quarta-feira, novembro 30, 2011

Amor, ventos e nuvens

José Virgolino de Alencar

Poema falando de amor, nada melhor do que ilustrar com a foto conjunta com a companheira de 33 anos de união, selada com as bençãos do Criador.


O vento tangendo as nuvens
Pinta no céu um quadro multicor;
Como as nuvens, tu para mim vens
Tangida pelos ventos do amor.

Ouço o forte soprar dos ventos,
Vejo as nuvens se acomodando,
Assim como nossos sentimentos
Ao amor vão se ajustando.

A sintonia é perfeita
Entre as nuvens e o vento;
Nossa paixão também é feita
Na perfeição do firmamento.

No movimentar dos ventos, tanger
Nuvens não é ato de rejeição;
O açoite de nosso amor vem a ser
Redemoinho de coração a coração.

As nuvens são levadas pelos ventos,
No céu o cenário é redesenhado;
Porém, o sopro de nossos sentimentos
Faz o amor cada vez mais ficar selado.

Estranhas Maravilhas


Raul Córdula




A arte de Jairo Arcoverde me interessa desde quando descobri um quadro seu pendurado na parede de num banco da parte antiga de João Pessoa, no início da década de 1970. Já tinha ouvido falar dele, pois na cidade existiam alguns parentes seus, e na época tudo lá era ainda menor. Mas meu encontro com sua pintura, embora apenas com aquela tela, foi marcante. Eu era um artista com poucos diálogos além dos limites cotidianos e ingênuos de qualquer província, e nada além dos deslumbramentos que me provocavam os pouco e raros livros de arte que me chegavam às mãos, ou as conversas e instigações com os meus pares jovens artistas. A pintura de Jairo então me revigorou, e revigorou as atitudes de alguns amigos pintores. Não que nós não tivéssemos informações sobre uma arte livre de cânones acadêmicos, e eivada pelo inconsciente com símbolos ancestrais, como era e continua sendo a pintura de Jairo, eu mesmo sempre me aninhei nesta vertente dos sonhos onde Jairo coexiste, mas também porque aqueles tempos tenham sido especiais.



A década de 1970 foi especial e estranha, vista de longe se perde num emaranhado de interfaces como se fosse um filme sem roteiro, mas se analisamos em detalhes encontramos encalhados naquelas tramas enferrujadas algumas ilhas de pensamentos organizados e lembranças de acontecimentos racionais resultantes da procura do sentido perdido na absurda realidade política e social em que vivíamos. O artista da época lutava em duas frentes: para suportar a frustração do seu ego político ferido e para sobreviver na dura realidade do dia-a-dia. Muitos de nós nos dispersamos, alguns por opção, outros por desencanto, mas outros resolveram enfrentar o poder abusivo usando sua arte como suporte para a ideologia política. Não só a arte, mas as próprias atitudes se modificaram. Assolou-nos a idéia do ‘viver perigosamente até o fim’ inspirada por Godard da década passada em “Acossados”. Ele foi um dos ícones da época cujos filmes mediavam com o mundo a atmosfera de uma Paris que se rebelava, um misto de existencialista e maoísta. Para muitos de nós, que vivíamos ecos beatniks, o álcool e a maconha falavam ao pé do ouvido como pequenos demônios de desenho animado, prometendo-nos infernos e paraísos. Vivíamos a utopia do heroísmo e desobedecemos à ordem instituída.

Daí o meu diálogo com a arte de Jairo. De início foi uma fala solitária e distante, mas com a esperança de encontrá-lo, conhecê-lo, trocar idéias, negociar territórios de linguagens que nos eram comuns. Nossa conversa começou ali, naquele banco, bem antes de eu encontrar sua figura batava nas ladeiras de Olinda e saturar minhas retinas com seus quadros iluminados pelo sol. Na casa de Humberto Magno o encontrei um dia bebendo rum na roda de amigos. Na parede um quadro seu com figuras saídas de uma fantasia branca, azul e laranja, figurinhas bizarras pintadas por um homem que trazia consigo o sentido do maravilhoso. Maravilha, eis a palavra que traduz a obra de Jairo, “maravilha” no sentido de algo que pertence a uma dimensão onde as coisas, os objetos comuns que circulam naturalmente, os animais, os insetos, os viventes grandes e pequenos estão carregadas de uma beleza incomum e assustadora, algo que só pode ser concebido num estado de consciência avançado.

Muitas coisas me identificam com isso, uma delas é meu interesse pela garatuja, pelas anotações nos cadernos de recados ao lado dos telefones, pelos símbolos rabiscados nos muros como vaginas, falos e corações, pelos insetos, peixes, tartarugas, centopéias. Um grande poeta paraibano chamado Luis Correia escreveu nos anos 60: “No lugar onde mora Amélia Reis / o tempo é tão imoto e sem aragem / que sobre o corpo dela as unhas crescem / como crescem nas árvores asa bagens. / No lugar onde mora esta menina / o tempo tem raízes tão mortais / que pra frutificar eu estrumei-o / com os mansos e dejetos animais.” Este clima surrealista, onírico, esquizóide, é para mim uma das traduções de “maravilhoso”.

Os artistas irmãos Aprígio e Frederico, aliás, também são ligados a significados das garatujas, como na arte de Jairo. Por exemplo, nos anos 1980 eles fizeram flotagens das marcas deixadas nas calçadas por pedreiros ou pelo povo enquanto o cimentado da calçada estava secando. Com isto Aprígio editou na Oficina Guaianases um álbum de litogravuras intitulado “Das Calçadas de Olinda”. Estas marcas humanas são minha obsessão há muito tempo, em 1965 Antonio Dias escreveu no folheto de uma exposição que fiz na Galeria Verseau, em Copacabana, estas palavras: “Procura no muro a indicação para o registro: não estará escrito ali “abaixo a ditadura”? não estará desenhado ali um coração atravessado por uma flecha?, e principalmente aquelas manchas, não serão elas semelhantes aos personagens desse drama, deformadas marcas de abandono?”

Os sinais que Jairo dispõe judiciosamente em suas telas são certamente memórias da infância que ele desenfreadamente marca nas telas e papéis e, ao mesmo tempo, com isto é levado a uma sabedoria madura. Faz-me lembrar uma famosa anedota sobre Lacan: contam que o grande psicanalista, num jantar em sua homenagem em Beirute, foi assediado por uma bela mulher que se dizia totalmente seduzida por ele. Ele então lhe disse: “Senhora, vou contar-lhe um segredo, eu só tenho cinco anos.” Às vezes Jairo tem cinco, mas outras vezes ele tem cem.

Uma arte assim, que evoca o inconsciente, segue uma vertente que, no período modernista, se alinhava com o surrealismo, embora a história nos aponte Boch, Breugel, Arcimboldo e Goya muito antes dele, entre o século XIV e XVII. O crítico de arte mineiro Frederico Morais, que também atuou na área da educação artísitca, desenvolveu um esquema para classificar as correntes da arte moderna, e para isto ele usou o cartaz como meio. Ele dividiu as correntes artísticas em três: Construção, Caos e Inconsciente. Na Construção ele colocou toda arte de tendência cerebral, desde Da Vinci e outros renascentistas, passando por Cezanne, e o cubismo, e pelas escolas construtivistas como o neoplasticismo de Mondrian, o suprematismo de Malevitch e o concretismo e neo-concretismo brasileiro. Na corrente do Caos ele vem com Goya e passa por Van Gogh, Munch, os expressionistas, e depois as correntes da arte abstrata como a Action Peinting de Polok e Kooning, o taxismo, a nouvelle figuration e a pop art. Entre uma corrente e outra estava os Inconscientes como os naïfes, o surrealismo, o dadaismo e movimentos como o grupo COBRA – Copenhague, Bruxelas e Amsterdam –, e artistas como Paul Klee e Joan Miró. Muitos artistas de nossa geração tiveram forte influência de Klee e Miró, e Jairo é um deles, apesar do fato de não ter tido contato direto com as obras deles. Nosso olhar para este tipo de arte nasceu mesmo dos livros que víamos. Mas, por exemplo, Karel Appel, Cornelle e Alexisnky, do Grupo COBRA, ainda hoje influenciam jovem artistas.

Começamos a pintar adolescentes, na fase da vida em que tudo é importante, tudo é crítico, tudo marca para sempre. Jairo escolheu seu caminho na adolescência, quando ainda estava no curso livre da Escola de Belas Artes. Suas paisagens urbanas retratando sobrados da cidade antiga eram vendáveis, e com isto ele se profissionalizou precocemente, vivendo cedo de vender pintura.

A Escola mantinha um currículo básico que os alunos, jovens artistas que não quiseram se submeter ao curso superior que eram, curiosamente, os que mais cresceram como artistas tinham que acompanhar. Jairo, porém se recusou às regras curriculares. Destacando-se desde o início aos olhos de Lula Cardoso Ayres, ele trabalhava na Escola livremente, e conseguiu com Laerte Baldini, pintor gravador e diretor da Escola, um espaço só para ele.

Passaram pelos cursos livre e superior da Escola artistas como Ismael Caldas, Roberto Lúcio, José Tavares, João Câmara, Roberto Amorim, José de Barros, Arlinda Maciel, Isabel de Albuquerque, Marisa Lacerda, Silvia Pontual e Silvia Barreto. A Escola funcionava na Rua do Benfica. E nela ensinava um time de professores luminares da arte da época, como Reynaldo Fonseca, Vicente do Rego Monteiro, Fernando Barreto e Murilo La Greca, que somente ministravam aulas no curso superior, e ainda Reginaldo Esteves, Laerte Baldini, Roberto Correia, Raquel de Lima e Lula Cardoso Ayres, que também cuidavam do curso livre.

As paisagens pintadas por Jairo nessa época já anunciavam o artista maduro, já se via nelas resolução de problemas pictóricos maduros, como a composição espacial e a textura em harmonia com a cor.

Tive a oportunidade de escrever sobre sua arte, e para tanto enfoquei aspectos de sua vida no seio de sua família, a família de artistas que ele formou ao lado de Betty Gates, sua mulher ceramista e os filhos Marisa, Joana e Leonardo, os três filhos que se dedicam à arte na prole de cinco.

