sábado, setembro 29, 2007

UM ASILO MUITO LOUCO


HUGO CALDAS

Amanheci o dia recebendo de amiga querida, via e-mail, uma antiga marchinha de carnaval. Foi como uma viagem no túnel do tempo. Instantaneamente repassei a preciosidade para amigos que comigo vivenciaram nos anos 50, vários carnavais ao som da ingênua marchinha. É comovente perceber como os tempos eram outros. Nós éramos outros. Ingênuos e bem-comportados. De imediato, um desses amigos me responde:

"Tínhamos um imenso prazer nas pequenas coisas. Ou uma emoção maravilhosa diante da garota por quem nos apaixonávamos. Quer saber? Acho que hoje ninguém é realmente feliz. Uma sociedade em que a felicidade suprema consiste em aparecer na Globo ou na Caras é uma sociedade muito doente, ou muito burra, ou ambas as coisas."

Tem toda a razão o meu dileto amigo. Os tempos decididamente são outros.

Sinto-me cansado de ver prosperar as iniqüidades.

Ah, essa maldita herança Ibérica, Judaica Ocidental Cristã e acima de tudo Portuguesa. Quanto mal nos fez. A Santa Madre Igreja nos encheu de culpas. Tudo era e continua sendo pecado. Fomos criando um monstrengo dentro de nós. Monstrengo esse que adora tirar proveito de tudo e de todos. Monstrengo que se levanta de manhã cedo com uma idéia fixa: "Em quem eu vou passar a perna hoje?"

Nem precisa ser senador ou deputado ou...
Essa "passada de perna" traduz-se até nas coisas mais simples.

Fingir que dorme na cadeira dos idosos e deficientes nos ônibus, para não ter que ceder o lugar. Fazer um conluio com o motorista e o cobrador para não passar na borboleta e evidentemente não pagar a passagem inteira. Essa atividade (roubo, mesmo) se revela uma verdadeira sangria nos cofres da empresa. Resulta em um senhor salário-extra ao final do mês.

Tem mais:

O péssimo atendimento nos bancos, nas agências do correio, nas repartições públicas, nos hospitais etc. Parece que estão fazendo o maior favor do mundo em atender ou prestar uma mísera informação. Por ouro lado a nossa tentação em molhar a mão do guarda. Às vezes o tal guarda é honesto e aí... Furar filas então, é um êxtase. A falta de respeito é um fato consumado. Educação é tudo. E tudo parte daí, eu acho.

Haverá solução para tudo isso?

Tem gente imaginando que ensinar música e dança para crianças carentes é a salvação. Todo mundo sabe que não se vive de música neste país. O mercado de trabalho está saturado. Substituíram os músicos por DJ's e música eletrônica. Porém ensinar um instrumento musical tornou-se a monumental panacéia. Receio que terminemos um país de 180 milhões de músicos. E mais outro tanto de dançarinos. Será que, com tudo isso estamos no caminho certo?

O que mais agride é perceber que antigamente as pessoas, para entender o Brasil, liam Casa Grande e Senzala. Hoje, assistem ao Domingão do Faustão. Ou a Regina Casé fazer a apologia da periferia. A louvação do sujo e do mal lavado. O elogio do feio ao invés do bonito, do errado no lugar do certo. Funk é que é a cultura. Viva o miserê, a penúria e a podridão do esgoto a céu aberto.

Vivemos de aparências. Gastamos uma fábula para sediarmos o PAN e não temos esparadrapo, muito menos mercurocromo nas clínicas e nos hospitais de atendimento SUS. As pessoas estão morrendo nas salas de espera (sic) desses nosocômios que mais parecem uma sucursal do inferno. A saúde do país foi pro espaço... Com ou sem crise aérea.

Carlos Manga o diretor das melhores chanchadas de Oscarito e Grande Otelo disse há poucos dias em entrevista que jamais faria um filme tendo como pano de fundo a favela, a miséria, a bandidagem, policia bandida, etc. Faz ele muito bem. A "denúncia," é feita, se ganha muito dinheiro, tudo vira o maior ôba-ôba e fica-se na mesma. Lembram de "Pixote"? Além do mais, nós assistimos a esse tipo de filme no jornal da TV diariamente.

"O Lobo Hidrófobo," Paulo Francis, disse certa vez: "O Brasil é um asilo de lunáticos onde os pacientes assumiram o controle". Eu ousaria colocar que:

O mundo também é um outro asilo muito louco...

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3 comentários:

Unknown disse...

E cadê a antiga marchinha de Carnaval, considerado amigo "Coelho"? Faça o favor de publicar a letra desta que o remetente, menino ainda, com absoluta certeza cantou e dançou nos anos 50.

Receba grande abraço do Moacir Japiassu, também conhecido como Japi, Galego e "Moacir de Neusa".

Anônimo disse...

Professor andei, virei e mexi o mouse e achei seu artigo perfeito. As vezes nos dá uma impressão que estamos no planeta ou decada errada.Melhor lembrar-nos que hoje podemos nos comunicar em tempo real e com pessoas ricas de conhecimento, né??? um abraço, Glauce aluna minuto

Anônimo disse...

...Sem comentários, na verdade só a foto diz tudo...ADOREI o "nariz de palhaço" na montagem...
Congratulações pelo "Blog"!!!