sexta-feira, setembro 12, 2008

Elucubrações de Setembro


Hugo Caldas

Já está indo embora o tempinho menos quente. As chuvas começam a escassear. Lá vem chegando o verão com tudo a que tem direito. Calor do Bute, muriçocas a lhes picar pernas troncos e membros. Falar em muriçocas me lembra o Lisboa, o fraterno "Dr. Manguito" amigo dos primeiros tempos em Recife. Manguito tornou-se anti-semita porque morando nas imediações da Praça Maciel Pinheiro nunca encontrava um banco onde pudesse à tarde sentar-se para ler o "Diário da Noite". Todos os bancos estavam literalmente ocupados pelos judeus que moravam também nas redondezas. Aliás a Clarice Lispector morava de frente para a praça. Outra característica de Manguito é que ele colocava "nomes científicos" em tudo. As muriçocas passaram a ser: "chatiantis recifensis".

O canto do cisne desse inverno foi para mim no final de semana próximo passado. João Pessoa, aonde fui cantar "Parabéns Pra Você" pois o amigo Elpídio Navarro "colhia mais uma florzinha no jardim da sua existência". A ocasião para mim foi muito especial. Além do aniversariante revi queridos amigos e amigas de todo o sempre. Lindaura, Germana, Nazareth, Edinaldo Navarro. Fiquei hospedado no castelo do Valdez, lá no Bessa à beira-mar plantado, com direito a dormir de janelas abertas ouvindo o barulho do Atlântico, sentindo o vento forte que soprava ininterruptamente. Agradeço à querida Henriette, Valzinho e ao Valdez pela carinhosa e belíssima acolhida. Garanto que trouxe dentro do coração não apenas a simpática hospedagem mas também um pouco do mágico soprar dos ventos do Bessa.

Corta para....

Mas, vocês já tiveram a desventura de conhecer um comunista arrependido? Coisa mais sem jeito. Coisa mais abominável. Conheci recentemente um integrante dessa espécime e constatei o ridículo da triste figura. "Disgusting", como vaticinaria, entre xícaras de chá, a Tia Emma, lá do seu tugúrio em Suffolk, Inglaterra. Acho que o desventurado antigo militante, devido aos argumentos emitidos numa rápida e tragicômica conversa, deve ter recebido Jesus no coração. Radical mudança de 360 graus. Melhor mil vezes, render a devida homenagem ao Capitão Luís Carlos Prestes, turrão e até o final da vida, o mais fervoroso crente do catecismo marxista.

Conheço também outros, meus melhores amigos, diga-se de passagem, bem menos arrependidos mas que tentam a todo custo justificar o injustificável. Às vezes desconfio que estejam anestesiados tal a comovente veemência com que se referem à governos passados mas não percebem entretanto, que "tenebrosas transações" estão acontecendo à céu aberto e eles, talvez por um dever de partido, tarefa, ou coisa que o valha não estão nem aí. Não acreditam. É tudo mentira. Chegam até a considerar que, em sendo humanos eles (os homens, encarapitados no Planalto) são passíveis de cair em tentação, et pour cause, de entrar na gandaia da fraudulência. Aí o caldo periga entornar. Alguns chegam a sentir orgasmos múltiplos na eterna arenga sobre o que os governos anteriores roubaram etc e tal. Mas são todos meus amigos e de amigos a gente perdoa desde o menor pecado venial até ao pecado mortal mais cabeludo. Amigo é pra essas coisas.

Mudando um pouco esse foco trágico. Nem tudo está perdido.

Em verdade vos digo que alcancei uma fase na minha vida em que não preciso mais votar. Não preciso nem quero compactuar com essa palhaçada criminosa que se repete a cada eleição. Enviei um e-mail ao TRE-PE pela manhã pedindo informações sobre o meu dever cívico. Exerço esse "dever" desde a eleição do Jânio Quadros e vocês devem saber perfeitamente o que resultou dos sete meses de governo do pinguço. Deve ter sido uma cana bravíssima para tudo terminar naquela constrangedora renúncia. Na tarde do mesmo dia já me faziam ciente da minha abstenção legalizada. Agradeço daqui ao TRE-PE pela gentileza da prontidão.