A marca do talento de Jairo ficou gravada nas casas onde viveu com a família no Recife, em Caruaru, e em Olinda, territórios marcados por crônicas de famílias de artistas. Nossa cidade dupla Recife-Olinda é pródiga em famílias de artistas como a dele – mais Recife do que Olinda –, onde a arte é ofício familiar há gerações, desde os ofícios artesanais até os criativos que chamamos arte, especialmente, muito especialmente a arte da pintura. Em Olinda, por exemplo, estão José Cláudio com seu filho Cláudio Manuel (Mané Tatú), ambos pintores; Gilvan Samico com seu filho pintor Marcelo Peregrino, sua mulher Célida e sua filha Luciana, ambas dançarinas; as pintoras Tereza Costa Rego e Laura Gondim, mãe e filha; o pintor Roberto Lúcio e sua filha escultora Marina Mendonça; Maria Carmem e a filha Vera Bastos; Thiago Amorim e seu irmão Marcos; os irmãos Aprígio e Frederico Fonseca; Giuseppe Baccaro e seus filhos, o pintor Matheus e o fotógrafo Francisco; o pintor Humberto Magno, sua ex-mulher Isa do Amparo e seus filhos Paulinho do Amparo, pintor e músico, e Catarina Aragão, artista visual e DJ; Liliane Dardot e Marilah Dardot, sua filha. Eu mesmo sou casado com Amélia Couto, designer, ceramista e fotógrafa, e venho de uma família de artesãos e artistas.

No Recife, Ariano Suassuna é um desenhista importante, exprime graficamente seu universo armorial, e sua esposa Zélia é gravadora e pintora, eles são pais do pintor e ceramista Dantas Suassuna, sogro do pintor e gravador Alexandre Nóbrega e tios do pintor Romero Andrade Lima; temos também Wellington Virgolino com seu irmão Wilton de Souza e os irmãos Vicente, Fedra e Joaquim do Rego Monteiro, da geração do moderna de 22.

Isto é também uma característica no meio dos artesãos, e Jairo viveu entre ceramistas em Caruaru, onde construiu uma casa no Alto do Mouro, o lugar dos artesãos do barro, onde viveu e trabalhou Mestre Vitalino, artista e músico, ele tocava pífano r toda sua família faz os seus bonecos até hoje. No Alto do Moura Betty Gates, mulher de Jairo, desenvolveu cerâmicas com delicados desenhos tirados do imaginário popular e com uma qualidade material sem par. Lá Jairo também sentiu a força do desenho puro, sintético, lacônico, que dão formas às imagens criadas pelos artistas e reproduzidas pelos artesãos, que às vezes os mesmos artistas, como foi o caso de Vitalino, Manoel Eudóxio, Zé Caboclo e Galdino e suas famílias, todos praticantes de uma maneira econômica de criar, algo neolítico em sua simplicidade técnica, e complexo no sentido sociológico do Agreste que trazem estes objetos simbólicos.

O encontro de Jairo e Betty com a cerâmica se deu por influência do mestre artesão Jeter Peixoto. Inicialmente ele construiu um forno à lenha e passou a trabalhar em todas as etapas do processo, cerâmico, desde a preparação do barro até a queima. Os dois se envolveram totalmente com a cerâmica, portanto sua presença em Caruaru, um artista moderno entre naïfes, teve todo o sentido e resultou em circunstâncias importantes para sua obra.

No alto do Moura o casal criou seus filhos vendo arte todo dia e aprendendo com eles e os amigos artesãos que ocupam inteiramente o lugar. Marisa diz sobre seu aprendizado: “Tivemos a iniciação artística em casa sob a batuta de papai e mamãe, nossos pais-mestres. Eles não deixavam por menos, nada de coisa feia ou mal feita, pois o domínio da técnica só se adquire através do treino, do trabalho repetitivo, o exercício nunca termina. Com essas palavras papai nos incentivava. Se o resultado de seu trabalho for bonito, cuide para sempre melhorar, se não, comece tudo de novo. Com eles freqüentamos exposições, ateliês de artistas amigos, museus e galerias. Tivemos de conviver com outros artistas e outros tipos de trabalhos, e ler, ler muito. Desenvolvemos nosso gosto artístico, mas conhecendo e respeitando o gosto dos outros.”

Nos anos 1960, quando Olinda estava sendo descoberta pelos artistas, ele teve ateliê com o pintor Ismael Caldas. É importante esta referência, Ismael sempre foi um artista possuidor de um espírito independente e crítico, assim como Rodolfo Mesquita. Fecho o firo com Humberto Magno, tão independente quanto os dois. De forma alguma quero fazer uma crítica comparativa, até porque este texto para mim é uma crônica, não crítica, mas considero os quatro artistas ligados em suas criações. Eles parecem olhar o mundo do mesmo ângulo, com os mesmos símbolos e sinais, embora suas pinturas sejam tão diferentes. O auto-retrato de Jairo em que com uma mão ele abre um olho e com a outra aponta para este olho aberto é enigma, de um certo ponto ele parece dizer que “não brinquem comigo, eu tenho os olhos abertos”, mas de outro ele estaria dizendo “ponha aqui uma gota de colírio”. Esta forma de ironia plástico-gráfica se exacerba em Rodolfo Mesquita, seu livro “Crítica do Horror Puro” é um exemplo fantástico de contestação. Já Humberto Magno, mais sereno do que Rodolfo e Ismael, esteve na vanguarda nos anos sessenta e transgrediu a ordem do belo e do barroco com uma geometria gritante nas ruas tortuosas de Olinda. Eis um recorte da criação de artistas da mesma geração que passaram pela ditadura eivados de paixão pela liberdade.

Mas como seria uma vida de artista? Uma fogueira de vaidades? Um frenesi de compromissos sociais? Ou se pautaria por uma disciplina monástica, sacerdotal, ascética? Nada disso: a vida dos artistas é como a vida de qualquer cidadão, uma constante mistura de trabalho e reflexão. O artista estuda, cresce, se casa, tem filhos, educa os filhos, faz feira, adoece, paga imposto, se desloca na cidade e conhece a felicidade e o sofrimento, como todo mundo. A vida de Jairo é exatamente assim: acorda e vai pintar; ouve música erudita e jazz, e vai pintar; rega o jardim, arruma qualquer coisa, e vai pintar... Na verdade nós vivemos num eterno agora e num infinito aqui.

Câmara gasta R$ 12 mi com novos micros

Maria Clara Cabral, Folha de S.Paulo

Além da renovação de computadores nos gabinetes, deputados terão tablets e aparelhos nas bancadas das comissões. Casa afirma que iniciativa visa economizar o papel usado para imprimir projetos e documentos relativos às votações

Sob o argumento de que é preciso economizar papel, a Câmara dos Deputados irá instalar 800 computadores fixos nas bancadas de seus 16 plenários, além de adquirir 4.000 micros para renovar o estoque dos gabinetes e das dependências da Casa.Ao custo de R$ 12,2 milhões, a medida será tomada apesar de cada um dos 513 deputados já possuir quatro computadores de mesa nos gabinetes, além de um laptop com acesso à rede sem fio da Câmara.

Os parlamentares, que normalmente são vistos com aparelhos próprios de última geração, também deverão ganhar tablets para uso no plenário principal.

A ideia é instalá-los em todas as bancadas para que o sistema de votações seja acompanhado online. Hoje a votação já pode ser acompanhada em dois grandes painéis e em monitores menores.

A licitação para a compra dos tablets deve acontecer no ano que vem. Apesar de conhecidos pela portabilidade, a ideia é que eles não possam ser retirados do plenário.

NR - Enquanto nos Hospitais... HC

terça-feira, novembro 29, 2011

Mistificação para Mitificar Verdades e Mentiras...


Delmar Fontoura



O que está por trás dessa página de nossa história?...



Infelizmente não permitem que as “feridas” da "Ditadura Militar" cicatrizem; que haja luz sobre as verdades e mentiras e muito menos querem saber em que contextos ocorreram suas causas e consequências... Só estimulam o extremismo de paixões e sentimentos de revanchismo, pela “derrota” ou pela “conquista” que não houve... ...pois sabemos que só houve perdas...

Por que não buscam respostas para as seguintes indagações:

- Em nome do que os militares tomaram o poder em 64?

- Se foram tão maus, como muitos afirmam, o foram por quê?

- Comparados aos “supostos agentes do mal”, contra os quais afirmam terem se insurgido, quem cometeu mais erros de gestão ou roubou mais dos Cofres Públicos?

- Se têm notícia de que algum militar, presidente ou não, tenha aumentado seu patrimônio desproporcionalmente ao seu “Soldo” durante os 24 anos que estiveram no poder?

- E Lula, Dilma, Dirceu, Palocci, Sarney, Collor, Renan e outros tantos, exemplos de dignidade e ética ilibada, em 8 anos quanto aumentaram seus patrimônios?

E não me venham com a “estória das torturas”, que, embora descabidas, ocorreram em tempos de exceção, pois eu argumentarei indagando: em nome do que, uma e somente uma tortura, a de Celso Daniel, praticada em tempo de paz, foi tão covarde e cruel comparada a todas, que alegam terem sido praticadas pelos militares em tempos de exceção...

Que senso de justiça é esse através do qual querem punir “aqueles” e isentarem “esses”?

Se “aqueles” maus ensarilharam suas armas nos quartéis,
por que “estes” não ensarilham seus espíritos nos cordéis?

Por que o personalismo maniqueísta de um lado enuncia “heróis e vilões” quando sabemos que não houve... ...colocam o real na nebulosidade da dúvida ao continuarem avivando essas “feridas” e negando luz sobre as verdades e mentiras, que se confundem na covardia do anonimato, mas por quê? Porque, nesse caso, nem as supostas “verdades e mentiras são nobres”, pois, entre elas, existem falsos sentimentos tanto de júbilo quanto de dor, “rescaldo” de uma batalha entre irmãos da qual não resultaram vencedores, muito menos vencidos, mas que já está gravada como uma mácula em nossa história...

Ora gente! Chega de mistificação com essa tentativa de mitificar verdades e mentiras de nossa história tão recente...

