sábado, dezembro 27, 2008

Considerações de final de ano

Hugo Caldas

Pois é, o ano da graça de 2008 está indo embora. Ou já se foi, quando porventura estas mal traçadas vierem a lume. Acho até que passou mais rápido que os outros que já vivi. Ofereço então essas considerações, a fim de uma reflexão mais profunda por parte dos meus tres leitores. Façamos, portanto, uma retrospectiva do que, por artes do demo, nos chamou a atenção neste ano que se finda.

Diferenças Parecidas

Diariamente me deprimo com as notícias de Pindorama. Cuido por exemplo, que nós, via de regra, criticamos com mais virulência tudo o que ocorre nesta terra em que se plantando tudo dá, principalmente quando nos comparamos aos países de primeiro mundo, a terra do Tio Sam, por exemplo, que tanto macaqueamos.

Vejam quanta semelhança:

Recentemente vimos pela TV, soldados do exército e dedicados voluntários roubando donativos provindos de todo o país e que seguiriam para as famílias de Santa Catariana, atingidos pelas enchentes. O que evidentemente nos indignou a todos.

Lá, na terra do Tio Sam, durante a tragédia do furacão Katrina, em Nova Orleans, milhares de doações que deveriam ter sido entregues às famílias atingidas, também desapareceram. Ninguém sabe ninguém viu. O mesmo aconteceu recentemente no Texas, agora em época natalina, quando centenas de milhares de doações que iriam para instituições para ajudar famílias carentes, foram literalmente roubadas.

O governador da minha pequenina e heróica, apesar de cassado, continua enrolando no poder. O governador corrupto de Illinois, acusado de tentar vender o cargo vago de senador, pela eleição do Obama, continua no exercício do cargo, mandando e desmandando, no melhor estilo tupiniquim, mesmo após o escândalo ter sido descoberto.

Vimos o esquema de mais 50 bilhões de dólares do espiroqueta da bolsa de valores de Nova Iorque, o tal Bernard Maddoff. O malandrão, o cérebro da picaretagem piramidal, no entanto será preso, devendo se apresentar às Cortes algemado pelas mãos e pés vestindo berrante macacão laranja. Já por aqui qualquer Daniel Dantas da vida termina por defenestrar delegados da Polícia Federal. Não é à-toa que que na cultura dos filmes B, americanos os bandidos sempre se refugiam no Rio.

O que intento dizer é que em todo país do mundo, há corrupção. Seja na política, no setor financeiro, na saúde ou na educação. Existem até os que roubam biscoito de menino.

Estava eu em gozo de merecidas férias nos EUA na década de 70 quando um figurão do sistema presidiário do Estado da Florida foi flagrado com a boca numa botija de milhões de dólares. O capadócio vendia alvarás de soltura para criminosos endinheirados. Preso e processado, arranjou um alvará para si próprio. Um belo dia sem conseguir provar a sua irreprochável conduta, reuniu a imprensa no seu escritório para uma coletiva. No meio da entrevista sacou de dentro de um envelope um revolver e atirou na própria boca. Existe um video no YouTube. Pois é, há disso também. Pena que a moda não pega por aqui.

Dadas as diferenças, proporcionalmente, percebo que as semelhanças são inúmeras.

O caso da pichadora

"A dificuldade dos jovens artistas para mostrar o que fazem é enorme: estão fora do mercado, encontram poucos lugares para expor, para debater com outros artistas e com a crítica."

Foi por essas e outras que lá em São Paulo, Caroline Pivetta (belo sobrenome) da Mota, de 23 anos, entrou no prédio da Bienal com um grupo de outros desordeiros e entendeu de pichar paredes que estavam em branco. Foi em cana. Comoção geral.

Arte? Que Arte? Isso de pichar a propriedade alheia é puro vandalismo. Encontrou a indigitada moçoila inúmeros defensores. Até o Jabor, a quem admiro, saiu em sua (dela) defesa.

Diz ela: "Estava me manifestando contra (sic) os desfavorecidos, os que não têm acesso àquela coisa toda". Manda bem a jovem meliante: "Tanto grafite quanto "picho" são underground, coisa do fundão. Não são feitos para exposição em galeria. A parada que eu faço é na rua, é para o povo olhar e não gostar. Uma agressão visual". Ao sair da cadeia a energúmena ameaçou voltar ao saudável ato de danificar a propriedade alheia com sua arte! Pichação e grafite são transgressores. Eu mesmo tive o muro da minha casa pichado dois dias após ter sido pintado para o natal. Respeito é bom e eu gosto.

E para finalizar, mas não menos importante imploro aos meus amigos que não me façam receber, ler, ouvir e pronunciar palavras e expressões tais como:

1) "Amo de paixão"

2) "Minha esposa" e sua variante, "Meu esposo"

3) "Legal" (para designar algo bom, bonito, etc) Talvez seja um caso perdido. Contudo poderá ser aceito se algo que for designado ruim, feio, etc seja "Ilegal".

4) Locutores da Globo pronunciando "respónsabilidade". É de matar!

5) Locutores da Globo e adjacências se referindo "ao Pernambuco".

6) Pessoa que ao cometer pequeno erro no meio de uma conversa, diz "minto" antes de voltar a falar.

7) Baiano dizer “É massa!”

8) Receber aqueles PPS debilóides com musiqueta idem contando geralmente uma história edificante, com citações de Chico Xavier, Ghandi, e outros personagens menos votados pela plebe ignara.

