
Hugo Caldas
Falar sobre a programação da TV?
Vocês, meus fieis e diletos três leitores devem estar pensando que este troca-letras amalucou de vez. Decerto que ainda não perdi completamente o senso, mas convenhamos que é realmente lastimoso tomar a si ofício digamos, tão digno de comiseração, tão pouco nobre, infame talvez, mas asseguro, às vezes bastante divertido. Se não fosse trágico. Em verdade vos conto agora, meus caros, o que consegui captar na semana que passou.
Inicio da manhã e da semana assistindo ao Bom Dia Brasil. Numerosos casos de corrupção repetidos ad nauseam. Tiros, assassinatos e mais tiros na favela epa, "comunidade pacificada" da Rocinha. Os apresentadores do programa nos dão conta de que Ministros, Senadores e Deputados da República falseiam a verdade, no maior descaramento. Sentadinho em uma das poltronas do programa, deitando falação como convém, o assessor para assuntos policialescos, o ex-Bope Rodrigo Pimentel se tornaria bem mais audível se tirasse a batata da boca. Enquanto isso uma imensa cachoeira despeja miríades e miríades de outras falcatruas que de tão impunes e corriqueiras nos deixam um oco, um vazio um sem ânimo, para o enfrentamento de mais um dia de labuta neste país chamado Pindorama. Vem por aí dizem, uma enchente feroz e tudo indica que a supracitada cachoeira tende a aumentar o volume de detritos e então será um deus-nos-acuda. Ali no programa só se salvam mesmo a verve do Chico Pinheiro, a beleza da Renata Vasconcelos e a figura sempre marcante da Carla Vilhena que a cada dia mais se parece com a Mona Lisa. Obrou muito bem o vetusto senhor Renato Machado quando se mandou alhures e ambientado na pérfida Albion, aparece lépido e fagueiro como se recém-saído do banho matinal.
Logo em seguida vem o Mais Você, da Ana Maria Braga. Oh, my God!
Tomei abuso dessa senhora desde o dia em que ela usou o poema de Jessier Quirino "Vou-me embora pro passado" como abertura do programa e não teve a hombridade de citar a autoria. Na ânsia de aparecer também como programa jornalístico, a Sra. Braga aproveita para repetir 90% do que vimos no Bom Dia Brasil. Esta semana, no entanto, ela se superou: abriu como sempre o programa com um desses deletérios provérbios chineses que algum desocupado configura em irritante PPS e tascou, após ler a besteirada:
"de Mao Tse-Tung, filósofo chinês".
Ora, ora. Em verdade vos digo: Ali só se salva mesmo o Louro José. Diz a lenda que Apeles, pintor grego, certo dia se entregava à tarefa de pintar em frente a sua casa, o retrato de uma bela jovem. Um sapateiro viu a cena e criticou o desenho das sandálias. O pintor acolheu a crítica e corrigiu as sandálias. Dia seguinte, cheio de goga o sapateiro achou de dar outros palpites, dessa vez nas vestimentas. Apeles então acabou com a alegria dele sentenciando: "Não vá além das sandálias, sapateiro!” Mutatis mutandis, não seria o caso de também sentenciar: "cozinheira, não vá além da cozinha?"
Na parte da tarde, juro de pés juntos que escutei no Jornal Hoje de 29-03, uma repórter bem bonitinha, de nome que lembra marca de sapato, dizer a propósito de um novo golpe na praça:
- "Se você receber um telefonema ameaçador de algum cartório de protestos, respire fundo. Raciocine, para não ter dor de cabeça desnecessária.”
Pergunto: existe dor de cabeça necessária? De acordo com o conterrâneo Moacir Japiassu, a quem aflito recorri, existe sim: é quando a cônjuge diz:
- "hoje não meu bem, estou com dor de cabeça.”
Juro, não é implicância. Mas se torna absolutamente doloroso conviver com as muitas armadilhas da língua portuguesa que passeiam impunemente pela boca dos jornalistas televisivos. Verdadeira aberração.
Sabem vocês o que seja "Tautologia"? Eu mesmo conhecia como "Pleonasmo" mas então alguns gramáticos modernosos trocaram para Tautologia.
Pois muito bem, (assumindo tom professoral) "Tautologia, ou pleonasmo, ou redundância, consiste na repetição de uma idéia, com palavras diferentes, mas com o mesmo sentido." Por exemplo: os clássicos "descer pra baixo ou subir pra cima", "fase final de conclusão", "encarar de frente", este, o preferido de onze entre dez! Onde já se viu encarar de costas? Pois, é só o que se ouve.
Sou do tempo em que tínhamos o Curso Ginasial e o Clássico. Na primeira série de ambos, começávamos a aprender latim, e francês. Na segunda série, inglês e nas terceira e quarta séries espanhol. Hoje, acabaram com tudo isso e o que se nos apresentam são profissionais dignos de pena. Quase analfabetos.
Isto tudo para concluir que certos apresentadores de TV, que teriam por obrigação nos dar a informação correta, não conhecem da missa um terço. Tem uma mocinha bem bonitinha, apresentadora da Globo/PE que coitada, bem que se esforça, mais helás! Outro dia foi um custo entender o que ela queria dizer com "Circo do sou lei". Até que alguém na sala matou a charada: ela está se referindo ao "Cirque du Soleil" que armou a sua lona aqui na Praia de Piedade.
É tanta bobagem junta que se torna impossível dar conta neste espaço de hoje. Tem mais para a próxima semana. Prestem atenção que apenas me referi à violência en passant, mas que está presente em tudo. Até nos comerciais. Esperem e confiem.
8 comentários:
É cada vez mais um prazer ler seus textos, Hugo. Eles costumam vasculhar e interpretar coisas de que, de repente, não temos o foco, mas que nos incomodam bastante. E aí você dá um banho, confirmando o famoso "tirou as palavras de minha boca",
W. J. Solha
Hugo Caldas, aqui no Vale do Pajeú, quando a gente aprova um discurso, uma opinião ou um texto desse que voce escreveu, é comum ser pronunciada a seguinte frase: ô caba bom, esse nunca miou no serviço".
Coisas de matutos (sou um deles), porém originais, puras e verdadeiras.
Parabens !!
João Luiz, de Afogados da Ingazeira-PE.
João Luiz
Obrigado por ter vosmicê como leitor. Hugo
Hugo,
É e será sempre um prazer ler seus textos. Mais uma vez, parabéns!Você domina o assunto. Abraço. Márcia
Distinto Hugo Caldas:
Na minha modesta opinião, existem duas características fundamentais de um texto bem escrito: CLAREZA E PRECISÃO.
O distinto foi claro e preciso.
Concordo com tudo que acabo de ler.
Parabens, grande escriba !!!
José Afonso.
Adoro sua ironia bem comportada. Gosto de ler suas crônicas. Nem sempre deixo comentários, porém, agora, é impossível ficar calada. Gostei do que li e concordo com você porque também sou vítima dessas balas perdidas que a desinformação atira no ar através de seus repórteres mal informados. Um abraço Djanira
Djanira
Obrigado pelas palavras. Vindo de você significa muito para este pobre escriba. Vale também pelo prazer ler algo da sua lavra mesmo que seja um comentário. Parece que Vossa Mercê abandonou de vez o seu próprio Blog. A última postagem data do longínquo 14 de setembro. Volta, Djanira.
Meu abraço. Hugo
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