Do: http://jpfontoura.blogspot.com/

Um Novo Padim Ciço

Anderson Scardoelli

"Câncer vai fazer Lula se tornar o padre Cícero", diz articulista do Estadão

Autor do livro O que sei de Lula, o editorialista do Jornal da Tarde e articulista do Estadão, José Nêumanne Pinto, revela que fará uma segunda edição da obra, originalmente lançada em agosto deste ano. O motivo é a doença enfrentada pelo ex-presidente da República. "O câncer vai fazer Lula se tornar o padre Cícero”, disse ao participar do evento “Liberdade de Imprensa X Politicamente Correto, realizado nesta última segunda-feira, 28, em São Paulo.

Ao citar a doença de Lula – que já faz sessões de quimioterapia para eliminar um tumor na laringe -, o jornalista referiu-se ao religioso cearense Cícero Romão Batista (1884 - 1934), primeiro prefeito de Juazeiro do Norte (CE). Além da vida dedicada à política e ao sacerdotismo, Padre Cícero é considerado santo por muitos fiéis da Igreja Católica. Na cidade em que foi prefeito, há uma estátua de 27 metros de altura em sua homenagem.

Nêumanne acredita que a doença de Lula vai comover a maioria dos brasileiros, tornando-o um mito, não apenas por razões políticas, mas pelo fato de ser um cidadão comum que passa a protagonizar uma verdadeira jornada de herói. “O povo ama o Lula porque tem nele a figura exata do que é um brasileiro”. Esse grau de devoção fará o poder do líder petista crescer até mesmo dentro de seu partido, avalia Nêumanne. “Ele vai fazer o que quiser com o PT e com o Brasil”.

Nêumane não poupou críticas a Lula

De acordo com o jornalista do Grupo Estado e comentarista do SBT e da rádio Jovem Pan, a ascensão progressiva da imagem de Lula coincide com a fragilidade da oposição. Segundo o analista, PSDB e DEM são “coniventes” com a corrupção e a má gestão lideradas pelos governos do PT. Nêumanne Pinto afirma que os tucanos não venceram as duas últimas eleições presidenciais porque não quiseram. “Conseguiram fazer um ex-ministro da Saúde perder para uma mulher que mal consegue falar a Língua Portuguesa”, lembrou.

Amizade
Sobre as afirmações contidas no livro, Nêumanne explicou que realmente sabe muitas histórias de Lula. Em sua fala no evento, as palavras “amizade” e “convívio” sobressaíram como forma de fundamentar as análises acerca das atitudes do petista, principalmente antes do engajamento no campo político-partidário.

Apesar das diversas críticas, o jornalista garante que sua amizade com o ex-presidente não acabou. Perguntado pela reportagem do Comunique-se a respeito de seu relacionamento com o petista, Nêumanne esclareceu. "Quando ele (Lula) decidiu entrar para a política, disse que era um erro e acabamos nos afastando. Minha opinião se mostrou equivocada, pois ele não só ingressou na política como se tornou o maior político da história do País”. O jornalista, porém, crê na simpatia de Lula. “Ele ainda fala bem de mim, até porque não gosta de ler nenhum artigo e não sabe o que escrevo sobre ele”, completou, provocando risos na plateia.

A história do dedo
Aberta ao público para perguntas, a apresentação de Nêumanne não escapou à polêmica sobre a perda do mindinho da mão esquerda de Lula. “É a mesma história das outras contadas pelo Lula: ele sempre é o herói e sempre tem um filho da p... para atrapalhar”, explicou. Segundo o jornalista, Lula lhe contou a versão do acidente somente dez anos depois do ocorrido.

O ex-presidente estaria trabalhando no torno quando um colega bêbado chegou e prensou seu dedo; que ficou trabalhando porque o patrão não o deixou ir ao médico; que depois do expediente foi levado por alguns amigos para o pronto-socorro, mas que o médico amputou o dedo por comodismo. “Aí, eu pergunto: quem era esse bêbado? Quem era o patrão? Quem eram esses amigos? Quem era o médico?”, indagou, respondendo em seguida: “Ninguém sabe!”

A verdade: eu menti.


Mírian Macedo





A JORNALISTA MIRIAN MACEDO REVELA QUE FOI TERRORISTA NA JUVENTUDE, FOI PRESA E MENTIU DURANTE 30 ANOS QUE FOI TORTURADA. A JORNALISTA AFIRMA QUE O ATOR MÁRIO LAGO ORDENAVA QUE TODOS MENTISSEM AO SAIR DA CADEIA E DECLARASSEM QUE QUE FORAM BARBARAMENTE TORTURADOS.

Eu, de minha parte, vou dar uma contribuição à Comissão da Verdade, e contar tudo: eu era uma subversivazinha medíocre e, tão logo fui aliciada, já 'caí' (jargão entre militantes para quem foi preso), com as mãos cheias de material comprometedor.

Despreparada e 'festiva', eu não tivera nem o cuidado de esconder os exemplares d'A Classe Operária, o jornal da organização clandestina a que eu pertencia (a AP-ML, ala vermelha maoísta do PC do B, a mesma que fazia a Guerrilha do Araguaia, no Pará).

Os jornais estavam enfiados no meio dos meus livros numa estante, daquelas improvisadas, de tijolos e tábuas, que existiam em todas as repúblicas de estudantes, em Brasília naquele ano de 1973.

Já relatei o que eu fazia como militante*. Quase nada. A minha verdadeira ação revolucionária foi outra, esta sim, competente, profícua, sistemática: MENTI DESCARADAMENTE DURANTE QUASE 40 ANOS!* (O primeiro texto fala em 30 anos. Eu fui fazer as contas, são quase 40 anos, desde que comecei a mentir sobre os 'maus tratos'. Façam as contas, fui presa em 20 de junho de 73. Em 2013, terão se passado 40 anos.)

Repeti e escrevi a mentira de que eu tinha tomado choques elétricos (por pudor, limitei-me a dizer que foram poucos, é verdade), que me deram socos e empurrões, interrogaram-me com luzes fortes, que me ameaçaram de estupro quando voltava à noite dos interrogatórios no DOI-CODI para o PIC e que eu passava noites ouvindo "gritos assombrosos" de outros presos sendo torturados (aconteceu uma única vez, por um curto período de tempo: ouvi gritos e alguém me disse que era minha irmã sendo torturada. Os gritos cessaram - achei, depois, que fosse gravação - e minha irmã, que também tinha sido presa, não teve um único fio de cabelo tocado).

Eu também menti dizendo que meus algozes, diversas vezes, se divertiam jogando-me escada abaixo, e, quando eu achava que ia rolar pelos degraus, alguém me amparava (inventei um 'trauma de escadas", imagina). A verdade: certa vez, ao descer as escadas até a garagem no subsolo do Ministério do Exército, na Esplanada dos Ministérios, onde éramos interrogados, alguém me desequilibrou e outro me segurou, antes que eu caísse.

Quanto aos 'socos e empurrões' de que eu dizia ter sido alvo durante os dias de prisão, não houve violência que chegasse a machucar; nada mais que um gesto irritado de qualquer dos inquisidores; afinal, eu os levava à loucura, com meu enrolation. Eu sou rápida no raciocínio, sei manipular as palavras, domino a arte de florear o discurso. Um deles repetia sempre: "Você é muito inteligente. Já contou o pré-primário. Agora, senta e escreve o resto".

Quem, durante todos estes anos, tenha me ouvido relatar aqueles 10 dias em que estive presa, tinha o dever de carimbar a minha testa com a marca de "vítima da repressão". A impressão, pelo relato, é de que aquilo deve ter sido um calvário tão doloroso que valeria uma nota preta hoje, os beneficiados com as indenizações da Comissão da Anistia sabem do que eu estou falando. Havia, sim, ameaças, gritos, interrogatórios intermináveis e, principalmente, muito medo (meu, claro).

Torturada?! Eu?! Ma va! As palmadas que dei em meus filhos podem ser consideradas 'tortura inumana' se comparadas ao que (não) sofri nas mãos dos agentes do DOI-CODI.
Que teve gente que padeceu, é claro que teve. Mas alguém acha que todos nós que saíamos da cadeia contando que tínhamos sido 'barbaramente torturados' falávamos a verdade?

Não, não é verdade. A maioria destas 'barbaridades e torturas' era pura mentira! Por Deus, nós sabemos disto! Ninguém apresentava a marca de um beliscão no corpo. Éramos 'barbaramente torturados' e ninguém tinha uma única mancha roxa para mostrar! Sei, técnica de torturadores. Não, técnica de 'torturado', ou seja, mentira. Mário Lago, comunista até a morte, ensinava: "quando sair da cadeia, diga que foi torturado. Sempre."

Na verdade, a pior coisa que podia nos acontecer naqueles "anos de chumbo" era não ser preso(sic). Como assim todo mundo ia preso e nós não? Ser preso dava currículo, demonstrava que éramos da pesada, revolucionários perigosos, ameaça ao regime, comunistas de verdade! Sair dizendo que tínhamos apanhado, então! Mártires, heróis, cabras bons.

Vaidade e mau-caratismo puros, só isto. Nós saíamos com a aura de hérois e a ditadura com a marca da violência e arbítrio. Era mentira? Era, mas, para um revolucionário comunista, a verdade é um conceito burguês, Lênin já tinha nos ensinado o que fazer.

E o que era melhor: dizer que tínhamos sido torturados escondia as patifarias e 'amarelões' que nos acometiam quando ficávamos cara a cara com os "ômi". Com esta raia miúda que nós éramos, não precisava bater. Era só ameaçar, a gente abria o bico rapidinho.

Quando um dia, durante um interrogatório, perguntaram-me se eu queria conhecer a 'marieta', pensei que fosse uma torturadora braba. Mas era choque elétrico (parece que 'marieta' era uma corruptela de 'maritaca', nome que se dava à maquininha usada para dar choque elétrico). Eu não a quis conhecer. Abri o bico, de novo.

