ELPIDIO NAVARRO
Era um dos nossos fins de semana na Barra de Gramame, praia do litoral sul, pertencente ao município do Conde, na Paraíba. Ficávamos numa caiçara sem portas e sem paredes, só tinha a coberta feita de palha, bem à beira-mar. Ali se aguardava a hora de ir buscar as redes colocadas no meio do maceió, para capturar, através das suas malhas, as tainhas tão desejadas. Também era ali que se fazia as refeições, que se bebia, que se cantava e que se dormia. Nesse fim de semana, enquanto esperávamos a hora que maré iniciasse o período do remanso, começamos a conversar sobre diversos assuntos. Em dado momento estávamos discutindo a existência ou não de Deus. Isso tudo impulsionado pelas doses de aguardente já bebidas, que nos dava, principalmente a mim, uma certa convicção de que Deus não existia. E o meu discurso atrevido, próprio de quem quer aparecer, deixava o nosso canoeiro Wilson apavorado com tanta falta de respeito às coisas religiosas.
Chegada a hora de recolher as redes, todos dentro da canoa rumo ao centro do maceió. Era uma maré de lua nova, por isso de fortes ondas e de noite totalmente escura. Levávamos um candeeiro a gás para poder executar a nossa tarefa. E no momento em nos encontrávamos temerosos com o balanço da canoa, com a correnteza das águas e com a escuridão da noite, Wilson fez a pergunta:
- Quer dizer que vocês não acreditam que Deus existe?
Silêncio geral. Eu, Assis, Reginaldo, Ronaldo e Romeu Fernandes e Anchieta, ninguém se atreveu a responder e ele insistiu, dirigindo-se a mim:
- Como é? Deus existe ou não existe?
Dessa vez eu não poderia ficar calado e o jeito foi sair pela tangente mandando as minhas convicções para o inferno:
- Wilson, esse é um assunto que a gente discute quando voltar para terra firme, quando chegar na caiçara. Aqui não! Aqui a gente tem de puxar essas redes... Você sabe, é perigoso se distrair...
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