
Sônia van Dijck
Temos o privilégio de viver no tempo em que a Língua Portuguesa (última flor do Lácio, inculta e bela, como disse o poeta que tanto a cultivou) é agredida por decreto.
Somos testemunhas da imposição de um monumento à imbecilidade.
Essa gente que cultiva o “nós vai pegar o peixe”, faltou à aula sobre gêneros (masculino; feminino; e nunca ouviu falar de comuns de dois gêneros, sobrecomuns, epicenos).
Se essa idiotice fizer moda, teremos diplomados dentistos e dentistas, porque teremos torneiro-mecânico e torneira-mecânica; por extensão, teremos declarações escolares tratando de estudantos e de estudantas, pois, do contrário, as mulheres não se sentirão bastante diferenciadas como entas cujo gênero está respeitado, uma vez que, nesse meio tempo, o cônjuge ou cônjugo continuará sendo o marido, enquanto, com certeza, a cônjuga será a parte litigianta no divórcio.
Sendo assim, se tivéssemos um homem na Presidência da República até poderíamos falar do governante ou do governanto. Como é Dilma Rousseff, que foi eleita em 2010, temos mesmo que dizer, sem sombra de dúvida, que ela não é outra coisa que governanta.
Se fosse uma presidente e governante de um dos maiores países da América Latina, não daria tão eloquente atestado de desconhecimento da língua pátria, só pra mostrar que tem poder e que tal poder pode até mandar na Língua Portuguesa. Como a presidente e seus ministros não compareceram às aulas de Língua Portuguesa, nem sabem que a marca do masculino em nosso vernáculo é MORFEMA ZERO.
Que coisa engraçada, diante da ignorância desses três figurões da República (a presidente e seus ministros): na Língua Portuguesa, o masculino tem MORFEMA ZERO.
Claro que o trio vanguardista e revolucionário nem sabe do que estou falando e nem imagina que merda significa a palavra MORFEMA. Por isso, não sabe o que é feminino, comum de dois gêneros, sobrecomum, epiceno. Não sabe que a linguagem é processo (diacronia – sincronia) e que, por analogia, ficará idiota falar tigro/tigra, estudante- estudanto/estudanta, e que testemunho e testemunha têm significados completamente diferentes.
O trio vanguardista (a presidente e seu sábio e sua sábia ministro e ministra) pensam que tudo se resolve com o diploma de fisioterapeuto e fisioterapeuta ou de massagisto e massagista – lamentavelmente, a linguagem não se subordina ao furor uterino tão em voga em terras brasílicas.
A simplificação do problema e de suas repercussões é normal e comum em uma assembleia de ignorantes – ou sob comando ditatorial.
Quando se confunde poder com dominação do saber, a situação fica sem controle e só decreto da governanta pode decidir como se deve falar em nossa casa – somos o dono da casa e estamos em nossa casa (somos povo brasileiro, participante da comunidade lusófona) – como é que o dono casa nem pia ou chia??? – por que o dono da casa (povo brasileiro, participante da comunidade lusófona) tem que papaguear a pretensa sabedoria linguística da governanta e seus serviçais??? Por que a linguagem do cotidiano e a oficial têm que obedecer ao furor uterino, considerando o mal resolvido problema das mulheres agredidas, violentadas, humilhadas, mal pagas???
Nenhum decreto sobre o uso da Língua Portuguesa resolverá nem a violência contra a mulher e nem a exclusão feminina de uma vida plena na sociedade. Por ironia típica dos labirintos da linguagem, ao decretar que passam a existir torneiras-mecânicas, a linguagem decreta a diferença e estabelece essa diferença em relação à norma (de linguagem e de função social), cabendo ao senso comum a valorização positiva ou negativa dessa diferença – e de quem exerce essa diferença, é óbvio!!!
Aporias da linguagem – Mercadante e Eleonora esqueceram o que isso significa. Dilma nunca ouviu falar…
Claro que é bem mais prático e rápido para alcançar resultados em um projeto populista, para ganhar votos, legislar sobre o uso do feminino, principalmente em se tratando de uma sociedade de precária escolaridade e, portanto, de baixa proficiência no vernáculo.
O mulherio se sente com a corda toda, ainda que continue ganhando menor salário que os machos, tenha que parir na porta da maternidade pública que não tem vaga, não encontre vaga na creche para seu bebê, veja seu filho morrer porque uma cretina enfermeira mal preparada e mal paga injetou glicerina na veia do paciente ou outra merda qualquer sem o menor senso de responsabilidade.
Todos esses problemas resolvem-se por decreto linguístico. E as mulheres serão presidentas, governantas, estudantas e entas no seio da sociedade.
E as mulheres já estão felizes – por decreto.
Pergunta que não pode calar: onde está a Academia Brasileira de Letras?????
Por mais avessa a posições políticas (até pelo fato de ser um saco de gatos), a ABL tem compromisso com a Língua Portuguesa. Seu silêncio é inaceitável.
Por favor, repassem: a Língua Portuguesa é propriedade da comunidade lusófona, da qual fazemos parte. Pelo menos Camões, Pessoa, Bilac e Machado ficarão felizes em saber que a última flor do Lácio tem alguns súditos em tempos de prepotência petista.
3 comentários:
Não somente "entas" como também algumas "antas" compõem o bloco das desinformadas. Carecemos, realmente, de vozes autênticas que falem do que sabem e não de miados estéricos de quem ouviu o galo cantar sem ao menos saber o que é um galo. Parabéns pela coragem e também pelo conhecimento da nossa língua. Djanira Silva
Esse pronunciamento de nossa Sônia Van Dijck é irrepreensível e nos dá um retrato do que é o processo educacional dos nossos tempos, com o legado do "analfaboquirroto" também citado em outro local do blog e sua cria, que pretende governar S. Paulo.
É muita miséria, para um povo só! Arael
Sônia, querida: nunca antes, neste País, se viu o que descreves tão bem! Estas pessoas, na época da escola, estavam cuidando de assuntos bélicos e não tinham tempo para bobagens... o pior, é que a presidAnta consegue os índices de aceitação e o silêncio irresponsável da grande imprensa! Já vi na TV, repórter falando "presidenta", numa aceitação implicita do absurdo!
Beijos
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