quinta-feira, dezembro 27, 2012

Nostalgia

 Hugo Caldas

Fã incondicional de Frank Sinatra, não desejaria aqui escrever uma resenha sobre a sua voz, suas músicas, seus discos seus filmes, uma enfiada de datas, etc. Prefiro contar também, algumas coisas e loisas que conheço do homem, Francis Albert Sinatra.

Frank Sinatra subiu há exatos 15 anos e sete meses, dia 14 de maio de 1998, deixando um legado imenso para os admiradores da boa música e do bom cinema, na mais autêntica acepção do que seja um verdadeiro artista. Seu carisma, bem como sua voz inconfundível, lhe deram com toda a certeza um lugar de honra na história contemporânea e de quebra lhe concederam a definitiva alcunha: “The Voice”. Precisa dizer mais alguma coisa? Claro, que precisa.

Cena: Luz meio difusa de um spotlight. Canto escuro do balcão de um bar, Sinatra entre duas belíssimas mulheres, uma loira e outra ruiva, que encantadas esperam ouvir uma canção qualquer. Sinatra, segurando o copo com generosa dose de Jack Daniel's numa mão e um cigarro Camel na outra, "trenchcoat" jogada por sobre o ombro, chapéu cobrindo um pouco a testa, não diz nem canta absolutamente nada. Passa quase toda noite calado. O motivo do silêncio? Aparentemente prosaico resfriado. Em se tratando do mito Sinatra, não teria sido evidentemente um mero "cold." Imaginemos "A Voz" com uma impertinente coriza, junto com calafrios, mal estar geral e elevação da temperatura. Tudo isso pode muito bem prejudicar a voz (a dele, então) e nos fazer entender o quanto "Old Blue Eyes" deveria estar de baixo astral. Nesse dia as filmagens de "Pal Joey", (Meus Dois Carinhos), com Rita Hayworth e Kim Novak foram suspensas.

Cena: Dia de gravação. Sinatra sentado no banquinho da orquestra de Nelson Riddle, que ataca a introdução de "How Little We Know". Sinatra entra no momento certo mas interrompe:

- "Pára, pára tudo! Eu não estou cantando! Eu estou enganando as notas!" (Joga o cigarro ao chão e o esmaga com o pé.)

- "Não se pode enganar as notas! Temos é que cantá-las!"

A orquestra dá última forma, volta a atacar e dessa vez tudo dá certo. A gravação saiu perfeita.

Cena: Ocasião marcante foi a apresentação para mais de 190 mil pessoas no Maracanã em 1980. Recorde de público. Sinatra, nesse show usou microfone dourado e recebeu dadivoso cachê de US$ 850 mil. Encantou como sempre a platéia no vigor das suas 64 primaveras bem vividas, coroando assim, naquele instante, 40 anos de vitoriosa carreira e incontáveis sucessos, seja como cantor ou como ator consagrado, em diversos filmes.

Tinha Sinatra duas grandes implicâncias. A primeira era que ele temia vir ao Brasil. Uma cigana lhe havia previsto um acidente fatal. Um belo dia tomou coragem e veio. O resto é história. A segunda é que ele não gostava de cantar “Stangers In The Night” porque a considerava um hino gay. A implicância só veio terminar em 1980, nesse mesmo show do Maracanã, quando cerca de 200 mil pessoas insistentemente pediram bis.

Participou de filmes como, "High Society", ao lado de Bing Crosby e Grace Kelly, "Guys and Dolls" atuando com ninguém menos que Marlon Brando, "A Um Passo da Eternidade" contracenando com Ernest Borgnine, Burt Lancaster, Montgomery Clift entre outros, quando recebeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.

Dizem as más línguas ter sido ele beneficiado por amizades com grandes chefes da Máfia nos EUA, (minha mãe sempre falava nas "más companhias") que o teriam financiado e permitido que ele voltasse ao estrelato após longa ausência de 10 anos. Estivera afastado por ter praticamente perdido a voz. Nada foi comprovado. A Máfia bem que forçou a barra com o "Bandleader" Tommy Dorsey que o mantinha sob contrato lá pelos anos 40. O que persiste até os nossos dias são as estrelas na Calçada da Fama de Hollywood. Duas, como cantor e também astro da TV e cinema americanos, seus filmes, seus discos. A voz… “The Voice”...

