domingo, setembro 30, 2012

A hora de SOLHA

Premiado como Melhor Ator Coadjuvante no 45o Festival de Cinema de Brasília, o ator, escritor e artista plastico continua em plena produção intelectual e diz estar vivendo um dos momentos mais esquisitos de sua vida

Guilherme Cabral

"Especial". Assim o escritor, ator e artista plástico paulista (natural de Sorocaba), mas radicado na Paraíba, Waldemar José Solha definiu, em entrevista para o jornal A União, o atual momento da sua carreira. E não é para menos. Pela atuação no longa-metragem Era Uma Vez Eu, Verônica, do diretor Marcelo Gomes, recebeu o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante no 45º Festival de Cinema de Brasília, cujo resultado saiu em cerimônia realizada na noite da última segunda-feira, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Cláudio Santoro. Enquanto isso, outra produção que protagonizou e se intitula O Som ao Redor, dirigida por Kléber Mendonça Filho, continua ‘estourando’ nos cinemas dos Estados Unidos – onde, inclusive, foi indicado como filme imperdível em Nova York - e seguirá, agora, entre o final deste mês e início de outubro, para os festivaisdo Rio de Janeiro, de Vancouver (Canadá) e Londres.

Apesar do bom momento, W. J. Solha fez questão de demonstrar humildade, preferindo atribuir – “por grande mérito” - o fato de estar vivenciando prazerosas situações aos cineastas pernambucanos Marcelo Gomes e Kléber Mendonça Filho, os quais o convidaram para atuar em seus respectivos longas-metragens de ficção. Ele comentou que teve a “sorte” de ter sido convidado por diretores competentes, que trabalham com uma equipe de produção profissional e bem azeitada.

Solha lembrou que já havia recusado outros convites para atuar. Mas, ao analisar os roteiros dos filmes Era Uma Vez Eu, Verônica – que, a propósito, irá ao festival de São Paulo e, em seguida, para o de San Sebastián, na Espanha - e O Som ao Redor, percebeu que ambos tratavam, pela primeira vez no cinema brasileiro, de um tema novo: a classe média urbana nordestina. Ou seja, não tinham como enredo histórias tradicionais da região, a exemplo do cangaço.

“Estou vivendo um dos momentos mais esquisitos de minha vida. Com minha literatura apagada, apesar de todos os esforços, de repente me chamam de Pernambuco para participar de dois grandes filmes - coisa rara, ultimamente, no cinema brasileiro, e aí, por grande mérito de Kléber e Marcelo, dois tremendos roteiristas e diretores, sinto que sou içado para o patamar mais alto dessa área, no Brasil”, comentou Solha.

Ao constatar o ineditismo dos filmes dos diretores e roteiristas pernambucanos, Solha confessou ter tido “uma surpresa absoluta”. No caso do longa-metragem Era Uma Vez Eu, Verônica a personagem título – que está quase sempre em cena – é interpretada por Hermila Guedes, a qual, por meio de seus pensamentos e atitudes, conduz o espectador a sentir na pele suas angústias, seu prazer com o sexo e seus sentimentos para com os outros seja na relação com o pai (Solha), com o homem com quem transa mais frequentemente ou com seus pacientes loucos e depressivos da cidade grande.

Agora, estimulado pela premiação recebida no Festival de Brasília, Solha não descartou a hipótese de aceitar mais propostas para atuar, o que já não cogitava tanto, até ver seu talento reconhecido como ator coadjuvante em Era Uma Vez Eu, Verônica. “Recebi alguns convites para cinema, mas achei melhor ver o resultado da safra anterior, antes de cuidar de uma próxima”, disse.

W. J. Solha informou que, apesar da idade, está em prolífica produção.
“Sempre há uma espinha dorsal, um trabalho de maior fôlego a que me dedico e que dá sentido ao meu dia-a-dia. Ao redor dele sempre surgem outros, de menor duração. Passei mais de uma década trabalhando em meu primeiro poema longo, ‘Trigal com Corvos’, publicado em 2004. Nesse ano lancei o segundo poemão, Marco do Mundo, que me consumiu quatro anos. Agora em fevereiro comecei o terceiro lance da trilogia, o Ecce Homo, que deve me servir de alimento até 2015, se estiver vivo até lá”, disse ele.

A respeito de Sobre Livros Alheios, ele antecipou tratar-se do “resultado
de tremendo trabalho marginal de leitura e análise, tudo sempre envolvido num prazer estético enorme, voltado ao que se anda fazendo de melhor à minha volta: os romances de Marília Arnaud, de Carlos Trigueiro, Aldo Lopes, Esdras do Nascimento, Nilto Maciel; um estudo apaixonado do poderoso Dom Barão, Dona Seca, de Otávio Sitônio Pinto; a poesia e a tradução igualmente geniais de Ivo Barroso; a poesia soberana de Ruy Espinheira Filho, Soares Feitosa; livros de memória especialíssimos de Cláudio José Lopes Rodrigues, Abelardo Jurema, Marluce Suassuna, etc”.

Além disso, W J Solha informou que recebeu convite do maestro Eli-Eri
Moura para criar libreto de nova ópera, o que já fez. O regente, agora, está produzindo a partitura com Marcílio Onofre, Wilson Guerreiro, Didier Guigue, Valério Fiel e Orlando Alves, integrantes do Compomus, do Departamento de Música da UFPB. A propósito, esse foi o mesmo grupo que, no ano passado, nas comemorações dos 70 anos do próprio Solha, apresentou a Cantata Bruta, inspirada em uma série de contos curtos que constam da História Universal da Angústia que ele publicou.

A União João Pessoa, Paraíba - Domimgo, 30 de setembro de 2012

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