Martha Medeiros
Recebi hoje esse texto de uma amiga e achei que seria legal postar no blog. Na verdade, o blog fala sobre os encantos do casamento, mas é importante deixar claro que quando a festa acaba e o dia-a-dia a dois começa, as adaptações são verdadeiros desafios.
Pretendo
falar um pouco disso aqui também, mas não acredito que há uma forma de
prevenir ou se preparar. Como diria Guimarães Rosa, "a vida é assim,
esquenta e esfria, aperta e afrouxa... o que ela quer da gente é
coragem", e no casamento não é diferente. Eu acredito que só vivendo que
se cresce e aprende a lidar com as dificuldades da convivência. Se
negar a vivenciar isso tudo é fugir de viver.
Quanto
às minhas noites de sono de recém casadas, não tenho absolutamente nada
a reclamar. Nossa cama é Queen e a gente só usa a metade. Continuo
adorando dormir de conchinha, não ouço mais roncos nem conversas
sonâmbulas do Ivan (isso já foi quase um problema em uma época do
namoro) e nós dois gostamos de dormir de lençol. De qualquer forma, acho
que o texto é bem real e deve acontecer com muita gente!
Noivinhas,
por favor, não desanimem! Encarem o texto como uma forma de rir das
diferenças entre homens e mulheres e não se assustem, porque não é assim
tãaaao difícil como pintam...
"É
o sonho de toda garota em vias de transformar-se em mulher: dormir
junto com o seu Romeu. Talvez ela nem tenha encontrado o príncipe ainda,
mas já sonha em dividir lençóis com ele. Um homem seu a noite inteira,
os dois protegidos por quatro paredes. Nada daquela pressa de motel,
daquele cenário impessoal, daquele castigo de ter que sair de madrugada
para voltar para a casa dos pais. Nada de barraca de camping, aquele
desconforto, aqueles insetos todos que não foram convidados. Nada de
cochilos na rede, de romance dentro do carro, de rapidinhas no meio do
mato. Isto faz parte do anedotário da adolescência, quando estamos a
ponto de bala e tudo vale. Bom mesmo é dormir juntos numa aconchegante
cama de casal, com direito a oito horas de sono e intimidade.
Case e verá. Dividir o mesmo colchão tem vantagens, evidente, e não apenas aquelas que você está pensando. É ótimo enfiar os pés no meio das pernas do outro, principalmente quando está fazendo 2 graus lá fora. É ótimo quando ele levanta para tomar água e traz um copo pra você também. É ótimo ter alguém para pedir que investigue que barulho estranho foi aquele na sala. É ótimo ter alguém para abraçar sem segundas intenções, sem erotismo, só pelo carinho, só pelo calor. Pena que não seja sempre assim.
O amor é cego mas não é surdo: seu príncipe ronca. Você não ronca, mas fala dormindo. O silêncio exigido depois das 22 horas é quebrado por grunhidos, relinchos, ruídos cavernosos. Ou confissões desencontradas, gritos de pesadelo, nomes que não deveriam ser ditos. Vocês acham que fazem muito escândalo acordados, mas é quando entram no mundo dos sonhos que o fuzuê começa.
Se não é o ronco que tira o humor do casal, é o termostato. Ela quer três cobertores assim que entra março. Ele admite uma colcha quando está nevando. Ela dorme de pijama, meias e uma caixa de Kleenex na cabeceira. Ele entra na cama como veio ao mundo e liga o ar-condicionado na potência máxima, não importa a estação do ano. Apaixonados de dia, arquiinimigos de madrugada.
Ele quer a janela aberta, ela trancafiada. Ele quer as cobertas soltas, ela gosta de tudo bem preso na cama. Ele quer três travesseiros de pluma só para ele, ela dorme sem nenhum porque tem problema de coluna. Ele tem o sono leve, acorda quando ela espirra. Ela tem o sono pesado, não acorda com o alarme de incêndio. Ele se vira a noite inteira, ela se mexe tanto quanto um cadáver. Ele gosta de ver o Amaury Jr. na cama, ela gosta de ler. Ele deixa as meias que usou o dia inteiro jogadas no chão do quarto, ela coloca duas gotas de Chanel número 5 depois de escovar os dentes. Ela é Marylin, ele é Maguila, e quando não estão transando, sonham com uma cama king size, até que dois quartos os separem."
Martha Medeiros é jornalissta, escritora, poetisa e colunista dos Jornais: Zero Hora de Porto Alegre, O Globo do Rio de Janeiro

2 comentários:
O texto presta-se muito para os casais cujos casamentos deram errados. Por coincidêcia, hoje, dia 17/02/2013, está completando 31 anos que estou casada com o mesmo homem e nunca houve momento de pensarmos em separação. Deu certo. O problema é que o liberalismo sexual, as facilidades de "ficar", a proliferação de motéis, a safadeza e o incentivo mostrados na tv, em qualquer horário, contribuem para o esfacelamento do casamento. Os filhos, criados sem acompanhamento contínuo dos pais, são as verdadeiras vítimas.
Maravilha! Dormir juntos é assim mesmo e a jornalista descreve bem.
Acho mesmo que é na hora de dormir juntos que o casamento começa.
Mas, longe de pensar em não casar apenas por causa de um edredom no calor ou um computador ligado na madrugada...aprendemos com as diferenças e o amor, o respeito e as gentilezas devem fazer parte do cotidiano dos casais, esses sim ingredientes indispensáveis para a vida a dois.
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