quinta-feira, julho 23, 2009

COMER MAIS (E MELHOR) E MATAR MENOS: O DILEMA “CARNE OU CEREAIS”???

Breno Grisi

A literatura mundial revela que a carne bovina tem propriedades incontestavelmente positivas. O balanço benefício-malefício da carne bovina (ou das carnes vermelhas em geral) se chocam ao afirmar-se, por exemplo, que: “ela possui altas concentrações de ácido linoléico conjugado, composto associado à prevenção e combate de determinados tipos de câncer”; e ao mesmo tempo “seu consumo está relacionado com certas degenerações cardiovasculares”... Se os consumidores de carnes vermelhas e embutidos (carnes processadas) lerem um artigo no Arch Intern Med, 2009 Mar 23;169(6):562-71, que traduzo por “Ingestão de Carne e Mortalidade: um Estudo Prospectivo de Mais de Meio Milhão de Pessoas” sentir-se-ão “aliviados” com a conclusão: “ingestão de carnes vermelhas e carnes processadas foram associadas a aumentos modestos com a mortalidade total, mortalidade por câncer e mortalidade por doença cardiovascular”. Eu, pessoalmente continuo com receio de ser incluído nesse aumento modesto!
Em termos ambientais... aí sim, há muito que ser avaliado e discutido. Privilegiar a produção de cereais ou a de carne? Robert Goodland escrevendo “Sustentabilidade Ambiental: Comer Melhor e Matar Menos” (expressão que tomei emprestada para título deste ensaio) publicado em “CAVALCANTI, C. (org.) (2002) Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Políticas Públicas, 4ª.ed., São Paulo, Cortez Edit. e Recife, Fundação Joaquim Nabuco, 436p.”, em termos de sustentabilidade ambiental, comparando produção de cereais e de carne animal destaca: 1) o gado de corte durante a engorda consome 7 kg de cereais para produzir 1 kg de peso em pé, ou produto em pé em sua expressão ecológica (sugiro aos leitores que consultem o livro clássico de ecologia, de ODUM, e vejam quanto de energia se evitaria perder na cadeia alimentar “se fôssemos mais herbívoros”); 2) o porco consome quase 4 kg de grãos para 1 kg de peso em pé; 3) frango e peixe (mais eficientes na conversão) consomem 2 kg de grãos para cada 1 kg de peso em pé; 4) produção de queijo: 3 kg de grãos para cada 1 kg desse produto; e produção de ovos: 2,6 kg de cereais por 1 kg desse produto. E o autor então pergunta: “Se os indivíduos mais prósperos do mundo aceitassem simplificar sua alimentação (por razões de saúde ou ética ou economia, ou religião...) liberariam os cereais assim poupados e os distribuiriam para prevenir a fome e a desnutrição onde e quando necessário”?
E ainda, segundo R.Goodland: se em 1 ha de terra com plantio de grãos produzem-se de duas a 10 vezes mais do que em 1 ha destinado à produção de carne bovina e que em 1 ha de legumes produzem-se de 10 a 20 vezes mais proteínas do que o mesmo hectare voltado para a carne de boi, antes de decidirmos por uma política pró-gado bovino, precisamos observar se no local objeto da ocupação não haveria maior retorno se optássemos por produção de cereais. Priorizar tal decisão exclusivamente por razões econômicas (carne bovina é “artigo para exportação”), ou por razões de preferência alimentar, deixando de lado outras questões, como conservação/preservação ambiental e sócio-economia ambiental, se contrapõe ao que hoje se entende por desenvolvimento sustentável. Sobre a expansão da fronteira pecuária (caso da Amazônia) sugiro aos leitores que consultem o www.ecologiaemfoco.blogspot.com

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