quarta-feira, outubro 21, 2009

Saudade dos Aviões da Panair


Hugo Caldas

A Panair do Brasil S.A. nasceu como subsidiária de uma empresa norte-americana de estranho nome "NYRBA", letras que significavam, New York-Rio-Buenos Aires, em 1929. Incorporada pela Pan American em 1930, teve seu nome finalmente modificado de Nyrba do Brasil para Panair do Brasil.

Por décadas a Panair dominou o setor e a história da aviação comercial deste país. Encerrou suas atividades abruptamente em 1965, por determinação do governo militar. A morte da Panair, em parte foi causada pela ganância do Sr. Rubem Berta, Presidente da Varig, que há muito cobiçava as rotas da Europa, África e do Oriente Médio, pelo General Castelo Branco, Presidente de plantão, e pelo Brigadeiro Eduardo Gomes, Ministro da Aeronáutica. O que houve foi na realidade um abuso de poder por parte dos militares da ditadura de 64, destruindo sem motivo aparente, uma grande empresa. Não só os milicos decretaram a sua falência como suspenderam a companhia, e não satisfeitos, cassaram suas concessões para voar. A Panair não faliu. Acabaram com ela.

Tudo foi perpretado ao arrepio da legalidade. Quem explicaria hoje, o triste papel desempenhado pela Varig, colocando um avião no pátio de manobras do aeroporto do Rio de Janeiro pronto para receber carga, bagagens e passageiros daquele que viria a ser o último vôo da Panair para a Europa!

Os aviões foram presenteados à Varig/Cruzeiro, assim como suas Oficinas Selma e as rotas aéreas. Verdadeira carnificina. Os anos se passaram e com a derrocada do regime militar, passada a ditadura, foi levantada a falência, os responsáveis pelo que restou da Panair pedem agora revisão das contas feitas pelo Banco do Brasil, indenização por conta de débitos cobrados em duplicata, ressarcimento das indenizações trabalhistas, indenização por conta da desapropriação dos terrenos dos aeroportos e da desmontagem da Rede de Telecomunicações a TASA. Move-se ainda um processo por perdas e danos causados pela suspensão das Linhas Aéreas. Enfim, não dá para se ter idéia do que isso significa em dinheiro, mas é uma soma incalculável. Há anos atrás era sabido que a Massa Falida da Panair era a maior credora da Varig, que nunca pagou um centavo sequer.

O espaço que me cabe neste Blog é muito pequeno para divulgar as aberrações jurídicas que cometeram contra a Panair. Prefiro referir-me então à empresa que me proporcionou o primeiro emprego, a empresa que forjou a minha formação de jovem em início de vida. Hoje, após todos esses anos, a Panair ainda vive no coração daqueles que com ela conviveram. Não somente funcionários como também passageiros.

Voar, naqueles tempos românticos era um acontecimento social. As solcialites do Recife perpetravam verdadeiros desfiles de moda - mandavam confeccionar vestidos novos só para viajar de avião. Era um evento o embarque no Super H Constallation da Varig todos os domingos as dez da manhã, como os vôos diários de DC-7 da Panair as dez da noite para a Europa. Há um mês tive por força maior que viajar e voei em uma companhia de nome mais parecido com um site da internet do que uma empresa aérea. E, heresia das heresias, vários passageiros vestindo bermudas do tipo meia-coronha, rasgadas, sujas, mais apropriados à uma pescaria de siris do que uma viagem pelos céus.

"A Família Panair". O nosso pessoal aqui no Recife, englobando Agência Aeroporto e alguns tripulantes que marcaram época...

Mergulhão, Narciso, Madeira, Geraldo Gomes, Geraldo Majela, Benevides, Lamenha, Hugo, Israel, Figueiredo, Azevedo, Lago, Irany, Edson, Zeneudo Luna, Dantas, Walter Margarida, Glauco, Reis, Malaquias, Denis Cavendish, Roberto Marinho, Jorge Paraiso, Monteiro, Queiroz, Costinha da Meteorologia, Manuel, Dudu, Alexandre, Amorim, Dilmar, Santos, Domicio, Miranda, Paulo Sette, Goes, Cunha, Franz Ebbers, Fritz Schoendörffer, Paulo Melo, Clelia Reis, Cleia Silvestre, Lucia Correia Lima, Silvia Saboya, Berenice, Guaracy, Maria, Margarita, Socorrinho Burity, Portela (mecânico de terra). Pessoal de vôo: Comandantes Miranda, Tenan, Rios, Co-piloto D. Joãosinho de Orléans e Bragança, Comissário Laranja. Alguns destes companheiros já partiram para o vôo definitivo.

Há alguns anos, nosso pessoal do Recife, fez um esforço e nos reencontramos por duas vezes para almoço de confraternização. Vieram até colegas que hoje moram na Europa. Com a decolagem de Figueiredo, nosso OA, para o infinito, nos dispersamos novamente. Uma pena! Se porventura eu tiver esquecido de algum nome, por favor, desculpem a memória do velhote aqui.

O país tem uma grande dívida para com a Panair: a revogação do decreto 669, que a impediu para sempre de voar. O sonho seria tornar a ver novamente um avião com o mítico logotipo da ASA DA PANAIR DO BRASIL no ar. É o mínimo que o Brasil deve à ele próprio, à família Panair e aos seus descendentes, enfim, à todos nós..

A PANAIR PODE VOLTAR A VOAR NOS CÉUS DO BRASIL E DA EUROPA. Seria um ajuste de contas com a História da Aviação Comercial Brasileira.

"As Asas da Panair" inspiraram algumas músicas, uma das quais, foi sucesso interpretada por Elis Regina: "Saudade dos Aviões da Panair" - de Milton Nascimento e Fernando Brant. Os versos dizem:

"A primeira Coca-cola, foi, me lembro bem agora, nas asas da Panair…"

hucaldas@gmail.com
newbulletinboard.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado pelo conteúdo.
O depoimento foi de grande ajuda na elaboração de um trabalho acadêmico sobre a Panair.

Abraço.