Relembrar estes fatos está sendo frutífero. Criei coragem e comecei a ler um livro que tenho desde 2009 (é mais um que eu ainda não tinha lido): "A Verdade Sufocada - A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça", escrito pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Editora Ser, publicado em 2007. Serão quase 600 páginas de 'verdade sufocada"? Vou conferir.

http://blogdemirianmacedo.blogspot.com

Via Láctea!

Téta Barbosa

Via Láctea (que sempre me lembra farinha láctea) é um dos poucos poemas que sei decorado. Uma parte só, pra ser sincera, porque o poema, de tão longo, parece aquele crédito inicial de Star Wars, que vai subindo a história do universo e não acaba nunca.

Não sei exatamente porque decorei justamente um poema de Olavo Bilac, por quem não tenho nenhum laço afetivo particular. Acho até ele meio chato. Meio exagerado. Drama Queen total.

Mas, sempre que preciso passar por intelectual, normalmente para impressionar alguém, lá estou eu recitando Via Láctea como se Olavo fosse meu best friend de infância e me seguisse no twitter.

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” (…)
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

Acho bonito. Só essa parte. E, costumava olhar para o céu (aqui em Aldeia dá para ver estrelas) e pensar nessa parte do poema. Até que um dia, uma amiga disse que céu estrelado lembra um rosto cheio de espinhas.

Odeio gente realista.

Lá se foi todo romantismo literário do firmamento. Isso porque da Lua eu nunca gostei. Não sei, acho ela meio prepotente. Meio amostrada demais. Acho caído esse negócio de São Jorge morar lá num cavalo branco. Se fosse verdade, ele já teria tentado suicídio de tanto tédio. E, como li no livro de Lula Falcão uma frase de Maiakovoski : “prefiro morrer de vodka do que de tédio”, São Jorge deve ter enchido a cara pra não cortar os pulsos.

A lua é um tédio só. É por isso que os americanos foram lá, fincaram a bandeira gringa e deram meia volta na mesma hora.

- Oxe, e a gente ia ficar fazendo o que lá? Disse Neil Armstrong quando desceu do Apollo 11.

Hoje a noite não tem estrelas. Não tem lua. Deve tá rolando uma greve celestial encabeçada pela estrela cadente que tá puta com tanto pedido!

Você já viu uma estrela cadente? Se viu, já fez um pedido? Se fez, ele foi atendido?

A resposta é não, porque a estrela cadente é, na verdade, um corpo celeste formado por plasma. E, desculpem a sinceridade, mas plasmas não costumam atender pedidos!

Moral da história: estrelas são espinhas de plasma e São Jorge, que morava na lua, morreu de cirrose hepática.

Melhor dar um unfollow em Olavo Bilac e seguir com a vida.

No mais, uma ótima semana para você!

*Oficialmente no meu inferno astral! (porque, como diria Nietzsche “É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela.”)

Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa aqui e alhures. Ela também tem um blog - http://www.batidasalvetodos.com.br/

Video Clipe do Dia

O que nos anestesiou?

Do leitor do Blog do Ricardo Noblat que se assina Luiz Alberto

Em que estação da história deixamos a ética, a vergonha na cara, a coragem e a verdade? Por que defendemos com unhas e dentes o lixo ideológico como se fosse um primado político? O que nos anestesiou, ou nocauteou nossas virtudes mais básicas, para aceitarmos as imposições de uma ralé moral que acabou dominando o cenário? Por que gente desprovida de limites nos domina, nos explora e nos engana? Qual a diferença que existe entre os exploradores externos sem escrúpulos que colonizaram nosso passado e os medíocres colonizadores internos que escravizam nossas mentes e nossa dignidade? Laços fora Brasil. Libertas e seras tamen.

segunda-feira, novembro 28, 2011

Montpellier Part 2



Será preciso dizer que a virtuose é a minha linda netinha Naomi Caldas, Bibi para os íntimos? Pois é, avô de artista é assim, babão todo! HC

Cadê o doce mundo prometido?

José Virgolino de Alencar


Cadê aquele doce mundo que me prometeram, quando ainda criança me ensinaram e quiseram me convencer de que eu estava entrando no caminho da felicidade e me foi assegurado o jardim do Éden? Eu entrei nesse mundo cheio de esperanças, aprendi que a fé me levaria a uma vida sadia e à salvação, depois de cumprir todas as jornadas na terra.


Realmente tive, quando criança, direito a todas as brincadeiras, umas sadias, outras nem tanto, mas perfeitamente justificáveis para aquela fase da vida. Vadiava, pulava, jogava peladas, traquinava nadando pelos rios de minha aldeia, comia frutas, às escondidas, nas propriedades ribeirinhas, fazia muitas travessuras inocentes, enquanto aguardava com animada expectativa o doce mundo que me prometeram.

Adolescente, já sonhava com o mundo perfeito que profeticamente viria, cantava as canções e hinos que me ensinaram, prometendo que aquelas lições eram a base da cidadania, da construção de uma vida vitoriosa, gloriosa, bastando ser um cidadão aplicado, devidamente ajustado às normas da convencionalidade que ditava seguros caminhos para o futuro.

Entre os sonhos e utopias que ia aprendendo, curioso me perguntava em que bases as lições me garantiam que eu iria encontrar um mundo imaculado, perfeito, porque afinal também me ensinaram que ele tinha sido feito pelo Criador, onipotente, onipresente e onisciente, infalível enfim.

Ao entrar na escola formal, a mente evoluindo e já tendo capacidade de pensar, cada vez mais aguçava a curiosidade sobre a verdade das lições, porque começava também a assistir as contradições do mundo, as guerras, as violências, as desigualdades, as grandes riquezas, as imensas pobrezas, as doenças que matavam crianças, adultos e idosos.

Um ponto de dúvida me assaltava, muita coisa na minha cabeça não via compatibilidade entre as lições ensinadas e a realidade observada. Os questionamentos bateram forte, sacudiram os neurônios do raciocínio e da inteligência, para formar uma visão crítica do mundo.

Vivendo na corrente e sob os ventos que sopram nossa vida, levando para caminhos que nem sempre a gente deseja, o tempo passou como um relâmpago e aqui me encontro, já na terceira idade, consciente de que muito fiz, muito construí, muito colaborei para um mundo melhor, venci na vida, se considerarmos as conceituações vigentes, mas o doce mundo que me prometeram quando criança, decididamente, não vi, não creio que veja mais.

Mesmo achando que vale a pena sonhar, não seguro mais os sonhos com o ânimo e a fé dos primeiros anos de vida. E continua na cabeça a indagação: cadê o doce mundo que me prometeram quando criança?

domingo, novembro 27, 2011

Video Clipe do Dia - Montpellier Part 1



Espetacular performance de Trajano (filho) e Trio Alegria (netos Bibi, Tatá e Gabriel) em recital na cidade de Montpellier França, onde moram. O Vô aqui está como todo avô que se preza, estupefato, pasmado e aturdido, mas absolutamente feliz, apesar da saudade. Amanhã tem mais! HC

FALSO RECUERDO - O meu amigo Graça


Hugo Caldas

Em 30/11/2007


Conheci Graciliano de Almeida Chacon ainda na década de 60. Revolução saindo do ovo da serpente. Éramos professores de matemática e história em um cursinho na Conde da Boa Vista e de onde estávamos instalados no quinto andar do Edifício Santa Inês, nos favorecia uma ampla visão das passeatas quase que diárias na avenida, bem como a repressão da policia montada do Esquadrão Luis Cardoso.

Atravessamos incólumes os anos de chumbo. De súbito o Graça desapareceu. Pensei no pior. À época era comum alguém sumir no oco do mundo. Às vezes por vontade própria. Às vezes forçado. Às vezes as pessoas iam embora para não mais voltar. Não sei o que motivou o seu desaparecimento.

Nos reencontramos, quase ao final da década de setenta, já deixando de lado o magistério, em uma firma de exportação. "Fateixa, Comércio & Exportação Ltda". Nome pomposo para tentar vender no exterior umas bugigangas da OA (Ocean Atlantic) uma grife do maior sucesso à época.

O Graça se dizia muito mal amado, sem sorte mesmo. Havia casado e não era feliz. Nem tivera filhos. Por força do ofício, passávamos grande parte do tempo viajando. Adorava quando saia de viagem. Quinze ou trinta dias fora de casa eram um bálsamo para ele. A mulher, dizia, lhe arranjava mil e umas. Ele, pelo seu lado dava o troco. Certa noite solitária e fria em Chicago, estávamos bebericando, jogando conversa fora, no piano bar do hotel quando, feito andorinhas, um bando de garotas se aproximou de nós dois. Constatei que o tipo de abordagem é universal.

- Alguém aí tem fogo? Que horas são?

Havia um imenso relógio na parede bem em frente. Uma lourona interessante, de nome Cindy logo se bandeou para o Graça. Eu me contentei em bater papo com uma india Apache bem simpática de nome "Pink Cloud". Por incrível que pareça conversamos boa parte da noite sobre o cinema de Glauber Rocha. A admiradora tinha visto recentemente, "Terra em Transe" pela enésima vez. Podem vocês muito bem avaliar o tanto de volúpia e sensualismo da minha noite.

Lá pelas tantas decidi ir dormir, sem a índia, evidentemente, pois só o sacrifício de tirar toda a roupa já seria demais. Um frio do bute. Mas o Graça, não. Ele não estava nem aí. Faria o que estivesse ao seu alcance para dar uma corneada na mulher. Ah, disso não abriria mão. Não voltou para o quarto, só reaparecendo quando o sol já ia alto. Disse-me depois que foi uma noite de loucuras. Acredito. Pelo riso cretino estampado na cara.

A respeito da sua jovem esposa, ainda hoje tudo é motivo de aborrecimento para o Graça. Diz, por exemplo, em tom professoral, que a sua mulher simplesmente despreza, não faz caso de uma das maiores invenções do engenho humano. A rosca. Parece brincadeira mas nunca que ela fecha qualquer rosca. Seja de garrafa térmica, ou frasco de adoçante dietético. Teve rosca, ela não usa. Ou melhor, não fecha. O pobre do Graça sempre na maior aflição para que o café não esfrie e o dietético não esparrame pela mesa. Agora deu de roncar à noite e dormir a seu lado tornou-se absolutamente insuportável. Suas abluções matinais, quando inicia o seu ritual particular de lavagens, são impertinentes. De uns tempos para cá se deu ela ao temerário desplante de freqüentar uma seita, aquela mesma que tentou salvar o Tim Maia. Virou praticante empedernida. Para ela, tudo na vida agora tem uma razão de ser e de viver, mercê os grandes ensinamentos dos espíritos de luz e do Mestre Tashiro Yamamoto. Uma chatice monumental.

