas as masturbações. No Brasil o bandido comete um crime, é filmado cometendo, testemunhas afirmam, o acusado confessa e nada disso é suficiente para a sua condenação e execução da pena. Sempre existe uma apelação. Até o Cristo de Ariano Suassuna em"A Compadecida", diante de tantas apelações da própria, declarou que o inferno terminaria "virando repartição pública: existe mas não funciona."

Lembro que os professores da UFPB ganharam uma ação contra o governo do auto-denominado de vagabundo, Fernando Henrique Cardoso, quando passaram a ter direito a uma gratificação de 84%. Tudo correto e legal. Após perto de um ano implantada no contra-cheque, foi retirada por força de uma liminar apoiada pelo reitor Neroaldo Pontes, que borrava-se de medo de perder a boquinha, adquirida graças a incautos petistas que o elegeram presidente da ADUFPB e posteriormente, reitor. O processo foi engavetado e até hoje não foi julgado pelo Superior Tribunal de Justiça. E lá já se foram mais de dez anos e também a gratificação. E a legislação vigente garantia o direito a ela. Garantia? Porra nenhuma! As apelações e liminares "desgarantiam".

Fico pensando como seria a pena de morte no Brasil: a cadeira elétrica enferrujaria! Se bem que a pena de morte existiu e existe ainda em nosso País, mas sem necessidade de julgamentos. A ditadura militar executou muita gente e hoje os cofres públicos pagam justas indenizações às famílias dos que perderam a vida. No código de honra dos traficantes de drogas, falhou, morreu. E as milícias e grupos de extermínios estão aí proliferando, e nesses dias terão sindicatos e federações.

Mas agora o"puxa-encolhe" instalou-se no Tribunal Superior Eleitoral. Levou mais de um ano para julgar uma liminar do governador cassado da Paraíba por corrupção eleitoral e, para surpresa geral, o condenou por unanimidade a deixar o cargo, determinando ainda a posse imediata do segundo colocado na eleição para Governador de 2006. Tudo a partir da publicação do acórdão no Diário Oficial. Aí a melódia começou: publica hoje, publica amanhã, publica hoje, publica amanhã e pimba: o condenado por corrupção entrou com nova liminar que foi acatada! E o mais curioso e cômico se não fosse trágico para a Paraíba, é que segundo o próprio TSE a nova liminar em nada pode modificar a decisão já tomada por unanimidade. Apenas mantém o cassado no governo até que haja tempo para julgar o que já foi julgado. Dá pra entender? Não sou jurista. Mas não sou burro. Posso até inventar uma citação em latim: "PROCRASTINARI EST".

Sabe-se que os Ministros Eros Grau e Carlos Ayres mantiveram-se coerentes com suas decisões anteriores e o resto não. Até o Ministro Joaquim Benedito Barbosa Gomes, um dos mais contundentes no julgamento anterior, afrouxou a coisa! Lastimável para a credibilidade da Justiça brasileira.

Mas a culpa toda é de Woody Allen quando afirmou que "a masturbação é fazer sexo com a pessoa que mais você ama". Vou parar com esse assunto pois, de tanto puxa-encolhe, já estou quase gozando...

Elpídio Navarro é professor universitário, dramaturgo e diretor teatral, além de editor do www.eltheatro.com

terça-feira, dezembro 02, 2008

SANTA CATARINA: CATÁSTROFE DA NATUREZA ALIADA A (DESASTROSAS) ATITUDES HUMANAS


Breno Grisi

ATÉ A IMPREVISIBILIDADE DA NATUREZA já vem se tornando previsível!!! Este paradoxo aplica-se a muitas ações da Natureza em diversas regiões do mundo. Alguns poucos exemplos: a tsunami que em 27 de dezembro de 2004 destruiu ocupações humanas litorâneas da Indonésia, Índia... matando cerca de 220.000 pessoas (numa região que já se sabe ser suscetível a terremotos, por sua proximidade a locais com placas tectônicas que se movimentam, o ser humano aproxima suas edificações precárias o máximo possível às ações do mar); o furacão Katrina (que encontrou um ambiente vulnerável a suas ações, devido ao fato de que o ser humano tomou o espaço do "agente de tamponamento" ou defesa natural, que são os pantanais na Louisiana, região no golfo do México altamente suscetível a tais fenômenos da Natureza); em Bangladesh os desastres tornaram-se rotineiros (uma combinação de cataclismos naturais com desflorestamento, degradação e erosão do solo) ; e inúmeros outros exemplos relacionados à ocupação humana em ambientes suscetíveis a cataclismos...

