Germano Romero
Não foram somente os cidadãos que nasceram com tendência para comunhão afetiva com pessoas do mesmo sexo que saíram vitoriosos com a recente decisão do Supremo Tribunal Federal. Foi toda a sociedade brasileira. Em meio à vida moderna conturbada, saturada, congestionada e cheia de problemas urbanos e humanos, não há mais lugar para discriminação, e sim para a solidariedade.
E por falar em solidariedade, foi chocante a posição de certos segmentos religiosos contra o reconhecimento da união civil entre iguais. Justamente na hora em que o Brasil aparece junto às nações avançadas renovando ideias e conceitos jurídicos acerca do assunto, surgem posições retrógradas de crenças que só crêem no que interessa.
Mas é só uma questão de tempo. Rebobinando a História, constataremos que sempre foi assim. Mentes fechadas nunca se abrem à ciência. Preferem ignorar as exaustivas pesquisas e laudos científicos que atestaram que ninguém escolhe a atração pelo mesmo sexo e já se nasce com essa determinação, genética ou não. Estudos que fizeram a Organização Mundial de Saúde deixar de considerar a homoafetividade como doença, e o Conselho Brasileiro de Psicologia proibir terapias que tentem mudar a orientação sexual.
Já foram contra os pára-raios, negaram que o sangue circula pelo corpo, obrigaram Galileu a desdizer a ciência, queimaram Joana D’arc por ser médium, torturaram Giordano Bruno, incineraram livros. Decerto, em pouco tempo deixarão de ser contra camisinha, controle de natalidade, transfusão de sangue e união civil homoafetiva. Quiçá um dia entendam que o próprio Jesus nunca condenou, nunca julgou, sempre criticou a discriminação e a hipocrisia, e ainda foi censurado por andar com pobres e ricos, ser amigo de Maria Madalena, defender a adúltera do apedrejamento, entre outros exemplos de amor e compreensão.
Não há aqui apologia a qualquer prática afetiva, até porque afetividade sexual é assunto que se restringe a apenas duas pessoas e só a elas diz respeito. Há, sim, apologia aos ministros do STF pela memorável e rara unanimidade de 10 x 0 que legitimou o direito de pessoas adultas e saudáveis se unirem e construírem um patrimônio comum, mantendo-o garantido para evitar que outros queiram “meter a mão”, como acontece freqüentemente. Lembro de um caso de dois professores da UFPB que cultivaram um íntegro relacionamento afetivo ao longo de décadas, construíram uma bela casa para morar, e por isso sofreram da família de um deles completo distanciamento, após toda sorte de difamação.
Depois que um deles morreu, tais familiares surgiram de repente munidos de ações judiciais para tomar o imóvel do que ficou só. Que descaramento!
Um comentário:
"Isso é um Sofisma".
Num espaço plural, como é esse do Hugo, ao qual estou presente com assiduidade, sinto-me a vontade para dar e contraditar opinião... Antecipadamente deixo claro, que não sou segregacionista, nem homófobo... ...Mas não poço “calar” diante do que considero um sofisma no contexto do que você disse Germano, depois de ler as frases:
“Não foram somente os cidadãos que nasceram com tendência para comunhão afetiva com pessoas do mesmo sexo que saíram vitoriosos com a recente decisão do Supremo Tribunal Federal. Foi toda a sociedade brasileira.”;
“...por falar em solidariedade, foi chocante a posição de certos segmentos religiosos contra o reconhecimento da união civil entre iguais...”.
Ora! Contrato existe até para se ter direito a beber água!... ...Dois heterossexuais de mesmo sexo podem decidir viver juntos e terão o direito e até o dever, se não forem idiotas, de estabelecer uma relação contratual... ...ou não?...
Você, Germano, por certo, sabe o significado lexicográfico da palavra “sofisma”, mas deve ter esquecido, razão pela qual relembro.
O Aulete diz:
1- Fil. Argumento ou raciocínio aparentemente lógico, mas na verdade falso e enganoso, FALÁCIA;
2 - Lóg. Raciocínio aparentemente válido, mas na realidade não conclusivo;
3 - P.ext. Argumento falso para induzir alguém a erro ou logro;
4 - Bras. Pop. Burla, tapeação, mentira.
O Aurélio diz:
Argumento aparente (não conclusivo) que serve ao propósito seja de induzir outrem a erro, seja de ganha a qualquer preço uma contenda ou discussão...
Relembro, também: o que estava e continuará em discussão, na sociedade, não é a indiscutível “união contratual”, mas muito menos o que você chama de: “...tendência para comunhão afetiva com pessoas do mesmo sexo...”.
Sei que na Biologia “sexo” significa o “conjunto de características que, nos seres humanos, nos animais e nas plantas, distinguem o sistema reprodutor, seus contrastes e suas interações (sexo feminino/masculino)”.
Sei, também, que na Antropologia, no ramo biológico, o “sexo” que não for para reprodução com todas suas distorcidas nuances libinais, é uma anomalia, que deve ser tratada como tal, mas, em hipótese alguma, com “segregacionismo”, muito menos sofismas...
A “máquina humana” não é nem pode ser perfeita e, no que se refere ao sexo, apresenta muitas anomalias, como por exemplo:
Homossexualismo;
Hemafrodismo;
Tara sexual;
Compulsão sexual;
Pedofilia;
Ninfomania;
Pois essas mesmas tendências anômalas do sexo, que são entre humanos, podem tender para a zoofilia...
Imagine se esse seu sofístico raciocínio fosse válido para todas essas anômalas tendências sexuais... ...Não meu caro Germano! Com todo respeito, ser defensor de uma “causa justa” é uma coisa, de um “sofisma” é outra... ...mas não considero isso um "descaramento... ...você está é equivocado, assim como uma boa parte da sociedade...
Postar um comentário