Que bom, agora não tenho que anular o meu voto como nas últimas vezes. Disponho, portanto de total isenção e alívio para apreciar, por exemplo, a Sessão Pornô, ou no que se transformou o Guia Eleitoral, onde absolutamente todos os candidatos a prefeito do Recife, por seus diferentes e respectivos partidos, se dizem apoiados pelo presidente apedeuta. Uma zorra! Uma lástima! Ou ter o prazer indizível de vislumbrar a publicidade de um comunistão arrependido, candidato a cargo eletivo no município de Jaboatão. Pois não é que um cartaz do energúmeno mimoseia as ruas com a foto do dito-cujo ao lado de uma bela mulher onde se lê: "Compromisso com as mulheres de Jaboatão". Será que o cabra está querendo pôr em prática a máxima do Poetinha Vinicius: "Não se pode levar para a cama todas as mulheres do mundo, mas deve-se fazer um grande esforço!" Vai ter consumo extra de Viagra. Cabra macho!

Outro defende abertamente a pena de morte. "Pena de Morte É a Solução", é o seu slogan. Esse pelo menos é sincero. "Onde foram parar as pedras portuguesas que cobriam o calçadão de Boa Viagem? Tudo retirado pelo atual alcaide e trocado por uns tijolos de um colorido desmaiado, horrorosos, ao custo de 20 milhões de reais." Aí tem! Por que o calçadão de Copacabana permanece com pedras portuguesas e aqui é essa breguice? Isto meus caros, não são argumentos desse locutor que vos fala mas sim das outras esquerdas postulantes que, via de regra, agem como a direita, uma desunião homérica.

Posso ainda votar se for do meu desejo. Faço melhor. Ponho meu voto à venda! Atenção senhores corruptos e venais dessa república. Quem dá mais? Estou absolutamente aberto a ser corrompido. Corruptores do meu país, uní-vos! "Ou todos nos locupletamos ou restaure-se a moralidade", dizia o Barão de Itararé. E, como eu sei perfeitamente que essa tal moralidade não chegará jamais, me disponho eu mesmo a me locupletar por minha conta e risco. Estou a espera da melhor oferta. Sei que é apenas um voto mas que pode muito bem fazer a diferença.

Político é uma gracinha diria a minha filósofa preferida, Hebe Camargo. Há tempos, vivia nesta cidade Maurícia um espiroqueta que se iniciava nos meandros da mais sórdida política. Esse meliante tinha filhos na minha escola de inglês. A pobreza não era tão franciscana assim mas fazia com que ele atrasasse as mensalidades por 3 ou 4 meses. Vivia sempre pedindo arrego, para que ele, apelando sempre à nossa boa vontade, tivesse o tempo necessário a fim de batalhar pela quantia devida. Demorava, mas pagava. Justiça se lhe faça. Pois bem, ganhou ninguém sabe como, uma eleiçãozinha e após alguns anos no firme propósito de malsinar o carnaval Recifense e receber é claro, o "Por Fora" o de cujus virou o maior magnata. Começou a me desconhecer. Ou se fazer de morto quando nos cruzávamos. Chegou a ponto de me ser novamente apresentado em solenidade na casa de um amigo comum. Hoje ele tenta mais uma reeleição.

Mas, eu aqui me alongando e vocês aí devem se estar perguntando o que tem a ver com tudo isso o retrato daquela mocinha bem bonitinha, lá em cima, não é? Artes e manhas do Avô-Coruja. Trata-se da minha neta francesa.

Nome de modelo: Naomi, pose de idem. Idade: 6 aninhos.

Estou pensando seriamente numa possível mudança para a França a fim de sentar praça na casa do meu filho Trajano, pai da beldade. Não sem antes passar na feira do Troca-Troca em Jaboatão onde comprarei um bacamarte-boca-de-sino, que é para botar pra correr qualquer investida mais ousada por parte dos garotos franceses. Mas, aqui pra nós, ela não é linda? Puxou à mim!

O fato é que "Toda donzela tem um Vovô que é uma fera"!

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domingo, setembro 07, 2008

FALANDO DE COISAS ANTIGAS...


Carlos Mello

Hombridade, segundo o velho Caldas Aulete – numa definição seguida de perto pelo Houaiss e pelo Aurélio – é “consciência da própria dignidade; inteireza de caráter, nobreza de alma; altivez”. Tenho a impressão bem nítida de que essas palavras hoje soam como antigualhas, manias de macróbios, reminiscências devidamente sepultadas no baú da história. Mas esse brogue tem respeitado os direitos do idoso, de forma que me sinto à vontade para falar de coisas passadas com meus dois ou três leitores, gente de outras eras, lacustres, jurássicos. Os demais leitores, ávidos por novidades, tenham paciência. Logo, logo, chegará sua vez, na velocidade com que o tempo se precipita para o final dessa humanidade, na dança de Shiva, o final do kali yuga, de que nos fala a sabedoria védica. Mas isso é tema para outra conversa.


O que andei lendo um dia desses foi a deliciosa História dos hebreus, do historiador Flávio Josefo (na ótima tradução do Padre Vicente Pedroso). Testemunha ocular de fatos e feitos de grande significação para a história mundial, que nos conta aquele arguto observador? Um fato passado com o rei Herodes Magno, aquele mesmo que mandou massacrar as crianças na tentativa de assassinar Jesus (não confundir com seu filho, o tetrarca Herodes Antipas, que mandou executar nosso São Joãozinho somente para agradar aquela marafona que era sua amante). Pois bem, em que pese essa matança dos inocentes, o velho Herodes era um homem de caráter, segundo Josefo. Eis história:


O assassinato de Júlio César havia provocado uma luta ferocíssima pelo cetro romano, colocando de um lado Antônio, o abestalhado amante de Cleópatra, e do outro Otávio, que se tornaria o segundo César, com o nome de Augusto, ao derrotar o inábil casal e assumir o poder. Ora, Herodes apostara no cavalo errado. Amigo de Antônio, ajudara-o como pudera. E agora, derrotado, foi procurar Augusto. Mas não usou de embelecos nem falsidades, não mentiu nem fingiu que era “otavianista desde criancinha”, como costumam fazer nossos políticos, esses “tristres homens de cortiça, que sobrenadam a qualquer enxurrada”, como dizia o David Nasser.


Conta Josefo: Herodes compareceu à presença de Augusto “com todos os ornamentos de dignidade real, exceto a coroa, e jamais demonstrou maior coragem pela sua maneira de lhe falar. Pois em vez de usar de rogos e amáveis desculpas, para induzi-lo a perdoá-lo... prestou-lhe conta de seu proceder sem demonstrar o mínimo temor. Confessou-lhe que nada podia acrescentar ao afeto que havia tido por Antônio. Que tudo havia feito, conforme suas posses, a fim de conservar o império do mundo sob seu poder”. E acrescentou que se na época não estivesse em guerra com os árabes, “teria unido suas armas às dele”. Mas que mesmo assim lhe enviara trigo e dinheiro. Que “desejaria ter feito muito mais e empregado não somente seus bens, mas sua vida”, para lutar ao lado do amigo. Que podiam acusá-lo de outras coisas, mas nunca de que a mudança de sorte o tivesse feito mudar de idéia. E que nada o impediria de proclamar em altas vozes quão grande era sua amizade pelos interesses de Antônio e por sua pessoa.


Convenhamos que é preciso muito peito e muito amor à hombridade para falar essas coisas na cara de um homem que acabara de assumir o comando do mundo. Essa coragem impressionou Augusto, “pela maneira tão nobre de se justificar e de se defender”. Por isso, confirmou-o como rei e o exortou “a ser tão amigo seu como fora de Antônio”. E assim o velho rei dos judeus voltou à Judéia “com um novo acréscimo de honra e de autoridade, causou grande admiração a todos os que esperavam o contrário e só podiam considerar o fato como uma prova da proteção de Deus sobre ele.” Acrescenta Josefo que o comportamento de Herodes incutiu “tão grande estima no espírito de Augusto e dos romanos, que não se cansavam de louvá-lo e de dizer que nenhum outro príncipe o superava em magnificência e liberalidade”.


Não é uma delícia o texto josefiano? Pois bem, logo após essa leitura, comecei a caraminholar umas lembranças e veio-me à memória uma crônica de Machado de Assis (quem teria sido o animáculo que cunhou o infeliz epíteto de “bruxo do Cosme Velho” para o maior romancista da língua portuguesa? Confundir genialidade com bruxaria é coisa de um espírito baixo, sem a menor dúvida). Nessa crônica, escrita no início de sua carreira, quando Machado cobria as discussões parlamentares, conta ele de sua estupefação ao presenciar os abraços e tapinhas nas costas que se seguiam aos debates, quando os ilustres representantes do povo xingavam-se com impropérios. Esse triste espetáculo da baixeza humana é que fez o escritor desistir desse penoso trabalho de cronista político.


Mas, grande é o poder da memória, tem algo de terrível e uma infinita e profunda complexidade, como nos adverte Santo Agostinho. Pois sabem do que me lembrei em seguida? Daquele livrinho da Zélia Gattai, Um chapéu para viagem, em que ela, já então vivendo com Jorge Amado, fora com ele assistir a uma sessão da Câmara, onde presenciou o marido engalfinhar-se em debates desaforados com seus desafetos políticos. E também ela abriu uma boca desse tamanho ao verificar que logo depois os pretensos contendores abraçavam-se sorridentes no cafezinho, já esquecidos dos virulentos adjetivos com que há pouco se mimoseavam. Pena que a cronista tivesse um estômago bem mais resistente que o do Machado. Que, felizmente para todos nós brasileiros, passou à história não só como um grande escritor, mas também como um grande homem.

sexta-feira, setembro 05, 2008

A fina arte de falar empolado e não dizer coisa alguma!


Hugo Caldas

Começaram as Paraolimpíadas de Beyjing e ninguém dá a menor bola...

Mas não me interessa em absoluto falar das coisas de Pindorama. Cansei! Cansei de votar e botar lá em cima esses camumbembes que vivem a se locupletar, enchendo as burras de dinheiro sujo, limpo ou mal lavado. Não tenho o mínimo pejo em dizer que muitíssimas coisas que acontecem nesta terra de meu Deus me enojam. A cara do gringo da Sealopra, o Mangabeira Unger, por exemplo. Mas é melhor parar por aqui. Que história é essa de ficar comodamente sentado no meu troninho colocando a culpa no presidente e sua camarilha? Por que, Jota Cristo, se a culpa é nossa! Só nossa! Quem mandou votar nos homens! O pior é que eu nunca votei nesta súcia e sofro por tabela.

Mas se o arrependimento matasse e fôssemos retroagir, chegaríamos ao Pero Vaz de Caminha e sua famosa carta para El Rei na qual ele humildemente pedia uma sinecurasinha para um seu dileto sobrinho. Ah, herança excomungada! Passo o mais do tempo a imaginar o que fazer para sair dessa. Preciso pensar em coisas mais edificantes. Mas o que, Minha Nossa Senhora do Perpétuo Desapontamento?

"Se você não sabe para onde ir não faz diferença que caminho tomar." Dizia o gato da Alice. Sábias palavras do felino esse!

Cheguei a pensar inclusive, em recolher-me à um mosteiro trapista no Tibet. Desisti pois os china-gordos já lá estão, atazanando a vida dos mais! De outra feita pretendi usar o meu precioso tempo fazendo um curso de Aramaico Gutural por correspondência. Coisas assim, bastante úteis. Entretanto, nunca cheguei a uma solução. Por merreca que fosse. Até que algum querubim, lá do mais alto dos céus, condoído da minha situação me enviou por e-mail a tabelinha abaixo. Creiam todos que estou, pelo menos transitoriamente, conseguindo esquecer certas digamos, aftas. Conclamo a todos os cidadãos deste país (sic), em pleno gozo dos seus direitos civis, políticos e mentais, a planificar uma projeção coordenada operacional.

Façamos o seguinte:

Vamos tirar uma palavra de cada coluna e formar uma frase enfeitadíssima, mas que não significa coisa alguma.

