Anco Márcio de Miranda Tavares
Não devesse eu, nenhum favor a Marcus Aranha, deveria o fato de ele ter trazido ao mundo, meu primeiro filho, Davi. E fez todo o trabalho pré parto, todo o acompanhamento, o parto, na antiga Santa Lúcia, ali na Princesa Isabel, de graça, sem cobrar nenhum tostão, apenas por amizade.
Marcus Aranha , esse dublê de médico e cronista da palavra simples e fácil, que parece escorrer das teclas, é um homem assim. Amigo dos amigos e desprendido das coisas terrenas, notadamente do dinheiro. E ele tem razão. Ele está com um problema tão grande agora que o dinheiro não resolverá. Só Deus.
Conheci Marcus ainda jovem, vivendo a vida na Bambu, no Hawai, em Berta, e guardo sempre sua imagem ao lado de Expedito ou de Juvêncio.Varamos muitas noites juntos, esperando que o dia chegasse para então irmos para casa. Eu, em Jaguaribe, Marcus, na casa de dona Antonieta, sua mãe, na Praça Dom Adauto.
Marcus sempre foi um homem sensível, e certa vez, no aniversário da cidade, quando eu escrevi um poema chamado "Cantiga de Amor à cidade de Joâo Pessoa", literalmente invadiu a redação do Norte para me agradecer, pois no poema eu falava dos locais que frequentávamos...
Depois, na minha outra estada no jornal associado, sua coluna nunca faltava. Mesmo ele estando no Rio, à serviço da GEAP, sua secretária chegava lá com o material para ser publicado, textos sempre bonitos, sempre inteligentes, que mais pareciam de um cronista profissional que de um médico. E curiosos. E bem humorados... Lembro de um, em que Marcus falava de maneira científica (ele é médico, claro) de quantos puns, homens e mulheres liberam por dia. Foi por ele, que fiquei sabendo que as mulheres liberam mais, vejam só...Eu não consigo imaginar Ana Hickmann liberando um pum...
Quantas crianças Marcus trouxe ao mundo? Acho que nem ele próprio sabe responder. Não que o ato de fazer nascer tenha se tornado uma rotina para ele. Sei que sentia alegre e um pouco pai por cada criança que fazia nascer, mas é que foram tantas!!! Na Candida Vargas, na Santa Lúcia, em tantos e tantos hospitais...
Eu hoje liguei pra meu filho, hoje com vinte e dois anos, e lhe disse que o homem que lhe tinha trazido ao mundo, estava necessitando de orações. Ele nunca viu Marcus, a não ser quando tinha uns cinco dias de nascido. Mas se comoveu e disse que ia pedir à seu modo pela vida dele.
E se for feita assim, uma corrente de pedidos, de orações, por todos os que tiveram seu cordão umbelical cortado por Marcus, o Deus que está os Céu certamente atenderá. Serão muitos oe bebês a pedir, e o Pai nunca nega pedidos de bebês, pois eles pedem tão pouco. Embora que eles tenham hoje mais de trinta anos, talvez.
Quando minha filha estava grávida, há pouco mais de um ano, procurei Marcus para o parto.Queria fazer uma homenagem a mim mesmo, à minha filha e ao meu filho, fazendo meu primeiro neto vir ao mundo pelas mãos de Marcus. Eu não sabia, mas ele já estava doente e disse que não podia, mas me deu todas as dicas possíveis. Eu senti uma espécie de tranca na voz dele...
Lembro de uma cronica sua, onde ele falava da morte de uma serviçal (seria serviçal apenas??) que ajudou a criar todos eles, Fernando, Marcus e Carlos. Marcus, como médico, disse que a trouxe para casa e a deixou morrer tranquila, longe de UTIs, de bips, bips, e tudo. Achei isso de uma humanidade tremenda. Se ele, como médico via que não tinha mais jeito, que fizesse sua amada amiga morrer de maneira digna...
Agora Marcus necessita de muitas orações. Mas repito, se todos os meninos e meninas que vieram ao mundo pelas suas mãos, fizerem uma corrente de oração, esse pedido será tão forte que chegará até o Pai. Força amigo e se prepare...Você vai trazer ao mundo o meu bisneto...E nós dois , velhinhos, iremos sorrir de nossas próprias besteiras, das nossas próprias rugas...Vamos viver até que o Alzheimer nos faça esquecer o próprio nome...
Publicada em março de 2006
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