sexta-feira, outubro 07, 2011

Vale a Pena Ler de Novo


Hugo Caldas


Turistas




Ontem, fui dar com os costados em uma lanchonete aqui em Boa Viagem. Aproveitei pequeno intervalo na corrida dos passinhos por bancos, pequenas obrigações, compras, dois dedos de conversa mole com o Enedino do Mercado Municipal, campinense dos bons que vende Queijos, de Manteiga e Coalho, Mel de Abelha, Carne de Sol, Cocadas, Sequilhos, Raivas, Bolo de Rolo, Passas de Caju, "Nêgo Bom”, a memorável caninha de Triunfo, Doce de Leite e miríades de outras guloseimas que fazem qualquer um degustá-las de joelhos recitando a Salve-Rainha. Enfim, tirei o dia para coisas que sou obrigado a fazer, mercê não usufruir os préstimos de um secretário particular. Pois bem, voltemos à lanchonete, foi lá que o caso se deu. O caso, eu conto:

Estava eu posto em sossego em uma das mesas saboreando um belo de um sanduíche, desses que levam de tudo um pouco. Súbito, um sujeito com cara de turista, brancão todo, óculos escuros, chapeuzinho ridículo, shorts, cara avermelhada pelo sol nordestino, idade indefinida, sem mais nem porque aboletou-se na cadeira imediatamente em frente à minha.

Até aí, tudo bem. Não sou dono da mesa nem da cadeira apenas achei muito estranho a rispidez. A minha mãe sempre me ensinou a pedir licença, falar, por favor, etc. Mas àquele capadócio deve ter acordado de mal com o mundo. Será que a mulher dele dormiu de calça Jeans, pergunto a mim mesmo? E daí? E eu com isso? Ou será que ele não dá mais pro gasto? Quero nem saber.

Foi quando algo absolutamente inusitado e agressivo aconteceu. O energúmeno deu de garra de um guardanapo de papel e da maneira mais ostensiva, mais barulhenta e mais espalhafatosa, assoou as ventas. A operação constrangedora se repetiu por umas quatro vezes a cada mordida que eu dava no sanduíche.

As pessoas nas mesas ao redor olharam atônitas. Da minha parte fiz o possível para não reagir mas, quando tirei a conclusão de que tudo aquilo era gratuito, puro achincalhe, puro aviltamento disse-lhe com a voz mais calma deste mundo:

- "Mas tanto que a sua mãe lhe ensinou e você ainda não aprendeu, não é? Ela coitada, deve estar agora no inferno se revirando feito louca, de vergonha."

O turista brancão todo, - não sei se do Sul Maravilha ou das Europas - me fuzilou com os olhos. Não disse uma nem duas e se retirou tão bruscamente como chegou.

O texto acima foi postado em março de 2009. Hoje, voltei à lanchonete e tudo parecia reviver o constrangedor momento. Havia uma horda desses animais mal educados na maior algazarra. Enfim, é a Primavera! HC

4 comentários:

Márcia Barcellos da Cunha disse...

Olá primo Hugo,

É lamentável procedimentos iguais a este! Como é comum em nossos dias a falta de educação,a falta de estilo.Feliz de quem sabe o valor do comportamento elegante.
A maneira como você descreve o fato é muito divertida, me fez rir bastante.
Um grande abraço. Márcia

Mary Caldas disse...

Hugão, eu ainda vou dar com os costados na editora Bagaço para reunir todos esses contos maravilhosos em uma obra literária.

Arael Costa disse...

É isto mesmo, amigo velho.
Esses energúmenos que se dizem turistas são uzeiros e vezeiros em práticas dessas natureza, como comprovei recentemente em um caixa eletrônico, com fila quilométrica que a situação "grevistíca" (olhe o neologismo)
criou, que se comprazia a olhar o seu saldo na tela de uma máquina, enquanto falava com um alguém ao celular, sem se dar conta dos muitos que necessitavam usar aquela máquina, única abastecida.
Dei-lhe um bom "esbregue" e disse, do alto de minhas tamancas, que turista daquele tipo nós agradecíamos se cá não viessem.
Um abraço de avô mais rodado, para um com menos quilometragem. Arael

Fábia Lívia disse...

Gostei da sua nova foto!
Lia Luft e você fizeram uma boa parceria.
Educação no Brasil é o caso mais sério! Do contrário a Saúde e a
Cultura andariam muito bem, obrigada.
Legal seria levantar um debate para perguntar a todos o que entendem
por educação?
Beijos
Fabia