W. J. Solha
O século XX foi um tremendo sismo cujo epicentro se deu em Hiroshima, 06 de agosto de 1945, ...

... a Bomba desintegrando tudo à sua volta, no Tempo, tanto no que chamamos “antes”, como no que chamamos “depois”.
Sensitivos, os artistas, demonstraram captar isso com a devastação que fizeram da figura humana e de toda a realidade, como se viu em Kandinsky, a partir de 1911...


... e em Mondrian ao longo do tempo... até 44, quando ambos morreram.








Desmantelava-se, enquanto isso, a poesia clássica em 43, com o “Four Quartets” de T. S. Eliot, e o romance - em 39 (ano do início da Segunda Grande Guerra) - com esta obra, para a maioria absoluta, ... ininteligível:


... influenciado pela Teoria da Relatividade, de Einstein, publicada no ano anterior, na qual se lançava a base teórica da explosão nuclear de quatro décadas mais tarde.


... e pintores não-figurativos como Pollock , que morreria em 56, que pintaria quadros como este.

Mas em seguida o ser humano e a realidade voltaram com tudo.


No alucinado final da primeira metade do século XX, o que os criadores antenados pressentiram, estes homens fizeram:






Chaplin alegorizou o que viu em 41 e o que aconteceria em breve:




Havia, simultaneamente, uma frente mundial contra o caos. A fotografia e o cinema continuaram a ser artes naturalistas, como no século XIX, no registro e preservação do humano, em um momento em que se formava um conjunto de forças, liderada por estes homens,...





... o Eixo , apoiadas, do outro lado, pelo exército desesperado de uma União Soviética invadida. Estabelecido o confronto, o abalo retroage da rendição japonesa após a Bomba (agosto de 45) para a desistência alemã (ocorrida em maio), até o golpe de mestre que a viabilizou, o chamado Dia D, o Dia da Decisão, 6 de junho de 44.
Com Roma em poder dos americanos dois dias antes, ...

... a Polônia já libertada pelos russos desde janeiro, as ilhas Marshall e Marianas já reconquistadas, a Wehrmacht fora dos territórios da União Soviética desde março, ...

... o que restava era o desembarque Aliado na França ainda dominada, empreendimento já há algum tempo em febril planejamento e organização no quartel-general anglo-americano e canadense, na Inglaterra.
Com essa travessia do Canal da Mancha, entramos no terreno místico da interpretação dos fatos, talvez porque os judeus tenham sempre valorizado e divulgado tanto seu Pesach - Páscoa -, palavra que significa trânsito, passagem. No Antigo Testamento há duas travessias significativas: a de Jacó no rio Jaboque, ...

... onde tem um embate com um anjo que acaba, derrotado por ele, abençoando-o e mudando-lhe o nome para Israel (que depois seria o de seu povo) e, antes, a de Moisés no Mar Vermelho.

Mas há outras... passagens... semelhantes – e reais - em outros povos e pontos decisivos da História, como a de César cruzando o Rubicão, (Alea Jacta Est!), ...


Se você viu o desembarque da gigantesca esquadra grega na praia diante de Ílion, no filme “Tróia” (baseado no dia D)...


... eleve-a à enésima potência. Se você se impressionou com os vinte e cinco minutos iniciais de “O Resgate do Soldado Ryan”, em que Spielberg reproduziu o que foi o choque entre o exército do Terceiro Reich e a enorme concentração de forças das tropas aliadas nas praias da Normandia, ...




... saiba que a superprodução da realidade foi maior. Claro, pois imagine o que são três milhões de soldados - americanos, ingleses e canadenses – preparando-se, no sul da Inglaterra, para o ataque à costa francesa do outro lado do canal.


Ganhou relevo, nesse momento, o discurso de Eisenhower, bem ao estilo Henrique V que, depois de atravessar o mesmo Canal da Mancha, e antes da batalha de Azincourt, segundo Shakespeare, disse algo como ele:

- We will accept nothing less than full victory!!!
- Não aceitaremos nada menos que a vitória completa!!!
- Não aceitaremos nada menos que a vitória completa!!!
Pense em Hitler e Rommel – do lado de lá - com informações de que isso estava realmente para acontecer e deduzindo, sim, que o ataque seria pela Normandia, pois lá estavam os dois únicos grandes portos – Le Havre e Cherbourg - capazes de acolher as imensas quantidades de homens e de material bélico, que sabiam prontas para a ofensiva no além-mar. Pense no marechal von Rundstedt – encarregado da defesa nazista – confiante em suas divisões panzer e na “Muralha do Atlântico” - o conjunto de fortificações de concreto ( bunkers )

...ali instaladas pra desancar qualquer ataque por mar. Pense nos Aliados percebendo que o Passo de Calais, no Canal da Mancha, era o ponto ideal para a incursão - por ser mais estreito -, mas... óbvio demais justamente por isso, pelo que empreendem uma operação intensa de remessa de pistas falsas que confirmam a invasão por ali, do que resulta a convergência de todo o 15o. exército de Hitler para o local. Acrescente-se a isso o mau tempo, que parecia obrigar qualquer comando sensato ao adiamento de uma empresa de tal porte. E a decisão – daí o Dia D – de atacar assim mesmo! Foi então que, às 6,30 da manhã de 06 de junho, começou-se o bombardeio aéreo pesado das trincheiras alemãs em Cherbourg, destruindo vias de comunicação,

...ao tempo em que 6.500 navios e centenas de tanques anfíbios, ...


... protegidos por 11.000 aviões ( pense nisso! ), ...






... meteram-se na travessia, espalhando 150.000 homens por cem quilômetros de praia, na França, na maior operação naval de desembarque da história militar.




Segue-se que uma multidão de mortos e feridos, evidentemente, fica no rastro da investida que sai rasgando a resistência nazista...

... até a libertação de Paris em 25 de agosto, a de Bruxelas em 2 de setembro, seguindo-se a ultrapassagem da fronteira alemã, no dia 12. O que houve, a partir daí, foi uma corrida de soviéticos atacando pelo leste...




... o epicentro do sismo, 06 de agosto de 45, Hiroshima. E já não era sem tempo: Mondrian e Kandinsky tinham morrido em 1944, no ano do Dia D. Mas Berlim e, com ela, o mundo, ficaram divididos.
In my beginning is my end – diz um dos versos de Eliot no “Quatro Quartetos”.

A Teoria da Relatividade é de 1905. Nesse mesmo ano, na Rússia, acontecia o ensaio geral da Revolução de 1817, com o massacre que Eisenstein transformou em filme.


– In my end is my beginning.
E qual teria sido o fim do abalo, afinal?

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