Voltamos eu e o Graça, à Chicago um ano e meio depois e soubemos que a Cindy havia morrido. Vítima de aids. Foi um choque. Muito mais para o meu amigo e vocês lembram da noite de loucuras que resultou naquele riso cretino estampado na sua cara lavada.

Pois bem, arquitetou o Graça maléfico plano contra sua dadivosa esposa. Havia lido em alguma revista velha encontrada em algum consultório médico que às vezes pessoas que tiveram contato direto com o vírus não apresentam sintomas nem estão devidamente contaminadas. Mas carregam consigo o funesto vírus e podem inocular outras pessoas. Sua vingança seria maligna.

Voltou da viagem mais amoroso do que nunca. Não tinha noite que o fizesse esquecer as suas obrigações matrimoniais. Era muito amor.

Mas os chatos não morrem...

O tempo passou, a empresa fechou, mudei de profissão. Os nossos caminhos se separaram. Certo dia encontrei em um café muito do chic no Shopping Center ela, a esposa do Graça. Disse-me quando por ele perguntei que o meu amigo havia passado dessa para uma melhor. Havia morrido de uma moléstia misteriosa. Foi definhando, definhando, ficou só pele e osso e finalmente bateu as botas. Deixou-a porém, em boa situação financeira pois ela, prevenida como sempre, havia feito um seguro de vida no nome dele cuja beneficiária era ela própria. Já até havia comprado um carro. Agora ninguém mais a segurava. É os chatos não morrem mesmo. Ao final da conversa pagou com cartão e saiu toda serelepe. Foi quando eu percebi que havia deixado a garrafa térmica e o adoçante abertos. Deixara as roscas sem fechar.

Pobre Graça.

sábado, novembro 26, 2011

A Foto do Dia


Tirem as crianças da sala.....

O Millôr Nosso de Cada Dia

"Além de transformarem o Brasil num cassino, viciaram a roleta"!

Este País só seria rico e sem pobreza:


Delmar Fontora





- Se fosse um País com soberania autêntica;
- Se fosse um País sem desonestidade na política;
- Se fosse um País com Poderes “autônomos”;
- Se fosse um País sem “dependência” de Poderes;
- Se fosse um País com Imprensa independente (sic) (livre);
- Se fosse um País sem “freio na verdade”;
- Se fosse um País de eleitores conscientes;
- Se fosse um País sem políticos inconscientes;
- Se fosse um País com “oposição” autêntica;
- Se fosse um País sem “posição” autocrata...

...Mas para que fosse tudo isso teria que ser um País sem o Neolulopetismo...

Pois é, mas quem permitiu, colaborou e colabora para que o Neolulopetismo tenha amealhado tanto poder?

Ninguém sabe?
Sabe, mas não quer falar?
Sabe, mas não pode falar?
Sabe, mas se falar vai perder com isso?
Sabe, mas se falar pode, até, “morrer”?...

Ora! Mas por que digo o que digo? Porque a Lógica nos induz a concluir que os “casos de corrupção” de nosso conhecimento correspondem, somente, a parte do “iceberg” que esta acima da linha... ...os outros 90% estão na Fossa Abissal do mar de lama que grassa pelos corredores e porões das três Casas do Governo... ...todo esse aparelhamento foi estabelecido para manter o “status” do egocentrismo de Lula enquanto no Poder de direito, agora, no “poder de fato”, o “statu quo” se mantém para apagar as pegadas” que deixaram da governança e da campanha do Neolulopetismo para eleger Dilma?...

Eles foram tão “longe” que, agora, se vêm na contingência de se colocar acima do bem e do mal... ...convictos, de que ninguém os impedirá de continuarem tudo isso, agindo como uma “máfia”, para encobrir a “terrível e ameaçadora verdade” que está por trás das ações de seus “crimes políticos”, e “nem tão políticos”!...

Caímos e ficamos, inertes, na vala comum que o Neolulopetismo cavou para nos cobrir... ...pois querem que fiquemos comentando os “crimes políticos e nem tão políticos” que cometem diuturnamente... ...Precisamos analisar os “fatos” para concluirmos que dispositivos nossa Soberania Democrática contem para que, postos em prática, possam alijar, da política convencional brasileira, este monstro e sua gosma, que é o Neolulopetismo...

Video Clipe do Dia



E Viva o Brasil!

A Pausa Que Refresca


Eduardo Almeida Reis






Tiro&Queda 26.11.11 sábado

Bengalas – Ortopedista e traumatologista, o Dr. Eduardo Amaral Gomes deu-nos bela matéria sobre como e quando usar bengala, na edição de 7 de novembro aqui do Estado de Minas. Informa o ilustre xará que as pessoas são resistentes ao uso de bengalas, dizendo ao médico: “Não sou tão velho assim”, ou “Não tenho idade para usar bengala”, ou “O que os meus amigos vão pensar?”.

É assunto que manjo bem, porque usava bengala quando me mudei para Belo Horizonte há 15 anos. Não sei por que usava, mas me lembro que usava e o bastão de madeira, com a extremidade superior em forma de meio-círculo, fazia um sucesso danado. Na festa de inauguração de um museu próximo da Praça da Liberdade, onde havia uma só cadeira, adivinhem o galã que nela se assentou? Senhoras e senhoritas, quando me traziam drinques e salgadinhos, perguntavam: “O senhor está bem?”. Estava ótimo, até porque adoro ser paparicado.

Bengalas são incompatíveis com certas situações. Um exemplo: bufê de comida a quilo. Não dá para empurrar a bandeja, segurar a bengala e apanhar com a colher imensa uma pouca da farofa de bacon, que fica sempre “do lado de lá” da platibanda que prefiro.

Há bengalas ótimas em tempos bicudos como os atuais. Algumas têm embutido imenso punhal, que mais parece um florete para trespassar o bandido que ataca o homem de bem; outras se transformam em revólveres com meia dúzia de projéteis para mandar o bandido desta para a pior.

A minha, que continua guardadinha no armário, não tem revólver ou florete: é de madeira e tem a extremidade superior em semi-circulo; o xará diz que o tipo em forma de T é melhor. Releva notar que houve tempo, não muito distante, em que a esmagadora maioria dos homens sérios usava bengala. Não por necessidade, mas pelo chiquê do bastão de madeira, às vezes encastoado em ouro.

Epa!, que o verbo encastoar pegou bem à beça. Significa “aplicar castão a” e castão é ornato na parte superior de bengalas, bastões etc. Gosto de encastoar o texto com essas tolices, que não fazem mal a ninguém.

IDH – Em que país vivem dona Dilma e o doutor honoris causa? É a pergunta que me ocorre depois de comprar uma quentinha. O Taj Mahal é vizinho do restaurante de comida a quilo, onde almoça Cristina, a mais doce das morenas belo-horizontinas. São 10 metros de calçada. Pois muito bem: não raras vezes, para não dizer quase todo dia, nos 10 metros aparecem patrícios pedindo que lhes pague os almoços. É constrangedor dizer que não tenho o dinheiro, porque tenho e está no bolso. De outra parte, se sair pagando almoços por aí, não me sobra um ceitil, moeda portuguesa do tempo de D. João I (1385-1433).

Ministério – No jargão das donas de casa de antigamente, ministério era o conjunto de empregados domésticos. Se madame tinha cozinheira, copeiro, babá e jardineiro, agradecia quando lhe ofereciam novo empregado: “Merci, mas o meu ministério está completo”.

Merci corria por conta do francês que todas falavam e muitas sobreviventes ainda falam. Carmelo Bonet (“A Técnica Literária”) ensina: “ministro é hoje um personagem de alta hierarquia. Antigamente, era da menor categoria: o criado, o servo (minister,tri)”.

Argentino, Bonet viu o peronismo transformar os ministros em personagens da mais baixa extração. Os brasileiros temos visto, nos últimos anos, ministérios compostos por gente inqualificável. E o leitor de Tiro&Queda, perplexo, vem de constatar que já andei lendo sobre técnica literária. Mais grave que isso: fiz palestra numa Universidade Federal para mestres e universitários de letras. Alfim e ao cabo, de pretensão e água benta cada um toma a que quer.

O mundo é uma bola – 26 de novembro de 1764: proibida na França a Companhia de Jesus. Que diabo haverá com os jesuítas, que, de vez em quando, são proibidos num país? Para conhecê-los, nada melhor do que a leitura de “Os Jesuítas”, de Malachi Martin, S.J. É de cair o queixo.

Em 1801, Charles Hatchett anuncia a descoberta de um novo elemento, a que deu o nome de colombium, redescoberto no final do século, quando recebeu o nome de nióbio. A partir daí, tudo que envolve nióbio é meio misterioso, pelo menos para um sujeito que só estudou pecuária leiteira.

Em 1930, criação do nosso Ministério do Trabalho, hoje do Trabalho e Emprego, que anda ou andou às voltas com a administração do inacreditável Carlos Roberto Lupi.

Ruminanças – “Não aguento mais as notícias de que fuzis e bazucas são privativos das forças armadas. É óbvio que não devem ser manejados por adolescentes” (R. Manso Neto).


sexta-feira, novembro 25, 2011

A Charge do Dia

A Frase do Dia

O deputado Paulo Pereira da Silva, o tal Paulinho da Força, acaba de mostrar quantos neurônios tem, ao pronunciar a seguinte frase: "Não dá para aceitar que a imprensa fique derrubando ministro de 15 em 15 dias." Uma frase histórica, digna de placas a serem fixadas na CUT e na Câmara. Nobre deputado, quem derruba ministro não é a imprensa, não lhe informaram isso? Eles estão caindo porque são ladrões do erário e foram denunciados por uma imprensa não comprometida com esse governo corrupto. E mais, um rato decapitado há cada 15 dias é pouco. Se o Judiciário fosse independente, se o Legislativo não tivesse sido comprado e o Executivo perdesse a chave do cofre, todo o governo seria derrubado em um só dia. E as quadrilhas (inclusive a sua), eufemisticamente chamadas de partidos políticos, seriam imediatamente extintas para o bem do Brasil e em respeito ao cidadão.

