A Viagem de Volta:
Confiaram-lhe uma pasta, contendo documentos importantes e algum dinheiro para ser entregue em mãos ao tenente Juarez Távora que se encontrava homiziado na casa de Odon Bezerra, em Tambiá. Em hipótese alguma deveriam parar o carro. Para qualquer tetativa de parar o automóvel a ordem era atirar para matar. Nas proximidades de um lugar conhecido como Maricota, divisaram alguém no acostamento dando com a mão. Sem diminuir a marcha o Sargento Nunes perguntou, ordenando:
- Qual é a ordem, estudante? O nosso herói sem um pingo de convicção aperta o gatilho. Neste exato momento o carro é crivado por uma formidável rajada de balas... Ninguém se feriu mas o carro chegou ao destino todo costurado com os tiros..
Em Tambiá, o Tenente Juarez Távora os recebeu em pé, verificou o conteúdo da pasta, encaminhou-se até o estudante e disse circunspecto:
- "A Pátria está muito orgulhosa e agradecida pelo seu trabalho". Um dia você será devidamente recompensado. Fez-lhe um pequeno afago nos cabelos e retirou-se. Já de volta ao automóvel o Sargento Nunes pensava:
Entregar a pasta ao Tenente Juarez foi fácil. E mal disfarçando um sentimento de afeição... "O duro vai ser entregar esse estudante ao Doutor Juiz".
E assim foi feito. Doutor Caldas os recebeu vestindo um robe de chambre por cima do pijama azul. Ajeitou mecanicamente o pince-nez no topo do nariz e...
- Doutor Juiz aqui está o seu rapaz, são e salvo.
- Sargento, eu e a minha família lhe somos eternamente gratos pela proteção dada a esse maluco. Vira-se para o nosso herói e:
- "Agora é conosco"! Ciente do que poderia acontecer, o Sargeno Nunes apressa o passo para a saída, dá um abraço afetuoso no estudante e diz num quase sussurro: "Boa sorte, você vai precisar"!
A BRONCA
- Isso é coisa que se faça!
- Mas, meu pai...
- Não tem MAS nem meio MAS. Você é menor de idade e eu sou o seu pai. Não poderia ter ido sem a minha permissão. Sua mãe adoeceu e passou mal e tudo por sua culpa...
Após ouvir uma série de reprimendas o nosso herói pondera que realmente desejava juntar-se aos revoltosos e dessa vez pede a permissão paterna. Permissão concedida, alista-se, volta ao Recife naquele mesmo dia e participa como ativo guerreiro da Revolução de Trinta ao lado dos Liberais.
A volta veio confirmar o que se falava há muito. O Recife havia caído, apenas resistindo com um atirador solitário e um tal "blindado".
A coluna paraibana encontrava-se refestelada em uma confeitaria da Rua da Imperatriz.quando o blindado apareceu. Tratava-se de um furgão, desses para a entrega de cigarros no qual acharam de colocar umas tantas placas de aço à guisa de blindagem.
Freou bruscamente em frente à confeitaria e suprema audácia, atirou para dentro do estabelecimento. Após constatar que não havia feridos, o Sargento Nunes grita:
- Moçada, vamos ver se esse blindado é bom mesmo: Ao meu comando: Fogo centrado!
O blindado rodopiou uma, duas, três vezes até bater em um poste do meio da rua. De súbito um fio de sangue escorre no estribo da viatura. Abrem as portas com cuidado: Dentro, onze legalistas mortos. Retiraram os mortos e os deitaram em fileira no leito da rua. O estudante ainda teve tempo para uma oração, enquanto trocava as perneiras de marca "Carnaúba", o que de melhor havia no mercado, nas pernas de um tenente. Delicadamente colocou as suas perneiras usadas nas pernas do defunto.
5 comentários:
Genial, Hugo!!!
Não há nada mais rico do que ver a História acontecendo.
Solha
Excelente!
Excelente!O texto é seu? E esse Sargento Nunes,
quem é?
Sargento Nunes já é falecido há muito tempo. Era tio de Valdez.
Prezado Hugo-salvo engano, esse sargento Nunes depois que deixou a farda, já na década de 1960, foi garçom no Elite Bar, Churrascaria Bambu e no antigo Restaurante Lido, que existia na Rua Duque de Caxias, vizinho a sede do Clube Cabo Branco.
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