domingo, janeiro 22, 2012

Festival Internacional de Cinema de Roterdã


Ingrid Melo

Kleber Mendonça Filho é figurinha carimbada no Festival Internacional de Cinema de Roterdã. Após marcar a Mostra Spectrum, em 2010, com o curta-metragem Recife frio (2009), e ter uma retrospectiva de suas produções em 2007 – quando foram apresentados cinco de seus curta-metragens em uma sessão dedicada a“realizadores do futuro” –, o cineasta volta à premiação, desta vez em mostra competitiva. Seu primeiro longa-metragem de ficção (ele também é responsável pelo documentário Crítico, de 2008), O som ao redor terá estreia mundial na Tigger Competition, disputando com outras 14 produções.

O filme fala sobre a relação entre o indivíduo e espaços públicos e privados, reflexão já abordada pelo diretor e roteirista em obras como Enjaulado (1997) e Eletrodoméstica (2005). O enredo tem como cenário uma rua de classe média na zona sul do Recife, em que a maior parte dos imóveis pertence a uma mesma família. Nesse espaço, o patriarca (WJ Solha) é um senhor de engenho urbano que irá abrir espaço para a chegada de um homem carismático (Irandhir Santos) que vem oferecer serviços privados de segurança aos moradores. Tem-se, então, um clima que oscila entre tranquilidade e tensão, em uma vizinhança que parece temer muita coisa.

O Som ao Redor foi rodado em julho e agosto de 2010, em locações na cidade do Recife e na Zona da Mata de Pernambuco. O processo de montagem transcorreu entre outubro de 2010 e dezembro de 2011. Com um orçamento de um milhão e oitocentos mil reais (incluindo pós-produção), o roteiro original foi escrito em 2008. No ano seguinte, o próprio Festival de Roterdã premiou o desenvolvimento do roteiro com o fundo Hubert Bals e uma nova versão foi selecionada para o prêmio de produção no edital do Ministéri da Cultura. Logo depois, a Petrobras premiou o mesmo roteiro, assim como o Funcultura do Governo de Pernambuco.

Além do longa do pernambucano, outro filme brasileiro está na disputa. Sudoeste, no niteroiense Eduardo Nunes, que também estreia em produções longas de ficção, tem um toque de realismo fantástico em um enredo que aborda a passagem do tempo, a vida e a morte. Ainda serão exibidos em Roterdã, na mostra Spectrum, A febre do rato, do também pernambucano Cláudio Assis (Amarelo manga, 2003, e Baixio das bestas, 2006) e Rua Aperana 52, do carioca Júlio Bressane (A erva do rato, 2008, e Dias de Nietzsche em Turim, 2011). Na categoria de curta-metragens, Praça Walt Disney, dos pernambucanos Renata Pinheiro e Sergio Oliveira, concorre ao prêmio de melhor direção. O festival ocorre entre os dias 25 de janeiro e 5 de fevereiro.

Um comentário:

W.J. Solha disse...

Beleza, Hugo. Tive a oportunidade única de - quando não esperava mais coisa alguma no cinema - participar, um após outro - com bons papeis -em filmes de dois grandes diretores pernambucanos: o Kleber e o Marcelo Gomes. Eu dera tudo isso por encerrado em 2002, quando participei do filme cearense Lua Cambará, em que todos nos demos muito mal. Lembro-me de que, quando saia do cinema, no festival de Bra´sília, o Manfredo me disse: "Cara, tu estás ruim pra caralho no filme!". Já pensou? Botei a viola no saco. E, de repente, o chamando insistente: venha, venha, venha! E fui., Agora é ver no que deu o esforço que quase me mata.