Humberto de Luna Freire Filho hlffilho@gmail.com para O Estado de São Paulo





Os trilhos da Copa

Sandro Vaia

Quando você começa a se acostumar com a idéia de que, apesar das evidências de que mentiu, o ministro Carlos Lupi continuará no cargo até a reforma ministerial, eis que surge na avenida um novo samba enredo.

Enquanto o ministro que ama a presidenta está garantido por mais alguns meses, o outro, Mario Negromonte, das Cidades, (na foto) que já andava na berlinda há alguns meses, é acusado agora de facilitar uma fraude que aumenta em 700 milhões os gastos previstos para um projeto de mobilidade urbana a ser realizado em Cuiabá (MT), para a Copa do Mundo de 2014.



O truque foi relativamente simples: havia no ministério um processo para a construção de uma linha rápida de ônibus em Cuiabá, ao custo de 500 milhões de reais. O governo de Mato Grosso alterou o projeto para a construção de um VLT ( Veículo Leve Sobre Trilhos) que custaria 1,2 bi, 700 milhões a mais do que o projeto original.

NR - Em verdade vos digo: Virou rotina e a bola da vez agora é Ministério das Cidades (existe isso?) vamos pagar pra ver no bode que não vai dar. HC

Será!?

Não seria fantástico?

Já que colocam fotos de gente morta nos maços de cigarros, por que não colocar também:

de gente obesa em pacotes de batata frita,
de animais torturados nos cosméticos,
de acidentes de trânsito nas garrafas e latas de bebidas alcoólicas,
de gente sem teto nas contas de água e luz, e
de políticos corruptos nas guias de recolhimento de impostos?










Video Clipe do Dia



O clipe já tem um tempinho. Por onde anda o Negão simpático, cantor das verdades que continuam atualíssimas? HC

quinta-feira, novembro 24, 2011

Ziraldo Condenado


Criador do Menino Maluquinho, cartunista Ziraldo é condenado a mais de dois anos de reclusão

Caneta pesada – Diz a lenda que a justiça divina tarda mas não falha, mas em alguns casos a justiça terrena também segue o mesmo caminho. Pelo menos é o que se depreende de uma decisão da Justiça Federal no Paraná, que na quarta-feira (23) proferiu sentença contra os integrantes do grupo que fraudou o 1º Festival de Humor Gráfico das Cataratas do Iguaçu, realizado em 2003.

O juiz federal Mateus de Freitas Cavalcanti Costa condenou os envolvidos na fraude a penas diversas, como pode ser conferido na íntegra da sentença condenatória. Entre os sentenciados está o cartunista Ziraldo Alves Pinto, criador do “Menino Maluquinho”, e seu irmão Zélio. De acordo com a denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal, o Festival de Humor das Cataratas do Iguaçu arrecadou R$ 525 mil através de convênios com diversos órgãos oficiais, como Embratur, Governo do Estado do Paraná e Prefeitura de Foz do Iguaçu. Ainda segundo o MPF, “o Festival do Humor proporcionou aos denunciados o benefício consistente em contratar diretamente suas empresas gráficas e publicitárias”.

Polêmico desde o início, o escândalo foi revelado em primeira mão, à época, pelo jornalista Hélio Lucas, que nesta quinta-feira (24) voltou a noticiar o caso. Por decisão do juiz Freitas Cavalcanti, o cartunista Ziraldo foi condenado a mais de dois anos e dois meses de reclusão, enquanto seu irmão, Zélio, a um ano e quatro meses, além de pagamento de multa.

NR - Quanto quer apostar que ele não chega nem na calçada da cadeia? Nunca antes neste país aconteceu de ladrão ser preso! HC

CORRUPTO BOM É CORRUPTO PRESO


Sônia van Dijck

Reprise da perigosa chanchada do governo petista-aliados

Nesse 26 de outubro de 2011, caiu o quinto ministro do governo petista-aliados de Dilma Rousseff. Revoltante reprise de outros episódios dos governos petistas-aliados. Tudo começou com o mensalão. Não. Tudo começou com a tal reforma da Previdência, em 2003, quando Lula loteou o estado brasileiro para poder alcançar seu projeto de arrecadar mais muitos milhões para os cofres dos porões do exército encarregado de ocupar o poder. Não. Tudo começou quando Lula fingiu ser decente e civilizado para, por um lado, se aliar ao capital e conseguir apoio, e, por outro lado, travestido de eterno proletário, enganar as massas. Sei lá quando tudo começou a virar esse Brasil em um país sem ética e sem princípios. Pode ser que tenha começado em 1980, quando o PT apareceu como movimento ético, por um Brasil melhor, e vendeu essa imagem para as instituições fundamentais da sociedade brasileira, entre elas o voto do eleitor.

Porém, só em 2005, a sociedade brasileira ficou sabendo do mensalão e de outros escândalos mais. Todos os escândalos são resultantes de roubo dos impostos pagos pelos contribuintes. Desde então, a corrupção tornou-se instituição do estado brasileiro. No processo, aprimorando-se os métodos, todos os ministérios, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, os Correios, todas as instituições federais e até aquele posto do INSS esquecido naquela cidadezinha poeirenta perdida no mapa desses 513 mil e mais qualquer coisa quilômetros quadrados, adotaram a corrupção como forma de atuação política.

Nos últimos 9 anos, a corrupção criou milionários, engordou o cofre dos partidos aliados ao PT, trouxe alegria a empresários safados, inventou obras superfaturadas e outras tantas que não passaram do dia do comício de inauguração com Lula ao lado de Dilma Rousseff, a “mãe do PAC”.

Em 2011, 9 anos depois de inventada a nova metodologia de governabilidade, a corrupção transformou-se em comportamento habitual até do vereador e do prefeito daquele município daquela cidadezinha poeirenta, cujo posto do INSS está entregue a algum analfabeto petista ou militante de partido aliado. Ficou no passado a malandragem da contravenção do jogo do bicho e aquela do “conto do vigário”.

Chegamos a magistrados, delegados, políticos, ministros, empresários, churrasqueiros, marqueteiros, advogados, compadres, policiais, crime organizado, traficantes, estupradores, sequestradores, arrombadores de caixas eletrônicos, pedófilos, agressores de mulheres, em um sistema em que as celebridades dos noticiários estão fora da Lei. Esse sistema tem irmão “lambari” que virou ricaço e primeiro filho que virou milionário.

E, nesse 26 de outubro do ano graça 2011, vimos o quinto ministro do governo petista-aliados cair por acusações de corrupção. E o que aconteceu com os quatro defenestrados anteriores? – o mesmo que vai acontecer com esse quinto? E por onde andam os quatro derrubados anteriores? – por onde começa a andar esse quinto? Ou seja: a classe política vai ao paraíso da boa vida com a fortuna amealhada sem suar a camisa.

A coisa que socialista e comunista mais odeia é trabalho; basta verificar entre os socialistas do governo petista (todos politicamente corretos) quantos ficaram milionários com a colaboração dos impostos dos cidadãos, sem ter trabalhado para isso; apenas sentados nos gabinetes de figurões do governo, assinado papeis e ou tendo encontros na garagem... – começar por Palocci é uma boa ideia.

Orlando Silva seguiu o roteiro já tão exaustivamente experimentado: tudo é mentira; sou inocente. Como seus companheiros de performance calhorda, desfilou como fantasma assombrando a moralidade, e esteve em depoimento no Congresso Nacional, entrando e saindo do Planalto, sendo secundado pela declaração de confiança da governanta.

Espetáculo midiático de péssimo gosto: o calhorda prepotente que acredita na impunidade. Pouco adianta exigir a saída de mais um corrupto denunciado pela imprensa livre. A imoralidade não é pontual, desse ou daquele ministro, desse ou daquele prefeito ou vereador. A imoralidade está no sistema.

Desde que Lula instaurou o estado brasileiro em capitanias doadas aos partidos políticos, abriu-se a porta para o crime de alto escalão, dentro do princípio socialista de que o fim justifica os meios. A nova governanta Dilma Rousseff, nesse episódio do Orlandinho, ilustra sobejamente o esquemão montado e em pleno funcionamento: a capitania do esporte pertence ao descarado PCdoB, e não importa o que seus militantes sejam capazes de fazer pelo desporto no Brasil ou o quanto sejam capazes de roubar – o melhor é poder roubar o quanto der (a Copa está na hora da vez).

Dilma Rousseff não tem autonomia para escolher novo ministro. Dilma Rousseff, no momento, refém do PCdoB, nomeará ministro o escolhido pelo partido. Pode ser uma deputada que nada entende nem de pular corda; mas pode ser Aldo Rebelo, o xerife do intercâmbio linguístico: aí ele vai mudar futebol para ludopédio (resta saber se a FIFA vai aceitar tal paixão etimológica militante de coisa nenhuma).

Na verdade, o que se vai acompanhar é a troca de seis por meia dúzia, tal como se tem visto nos últimos anos e como tem feito Dilma Rousseff nos quatro defenestrados anteriores.

Dilma Rousseff não tem perfil de inovadora, e nem tem liderança, a ponto de evitar a reprise dentro de alguns meses. De qualquer forma, o roteiro de seu governo já está bastante conhecido: sou inocente – são calúnias – vou entrar com processo por difamação – vou exigir investigação da Polícia Federal - abro meu sigilo bancário (como se grana ilícita fosse depositada no Banco do Brasil) –“ vou defender minha honra” (aqui é citação de Orlando Silva, que não tem nada para defender).

Os bons tempos do cinema brasileiro tiveram chanchadas bem melhores e mais criativas. Agora, é só esperar a imprensa livre abrir novas portas de acesso aos porões do governo Dilma Rousseff – vai sair lama por todas as janelas do próximo ministério.

