domingo, junho 09, 2013

O GIGANTESCO DOM SERTÃO DE SITÔNIO

W. J. Solha

Alguém disse que se você quiser saber do que, de grandioso, um ser humano é capaz, ponha-se na Sistina. Mas o vasto, bíblico Semi-Árido Irregular brasileiro, já produziu vários livros monumentais de igual poder, como Os Sertões, Grande Sertão: Veredas, e O Romance da Pedra do Reino. Agora me deparo com ensaio de igual envergadura, publicado por A União em 2002, Dom Sertão, Dona Seca, tão absurdamente pouco lido quanto divulgado.

Nunca consegui deixar de ver Os Sertões como não sendo um romance de revolucionária forma. Foi como também li as quatrocentas páginas com novecentos e dezessete notas de rodapé ( por onde flui, subterrânea, vasta erudição) do colosso sitoniano, que me revelou o grande Brasil no Brasil em que vivemos e que desconhecemos.

Dono de terras, mas filiado ao PCdoB, Sitônio é radical e inesperado em tudo, fato normal no Reino Encantado do Sertão de Ariano. Isso me faz vê-lo como novo autor épico à revelia.

A vida, o sertanejo, o sertão transbordam do seu livro. Daí que, mesmo quando discordo dele, eu o leio com respeito, justamente pelo conhecimento e pela paixão com que foi produzido:

- O sertão é fértil porque é seco - diz e prova.

- A transposição virá – vaticina - . Não por necessidade da obra, mas pela necessidade das empreiteiras – o maior poder político atuante no Brasil.

- A causa dos sem-terra é revolucionária – acrescenta - , mas sua proposta é reacionária, pois legitima e sedimenta a propriedade. Os sem-terra não querem o fim da propriedade, querem a propriedade para eles também.

E garante:

- Todos são favoráveis à reforma agrária – menos Marx, Lenine, eu e Trotsky.

Mas há mais. No Grande Sertão do Sitônio há uma infinidade de Veredas, como os combates pela emancipação de Princesa, a liderança de grande figuras femininas, a definição do que foram os místicos de Canudos, do Juazeiro, de Triunfo, a posição irredutível em que o ensaísta se mantém contra o presidente João Pessoa, em defesa de José Pereira, dos Suassunas, Dantas e dos Cunha Lima. Mas concordo quando diz que o Nordeste é a região brasileira mais fértil de lutas.

Se um país, uma nação, “um reino encantado”, tem que ter sua Bíblia, Alcorão, sua Divina Comédia, suas peças de Shakespeare, parece-me que o Polígono das Secas, o Semi-Árido Irregular tem que adotar esse imprescindível Dom Sertão, Dona Seca. Que venha, portanto, nova edição dele, e que seja distribuída por todos os nordestinos, como o Novo Testamento pelos crentes.

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