9) A palavra "Tipo"

10) Pessoas que mandam "Um beijo no coração". Melhor fuzilar!

Feliz 2009.

hucaldas@gmail.com
newbulletinboard.blogspot.com

6 comentários:

Anônimo disse...

Caro,

Feliz ano novo. Admirável tua produção. Muita paz,
Alex Sandro Gomes - Centro de Informática - UFPE
http://www.cin.ufpe.br/~asg

ecologiaemfoco disse...

Caro Hugo:
Adiciono às suas indignações com a língua mater, as minhas, com referência à: 1) fala de alguns dos estimados compatriotas pernambucanos, paraenses, cariocas... com o forte sotaque "portuguêixi", ou seja, o S final é chiado como o "xi" de "xixi"); 2)"A nível de"... (um locutor esportivo disse que um jogador "lesionou-se a nível de joelho"); 3) Expressões da moda: "até porque"..., "haja vista"...; 4)Paulistas na TV pronunciando "Rõrãima", "iducação" ...
Eu tive alunas (de Pedagogia, imagine!!!) que escreviam CONCERTEZA. Mas como o IBAMA e o IBGE aceitaram o ENTORNO ("em torno de"..., "ao redor de"...) eu sugiro que as próximas edições de nossos melhores dicionários (Houaiss e Aurélio) introduzam o "concerteza".
Como todos nós sabemos, a língua é dinâmica!
Feliz Ano Novo para todos que lêem (vai perder o acento já-já)e se deliciam com este criativo, instrutivo e divertido "blog" e a todos de seu ENTORNO.
CONCERTEZA, B.G.

Anônimo disse...

Breno Amigo
Primeiramente obrigadíssimo pelo inteligente comentário. Mas é isso mesmo, meu caro. Tanto que eu levei beliscão e reguada nos dedos perpetrados por Dona Tércia para falar e escrever direito no entanto hoje, esses energúmenos ficam aí a deflorar a última flor do Lácio...
Depois do seu comentário sobre "Rorãima" lembrei-me de "mindingo" que os cariocas dizem toda hora. Para a história do "Xis" em lugar do "S" plural tão comum aqui na Mauricéia há uma explicação. Logo que aqui cheguei em 59 notei que se falava diferentemente de João Pessoa. Acho que já era o professor dentro de mim. Aqui, geralmente o "s" de plural é sempre "xis" e às vezes até dentro da palavra, como por exemplo "escala".
Soménte anos mais tarde é que fruto de inúmeros seminários de linguística aplicada, descobri que em sendo o Recife um portão de entrada e saída para a Europa, a emigração portuguesa foi bastante forte. Daí influir no linguajar das pessoas. Isso é coisa de português. Aí em J. Pessoa que eu saiba, havia apenas UMA família portuguesa que era dona de uma loja na Beaurepaire Rohan, "A Capital", loja de tecidos, do pai de um colega do Pio X, Ronaldo. Pelo exíguo número eles não poderiam influir em nossa linguagem. E por aí vai, meu caro. Não quero me alongar. Vou postar esse e-mail no Blog como resposta ao seu comentário. Proponho encetarmos (será que a Malta sabe o significado?) uma campanha contra essas aberrações. Que tal abrirmos em nossos respectivos blogs uma coluna para denunciar essas distorções? Abrs. Hugo

Huguinho disse...

Tipo, só se for o carro! Que é muito bom por sinal, apesar de sua cara manutenção.

Odeio pichador, apesar de tê-lo sido em tenra adolecência, por puro desequilíbrio emocional, e excesso de hormônios que faziam da minha vida uma "eterna aventura". O grafite é uma arte e tem espaço. O pichador é um vândalo munido de uma desculpa muito da esfarrapada.

Maravilhoso texto pra finalizar o ano.
Te amo pai. "Um beijo no coração"!

Huguinho

Anônimo disse...

Hugão,
a sua retrospectiva de fim de ano está nebulosa demais, é notada a ausência dos fatos positivos em 2008...Até a TV Globo coloca os fatos negativos mas dá ênfase aos positivos também.
Escreva um texto somente com os acontecimentos que alegraram e engrandeceram a nossa pátria amada no ano que passou, com a sua boa memória o blog vai "bombar"...

Quanto ao que as pessoas falam em nosso imenso Brasil "a voz do povo é a voz de Deus"...a fonética ( o xis do recifense, os erres do paulistano, uai do mineiro) são justificados por tantas razões: a começar pelas diferentes regiões em que nasceram, pela falta de leitura, pela influência linguística portuguesa, como vc bem o disse, até mesmo pelo clima.

Atualmente trabalhando na área de turismo, percebo melhor os diferentes "sotaques" as formas de falar são notadamente observadas, muito embora, o importante é se fazer entender, comunicar-se, isto sim.

Para fechar, uma citação do parlamentar português Fontes Pereira de Mello em seu discurso, comparando Portugal às outras nações da Europa no livro "Cartas Familiares e Bilhetes de Paris" de Eça de Queiroz em 1893 verdadeiras pérolas as palavras portuguesas da época: "É certo que a nossa patria não possue como outras a riqueza commercial, as numerosas vias-ferreas, as incontaveis fabricas, os estaleiros, a ferramenta industrial, os fortes factores do progresso: mas tem sobre ellas uma superioridade, que lhe garante vida mais facil e mais livre, e é este luminoso e magnífico céo azul que nos cobre!"

Feliz Ano Novo!
Mary

Anônimo disse...

Very rich and interesting articles, good BLOG!
fishing net