sábado, outubro 08, 2011

JOGO SEM FIM





Girley Brazileiro




Já notaram como neste país nunca se deixa de falar em eleições? Pode até ser igual, aí por fora... Mas, cá prá nós, isso aqui é uma compulsão. Nem bem termina um pleito, como o do ano passado, para eleger governador, senadores, deputados federais e estaduais já se falava, dia seguinte, nas eleições de 2012 e 2014. Quem seria candidato natural, quem iria se aventurar ou quem teria, ou não teria, chances de se candidatar. Inacreditável. Dizem que faz parte do jogo... Do jogo, minha gente. Como jogo e jogador, hoje em dia, goza de conceitos mais amplos, tudo bem!

Ocorre, porém, um detalhe desse jogo que vale à pena registrar: de dois em dois anos, o Brasil gasta cerca de R$ 704,0 milhões com a realização de eleições. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, o País gastou R$ 462,0 milhões nas últimas eleições apenas no lado operacional, com investimentos em equipamentos, transporte de urnas, impressão de cadastro de eleitores e relatórios de votação e alimentação para mesários. A este valor, some-se mais R$ 242,0 milhões de renuncia fiscal com a isenção de impostos concedidos às emissoras de rádio e TV que transmitiram o horário eleitoral. Com essa grana, o Governo Federal poderia construir 32 mil casas populares, mais 2.350 postos de saúde ou 3.520 quadras poliesportivas cobertas.


Francamente, é um absurdo para um país cheio de carências sociais. Eleição unificada, a cada quatro anos, já seria de bom tamanho para esse... esse jogo! Pense na economia para os cofres públicos.

Agora, por exemplo, já se instalou o clima de eleições para 2012, embora falte um ano para a realização do pleito. É por essa e outras que o nosso eleitor se acha fazendo papel de palhaço. A grande maioria, sim. Estou tentando livrar minha pele, embora sem muito segurança...

Na prática, essa turma não faz outra coisa a não ser articular e fazer campanha para se eleger. E, nesse ambiente de eterna campanha, esquece de discutir e trabalhar pelo que, de fato, interessa ao eleitorado. São poucos, muitos poucos, que se mostram empenhados por resolver os problemas fundamentais da sociedade, entre os quais os da Saúde, da Segurança, da mobilidade urbana e da Educação. E, sendo poucos, já viu. Entra ano, sai ano, sai governo, entra outro e esses temas são sempre postos à margem. Viram retóricas de palanques, de dois em dois anos.

O Brasil não merece esta situação. Infelizmente, ou por sorte, vive aqui um povo manso e conformado com um estado de penúria e degradação social, onde o que impera é a insegurança, as doenças endêmicas, uma mobilidade prejudicada, uma Educação de base indigna e, para completar, um sistema eleitoral inadequado que privilegia o acesso de pessoas, em grande parte, desabilitadas para exercer qualquer dos cargos eletivos. É revoltante. Quem, porventura, mete os pés fora do país, volta decepcionado ao conferir os padrões social, infra-estrutural e político que se respira nesta Terra de Cabral. Imagine em que condições sócio-econômicas estaríamos, se tivéssemos um povo educado, qualificado tecnicamente, com saúde, empresários mais competitivos, juros civilizados, investimentos produtivos seguros, infra-estrutura de país grande e liderado por governantes éticos.

O eleitor (falo do orientado) já não agüenta mais de assistir essa estupidez. Já não tem mais condições de ver, por exemplo, seu representante votar secretamente num processo de julgamento de um deputado corrupto que, no final da sessão, ao invés de cassado, sai triunfante e com os louros da absolvição! Essas votações – por uma questão de ÉTICA – teriam que ser DECLARADAS. Queria ver como seria. Fico tiririca da vida de não saber como foi o voto do meu representante, digo, aquele no qual votei. Acho engraçado é que, nessas horas, como todos querem sair bonitinhos no filme, dizem que votaram pela condenação. Prá cima de mim...

Pois é, não se fala noutra coisa a não ser de eleições, ano após ano. Discutir os anseios da sociedade é coisa para o dia “são nunca”. Na hora da campanha preparam um discurso bem bolado – com ajuda de um marqueteiro, um neurolinguista, um maquiador/cabeleireiro, por vezes um pai-de-santo e, claro, um bando de asseclas gritando o “já ganhou”... – E ganha! A maioria não sabe o que fazer depois de eleito. E povo? Ah! Como dizia certo humorista, o povo é apenas um detalhe. É um jogo sem fim.

NR Recolhido no Blog do GB

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