quarta-feira, novembro 07, 2012

À mestra, com carinho

josémariaLealpaes

Era flor que se cheirasse. Tinha perfume próprio. O odor inconfundível  que um sinuoso e insinuante corpo de mulher emana nas madrugadas tórridas, capaz de superar o do café que anuncia o se pôr em pé de mulheres, obreiras, diferentes das que horizontalizam a entrega –  jamais a vida fácil - entre gritos, gemidos, sussurros e murmúrios. Lembro: voz grave, algo rouca, penetrante como aqueles olhos verdes. O mesmo odor que, a distância, mobiliza ou atrai magotes de cães suburbanos para as praças centrais das grandes e pequenas cidades. Se a praça é do povo, também o é dos vira latas sexualmente farejadores. O mesmo odor inconfundível dos frutos da árvore proibida do bem e do mal, que adocicaram a infidelidade de Eva e salgaram a infelicidade, digamos assim, de Adão. Caso explícito de traição, à sombra das árvores do Éden, e de sedução eficaz de Lúcifer, o Ricardão pioneiro que os narradores bíblicos preferiram travestir de serpente. Lúcifer, o mais belo e luminoso anjo das chamadas cortes celestes, revelou-se rebelde e garanhão. E se assim o era, assim o foi no bote. Eva não resistiu. Adão - jamais descrito como lindo, charmoso ou espada afiada – dançou.  Pentateuco à parte, a flor do introito deste e-bilhete se chama Ira, não Eva, para os íntimos.  Vive, saiba você. Quando a conheci, condecorada com rugas no rosto e, no peito, com medalhas de memoráveis batalhas campais, anda ministrava aulas de cama a frangotes como eu. Inesquecíveis, inolvidáveis lições.

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