domingo, novembro 03, 2013

Estação Ponte d´Uchoa

Girley Brazileiro
Vejam que história interessante: em 1865 foi instalada no Recife a Empresa de Trilhos Aros Urbanos, proporcionando à cidade um moderno sistema de transporte urbano com bondes. Os chamados de maxobambas, naquela época. Esta denominação foi derivado do inglês, machine pump. Era um veículo de transporte de passageiros constituído de uma pequena locomotiva, cuja cabine não tinha coberta e puxava dois ou três vagões. Podia ter dois andares. (Vide foto a seguir).

Foi uma novidade enorme e se constituiu no primeiro sistema de transporte sobre trilhos nas cidades brasileiras, entre as quais o Recife. Várias estações foram construídas, em pontos estratégicos da cidade, conforme naturalmente a atender as necessidades da população. Uma deles foi a de Ponte d´Uchoa, na localidade de mesmo nome, situada entre os atuais bairros da Jaqueira e das Graças. Área nobilíssima da cidade. Em 1867, a empresa passou para o controle da Brazilian Street Railway – de origem inglesa – e a estação Ponte d´Uchoa foi junto. A maxobamba circulou pela cidade até 1915. Em 1916, outra companhia inglesa fundou no Recife a Pernambuco Tramways & Power Company, introduzindo o moderníssimo bonde elétrico no transporte urbano da cidade além da geração e distribuição de energia elétrica na cidade. Vide foto a seguir.
A Estação Ponte d´Uchoa continuou como importante ponto de parada para os passageiros. Isso durou até que o sistema de bondes foi suprimido e substituído por ônibus, final da primeira metade do século passado. Novamente a estação Ponte d´Uchoa serviu de parada dos coletivos, até 2003 quando foi deslocada para facilitar o trânsito local. Restou um belo ícone da história da cidade, admirado e querido por todos. Recordo que fiz ponto de paquera das alunas do Colégio das Damas Cristãs, lá em frente. Tombado e preservado como importante patrimônio histórico-cultural da cidade. Um cartão-postal. Vide foto a seguir. Outras estações certamente existiram, mas, nem vestígios nos dias de hoje.
Vejam, agora, que história triste: esta semana – quase 150 anos depois de construída – a estação Ponte d´Uchoa amanheceu destruída! A recifense foi tomado de triste surpresa. O tradicional cartão postal da cidade foi, praticamente, deletado, de hora para outra, por um imprudente motorista, filhinho mimado da mamãe, que encheu a cara numa farra noturna e no amanhecer, ao volante de um veiculo “desconduzido”, colidiu com a histórica estação, derrubando-a quase que totalmente. Acidentes acontecem, eu sei. Muitos de forma inexplicável. Mas, quando o motivo é o álcool na cuca, tenha paciência. E, quando toma como alvo da destruição um patrimônio histórico da cidade, pior. Não tem desculpas. Segundo o noticiário, o cara foi socorrido às pressas e se livrou do flagrante, inclusive, do teste de alcoolemia.
Não importa qual a explicação que seja dada. Inquirido pela policia, jurou que não havia bebido! Dormiu ao volante? Quem sabe? Seja lá como tenha sido, o que importa é que a história da cidade foi borrada. Num lugar onde a preservação do patrimônio histórico é, muitas vezes, relegado a último plano, um episódio desses é lamentável. Fala-se na recuperação da estação. Espero que o mais rápido possível e que o autor do desastre será responsabilizado pelo custo da restauração. Tem que ser assim, para servir de exemplo. Sem pena nem concessões apadrinhadas. O contribuinte não deve pagar por esse abuso. É de se esperar que a coisa não se perca nos meandros da burocracia dos poderes constituídos e a estação corra o risco de  cair no esquecimento, como tantos outros monumentos da secular cidade foram destruídos propositalmente ou por conta do abandono.
Ocorre-me uma ideia: colocar na estação Ponte d´Uchoa – quando recuperada, claro – um posto permanente de controle da Lei Seca. Quero ver bebum nenhum se atrever passar por ali.
Ah! Antes de terminar, mais um pouco de história: andei conversando com o Professor Google e ele, que sabe de tuuuuudo, me explicou que “o nome Ponte d´Uchoa está relacionado ao Senhor de Engenho Antonio Borges Uchôa, do Engenho da Torre, que viveu no século XVII. Após a expulsão dos holandeses em 1654, para permitir acesso à outra margem do rio Capibaribe, onde moravam parentes seus, ele construiu uma ponte, que ficou conhecida como Ponte d´Uchoa, e assim ficou denominada a área adjacente à outra margem do rio que fazia ligação por ponte da sua propriedade”. Desconfio que seja a atual Ponte da Torre.

Blog do GB

NOTA: As fotos foram obtidas no Google Imagens

2 comentários:

Celso Japiassu disse...

Excelente post.

Edvaldo disse...

Parabens, Girley. Resido próximo e fiquei muito triste, não pelo bebum, mas, pelo abrigo que nos serve tanto.
Belo artigo !!!