O Serviço Postal dos Estados Unidos fez o lançamento de um selo postal para celebrar os 10 anos da morte do grande artista. O anúncio foi feito em 12 de dezembro, dia em que ele completaria 92 anos. Sinatra cantou pela última vez em seu aniversário de 80 anos, em 1995. Nesta data um fã isolado aqui no Recife escrevia uma nota de felicitações em seu Site Oficial.

Após a sua morte, familiares encontraram entre os seus papéis a determinação para que fossem colocados em seu esquife os seguintes itens:

- Uma garrafa de Jack Daniel's (uísque horroroso de milho)
- Um maço de cigarros Camel
- Um isqueiro Zippo
- Dez moedas de 10 cents

Quem o conhecia não se surpreendeu com o material requisitado. Mas, e as tais moedas? É que desde 1963, quando seu filho foi seqüestrado, Sinatra carregava moedas no bolso. Dizia que não queria correr o risco de também ser seqüestrado e não ter moedas à mão para dar um telefonema. Obviamente ainda não proliferava essa coisa de telefone celular.

Tinha uma verdadeira obsessão por pessoas cegas, especialmente crianças. Após o funeral é que a família tomou conhecimento de que ele financiava vários hospitais espalhados pela Europa e Américas, para crianças cegas. As grandes almas são assim mesmo. Não fazem alarde do bem praticado. Sinto uma pena enorme dessa geração que não o conheceu. Que falta que ele faz! Mas convenhamos que cada um tem o Frank Sinatra que merece. O Brasil tem também o seu Frank. O Frank Aguiar! Que mais queres, além de cantar mal, o homem é deputado.

A Voz, o Cantor, o Ícone da elegância foi também o eterno apaixonado pela Ava Garner, o homem das tiradas espirituosas,
uma faceta para muitos desconhecida. A seguir o que Sinatra costumava dizer sobre:

Bebida

"Sou a favor de tudo que ajude a passar a noite, sejam orações, calmantes ou uma garrafa de Jack Deniel´s."

"É preciso tomar cuidado com as pessoas com quem você bebe. Muitos não conseguem beber sem ficar bêbado. O sujeito às vezes fica tão bêbado que eu o vejo em dobro."

Resoluções de ano-novo

"Ser gentil com animais inclusive gatos, cachorros e os repórteres  idiotas da revista National Enquirer."

"Parar de fumar durante o banho, por exemplo."

"Fazer mais para ajudar o meu país e começar enviando para o Presidente e ao Congresso tubos de superbond para eles escovarem os dentes."

Elegância

"Quando você sabe que um chapéu lhe cai bem? Quando ninguém ri."

"Colônias fortes me dão vontade de sair correndo."

"Sou um homem fanaticamente simétrico."

"Para mim, smoking é um modo de vida. Quando um convite diz que o smoking é opcional, é mais seguro usá-lo."

Mulheres e sexo

"Não me importo de ser acusado de adorar mulheres. Só não me acusem de odiar algumas delas."

"Não gosto de maquiagem em excesso. Sei que as mulheres precisam um pouco disso, mas acho que elas, em geral, têm beleza suficiente para não precisar usar maquiagem de circo."

"Desde que comecei a perceber as diferenças entre homens e mulheres, que foi mais ou menos perto do meu primeiro aniversário, usa-se todo tipo de nome para se referir às mulheres. Para mim, são todas ladies."

"Se eu tivesse tantos casos amorosos quantos me creditam, estaria agora lhes falando de dentro de um frasco da Escola de Medicina de Harvard."

Fama e fracasso

"Chega desse papo de 'tragédia da fama'. A tragédia da fama é quando ninguém aparece e você está cantando para a faxineira num botequim vazio que não recebe um cliente pagante desde o dia de São Nunca."

“Constato com alegria que vocês continuam errando tudo quando publicam informações a meu respeito. Como sempre, suas reportagens são podres. Preciso tanto de uma casa noturna em Palm Beach quanto vocês de um câncer”. À Time, em 1961.

Brigas

"Nunca cheguei a entrar numa briga na rua . Minhas brigas foram parar na rua, começaram num botequim e só depois nós fomos para a rua."

Saudações

"Como vai seu passarinho?" (quando encontrava os amigos)

"Durma quentinha, doçura." (para terminar uma noitada)

Morte e vida

"Só se vive uma vez. E da maneira que eu vivo, uma vez basta."

Nenhum comentário: