domingo, outubro 16, 2011
Do sapato, sua origem, sua serventia
Hugo Caldas
"Lé com lé, cré com cré, um sapato em cada pé", cantava o menestrel que andava de pés nus.
Este texto foi postado em dezembro de 2009. Vai entrando na fila do "Vale a Pena Ver De Novo". O bizarro foi procurar na web uma foto, uma imagem qualquer do Sapato Fox, "mais hellas" não encontrei. Não se fabricam mais. O que vemos hoje são estas aberrações de tênis que produzem um chulé desgraçado. Elegância onde, quando e pra que? Leiam o artiguete e se porventura tiverem uma foto dos sapatos FOX e TANK citados no texto, mandem aqui pro titio. HC
Todos nós temos na vida, um caso a ser contado e relembrado, sobre sapatos. Às vezes histórias fantásticas povoam o nosso imaginário. Às vezes simples e doces lembranças. Quando completei quinze anos, o meu pai me presenteou com o mais recôndito sonho de consumo que povoava a minha jovem mente. Um sapato Fox. Pretinho retinto, bem confeccionado, confortável, dava ao pé uma elegância ímpar. Ótimo para dançar nos inúmeros "assustados" da época. Brilhava ao sol e às luzes da noite. Jamais esqueci o velho companheiro de guerra. Veio o ditoso mimo tomar o lugar de um horroroso sapato TANK, com chapas de metal no solado, que usávamos para irmos às lides escolares. Ainda hoje relembro com saudade o meu Fox. Era pau pra toda obra. Combinava com qualquer roupa e era "chic" usá-lo. Nunca que eu sofri de aberrações tais como calos e joanetes. Era o mesmo que pisar nas nuvens. Companheiro de todas as horas, espécie de conselheiro, não permitindo jamais que as minhas pobres canelas tremessem em situações constrangedoras.
O sapato é uma peça do vestuário que tem por finalidade proteger os pés das pessoas. Em inglês a palavra “shoe” deriva de uma outra palavra do inglês arcaico, “sckh” que, por sua vez, provém do latim obscuro, vindo a significar oculto, ocultar, guardar os pés.
Os egípcios dominavam a arte de curtir o couro e eram hábeis confeccionadores de calçados. Seus escravos faziam sandálias de couro, palha, papiro ou de outra fibra qualquer de palmeira. No entanto, no antigo Egito, era bastante comum as pessoas andarem descalças carregando as sandálias penduradas ao pescoço. Usavam-se calçados apenas quando absolutamente necessário. Os nobres, entretanto estavam sempre calçados com sandálias coloridas. Até o grande Faraó Tutancamon usava sandálias e sapatos de couro de porco, cravejados de enfeites de ouro. Evidências, entretanto mostram, que os sapatos foram inventados, no final do Período Paleolítico.
Na Mesopotâmia eram comuns os sapatos e sandálias de couro cru, amarrados aos pés por tiras do mesmo material. Os coturnos eram entrançados nas pernas e representavam o símbolo da alta posição social do dono dos pés que os usavam.
Na Grécia Antiga, chegaram a lançar moda, como a de modelos diferentes para cada pé, direito e esquerdo. A maledicência entretanto afirma que um administrador da cidade de Atenas, meio sobre o détraqué, estando de pileque calçou inadvertidamente os pés trocados. Daí a tão propalada moda.
Na Roma Antiga, o calçado indicava a classe social. Os cônsules usavam sapatos brancos, os senadores sapatos marrons, presos por quatro fitinhas pretas de couro atadas a dois nós, e o calçado tradicional das legiões de César era a bota de cano curto que evidenciava os dedos.
Na Idade Média, tanto homens como mulheres costumavam usar sapatos de couro curtido, fétidos, porém abertos, de cores berrantes e que tinham a forma semelhante ao das sapatilhas de balé.
Nas regiões frias do planeta, o mocassim, criação dos indígenas norte-americanos, e as botas russas de cano longo, são até hoje confeccionados para a devida proteção dos pés. Nos países mais quentes a sandália, bem como o chinelo, são evidentemente os mais usados. Na Holanda, ainda é comum o uso do popular tamanco de madeira feito em uma só peça.
Na Europa do século XIV, a moda ditava calçados de bico tão fino e longo, alguns com até 50 cm de comprimento, que para conseguir caminhar, era preciso prendê-los, com um cordão de seda, à coxa ou à cintura. Haja Deus! De certa forma esse tipo de sapato deve ter inspirado nossos atuais designers que fizeram renascer algo parecido com o tal bico fino, ótimo para matar baratas, encurralando-as nos cantos da parede. Já na França de Henrique IV, os sapatos eram tão estreitos que, para conseguir calçá-los, os elegantes da época tinham que ficar pelo menos duas horas com os pés mergulhados em salmoura gelada para que encolhessem.
Nas cortes venezianas, a moda eram os calçados perpetrados em cima de plataformas altíssimas. Tão altas que se tornava praticamente impossível caminhar com eles nos pés, a não ser com a ajuda de criados que seguravam as dondocas pelos sovacos e assim as arrastavam pelos insondáveis caminhos e salões da cidade.
Mas o cúmulo dos cúmulos eram os microscópicos sapatos usados pelas mulheres chinesas, até recentemente. Medindo cerca de 15 cm, eles obrigavam as coitadas a reduzir drasticamente o comprimento do pé. Uma tortura. Vá que se goste, que nem eu, de pés pequenos, mas aí já é exagero. Para o sucesso da empreitada, as chinesas, desde o nascimento, tinham os pés amassados sobre um cilindro de metal e, então, firmemente enfaixados até quando Deus dispusesse.
Nas Filipinas, a ex-primeira-dama Imelda Marcos, viúva do ditador Ferdinando Marcos está lançando sua própria grife. Ela sempre foi conhecida pela imensa coleção de sapatos, estimada em mais de 3.000 pares variados. Enquanto colecionava sapatos, o marido governava o país dominado pela pobreza. O ditador foi defenestrado e no exílio Imelda comeu do pão que o diabo amassou. Agora de volta às Filipinas, com essa grife, ela pretende vender as peças da sua coleção particular por preços que variam entre US$ 20 e US $100, valores bem modestos mas que poderá ajudar a ex primeira-dama a colocar na mesa o leite das crianças.
Nos dias de hoje, o calçado transcendeu sua finalidade inicial que é de proteção aos pés e passou a servir como adorno, acessório de moda, e bem mais recentemente lá pelas bandas de Bagdá, transformou-se em arma usada, em momentos de ira, contra presidentes outrora poderosos, em visitas surpresas a paises que acabaram de destruir. Deve ser reconfortante quando o alvo é atingido.
Sapatadas em presidentes! Se a moda pega pelas bandas de cá, não sei não, mas bem que eu gostaria!
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4 comentários:
Os shoes têm mesmo conotação fetiche, não é? E há quem diga que o tamanha do bigurrilho masculino se equivalhe á medida do pé e do nariz do macho. Então podemos pensar numa aproximação de meter o cacete ou meter o sapato nele..............
Beijos,Rachel
Caro Gugo,
Grato pelo envio do blog. Fiquei mais instruido no ramo de sapatos.
Em troca, envio artiGo sobre pesca. De outra natureza.
Abração e dê retorno
Ipojuca.
Querido primo,
Que beleza de explicação!!!
Você me fez lembrar de um sapato que ganhei de meu padrinho, quando tinha apenas 6 aninhos. Era lindinho! Usei no dia da minha formatura, quando encerrei o período escolar no antigo
"infantil".
Fiz um retrospecto bacana com este assunto.
Atualmente considero-me pecadora, pois adoro comprar sapatos...
Um abraço e bjs. Márcia
Hugão: que beleza de escrito ! Me fez lembrar do impecável fox do seu tio Dilermando. Hoje os sapatos perderam o glamour, embora cada um saiba onde o calo dói...
Teu blog está cada vez melhor e como cresceu!
Abraços
Guy Joseph
PS. Ainda tens cópia da Missa do Vaqueiro, em S/8?
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