segunda-feira, maio 07, 2007

SUCEDIDOS 31 - O BATIZADO


ELPIDIO NAVARRO

Martinho Quintas de Alencar era funcionário da Usina São João, no município de Santa Rita e residia na própria usina. Nos conhecemos no Ginásio Solon de Lucena, onde chegamos a estudar juntos. Participamos de blocos de carnaval e posteriormente fomos companheiros no Teatro do Estudante da Paraíba. Ao nascer Luiz Maurício, meu primeiro filho, poucos dias antes havia nascido o segundo dele, que recebeu o nome do pai. Eu ainda estava com a mulher na maternidade quando ele foi nos fazer uma visita e nos convidou para ser os padrinhos do filho dele. Claro que aceitamos a sua deferência e a retribuímos convidando-o também para ser padrinho do nosso, o que ele aceitou de imediato. Depois me confessou que nos fez o convite, certo de o convidaríamos também. Tendo os meninos atingidos alguns meses de idade, acertou-se os batizados que seriam realizados no mesmo dia, na usina onde Martinho morava, pelo padre da paróquia de Santa Rita.

Na data marcada estávamos lá, pais, padrinhos e alguns amigos e parentes convidados pelas duas partes. Um dos meus convidados especiais era o maestro Pedro Santos, por quem nós todos tínhamos especial consideração. Com os batizados marcados para às dezesseis horas, chegamos às nove e nos aboletamos na residência do futuro compadre. Bebes e comes, mais bebes do que comes, almoço, mais bebes e comes e esquecemos a hora de ir buscar o padre. Resultado: não aconteceram os batizados.

Marcada uma nova data, estávamos novamente todos lá. E também outra vez bebes e comes, mais bebes do que comes, almoço, mais bebes e comes, sendo que , dessa vez, alguém da família de Martinho ficou atento à hora de ir buscar o padre, que chegando, encontrou os padrinhos bastante alegres, dando vivas a Jesus Cristo e transpirando álcool. O padre, um tanto ranzinza e de origem holandesa, recusou-se a realizar os atos religiosos, alegando nossa condição de adoradores de Baco. E mais que, se quiséssemos batizados, agora teríamos que ir até à Igreja de Santa Rita.

Dias depois estávamos, às oito da matina, padrinhos e madrinhas portando seus respectivos afilhados, à porta da tal Igreja, para iniciar o ritual do batismo. Dessa vez a coisa iria acontecer, pois até o horário, tão cedo, foi escolhido para que ninguém bebesse antes. Todos a postos, inclusive o padre, quando uma beata, dessas que ficam colaborando com a arrumação de igreja, chegou ao ouvido do vigário e cochichou alguma coisa. Ele virou-se para nós e decretou:

- Non fazer mais batizadas!

E retirou-se. Ficamos sem entender coisa alguma até que a tal beata esclareceu:

- Aquele amigo dos senhores roubou um santo do altar e escondeu no carro...

Havia sido Pedro Santos, que encontrando uma imagem de um santo, feito em madeira e desprezada lá por trás do altar, recolheu-a para si, alegando que ela havia sido substituída por uma de gesso, de qualidade artística inferior, porém, muito mais vistosa. Mas o padre holandês não queria saber disso:

- Só fazer mais batizadas se devolver santa!

Pedro Santos atendendo as nossas ponderações foi até ao padre e propôs um negócio: devolveria a imagem do santo, mas o padre deixaria ele levar uns ex-votos que também estavam desprezados no mesmo lugar. E não é que, para o espanto geral, o padre aceitou! Os batizados foram realizados, enfim! Quando saímos da igreja, Pedro Santos vinha se justificando:

- Tudo depende do diálogo, de se saber negociar. Eu cedi um pouco, ele também cedeu um pouco, e tudo foi resolvido sem maiores problemas!

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