
Cadê a toalhinha de mesa?
Alguém viu a toalhinha de mesa que sumiu do palácio?
Oi Hugo!
O friozinho chegou, pelo menos para mim que não sou pingüim. As partes mais altas das colinas amanheceram hoje como um bolo de aniversário decorado com pinheirinhos pulverizados com açúcar! Mas a neve mesmo ainda está pra chegar.
Aniversário oficial? Sorria!
Sim, tenho dois aniversários: um é o de nascimento mesmo: 17 de julho. O outro foi decisão de meu pai que já naquela época, como homem de negócios, falava da falta de tempo. Mas num belo dia, três meses mais tarde, ele me registrou! A explicação que me deu para isso foi: “mulheres adoram ser mais novas, mesmo quando por apenas 3 meses. Um dia você vai me agradecer”. E com isso ele mesmo sorriu.
Bem, não tive tempo de agradecer ao meu pai porque ele se foi antes de eu perceber que 3 meses podem fazer diferença. Sim, 2 vezes ao ano as pessoas amigas se lembram de mandar uma mensagem:
- "Parabéns: você está ficando mais velha". Ah, ah, ah. Eu me lembro de meu pai sorrindo.
Na verdade eu acho mesmo é que com isso ele sabia que eu teria mais uma historinha pra contar e lembrar dele. SER LEMBRADO era o que ele mesmo queria. E quem não o quer?
Então decidimos sair de nossas "tocas" e ir à vernissage na Galeria Daros em Zurique na Suíça. E lá fomos nós nesse frio danado ver "ANYWHERE IS MY LAND", título da exposição que tem duplo sentido: Nenhum lugar é minha terra e Qualquer lugar é minha terra. Interessante não? Faz a gente pensar e dá muito que se discutir.
A primeira vez que vi Antonio foi quando eu ainda era estudante no Rio de Janeiro. Foi também em dia de vernissage. Lembro quando o avistei: percebi que ele era tão tímido ou até mais do que eu. Por isso mesmo ousei chegar perto e dizer: Oi Antonio! Sou sua conterrânea!
Passaram-se 25 anos e Antonio agora me pareceu completamente descontraído, seguro de si, agradável e soberano. E eu, agora menos tímida e com a mesma satisfação de tantos anos atrás pude me identificar e rever uma cena já conhecida: Antonio estava cercado da atenção das pessoas que o procuravam. Aguardei pacientemente e na primeira oportunidade me reaproximei, conversei e me surpreendi: Antonio me disse lembrar do diálogo que tivemos por telefone, há 15 anos atrás quando conversamos sobre a importância de intercâmbio entre Países como oportunidade de experiência cultural para colegas artistas. Pedi apoio, que ele desse uma palavra a favor.
Naquele mesmo ano participei de uma reunião na Pro Helvetia também em Zurique. Ali conheci o famoso escritor suíço Hugo Lötscher, recentemente falecido. Famoso também por ter escrito muito sobre o Brasil. Tido como expert sobre nosso País, o Senhor Lötscher e outras pessoas presentes queriam que o projeto fosse realizado em São Paulo.
Eu estava ali como artista convidada pelo diretor da Pro Helvetia pelo fato de ter sugerido a possibilidade de intercâmbio com a Paraíba e de ter o apoio do colega Diógenes Chaves, outro colega conterrâneo, em João Pessoa. Fui sozinha defender a realização do projeto (Laboratoire) na Paraíba. Mas os colegas presentes eram contra. E o argumento contra foi uma pergunta do Senhor Lötscher direcionada à mim:
- “O que existe de interessante nessa terra? Quem são seus artistas? Que literatura tem nesse lugar?”
- “Claro que sei! Mas que tem ele com esse lugar?”
Esclareci: Campina Grande na Paraíba é onde nasceu Antonio Dias. Temos muita gente de talento na Paraíba. Sugeri que, deitado numa rede, apreciasse a literatura de José Américo de Almeida e José Lins do Rêgo.
Quem sabe até pudesse se interessar em visitar algum engenho de cana, em apreciar uma cachacinha, visitar bibliotecas (na época não havia internet), ver o Espaço Cultural e tanta beleza natural em nossas praias (e sorri! Mesmo pasmada)
Na verdade o melhor lugar para se fazer um projeto não é onde já existem muitos e sim onde ele é novidade, onde tem necessidade e receptividade. Inspiração e talento é coisa da sensibilidade que cada um porta em si e leva pra toda parte aonde vai. O lugar menos importa. As pessoas é que fazem a diferença. E os colegas na Paraíba fariam a diferença sim.
Se foram as minhas palavras que convenceram isso nós não posso afirmar com certeza. Se foi Antonio Dias que falou por nós eu não sei. Só sei que a Paraíba foi o lugar da realização do projeto, mas eu fui excluída e sem explicações. Até hoje me pergunto por que “me esqueceram” e por que somente no catálogo na versão em Português foi publicado sobre como tudo começou.
Não sei porque Antonio Dias ainda não foi homenageado em nossa terra. Motivos ele já deu mais do que bastante.
E que tal saber porque ele diz ANYWHERE (Nenhum e qualquer lugar) is my Land (é a minha terra)?
Fabia de Carvalho
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