Programação - Abrangente - Sistemática
Estratégia - Funcional - Integrada
Mobilidade - Operacional - Equilibrada
Planificação - Dimensional - Totalizada
Dinâmica - Transacional - Consolidada
Flexibilidade - Estrutural - Balanceada
Implementação - Global - Coordenada
Instrumentação - Direcional - Combinada
Retroação - Opcional - Estabilizada
Projeção - Central - Paralela

Quer um exemplo do sucesso? No meio de uma reunião qualquer saia-se com...

"Cavalheiros, trata-se de uma Implementação, Operacional, Coordenada!”!

Faça o teste e forme tantas frases quantas desejar. Absolutamente inúteis! Não servem para nada. Aliás, como tudo neste país. Acho até que o apedeuta tem uma tabelinha dessas. Pior para nós.

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quinta-feira, setembro 04, 2008

"É o Tony Blair"


José Virgulino de Alencar

O presidente Lula, em encontro com a Rainha da Inglaterra, indaga como Sua Majestade escolhia os seus ministros. A Rainha, para explicar seu método, chama Tony Blair e lhe faz a pergunta: “Tony, teu pai e tua mãe têm um filho que não é teu irmão. Quem é então?” Tony Blair responde: “Sou eu, majestade”. Diz a nobre inglesa: “Taí, Mr. Lula, basta mostrar rápida inteligência”.

Ao chegar no Brasil, Lula chama Zé Dirceu e pergunta: “Zé, teu pai e tua mãe têm um filho que não é teu irmão. Quem é, então?” Zé Dirceu pensa, pensa, e pede então a Lula um tempo para responder.

Dirceu corre, ruminando na cabeça que irá procurar uma pessoa inteligente para responder. Telefona para o sociólogo FHC e tasca a pergunta: “Teu pai e tua mãe têm um filho que não é teu irmão. Quem será, então?” FHC responde: “Sou eu, Zé”.

Dirceu volta ao Palácio e diz a Lula: “Já sei a resposta: é o FHC”.

Lula retruca, com ares de sabedoria: “Deixa de ser burro, Zé. É o Tony Blair!”

Reproduzo essa conhecida historinha espalhada pela internet, para fazer um paralelo com as frases, discursos, entrevistas e pronunciamentos do presidente Lula, falando, como diz Millôr, sobre tudo, tudo do Brasil e do mundo.

Sua Excelência, o presidente do Brasil, o estadista do petismo míope, tem, para qualquer pergunta, uma resposta rapidamente engatilhada.

Quem está disseminando o grampo no país, transformando o Brasil numa Grampolândia? “É o Tony Blair”.

Quem é o autor da filmagem do diretor dos correios recebendo uma propina, detonando o escândalo do mensalão? “É o Tony Blair”.

Quem monta os esquemas do mensalão, com dinheiro voando pelos ares ou conduzido em cuecas? É o Tony Blair”.

Quem vem montando dossiês aloprados para ferrar os adversários do governo? “É o Tony Blair”.

Quem vende gado virtual de uma fazenda que não existe e comprador que não aparece, por milhões de reais? “É o Tony Blair”.

Quem é o inspirador da genial idéia dos cartões corporativos? “É o Tony Blair”

Quem é o protetor de ministros como Lobão, Rondeau, Márcio Fortes, enfim, de sarneysistas, malufistas, colloridos e nulidades tais, participando desse novelho governo brasileiro? “É o Tony Blair”.

Quem está por trás das estrondosas vaias recebidas no Maracanã, na abertura dos jogos panamericanos? “É o César Maia, orientado pelo Tony Blair”.

Quem teve a grande idéia de resolver o problema da pobreza com a Bolsa-Esmola? “Esse aí, é eu. Mas aprendi com o Tony Blair”!

Quem manda nessa casa de Noca em que se transformou o Brasil atual? “É a Noca, que é assim com o Tony Blair”.