No Brasil do governo petista-aliados corruptos, a imprensa governa melhor do que Dilma Rousseff, refém dos safados partidos aliados e militantes do PT– quem criou esse sistema do “toma lá, dá cá” foi seu guru, para quem ela deverá ceder o lugar em 2014: LULA.

Desde que os corruptos partam rumo ao paraíso da boa vida de milionários, precisamos exigir apuração rigorosa (difícil vai ser encontrar magistrados isentos...) e punição na forma da Lei (é aí que fica mais difícil de encontrar magistrados isentos – basta lembrar que o processo do mensalão dorme em berço esplêndido até que todos os crimes prescrevam). É aí que a coisa fica difícil. Como diria minha avó: é aí que a porca torce o rabo...

Apesar de serem marajás, os magistrados são a última esperança do contribuinte, para ver a apuração dos crimes e a punição dos arrombadores dos cofres públicos, na forma da Lei. Esperança vã, talvez... A corrupção foi imposta como instituição nacional: do magistrado ao síndico de condomínio residencial.

Constatação

Dores nas costas?


Recentemente o presidente da Câmara dos Deputados recebeu várias queixas de Deputados com problemas sérios na coluna e, após uma pesquisa detalhada sobre quais os motivos, o médico do posto médico da Camara dos Deputados descobriu que o problema era o colchão, que não estava na posição adequada!

A Frase do Dia


"Sou obrigado a reconhecer que, com toda a corrupção que teve de um tempo para cá, o que encontramos no governo Collor deveríamos ter enviado para o juizado de pequenas causas". Senador Pedro Simon


Video Clipe do Dia



Sobrou...!

quarta-feira, novembro 23, 2011

Direto ao Ponto


Augusto Nunes



Depois do doutor que não lê, o Brasil inventa a faxineira que gosta de lixo


Além do brasileiro, o Brasil já inventou o analista de juiz de futebol, o jurado de escola de samba, o despachante, o senador biônico, o flanelinha, o comunista capitalista, o cabo eleitoral de ofício, o guerrilheiro que não sabe atirar e a família Sarney, fora o resto. Deve achar pouco, sugerem as duas singularidades incorporadas em 2011 ao vastíssimo acervo de assombros. No começo do ano, o País do Carnaval pariu o único doutor do mundo que nunca leu um livro e não sabe escrever. Em seguida, decidiu que Dilma Rousseff seria a primeira faxineira da história que odeia vassoura e gosta de lixo.

Promovida a ministra de Minas e Energia em 2003, Dilma fez mais que conviver anos a fio, sem qualquer vestígio de desconforto, com o lixo amontoado por Lula no primeiro escalão federal. Como atestam três itens no prontuário, a chefe da Casa Civil fez o que pôde para piorar o que já estava péssimo. Com o dossiê forjado contra Fernando Henrique e Ruth Cardoso, Dilma aumentou o lixo. Com a conversa em que tentou induzir Lina Vieira a indultar a Famiglia Sarney, escondeu o lixo. E intensificou extraordinariamente a produção de lixo ao transformar em sucessora a melhor amiga Erenice Guerra.

“A corrupção será combatida permanentemente”, mentiu no discurso de posse. Se pensasse assim, seriam outros os ministros na plateia. Ao chamar de volta Antonio Palocci e Alfredo Nascimento, por exemplo, trouxe para dentro de casa o entulho já depositado na caçamba. Ao nomear Pedro Novais e manter no emprego Wagner Rossi e Orlando Silva, afastou do aterro sanitário algumas pilhas de detritos. Ao prorrogar o prazo de validade de Carlos Lupi, revelou que já existe até o lixo de estimação.

Como atestam as fotos feitas no dia da posse, Dilma ficou muito feliz com a escolha dos seis ministros localizados pela imprensa no pântano das maracutaias. Lamentou a partida de cinco e faz o que pode para não se desfazer do sexto. A permanência de Carlos Lupi no Ministério do Trabalho transforma a antiga suspeita em certeza: a faxineira do Brasil Maravilha não consegue viver sem lixo por perto.

terça-feira, novembro 22, 2011

Testosterona Feelings!


by Téta Barbosa




Nenhum lugar no mundo tem tanta concentração de hormônios femininos como numa sala de espera de um consultório ginecológico.

Ontem passei quase duas horas nesta anti-sala do inferno esperando ser atendida pelo médico queridinho de todas as grávidas do norte/nordeste.

Sim, todas estavam grávidas. E eram muitas. Algumas, inclusive, levaram suas crias da barriga anterior para o consultório, além do barrigão de 7 meses.

Ou seja, grávidas e crianças pequenas correndo e gritando numa minúscula e minimalista sala de espera.

Eu, ali, me sentindo a alien da situação, tentava me concentrar na leitura das revistas de oito meses atrás. Até porque no dia que você encontrar um consultório com revistas do mês, me avisa que eu mudo de médico na hora!

Tentei, durante a primeira meia hora, ficar alheia àquela conversa sobre fraldas, amamentação e doenças infantis até que, a mulher sentada do meu lado, que carregava Sofia no colo, soltou esta pérola:

“Sofia adora ar condicionado. Ela ama o frio”.

Certo. Todos nós, moradores no Nordeste, amamos ar condicionado. O ar condicionado deveria, inclusive, fazer parte do pacote dos direitos humanos. Mas como, eu me pergunto, em nome da ciência, Sofia, que tem apenas 22 dias de nascida, conseguiu demonstrar que prefere o frio ao calor? Como, minha gente?

Observei Sofia durante algum tempo. Ele nem consegue levantar a cabeça e durante as duas horas de espera, ela passou 20 minutos mamando e o resto do tempo dormindo. Claro, é isso que os recém nascidos fazem! Eles mamam e dormem, dormem e mamam.

A não ser que Sofia seja super-dotada ou a mãe em questão tenha poderes de ler pensamentos, Sofia NÃO prefere frio ao calor. E,se prefere, NÃO conseguiu demonstrar.

O fato em questão só demonstra a teoria, amplamente difundida no meio científico: as mães são loucas. Fato absolutamente plausível considerando que as mães de recém nascidos tem pouquíssimas horas de sono.

A mãe de Sofia tinha olheiras de Nosferatu e aquele jeitinho de quem dormiu 8 horas na última semana inteira. Perdoada.

Mas, a mãe/louca continuou a descrever, para a amiga grávida ao lado, as peripécias da pequena Sofia. Com ares de “aqui fala a voz da experiência”, já que a colega de sala de espera ainda espera o primeiro filho, ela ficou ali enumerando as heróicas ações da super poderosa Sofia.

Eu já estava preparada para pedir uma gilete para a secretária, com o intuito de cortar os pulsos publicamente, quando o médico me chamou.

Ele não entendeu quando, ao entrar no consultório, eu dei uma abraço forte nele e disse:

- Eu amo testosterona!

Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa aqui e alhures. Ela também tem um blog - http://www.batidasalvetodos.com.br/

Video Clipe do Dia



Pra que ponte?

segunda-feira, novembro 21, 2011

O Brasil falante




Olavo de Carvalho




Quanto mais de longe se olha o Brasil, mais se vê que não é um país: é um hospício. Um hospício sem médicos, administrado pelos próprios loucos que se imaginam médicos.

Nada aí funciona segundo os preceitos normais do cérebro humano. É o perfeito “mundo às avessas” do Dr. Emir Sader – chefe do conselho médico desde que o Dr. Simão Bacamarte deixou este baixo mundo.

A loucura não vem de hoje. Certo dia, após uma das minhas aulas na PUC do Paraná, reuniu-se um grupo de alunos para ouvir e apoiar o protesto de um deles, que, entre lágrimas – sim, entre lágrimas –, clamava contra o que lhe parecia uma depreciação infamante da cultura nacional. “Onde já se viu – soluçava o rapaz – chamar de decadente e miserável um país que tem intelectuais da envergadura de Chico Buarque de Holanda?”

Eu soube do caso por terceiros, mas se ali estivesse teria gravado o episódio em vídeo, para ilustrar as aulas subseqüentes, quando voltasse ao tema da patologia mental brasileira. A destruição da cultura superior evidencia-se não somente na desaparição dos espíritos criadores, mas na inversão da escala de julgamentos: na ausência de qualquer grandeza à vista, a pequenez torna-se a medida da máxima grandeza concebível. Pois um professor gaúcho não chegou a proclamar o referido Chico um artista universal da envergadura de Michelangelo? Seria preciso anos de exercícios de percepção para fazer ver a essas criaturas que numa só pincelada de Michelangelo há mais riqueza de intenções, mais informação essencial, mais intensidade de consciência do que em tudo o que se publicou no Brasil sob o rótulo de “literatura” desde a década de 80, da autoria de não sei quantos Chicos. Mas a mera sugestão de que deveriam submeter-se a esse aprendizado lhes soaria brutalmente ofensiva – uma prova de autoritarismo fascista. A idéia mesma de que a literatura deva refletir uma intensidade de consciência, uma riqueza de experiência humana, acabou por se tornar incompreensível quando tudo o que se espera é, na mais ambiciosa das hipóteses, que o artista invente variações engraçadinhas para os slogans de praxe (isso é a definição de Chico Buarque de Holanda, com a diferença de que ele já não é mais tão engraçadinho).

Nos anos mais recentes, porém, a situação agravou-se para além da possibilidade de uma descrição de conjunto. O máximo que se pode fazer é chamar a atenção para detalhes significativos, na esperança de que o interlocutor vislumbre a gravidade da doença pelo sintoma isolado. Um desses sintomas é a decomposição do idioma. Dou graças aos céus por não ser escritor de ficção nos dias que correm, quando se tornou impossível conciliar linguagem coloquial e correção da gramática. Leiam Marques Rebelo ou Graciliano Ramos e entenderão o que estou dizendo. Os personagens deles falavam com extrema naturalidade sem incorrer em solecismos. Hoje em dia, tudo o que se pode fazer é escrever como gente nos trechos narrativos e descritivos, deixando que nos diálogos os personagens falem como macacos nerds. É a literatura exemplificando o abismo entre a linguagem culta e a fala cotidiana. Mas a existência desse abismo prova, ao mesmo tempo, a inutilidade social de uma literatura que já não poderia ser compreendida pelos seus próprios personagens.

