sexta-feira, dezembro 10, 2010

UM GRANDE ANO

Foto de Andréia Solha
W. J. Solha

Depois de me caírem no colo papeis extraordinários – em setembro e novembro - em longas-metragens de dois dos maiores cineastas pernambucanos e brasileiros – Kléber Mendonça Filho e Marcelo Gomes – nos quais contracenei com os geniais Irandhir Santos e Hermila Guedes, acontecendo-me no meio – outubro – o Prêmio João Fagundes de Menezes pelo meu romance Relato de Prócula ( conferido pela União Brasileira de Escritores – U.B.E. Rio), ocupando-me agora com um episódio piloto para TV, criado por Carlos Dowling, mais um belo curta – Antoninha - de Laércio Ferreira (lá em Aparecida, no alto sertão da Paraíba), chego do Recife, deparo-me, deslumbrado, com o grupo escultórico monumental intitulado “Saudação ao Sol”, do Erickson Britto, no Largo da Gameleira, e me orgulho dele. Por que isso, como se aqueles totens vermelhos fossem também realizações minhas? Porque eles engrandecem minha cidade. Porque presidi o grupo, encarregado pela Prefeitura, de escolher seis trabalhos de arte para rotatórios e/ou praças públicas, que agora já estão distribuídos em vários pontos estratégicos de João Pessoa, e aquele é um deles. Porque em meu computador há um e-mail desse grande artista paraibano, radicado em Fortaleza:
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-xsUGDXPEC0nZnbduCY6bx5GV9G-X1ilW8lNCEZJuSiU5pFuNuLirOdQY2tRnyqFjWSgsx66xSEbtBkiE2gcpmGNFBa4Dp_3W7u0bKNzrJvVwYudsoDLjA80J8h97-dgTxDUQ/s1600/Metalurgica+011.JPG

- Sempre digo que pelas suas mãos fiz o retorno de volta pra casa, fiz as pazes com minha cidade. Estou muito feliz por isso.

Na abertura da última mostra de fotos de Gustavo Moura, no Casarão 34, há coisa de um ano, o então prefeito Ricardo Coutinho me comunicou que ia lançar o Concurso Jackson Ribeiro e me lembro de que fiz uma crítica construtiva à sua administração, referindo-me às esculturas que ele vinha colocando em praças da cidade:

- Já que você vai agora pra Barcelona, repare no porte do que há pela Europa, nesse setor. Praça é um espaço sempre vinculado a obras monumentais. Não tem sentido implantar uma estátua de poeta ou de quem quer que seja em tamanho natural, em áreas geralmente enormes. O que impressiona numa sala, perde-se na ágora.

Não sei devido a essa conversa ou se constrangido pelo veto à minha proposta para o espetáculo público da semana santa, em que eu transferia a suástica nazista pro Império Romano, a fim de passar ao público o que teria sido a sensação do que era ser judeu sob o jugo de César e de seu representante, o sempre bonzinho Pôncio Pilatos, recebi, na tarde do mesmo dia dessa má notícia, telefonema de Ricardo, convidando-me pra presidir o júri do tal concurso. Foi assim que, não muito tempo depois, eu e toda a comissão encarregada da seleção das estátuas, abrimos os quarenta e tantos envelopes dos concorrentes e nos empolgamos, de imediato, com os seis tótens vermelhos criados por Erickson Britto. Encalharam-me no goto, apenas, as dimensões do grupo, forçadas pela camisa de força do orçamento. “Caramba, isso seria pra ter, no mínimo, o dobro do tamanho!”, ao que a dinâmica Lu Maia, da Funjope, que nos dava assessoria, ligou imediatamente pro artista, perguntando-lhe da possibilidade de dobrar o porte da “Saudação”.

- Bem – ele disse – o pagamento de trinta mil reais, de que será descontado ainda o Imposto de Renda, vai me causar um prejuízo danado, mas topo! Será realmente maravilhoso ver minhas figuras com o dobro do tamanho que coloquei no meu projeto.

Senti a primeira agulhada do acerto do que sugerira ao ver o primeiro tóten já pronto, numa metalúrgica pessoense.

- Uau!

Foi soberba a ideia do Agra, de abrir aquele amplo espaço para a obra, no Largo da Gameleira. Ao ver um grupo de turistas lendo numa placa de bronze que havia ante a “Saudação”, vi, surpreso, que ali estava parte do texto de meu parecer, em que remetia aquelas peças às gigantescas estátuas de pedra da Ilha de Páscoa, também voltadas para o mar. Comentei rindo, pra minha filha, que me fotografava:

- Acho que se um dia me perguntarem qual foi, dos meus escritos, o mais lido, em toda a minha vida, vou responder: aquele, ante os tótens da “ Saudação ao Sol”, do Erickson Britto, na Praia de Tambaú.

Foi ali que senti, enfim, que este está sendo – ou foi - um grande ano pra mim. Chegou a me dar uma certa sensação de... Midas.

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