Frase preferida do nosso estadista: “Nunca na história desse país se teve um guru como o Tony Blair”.

terça-feira, setembro 02, 2008

A PÁTRIA TERRA


Germano Romero

Em tempos de homenagens à Independência do Brasil, que neste sábado está completando 186 anos de idade, pensemos melhor sobre o assunto. Antes disso, porém, livremo-nos daqueles conceitos pré-adquiridos, tão forçosamente impostos, como são os lugares onde nascemos. Afinal, segundo prognósticos existencialistas menos profundos, ninguém escolhe o lugar onde nasce... Ou seja, não há culpa nem dolo em haver-se brasileiro, muçulmano, norte-americano, africano, assim como ninguém tem culpa de ter nascido negro, amarelo, branco, com qualquer cara. Culpa só existe quando a cara vira uma "cara de pau"...

Essa "onda patriótica" como está batizado o recente recrudescimento do orgulho de ser brasileiro, anualmente alentado pelo governo federal na "Semana da Pátria", é verdadeiramente muito boba. Salvos os eflúvios indiscutivelmente benéficos do progressista governo Lula. Mas, custa nada lembrar que o passado da humanidade é recheado de conseqüências nada humanas, frutos de nacionalismos exacerbados. O mundo jamais esquecerá o que aconteceu, lá atrás, com o anti-semitismo, e o que ainda ocorre com a aguerrida patriotice estadunidense.

Os filósofos benfeitores da humanidade, notadamente os universalistas, foram contundentes em suas pregações anti-patrióticas. Sócrates repelia com veemência o título de "cidadão ateniense", corrigindo publicamente: "sou cidadão do mundo".

Marx, no Manifesto Comunista, deixa registrada sua posição em prol do sentimento universalista de sua teoria social, no anseio de que um trabalhador africano fosse tão igualmente tratado quanto um operário finlandês. Einstein detestava o nacionalismo, principalmente o militarismo, que, para ele afigurava-se imoral e ridículo. E como ele tinha razão!... Que anomalia as nações serem obrigadas a construir e manter instituições militares onerosas, com batalhões de ociosos que vivem às custas das idéias de guerra. Viva a Costa Rica, a mais antiga democracia da América Central, que não possui exército! Viva a Suíça, que nunca teve, e nem tem planos de entrar em guerra com ninguém, e por isso mesmo não possui forças armadas.

É uma grande distorção do bem comum fatiar o planeta em pátrias muradas por pífia soberania, limitando o usufruto da "pátria maior", que é a Natureza dadivosa desse planeta tão abençoado. E dessa divisão, advir um orgulho pueril, efêmero, sem nenhum mérito próprio, a não ser o de ter sido parido nesse ou naquele lugar.

Não consigo alimentar qualquer sentimento patriótico, mesmo sem negar que por ele somos contaminados desde que nascemos. Quem não sentiu o coração arrepiar-se quando nos ouvidos soou o hino nacional das medalhas olímpicas? Tudo bem, é natural. Desde que esse patriotismo esteja unicamente a serviço das boas virtudes, sem esquecer que a terra é bem maior, e, debaixo dela, a pátria é uma só. Lá a paz é obrigatória, e cabe em apenas sete palmos...

segunda-feira, setembro 01, 2008

Vai tu mesma, alma fresca!


Elpídio Navarro

Ainda acho graça na antiga piada do pescador que ouvia e fugia de uma voz que lhe perguntava se queria enricar. Um dia resolveu aceitar e gritou

- "Quero!" Então a alma o aconselhou:
- "Vai dar a bunda!" E o pescador respondeu:
- "Vai tu mesma, alma fresca!"

Essas histórias de almas do outro mundo (qual mundo?) sempre me fascinaram. Ainda jovem, morando na Rua da República, próxima ao Cemitério Senhor da Boa Sentença (João Pessoa -PB), lembro da notícia de uma mulher que seduzia homens para o coito e os levava até à porta principal do citado cemitério, onde desaparecia e os deixava abestalhados. Após algum tempo foi descoberto que tratava-se de uma mulher casada, tarada, que conseguia escapar, após o ato, sem ser vista, deixando o seduzido petrificado, pensando que tinha papado uma alma de prostituta. Deu azar quando tentou um amigo do marido que ela não conhecia mas que a conhecia, e o dito cujo meteu a boca no trombone.