Antigamente esse dualismo extremo de linguagem culta e vulgar só aparecia quando o autor queria documentar a fala das classes muito pobres, afastadas da civilização por circunstâncias econômicas ou geográficas insanáveis. Na era Lula tornou-se necessário usá-lo para reproduzir a fala de um presidente da República – e, depois, a de senadores, deputados, líderes empresariais e tutti quanti. Um jornalista decente já não pode escrever na linguagem de seus entrevistados. Não há mais medida comum entre a consciência e os dados que ela apreende. Isso é o mesmo que dizer que já não é mais possível elaborar intelectualmente a realidade, ao menos sem improvisar arranjos lingüísticos que estão acima do alcance da maioria.

Alguns ouvintes já entenderam que a linguagem paradoxal do meu programa True Outspeak – explicações eruditas entremeadas de palavrões grosseiros – é um esforço barroco, talvez falhado, de sintetizar o insintetizável, de resgatar para a esfera da alta cultura a fala disforme e quase animal do novo Brasil. Muitos nem percebem a diferença entre a linguagem tosca e sua imitação caricatural.

domingo, novembro 20, 2011

Video Clipe do Dia

Temos aqui o Osmar Prado para fazer companhia ao Wagner Moura em tecer loas ao MST. Dentro da mesma filosofia de citar fulano, sicrano e beltrano a fim de culpar a colonização bem como a distribuição de terras... Alguém poderia explicar "o que têm as Capitanias Hereditárias a ver com as calças"?. E que coisa mais antiga meu Deus esse, "Hasta la vitoria siempre". Deve estar se achando o cão chupando manga! HC


Meu Tipo Inesquecível - Ney Quadros


Hugo Caldas




Escandaloso, espalhafatoso, tonitruante. Eis os adjetivos mais oportunos colhidos no Aurélio para definir e qualificar devidamente o meu amigo Ney Quadros. Figura singularíssima, ótimo sujeito, amigo fiel, incapaz de uma maldade sequer. Coração maior do mundo. Tinha, no entanto um senão. Bebia muito e sempre. E quando bebia tornava-se inconveniente. O conheci ainda em João Pessoa para onde ele ia com certa regularidade. Era primo de Celso e Moacir Japiassu que ainda não haviam pegado o rumo do sul maravilha.

Por ter que assumir o meu primeiro emprego no Recife, e considerando o isolamento a que seria relegado na cidade desconhecida, logo Ney se ofereceu para ser o meu cicerone, abrindo umas tantas e quantas portas para mim. Mal poderia supor as venturas e travessuras que me esperavam. Egresso do mundo intelectual que incluía uma passagem significativa pelo Teatro do Estudante da Paraíba achava eu, na minha santa ingenuidade, que as coisas na "vizinha capital do sul" seriam uma mera continuação do que tinha vivido até então em João Pessoa.

Ledo engano. Achei por bem aceitar o oferecimento de Ney e logo iniciamos o nosso périplo por lugares interessantíssimos. Para começar me ambientei no "Chateau d'If", prédio antigo na Rua do Rangel que ostentava umas ameias à semelhança da prisão onde ficaram Edmond Dantès e o Abade Faria, personagens de "O Conde de Monte-Cristo", de Alexandre Dumas. Era um atelier de pintura. Conheci e passei a frequentar o Bar Savoy - "trezentos desejos presos, trinta mil sonhos frustados" - onde bebíamos um chope honesto na companhia da melhor intelectualidade do Recife.

Logo aconteceu uma exposição de artistas plásticos da Paraíba no Mercado da Ribeira em Olinda. Claro que enchemos a cara, eu e Ney, em um bar perto do evento e terminamos a noitada no chão da sala da casa de Adão Pinheiro, no Carmo em Olinda. Acordo às 10 da manhã amargando uma terrível ressaca e o que vejo? Ney fazendo gargarejo com uma garrafa de Ron Montilla. "Pra rebater", disse.

O Recife à época era uma cidade risonha e franca. E não fedia.

Nos primeiros tempos eu e Ney saíamos à farra quase que noite sim e outra também. Freqüentávamos lugares como O Flutuante, restaurante construído em uma balsa que ficava ancorada quase em frente à Livraria Ramiro Costa, de saudosa memória: ainda hoje lá estão as escadarias que usávamos para descer até o convés. O Maxim's na Praia do Pina com suas peixadas memoráveis e muita cerveja. A Torre de Londres de cardápio respeitável, em pleno Parque Treze de Maio. Festa da Mocidade aonde íamos paquerar as vedetinhas... Era um custo segurar o Ney que a toda hora ameaçava subir ao palco e agarrar uma delas. Teatro Marrocos de propriedade do grande comediante Barreto Junior, já nosso velho conhecido desde as suas célebres temporadas de João Pessoa.

Na zona, o Bar Chanteclair. Bar do Grego onde íamos quebrar pratos muito antes de Zorba/Quinn nos encantar nas telas do Cine São Luís. Texas Bar, Silver Star, todos lugares agradabilíssimos do baixo meretrício. Mister se faz ressaltar que em todos os bares acima relacionados, o Ney sempre bêbado e sempre inconveniente dava um vexame. Nunca vi uma admoestação sequer. Todos os proprietários e garções o conheciam e gostavam dele. Passavam-lhe a mão pela cabeça.

O lado cultural era geralmente preenchido aos sábados pela manhã no Cinema de Arte de Casa Amarela, (Coliseu) de onde saíamos ao meio-dia já prontos para novas aventuras.

Apesar das nossas sortidas serem geralmente à noite lembro de Ney no Recife Velho, em plena luz do dia, envergando imaculado macacão branco, empunhando um caderno de desenho, lápis, régua, crayons multicoloridos, qual um Toulouse Lautrec dos Trópicos a registrar prédios antigos e tipos exóticos. Uma figura o Ney Quadros.

Por causa do meu horário de trabalho terminamos indo cada um para o seu lado. À essas alturas eu já estava bem mais enfronhado nos mistérios da Veneza Americana.

Cismou de ir para o Rio de Janeiro. Consta que no Rio, em Copacabana para ser mais exato, um grupo de recifenses saiu a passeio pela orla, Silvio Pinangé, Montez Magno e mais outros, e quem puxava o cordão? Ney, de berimbau em punho tocando e cantando aboios. Certa tarde, ele chega de surpresa na casa de Moacir Japiassu. Bebeu tudo o que encontrou na despensa e, quando enxugou a última garrafa, bebeu o azeite.

Reencontrei-o mais tarde já casado com Marta Teodósio, irmã de Mano ambos pertencentes a uma família respeitadíssima, da mais alta nomenclatura do PCB. No auge da "redentora" toda a família foi presa e Ney entrou de gaiato na história. Foi de cambulhada para a cadeia. Deve ter levado uns catiripapos na prisão, mas terminou por conquistar a amizade dos carcereiros. Assim era o Ney Quadros. Eu mesmo ouvi uma gravação preparada em fita K-7 no cativeiro e que por artes do capeta ele fez escamotear para que chegasse até nós, seus amigos. Ao som das suas risadas espalhafatosas ele nos apresentava...

- "Com vocês o Sgt. Gonçalves meu carcereiro, diz alguma coisa aí, sargento. O sgt. Gonçalves muito a contragosto diz":

- "Olha aqui, gente boa! Mexam com os pauzinhos para tirar esse camarada daqui que eu já não agüento mais!" Somente o Ney Quadros conseguiria tal façanha.

Quando saiu, foi respirar outros ares em São Paulo, creio que trabalhou na USP, como físico nuclear, imaginem o perigo.

De volta ao Recife perdi-o totalmente de vista, quando certa madrugada - duas da manhã - o telefone toca na minha casa. Tomei o maior susto. Era Ney às gargalhadas, embriagadíssimo: me convidava para comer um tatu assado com ele. Pespeguei-lhe o maior esculacho. Onde já se viu telefonar para a casa dos outros às 2 da manhã com semelhante convocação?! Tentei voltar aos braços de Morfeu, mas debalde todo o meu esforço. Terminei por me arrepender de ter sido tão rude com o meu amigo. Ficou o eco das suas palavras:

- “Mas é um tatu, meu caro, coisa rara...”.

E assim se passaram quase 10 anos. Ney parecia ter sumido no oco do mundo. Uma bela tarde quente de dezembro um táxi risca a minha calçada. Quem seria? Quem poderia ser... ? Ele mesmo, o Ney com toda a pompa e circunstância, que por artes do cão descobrira o meu endereço. Ao mesmo tempo em que despachava o táxi aos gritos ia entrando embriagadíssimo com uma garrafa de conhaque debaixo do sovaco. Grande abraço apertado, de quebrar as costelas, gritos e risadas escandalosas. Os vizinhos vieram temerosos saber do que se tratava aquela algazarra na casa do professor.

Aboletou-se no terraço, passou o resto da tarde a beber até que cismou de entrar na piscina. De roupa e tudo. Ameaçou e o fez, evidentemente. Não deu para agüentar mais. Com extrema dificuldade conseguimos colocar aquele homenzarrão no carro. Dirigi para as bandas da Cidade Universitária onde ele sob protestos, dizia estar morando em companhia de sua filha. Pediu, que eu o deixasse em uma pequena praça das redondezas. Foi a última vez que nos vimos - já faz uma pá de tempo.

Perdi-o de vista e de notícias, até que, não muito tempo atrás, soube por amiga comum que ele estaria hospitalizado em fase terminal - Alzheimer. Gelei. Imediatamente liguei para o hospital indicado, mas a resposta foi negativa. Liguei para outro. Nada. E mais outro e mais outro e a resposta era sempre: "Não temos nenhum paciente com esse nome!”

Pergunto: onde está o Ney Quadros? Por onde anda a sua filha? Sei que ele tinha um outro filho. Onde estão? Quem internou o Ney e em qual hospital?

A única certeza é que o meu amigo Ney Quadros está em lugar incerto e não sabido. Provavelmente em algum leito de hospital. Só. Apenas ele e a sua singularíssima pessoa.