quinta-feira, junho 02, 2011

O DIA D, MONDRIAN, KANDINSKY


W. J. Solha

O século XX foi um tremendo sismo cujo epicentro se deu em Hiroshima, 06 de agosto de 1945, ...


... a Bomba desintegrando tudo à sua volta, no Tempo, tanto no que chamamos “antes”, como no que chamamos “depois”.

Sensitivos, os artistas, demonstraram captar isso com a devastação que fizeram da figura humana e de toda a realidade, como se viu em Kandinsky, a partir de 1911...









... e em Mondrian ao longo do tempo... até 44, quando ambos morreram.

Em “O Gabinete do Dr. Caligari”, de 1920, Robert Wiene parece antecipar o que se dará na Alemanha a partir de 33:













Desmantelava-se, enquanto isso, a poesia clássica em 43, com o “Four Quartets” de T. S. Eliot, e o romance - em 39 (ano do início da Segunda Grande Guerra) - com esta obra, para a maioria absoluta, ... ininteligível:
Antes da arte abstrata, porém, Picasso já começara a desintegrar a representação do humano, com este consagrado quadro cubista de 1906, ...



... influenciado pela Teoria da Relatividade, de Einstein, publicada no ano anterior, na qual se lançava a base teórica da explosão nuclear de quatro décadas mais tarde.
Por outro lado, depois do grande clarão (que também atingiu Nagasaki), eclodiriam compositores como Iannis Xenakis, que escreveria, por exemplo, assim...



... e pintores não-figurativos como Pollock , que morreria em 56, que pintaria quadros como este.



Mas em seguida o ser humano e a realidade voltaram com tudo.











Nota: artista, aí, também é escultura.

No alucinado final da primeira metade do século XX, o que os criadores antenados pressentiram, estes homens fizeram:














Chaplin alegorizou o que viu em 41 e o que aconteceria em breve:














Havia, simultaneamente, uma frente mundial contra o caos. A fotografia e o cinema continuaram a ser artes naturalistas, como no século XIX, no registro e preservação do humano, em um momento em que se formava um conjunto de forças, liderada por estes homens,...




... o Eixo , apoiadas, do outro lado, pelo exército desesperado de uma União Soviética invadida. Estabelecido o confronto, o abalo retroage da rendição japonesa após a Bomba (agosto de 45) para a desistência alemã (ocorrida em maio), até o golpe de mestre que a viabilizou, o chamado Dia D, o Dia da Decisão, 6 de junho de 44.
Com Roma em poder dos americanos dois dias antes, ...
















... a Polônia já libertada pelos russos desde janeiro, as ilhas Marshall e Marianas já reconquistadas, a Wehrmacht fora dos territórios da União Soviética desde março, ...



... o que restava era o desembarque Aliado na França ainda dominada, empreendimento já há algum tempo em febril planejamento e organização no quartel-general anglo-americano e canadense, na Inglaterra.

Com essa travessia do Canal da Mancha, entramos no terreno místico da interpretação dos fatos, talvez porque os judeus tenham sempre valorizado e divulgado tanto seu Pesach - Páscoa -, palavra que significa trânsito, passagem. No Antigo Testamento há duas travessias significativas: a de Jacó no rio Jaboque, ...









... onde tem um embate com um anjo que acaba, derrotado por ele, abençoando-o e mudando-lhe o nome para Israel (que depois seria o de seu povo) e, antes, a de Moisés no Mar Vermelho.

Mas há outras... passagens... semelhantes – e reais - em outros povos e pontos decisivos da História, como a de César cruzando o Rubicão, (Alea Jacta Est!), ...
... e a de Washington pelo Delaware - importantíssima na luta pela Independência americana.

Pois bem.
Se você viu o desembarque da gigantesca esquadra grega na praia diante de Ílion, no filme “Tróia” (baseado no dia D)...







... eleve-a à enésima potência. Se você se impressionou com os vinte e cinco minutos iniciais de “O Resgate do Soldado Ryan”, em que Spielberg reproduziu o que foi o choque entre o exército do Terceiro Reich e a enorme concentração de forças das tropas aliadas nas praias da Normandia, ...






... saiba que a superprodução da realidade foi maior. Claro, pois imagine o que são três milhões de soldados - americanos, ingleses e canadenses – preparando-se, no sul da Inglaterra, para o ataque à costa francesa do outro lado do canal.



Ganhou relevo, nesse momento, o discurso de Eisenhower, bem ao estilo Henrique V que, depois de atravessar o mesmo Canal da Mancha, e antes da batalha de Azincourt, segundo Shakespeare, disse algo como ele:



- We will accept nothing less than full victory!!!
- Não aceitaremos nada menos que a vitória completa!!!

Pense em Hitler e Rommel – do lado de lá - com informações de que isso estava realmente para acontecer e deduzindo, sim, que o ataque seria pela Normandia, pois lá estavam os dois únicos grandes portos – Le Havre e Cherbourg - capazes de acolher as imensas quantidades de homens e de material bélico, que sabiam prontas para a ofensiva no além-mar. Pense no marechal von Rundstedt – encarregado da defesa nazista – confiante em suas divisões panzer e na “Muralha do Atlântico” - o conjunto de fortificações de concreto ( bunkers )

...ali instaladas pra desancar qualquer ataque por mar. Pense nos Aliados percebendo que o Passo de Calais, no Canal da Mancha, era o ponto ideal para a incursão - por ser mais estreito -, mas... óbvio demais justamente por isso, pelo que empreendem uma operação intensa de remessa de pistas falsas que confirmam a invasão por ali, do que resulta a convergência de todo o 15o. exército de Hitler para o local. Acrescente-se a isso o mau tempo, que parecia obrigar qualquer comando sensato ao adiamento de uma empresa de tal porte. E a decisão – daí o Dia D – de atacar assim mesmo! Foi então que, às 6,30 da manhã de 06 de junho, começou-se o bombardeio aéreo pesado das trincheiras alemãs em Cherbourg, destruindo vias de comunicação,

...ao tempo em que 6.500 navios e centenas de tanques anfíbios, ...




... protegidos por 11.000 aviões ( pense nisso! ), ...
















... meteram-se na travessia, espalhando 150.000 homens por cem quilômetros de praia, na França, na maior operação naval de desembarque da história militar.
















Segue-se que uma multidão de mortos e feridos, evidentemente, fica no rastro da investida que sai rasgando a resistência nazista...


... até a libertação de Paris em 25 de agosto, a de Bruxelas em 2 de setembro, seguindo-se a ultrapassagem da fronteira alemã, no dia 12. O que houve, a partir daí, foi uma corrida de soviéticos atacando pelo leste...

...e de Aliados pelo oeste, em busca de Berlim, onde o nazismo foi trucidado.

Mas o Japão resistia. Por isso...


... o epicentro do sismo, 06 de agosto de 45, Hiroshima. E já não era sem tempo: Mondrian e Kandinsky tinham morrido em 1944, no ano do Dia D. Mas Berlim e, com ela, o mundo, ficaram divididos.

In my beginning is my end – diz um dos versos de Eliot no “Quatro Quartetos”.

A Teoria da Relatividade é de 1905. Nesse mesmo ano, na Rússia, acontecia o ensaio geral da Revolução de 1817, com o massacre que Eisenstein transformou em filme.

In my end is my beginning.

E qual teria sido o fim do abalo, afinal?

A queda do muro de Berlim, em 1989.

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