Quando criança ouvia falar de um padre sem cabeça que aparecia no fundo do quintal da minha casa: nunca o vi! Sonho com gente morta já tive vários: com amigos e parentes. Mas sonhos são sonhos, nada tem com a existência de outra vida, com quem já morreu, acho. Ainda no quintal da minha casa foi cavado um enorme buraco para arrancar uma botija: só vi o buraco!

Morei numa casa na Rua das Trincheiras que diziam ser mal-assombrada. A cozinheira dormia num quarto de primeiro andar, que ficava acima da lavanderia e carvoaria depósito de carvão, pois ainda não existia o gás). Certa vez estávamos jantando quando a mulher desceu os batentes correndo e estatelou-se no chão, dizendo ter uma mulher de branco balançando-se na sua rede o que verifiquei não existir.. E não quis mais conversa: pediu as contas e escafedeu-se! Depois soubemos que ela havia conseguido um emprego melhor num enchimento (fabriqueta de bebidas).

No Theatro Santa Roza falava-se da existência de almas de artistas que morreram de um acidente no palco. Muitas vezes, por conta de espetáculos que estava dirigindo, passei a noite inteira lá dentro, sozinho. Nem um fantasma da ópera me apareceu!

Não é que eu não tenha medo do sobrenatural. Acho que até tenho algum. Talvez por ter sido criado dentro do catolicismo, ter sido da Cruzada Eucarística e ajudado missa. O meu ateísmo aflorou com uma maior convivência com a realidade que me cercava, com o mercantilismo das religiões, com o comportamento de alguns religiosos. Lembro também de que era um dos nossos fins de semana na Barra do Gramame, praia do litoral sul, pertencente ao município do Conde, na Paraíba. Ficávamos numa caiçara sem portas e sem paredes, só tinha a coberta feita de palha, bem à beira-mar. Ali se aguardava a hora de ir buscar as redes colocadas no meio do maceió, para capturar, através das suas malhas, as tainhas tão desejadas. Também era ali que se fazia as refeições, que se bebia, que se cantava e que se dormia. Nesse fim de semana, enquanto esperávamos a hora que a maré iniciasse o período do remanso, começamos a conversar sobre diversos assuntos. Em dado momento estávamos discutindo a existência ou não de Deus. Isso tudo impulsionado pelas doses de aguardente já bebidas, que nos dava, principalmente a mim, uma certa convicção de que Deus não existia. E o meu discurso atrevido, próprio de quem quer aparecer, deixava o nosso canoeiro Wilson apavorado com tanta falta de respeito às coisas religiosas.

Chegada a hora de recolher as redes, todos dentro da canoa rumo ao centro do maceió. Era uma maré de lua nova, por isso de fortes ondas e de noite totalmente escura. Levávamos um candeeiro a gás para poder executar a nossa tarefa. E no momento em nos encontrávamos temerosos com o balanço da canoa, com a correnteza das águas e com a escuridão da noite, Wilson fez a pergunta:

- "Quer dizer que vocês não acreditam que Deus existe?" Silêncio geral. Eu, Assis, Reginaldo, Ronaldo e Romeu Fernandes e Anchieta, ninguém se atreveu a responder e ele insistiu, dirigindo-se a mim.

- "Como é? Deus existe ou não existe?" Dessa vez eu não poderia ficar calado e o jeito foi sair pela tangente mandando as minhas convicções para o inferno:

- Wilson, esse é um assunto que a gente discute quando voltar para terra firme, quando chegar na caiçara. Aqui não! Aqui a gente tem de puxar essas redes... Você sabe, é perigoso se distrair...


Acredito que, na verdade, o que acontece é o medo da morte. O ser humano, eu também, ainda não se conscientizou ou se conformou que começa a morrer no dia que nasce. E que não tem outra saída. Reage inventando deuses, outras vidas, fantasmas, infernos e céus. Religiões como umas que o suicídio é uma forma de alcançar a glória dos seus deuses, existem. O normal é o homem procurar preservar a vida o máximo possível. É o que eu faço, temeroso do dia que vai chegar, quando meu corpo não mais responder aos desejos do cérebro e findar. Virarei apenas uma memória do que fiz ou deixei de fazer...

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