terça-feira, março 27, 2007

RECUERDO 20 - BREVE HISTÓRIA DA FAZENDA DIAMANTE

HUGO CALDAS

Todo mundo já sabe, através do meu perfil no Blog do Hugão, (endereço no rodapé) que já fui de tudo um pouco. Vejo entretanto que passei batido pela fase de fazendeiro. Não poderia jamais deixar de lado tão comovente relato, pelo inusitado do fato.

Pois é. Quarenta anos irresponsáveis - quanta imbecilidade - de fumo me deram de presente um belo de um Enfizema Pulmonar e motivos de sobra para arrendar juntamente com um amigo uma fazenda de 20 e tantos hectares. Terras do Agreste pernambucano, oitocentos metros acima do nível do mar. Eu precisava de ar puro, o amigo de um certo sossêgo. Pelo menos nos fins de semana.

Foi um arrendamento de 24 meses mas passados apenas dois o nosso mundo caiu, o paraíso desmoronou. Foi literalmente pro beleléu. Já não deu para continuar. Apareceu um mar de problemas como diria o bardo Shakespeare. Tudo por conta de um caseiro que parecia mandar mais do que o dono. O fato é que ele veio de contrapeso e o aceitei atendendo a um pedido do proprietário.

Os amigos, Dr. Saulo, gozador emérito, Luís e outros, faziam a maior farra com o nome pomposo da chácara. "Fazenda Diamante." Isso é nome de Cabaré, diziam às gargalhadas. Corre lenda de que as terras onde hoje repousa a fazenda haviam sido da famila do caseiro em priscas eras. Quero entretanto acreditar que ele deveria ter conhecimento de alguma coisa que incriminava alguém. Alguma falcatrua, coisa do gênero, sem que se tomassem as devidas providências. Os desvios de energia elétrica e água eram frequentes, evidentes e imorais.

Tinha uma filha, Yaponam. Professora primária que não deu certo. Virou faxineira. Essa evidentemente trabalhou para mim e fez umas limpezas na casa, não sem antes exigir uma batelada de vassouras, detergentes, perfumantes, sabões, esfregões, rodos e uma fornada de outras coisinhas, mal acostumada que estava com os arrendatários anteriores que usavam a fazenda para inúmeras e frequentes farras sem evidentemente se importarem com o que gastavam com a limpeza. Agora ele, o caseiro Bernardino, receber 350,00 (um salário mínimo) para abrir a porteira uma vez por semana, convenhamos que é um pouco demais. Astúcia maior só sendo candidato a presidente da república. E ganhar a eleição, naturalmente.

A palavra mais doce na boca dessa criatura era NÃO. Tudo o que eu planejasse ou tivesse em mente em fazer recebia o apoio de um sonoro NÃO. Praticamente enxotou um engenheiro agrônomo meu amigo que veio de boa vontade, disposto a colaborar, pois eu pretendia criar umas tantas galinhas e estabelecer uma pequena horta, coisas do tipo. Foi tanto, "não vai dar certo"... que não deu!

Tenho conhecimento que o Cel Guilherme, médico e sua simpática esposa também médica, foram arrendatários e tiveram problemas com ele. Não sei, entretanto, como conseguiram suportar durante dois anos.

O proprietário, pessoa escorregadia, esquivo, arisco meio matreiro, usava de artimanhas mil e expedientes pouco recomendáveis tais como, desaparecer do mundo, viajar no dia marcado para uma entrevista. Enfim, fugir do assunto, quando eu me dispunha a ir falar com ele e reclamar do fulano lá. Consegui, quase milagrosamente desfazer o contrato de locação quando finalmente nos encontramos e ele, de uma certa forma meio descontente e bastante descortez, sobrepôs sua digníssima assinatura em um adendo ao supra citado contrato.

O fato é que não havia mais nenhum sentido em ir semanalmente para lá, fugindo de uma série de problemas e arranjar outros. Piores. Foi bom enquanto durou. Fazenda Diamante, nunca mais. T'esconjuro!

Obs. Os nomes das pessoas e entidades citados nesta materia são ficticios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência.

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