
Foi necessária uma conjura mineira pra que eu viesse a ter alguma noção acerca dessa mulher! Nem a dedicatória estranha, no Grande Sertão: Veredas – A Aracy, minha mulher, Ara, pertence este livro – (Pertence?), me levou a me perguntar sobre ela, nem o símbolo que encerra o romance, o do infinito, a lemniscata ou laço de Moebius (Claro que GR não se referia ao astrônomo e matemático August Ferdinand Moebius):

O escritor mineiro, meu amigo Hugo Almeida, fez a orelha do romance do mineiro Eustáquio Gomes – O Vale de Solombra - , que saiu agora pela Geração Editorial, que pertence ao escritor, também mineiro, Luiz Fernando Emediato, onde, nas páginas 21 e 22, se lê que no consulado brasileiro de Hamburgo o vice-cônsul mineiro - João Guimarães Rosa (depois “escritor traduzido e celebrado”) – facilitava a fuga de judeus para o Brasil, inclusive lhes oferecendo vistos e passaportes, estes sem a “estrela de Davi” e o “J” vermelho. Lê-se, também, que isso na verdade não era iniciativa dele, mas de sua companheira, a paranaense Aracy Moebius - chefe da seção de passaportes do consulado - que liberava tudo em prazos recordes, sendo conhecida, nos círculos judaicos, como “o anjo de Hamburgo”.
Ficção do Eustáquio?
Não. Eis a pedra com o nome de Schindler no Jardim dos Justos, de Jerusalém:



Bem. Na foto acima, Aracy está com 77 anos. Como era aos 30, em 1938? Assim:

por qué Guimaraes le dedicó ese libro, de 1956, y no los precedentes, como Sagarana, de 1946? La historia de Grande Sertao…, recreada por la memoria caprichosa de Riobaldo, quien va recomponiendo su amor por otro hombre -que se revelará un travesti masculino-, tiene una parte de desobediencia, un juego entre la rebeldía y la aparente aceptación, que podría contener algo de Aracy, la mujer que supo desafiar el orden y las órdenes de su tiempo.

Mas parece que Guimarães Rosa foi além.
Esta era a judia alemã Maria Margarethe Bertel Levy.


Entre mim e Aracy foi um golpe de amor. Só que entre duas mulheres.
Eu era sexy.
E Aracy?
Linda, provocante, um corpo maravilhoso.
"Quando uma ficava doente – conta a reportagem - , a outra também ficava. Parecia que sentiam as mesmas coisas. Em 2003 as duas caíram, uma em casa, outra na rua, e acabaram ficando de cama até o final." Enquanto Margarethe morria no hospital, a respiração de Aracy Moebius, em casa, começava a falhar. Maria Margarethe Bertel Levy morreu em 21 de fevereiro de 2011– e Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa em 3 de março. Ambas com 102 anos.

3 comentários:
Que matéria formidável! Grandiosa oportunidade de aprender cada vez mais. Parabéns!!! Abraço. Márcia
fantástico. Um detalhe importante: o aniversário de Aracy - 20 de abril - também o meu - e infelizmente o de Hitler...parabéns pelo blog.
Já postei tanta coisa sempre que encontro algo sobre Araci... Mas ainda é pouco, muito pouco: gostaria que o Anjo de Hamburgo nunca fosse esquecido. Se sou judeu? Talvez descendente, como alguns Rocha nordestinos. Se sou leitor de Guimarães Rosa? Qual o bom leitor que não o é? Valdetário Ferreira Rocha valdtr@ig.com.br
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