sexta-feira, fevereiro 03, 2012

Um dia a casa cai






Girley Brazileiro



O recente desabamento de três prédios no centro da cidade do Rio de Janeiro, um dos quais de grande porte, com vinte andares, expôs de modo cruel o jeito irresponsável de ser da grande maioria dos brasileiros. Tudo baseado na velha e muito conhecida história do “jeitinho brasileiro” para que tudo seja alcançado, ainda que em prejuízo de alguém ou de muitos, como foi o caso em questão.


É revoltante saber, conforme as averiguações legais e constatações divulgadas, que aquele prédio maior foi tratado de modo agressivo e contrário a todas as regras técnicas de engenharia e convenções legais estabelecidas. Ali, aparentemente, cada condômino fez reformas absurdas, trabalhou um puxadinho, derrubou paredes,“podou” vigas e reduziu pilares estruturais, ao seu bel prazer, conforme as suas necessidades de layout. Além disso, abriu vãos descomunais para implantar janelas não previstas no projeto original, deformando arquitetonicamente um edifício do melhor estilo primeira metade do século 20, tão comum naquela área central do Rio. Tudo feito a base de “projetos” de reformas sem qualquer avaliação ou efetiva participação de engenheiros e calculistas e, sobretudo, alheios aos traços originais da construção. Certamente à base do olhômetro e num esquema do tipo derruba aqui e levanta ali.
Causou-me asco ver um mestre de construção, de obras em curso no edifício que desabou, declarar à reportagem que nunca esteve com um engenheiro orientando as obras de reforma de uma empresa de informática e que seguiu as ordens do proprietário da dita empresa.
O sindico do prédio posou de inocente – dando uma de Lula – dizendo que não sabia de nada e que ficou surpreso com o acidente. Agora se sabe que ele mesmo havia concluído, pouco antes do acidente, uma reforma no vigésimo andar e os entulhos de demolição sequer haviam sido retirados de cima do edifício. Sabe-se lá o que não havia por lá. No meio de tantos escombros do que vale essa porção lá de cima.
Prédios desabam pelo mundo afora, é verdade. Mas desabam por outros e diversos motivos. Nem, por isso, devem ser motivo de consolo ou desculpas para nosso caso.

O caso do Rio de Janeiro expôs o Brasil na mídia internacional, que já vive permanentemente de olho nas coisas negativas que ocorrem por aqui. Isto dói no espírito do brasileiro responsável, empenhado em mostrar o que de bom e positivo existe entre nós.
O outro lado do caso, deveras triste, restou estampado nas fisionomias de dor e tristeza das pessoas que perderam entes queridos ali soterrados e que tiveram interrompidos projetos de vida, de forma brutal e como se diz popularmente de maneira idiota.

Já agora, oito dias depois da tragédia, um novo horror se divulga a respeito de cinco pessoas desaparecidas e que supostamente têm seus restos mortais dilacerados e misturados aos escombros retirados pela empresa de limpeza urbana carioca e jogados num aterro de detritos na Baixada Fluminense. Meu Deus! Que horror! O que passará pelas cabeças desses familiares traumatizados pelas perdas? Vai ver estão sendo devorados pelos abutres.

É comum se dizer que “o brasileiro só fecha a porta depois de roubado”... Inspirados nessa sabedoria popular, bem que poderíamos lançar uma campanha nacional contra os puxadinhos e reformas que se multiplicam pelo Brasil. E, quando houver, que sejam rigorosamente fiscalizados e multas pesadas sejam aplicados aos contraventores. O jeitinho brasileiro tem que ser limitado ou abandonado. Essa maneira de viver nem sempre dá certo. Há sempre um dia qual a casa cai! E, neste caso, caiu!

Do Blog http://gbrazileiro.blogspot.com/

Um comentário:

Jorge Zaupa disse...

Não tem como não concordar totalmente com o senhor.
Meu questionamento é: até que ponto a fiscalização no Brasil, de um modo geral, é confiável?
É cultural. Vem dos nossos colonizadores. Tudo a ver também com a impunidade.