E agora é a nossa vez! Já não bastam os históricos períodos de seca no nordeste... vêm as cheias no sul. Nas costas do estado de Santa Catarina são comuns ocorrências como as que ora vêm acontecendo (há registros de tais ocorrências desde o ano de 1852). Na década de 1970 ocorreu catástrofe similar, com quase 200 mortos. E agora as mortes já passam de 110.

A Natureza participa dessa catástrofe com os anticiclones que são sistemas de alta pressão que, no Hemisfério Sul, originam ventos em sentido anti-horário. Eles são comuns no litoral catarinense e no gaúcho, de onde sopram ventos do Oceano Atlântico em direção ao continente. Isolados, não têm a força de causar grandes estragos e sua duração numa mesma região não costuma ultrapassar três dias. Só que, desta vez, por causa de um bloqueio atmosférico, isso não ocorreu. Até sexta-feira, o anticiclone permanecia no mesmo lugar. Ainda que extraordinária, sua longa permanência não teria causado a tragédia não fosse o fato de um segundo fenômeno: o vórtice ciclônico, que ocorreu simultaneamente. Ao contrário do anticiclone, o vórtice ciclônico é um sistema de baixa pressão que atrai ventos e gira no sentido horário. Como indica o nome, ele funciona como um redemoinho em altitudes médias, e também não é um fenômeno estranho à região. O problema surgiu da combinação com o anticiclone: o vórtice ciclônico suga os ventos imediatamente abaixo dele, levando-os para cima, resfriando-os e provocando novas chuvas. Foi assim, por meio da ação extraordinariamente simultânea de dois fenômenos ordinários, que os índices pluviométricos na região atingiram patamares de dilúvio.

E agora um outro componente agravador da catástrofe: a atitude humana perante as características da Natureza: o solo do Vale do Itajaí, a região mais afetada pelas chuvas, é de composição argilosa, o que faz com que se desloque mais facilmente. Encharcada pela chuva forte e constante, essa camada ficou mais pesada. Somem-se a isso a declividade das encostas, os desmatamentos, as ocupações desordenadas e o resultado são deslizamentos destruidores, o principal causador das mortes no litoral catarinense e no Vale do Itajaí. Como 40% da população local reside em encostas, todas as classes sociais foram afetadas.

E assim estamos sempre dizendo: isso aconteceria em qualquer lugar do mundo!!! Vamos nos resignar!!!

segunda-feira, dezembro 01, 2008

MEMÓRIAS - LOURAS - ESCRITORES, ETC

Geraldo Gomes

Hugo. Tenho lido, com muito prazer, os textos que me envias e, particularmente, me deliciam tuas memórias na querida João Pessoa, onde fiz meu debut profissional, proibido que estava de aparecer no Recife, no longíquo ano de 1966.

A ditadura militar nos obrigava a nos fingirmos de morto para podermos sobreviver e tive a fortuna de encontrar trabalho na Secretaria de Educação da Paraíba onde não sabiam, nem se interessavam, se eu era comunista. Neste caso o atraso nas comunicações me protegeu. A Paraíba era outro país, longe das garras do sanguinolento coronel Ibiapina.

Admiro tua memória e, se não me engano, sei quem é a loura de quem falas, seria a garota da boite "New York" por quem te apaixonaste e chegaste a me apresentar em uma viagem que fiz a João Pessoa, a teu convite?

De qualquer forma devo dizer que escreves muito bem e teus textos deveriam ser preservados de alguma forma. A forma que me ocorreu é a mais tradicional mas, até hoje, ainda é a mais durável; boa parte da história dos egípcios chegou até nós através dos seus papiros, ancestrais de nosso papel. Existe a possibilidade de imprimir tudo o que já escreveste em teus blogs? Já pensaste nesta possibilidade e de reunir esses textos para publicá-los de alguma forma? Gosto muito de ler, como sabes!

Leio tudo, textos didáticos, científicos mas, toda noite, tem de haver, na minha mesinha de cabeceira, algum texto de ficção. Creio, portanto, ter autoridade para dizer quando um texto é bom e bem escrito! É isso, justamente isso, que acho dos teus textos. Tu és um escritor que precisa ser revelado e curtido por leitores anônimos e não somente os teus amigos. Um forte abraço do amigo e leitor agradecido.

ggomess@uol.com.br