segunda-feira, setembro 21, 2009

A Carta De Um Amigo

Havia perdido o contato com o Fernando Azevedo. Há tempos desconhecia o seu paradeiro. Fazía-o recolhido talvez, à um mosteiro trapista no Tibet. Eis senão quando ele me reaparece com a sua solidariedade amiga. Bela carta que autorizado reproduzo aqui. Seja bem vindo de volta ao convívio e ao coração dos velhos amigos. H.C.

"Passando por acaso no blog do Anco Márcio, li você e soube da morte da sua mãe. Uma torrente de lembranças me passaram na cabeça. Descobri no seu texto que o velho Sr. Américo (me lembro do jeitão dele, do bigode, a matriz dos Caldas) morreu em 1975. Eu estava lá, com Janete, no Hospital Português e me lembro até do que o matou, um aneurisma abdominal. Eu ia doar sangue para ele, mas não deu tempo. E me lembro muito da sua mãe, pequena, doce e suave figura, tanto na casa em João Pessoa (em Miramar) quanto num apartamento (rua Santos Dumont?) em Recife que frequentei. Claro, conheço toda sua família desde pequeno, estudei com Guilherme e com Manfredo (de quem fui muito amigo e tenho saudades) no Pio XII. E depois nos cruzamos em Recife, na Escola Fisk da Visconde de Suassuna. Você me deu minha primeira ocupação remunerada (mera generosidade do amigo, inventou uma função para mim, um desempregado liso e leso, distribuir folhetos da escola, o que fiz agradecido e muito comovido). Frequentei muito sua casa (me lembro dela até hoje, mas sei que a rua ficou movimentada e o entorno não tem mais nada a ver com o lugar bucólico que era), você e a Mary, a salinha de cinema com as cadeiras com nomes de diretores famosos, o curta “A Missa do Vaqueiro” e a nossa viagem para o festival de Salvador num setembro que derrubaram e mataram Allende , a presença constante do Fernando Spencer, os papos sobre tudo e nada de importante. Lembro dos seus filhos, dois do primeiro casamento, outro com a Mary. Claro, todos já geraram netos para você. Depois me separei da Janete, tomei outro rumo, namorei com um monte de mulheres e terminei casando com uma paulista descendente de Croata e aqui estou em Sampa há 20 anos. Fiz uma carreira acadêmica aqui e ainda estou nela, dando aula, pesquisando e publicando minhas pesquisas. Faz dez anos que não vou ao Nordeste. Tenho medo de que tudo tenha mudado tanto que o meu Nordeste não exista mais. Mas as lembranças estão intactas e os amigos permanecem num lugar especial. Como você e sua família. Tenho três filhos, um está no Recife, dois aqui comigo. Um termina o curso de cinema, olha só que coincidência. O outro faz jornalismo e o mais velho, filho da Janete, trabalha na Petrobrás em Recife. Nunca mais encontrei com o Manfredo, mas às vezes trocava rápidos e-mails com o Guy Joseph. Encontrei há vinte anos atrás, na praia de Ipanema, o nosso Carlos Cordeiro, um cara inteligente e mal humorado de quem gostava muito. Depois, nunca mais o vi. A vida é uma dispersão, vai espalhando os amigos por todos os lados e principalmente no passado. Mas a morte da mãe de um amigo provoca emoções suficientes para reuni-los todos na lembrança de um amigo nostálgico numa noite de neblina de final de inverno. Um grande e forte abraço Hugo Caldas."

Fernando Azevedo.

P S: se for possível me mande o endereço do Manfredo.

Um comentário:

Maria Eugenia disse...

Essa carta de "Fernando de Janete", era assim que a gente o chamava ... Me tocou pois além de fazer esse passeio nostálgico pelo passado fala em familia, e em vovó... E aí olha o nó na garganta! Saudades. Nenena