domingo, junho 09, 2013

Seca - Até Quando...

É de cortar o coração - (clicar na imagem)
 O locutor que vos fala não é nenhuma autoridade no assunto, não é nenhum técnico em meteorologia, sequer um mero "garoto do tempo" de uma tv qualquer. Move-me apenas o desejo de deliberar/discutir, como qualquer cidadão comum, sobre um assunto de trasncendental importância... "SECA" pelo ouvir dizer, pela curiosidade e pelo bom senso e pela indignação.

As chuvas que caíram e alagaram a cidade no final de maio e continuam, sem a mesma intensidade, chegaram no momento certo para resolver parcialmente, o racionamennto de água no Recife e Região Metropolitana. Por outro lado, também vieram de certa forma atrapalhar um movivmento de solidariedade, uma vontade de trabalhar pelas pessoas que estão sofrendo com a pior - dizem - seca dos últimos 50 anos.

Como uma luz no fim do túnel, cheguei a vislumbrar uma tomada de posição. As pessoas pareciam dizer: 

- "Se a canalha do governo não faz, façamos nós".

Haja coleta de alimentos, víveres, água e ração para animais. Porém à visão do Recife afogado, as pessoas engajadas, parece, se esqueceram de tudo ou quase tudo. A campanha tomou outro ritmo, não terminou mas arrefeceu.

"Está tudo bem, graças a Deus a chuva voltou." Voltou para o litoral é evidente. O sertão entretanto, continua esturricado como sempre. Sem água e sem ter o que comer, criação morrendo à mingua, fome e sede.  A cada dia um inferno, literalmente. Não, não está bem coisa nenhuma, o problema persiste. Para o sertão, lembrem-se todos, o que tinha para chover já choveu. Agora só no ano que vem.

Iniciaram então várias campanhas de solidariedade a fim de angariar donativos. É claro que campanhas desse tipo não resolvem o problema. Não acredito muito na sua eficácia. É preciso mais, muito mais. Semana passada os organizadores imploravam por caminhões para o transporte até as cidades atingidas. Longe de mim maldar qualquer "malfeito" mas instaria a lembrança de Santa Catarina algum tempo atrás, quando soldados do exército encarregados da distribuição, se entregaram à deletéria tarefa de desviar os donativos que chegavam para os flagelados das enchentes.

Nos meus tempos de simpatizante socialista tinha como bíblia um pequeno livro: "El socialismo, respuestas a las indagaciones más comunes", onde uma frase vive ruminando o meu miolo até hoje: "A caridade é a consagração da desigualdade." 

A responsabilidade é toda do governo; porém os sacripantas no poder preferem pensar em eleição, reeleição, transposições delirantes e fantasiosas do Rio São Francisco ou construções de estádios de futebol super faturados. A Arena Pernambuco que foi entregue de mão beijada a um time de futebol local custou a bagatela de 530 milhões e mais um pequeno repasse de 165 milhões, é o mais cristalino exemplo de que tem lingüiça por debaixo desse angu. E o que é pior: sem o advento de uma copa mundial a cada seis meses esses mastodontes brancos logo se tornarão belas ruínas a exemplo do que ocorreu na Grécia e na África do Sul. Os EUA sediaram a Copa de 94. Pergunta quantos estádios foram construídos por lá!

Dizia o escritor mineiro Otto Lara Resende, que "o brasileiro só é solidário no câncer". A não ser, digo eu, que haja uma equipe de TV por perto. É impressionante o poder que essa máquina do demônio pode causar às pessoas. É um tal de querer aparecer. Ser bonzinho de fancaria, só para se mostrar.

- "Estão vendo, eu faço caridade, vejam como eu sou um bom samaritano." "Me faz um bem enorme quando eu trabalho em prol dos meus irmãos que estão passando necessidade."

Mas não é você ó sua besta quadrada quem tem de ficar se sentindo bem. É exatamente o "irmão que passa por necessidades."

Naquele tempo dizia Jota Cristo aos seus discípulos: Fazei o bem sem reparar a quem. O que a sua mão direita faz, a sua mão esquerda não saiba, e execrava o que Ele chamava de sepulcros caiados. O que existe por aí desses tais sepulcros...

É inadmissivel em pleno seculo 21 ficar contando com a  boa vontade de São Pedro. Há que se fazer alguma coisa ao invés de ficar remoendo a balela de "conviver com a seca". No final das contas, nada mais é, do que "morrer com a seca".

O estado de Israel tira água de pedras.

Conheci, na década de 70 um geólogo holandês, prestando serviços à Sudene que assegurava haver embaixo da região de Currais Novos, Mossoró e Caicó, municípios do Rio Grande do Norte, uma quantidade de água 20 vezes maior do que a Baía da Guanabara.

Souza, cidade no sertão paraibano é um lugar inóspito, de uma secura abrasadora. A seca por lá era como um castigo de Deus. Dizem, que dava para fritar ovos na calçada da Pracinha. Pois muito bem, há uns bons 5 anos estive por lá e deparei-me com algo absolutamente surreal: Na entrada da cidade existe um Parque Aquático com tobogã e tudo. Água a dar no meio da canela.

Durante o último grande racionamento, cerca de uns 10 anos atrás, tomava eu a fresquinha da tarde sentado num banco da Praça de Boa Viagem. Desfile interminável de caminhões-pipa a servir hotéis, condomínios e quem mais se dispusesse a pagar 70 reais por 15 mil litros do digamos, precioso líquido. Em dado momento dois gringos, ingleses, sentam ao lado. Pude perceber que a conversa tratava do racionamento. É incrível, dizia um, "como a situação chegou a esse ponto e, no entanto eles têm todo esse mar bem aqui em frente, contando ninguém acredita."

Não está acreditando? Por ventura já ouviu falar em dessalinizador? Não? Pois a dessalinização de águas se refere a um processo físico-químico de retirada do sal e outros minerais da água. Usa-se muito o dessalinizador em regiões onde a água doce é escassa ou de difícil acesso, como no Oriente Médio, na Austrália e no Caribe, em navios transatlânticos e submarinos. A água doce obtida é utilizada para consumo humano ou irrigação. O processo ainda produz sal de cozinha como subproduto. Portugal, meu avozinho já utiliza o processo há anos e usa a própria força das ondas para a captação da água.

Sei que estou me alongando mas essa coisa está presa aqui no pé da goela. Finamente, uma pergunta impertinente...

“Como é que o Brasil que detém a técnica e a capacidade de perfurar e extrair petróleo a sete quilômetros de profundidade (Pré-sal) em alto mar não consegue perfurar uns poucos trezentos metros para um singelo poço que poderá ser aproveitado pelas pessoass da redondeza?" Eu mesmo respondo: "com a chegada da água acabam-se os currais eleitorais."

Mas, viva São João! Que fiquem todos tranqüilos. Caruaru e Campina Grande não estão nem aí para a seca. É festa todos os dias durante o mês de Junho. Logo teremos a Copa das Confederações e para o ano A Copa Mundial. Tudo muito bom, tudo como dantes no quartel do Abrantes. O que vem corroborar a máxima do General De Gaulle, Presiddente da França, durante a ridícula Guerra da Lagosta. 

"O Brasil não é um país sério!"

Um comentário:

Mary Caldas disse...

Uma vergonha!
A seca se arrasta há séculos...
Muito bom o texto, Hugão