ANCO MÁRCIO DE MIRANDA TAVARES
Virou rotina as crianças desse Brasil verde e amarelo morrerem por causa de bala perdida. Os meninos estão brincando perto de casa, parados nos pontos de onibus, quando uma bala doida vem e lhes tira a vida ou os movimentos. E fica tudo por isso mesmo, pois nunca aparece quem atirou.
A menina que vai ficar paraplégica é pobre, filha de um carpinteiro e tem apenas treze anos. Eu a vi na tv fazendo um apelo para andar, alguém lhe deu um aparelho, mas nunca mais ela será a mesma. Alguém lhe acertou a medula e lhe tirou a capacidade de se mexer da cintura para baixo.
Com que pernas andará essa pobre menina que a maldade dos homens aleijou? Como realizar seus sonhos, viver sua vida, chorar suas dores, como correr para ir à escola, se lhe cravaram uma bala bem no meio da medula? Bala perdida... Um termo bem brasil, um termo que bem mostra o desprezo que se tem pela vida aqui nesse país.
As balas não saem sozinhas das mortíferas armas para atacar ninguém. Alguém puxa o gatilho e aciona o mecanismo que as dispara. Esse alguém pode ser a polícia ou os bandidos. Quando são os bandidos ainda se fala, quando é a polícia oficial, abafam o caso e deixam crer que a bala disparou sozinha.
A mãe de Alana, a menina de doze anos morta no Morro do Macaco por uma bala perdida, disse que elas não existem, o que existe é muita irresponsabilidade. E eu também creio nisso. O homem, na sua ânsia de matar, na sua ânsia de caçar o inimigo, vai ceifando vidas quase que no nascedouro.
De um lado as balas da policia, do outro as dos marginais. As duas, matam aleijam deformam e formam paraplégicos. Vivemos numa guerra civil e não queremos admitir. Esse país tá em guerra, numa guerra que pouco a pouco vai crescendo e deixando vítimas inocentes no seu caminho...
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