sexta-feira, abril 15, 2011

Mantega no país da fantasia


10 de abril de 2011 - O Estado de S.Paulo

É assustadora a tranquilidade exibida pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, diante do evidente surto inflacionário e das condições nada invejáveis das contas públicas brasileiras. Ele tem fracassado seguidamente nas tentativas de enfrentar alguns dos mais prementes problemas, como o ingresso maciço de dólares. O anúncio de cada nova barreira é seguido de mais uma enxurrada de moeda americana e de mais uma rodada de valorização do real. Nada parece, no entanto, abalar seu otimismo e sua aparente confiança no sucesso de todas as suas políticas. Nessa sexta-feira, ele voltou a prometer, num discurso em São Paulo, medidas para conter o crescente desajuste cambial, como se as suas palavras desestimulassem os especuladores. Não parece haver percebido um fato muito simples: a reação normal dos jogadores a cada nova ameaça é antecipar seu lance e agir mais prontamente que o governo.

Mas o mundo fantástico do ministro tem muitas outras maravilhas. Segundo ele, "o governo não titubeará em adotar medidas para ter a inflação sob controle". As autoridades, acrescentou, pretendem evitar o contágio de outros setores pelo aumento dos preços das commodities. Ele pode não ter notado, mas, no Brasil das pessoas comuns, o contágio há muito deixou de ser um risco hipotético.

Enquanto o ministro discursava em São Paulo, a Fundação Getúlio Vargas divulgava no Rio de Janeiro o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), pesquisado em sete capitais. O aumento foi de 0,89% nos 30 dias terminados em 7 de abril. No fechamento de março havia sido de 0,71%. Um mês antes havia ficado em 0,59%. O contágio tem sido claramente confirmado pelo chamado índice de difusão. No período encerrado na primeira semana de março, 63,34% dos itens haviam ficado mais caros. No fim do mês, esse índice havia chegado a 68,04%. Segundo a apuração recém-concluída, o surto inflacionário contaminou 68,33% dos bens e serviços incluídos na pesquisa.

A inflação brasileira, segundo insiste o ministro, é essencialmente um reflexo da valorização internacional dos produtos básicos. Mas ele decidiu, talvez por segurança, elevar de 1,5% para 3% o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente no crédito ao consumidor. Desde o ano passado muitos especialistas vinham apontando a rápida expansão do crédito como um fator inflacionário.

A reação do governo foi demorada e muito provavelmente será inócua no combate à inflação. A maior parte dos consumidores dificilmente notará o aumento do imposto e continuará tomando financiamentos, se as prestações couberem no seu orçamento. Muito mais eficaz seria uma redução do número das prestações, mas o ministro ou não percebeu esse dado ou não se dispôs a tomar uma providência realmente séria. O aumento do imposto servirá mesmo para engordar a arrecadação do governo. Só com o aumento da carga tributária o governo conseguirá alcançar a meta fiscal deste ano - outra promessa do ministro.

Ele mencionou, naturalmente, a disposição do Executivo de cortar parte dos gastos programados para o ano, como se houvesse, de fato, a intenção de executar uma política austera. Também isso é fantasia. Já se fala, em Brasília, da disposição do governo de preservar certo volume de desembolsos para atender a pressões de prefeitos preocupados com as eleições de 2012. Isso é apenas parte das pressões.

Em seu surto de fantasia, o ministro comparou a expansão dos investimentos no Brasil e na China. De fato, o aumento de 21,9% apurado em 2010 deve ter sido bem maior que o verificado na China. Mas esse aumento ocorreu sobre a base deprimida de 2009. Além disso, há uma diferença monumental entre as duas economias na relação entre investimento e PIB. Neste ano, se der tudo certo, o País investirá o equivalente a 19,1% da produção bruta, segundo a própria Fazenda. A China deve ter investido 55% do PIB no ano passado. Em 2011, a proporção talvez diminua para 54,5%. O Brasil precisará poupar muito mais para chegar à metade disso. Esse resultado dependerá principalmente da adoção de políticas mais sérias pelo governo. Fantasia sem ação não gera recursos.

2 comentários:

VIRGOLINO disse...

O ministro Mantega é, na aparência, no que (não) faz e no que diz, um tremendo Idi parente do Ota.

No governo, o seu papel é de bobo da corte. Não dirige nada, não decide nada, não executa nada, porém é escalado para falar sobre o que não está acontecendo.

Unknown disse...

Artigo: Diagnose da Racionalização da Economia Brasileira. Do Blog J. P. Fontoura - O Portal:

Uma Empresa Privada ou Pública, que ao se instalar, reestruturar ou em sua gestão deixe de empregar os princípios elementares da Racionalização não conseguirá se organizar, como conseqüência seu processo de Gestão, certamente, será falho e incontrolável.

Um Órgão Público, por força de sua natureza, precisa estar atento ao processo evolutivo de sua Atividade Fim e quando necessitar implementar uma Reestruturação Organizacional, com muito maior razão deverá fazê-lo munindo-se de instrumentos que desencadeie reações catalisadoras na otimização dos recursos, humanos, materiais e financeiros que forem postos à disposição, transformando-os na energia necessária para desenvolver o “organismo” que estiver sendo reestruturado.

Podemos comparar a Estrutura Organizacional Pública, criada ou reestruturada sem o processo de Racionalização, a uma “estrutura” biológica enfraquecida, que, em decorrência de uma disfunção metabólica, ingere alimento, mas não se nutre; analogamente esta Estrutura poderá injetar recursos em suas atividades, mas nem crescerá nem desenvolverá... Muitas vezes usam-se recursos extras – seriam os medicamentos na estrutura biológica – alocam-se estes recursos no Órgão, que poderá até crescer, mas será um crescimento desordenado com a “eficiência” geométrica e inversamente proporcional à “eficácia”, comparáveis aos parâmetros “qualificáveis” desse crescimento, ou seja, àquilo que se referir ao objeto do Papel que lhe compete, que é como, comumente, ocorre na gestão da “Coisa Pública”....

As Estruturas Organizacionais Públicas, responsáveis pelo processo evolutivo do universo a que servem, têm Papeis que se relacionam as atividades de naturezas e funções da maior relevância para a sociedade e lhes envolve, obrigatoriamente, numa dinâmica, que lhes impõe atualizações no tempo e no espaço em que atua. Os agentes gestores, nesses casos, deverão munir-se de um instrumento básico: a RAZÃO, pois esta representa o emprego da lógica quando o objetivo é instrumentalizar Estruturas Organizacionais Públicas...

Já, no que se refere à Economia, nem mesmo seguindo a risca esses princípios básicos o gestor público terá o poder de consolidá-la. Terá e será seu dever conduzi-la, pois os fenômenos que regem a Ciência Econômica são orgânicos sim, mas, redundantemente, inconstantes variáveis e autônomos-outodeterminantes. Quem não conhece este “axioma econômico” não tem e não terá condições de gerir a Economia nem de sua casa, que dirá de um País...

A Gestão Econômica do “organismo” público pode ser comparada a um paciente, que, por causa de uma patologia incurável, é condenado a viver “eternamente” numa UTI, necessitando de cuidados permanentes... ...Se os médicos forem relapsos, nos processos de manutenção dessa vida, os procedimentos que a matém falham; ao contrário, se souberem aplicar o tratamento adequado prolongam a sobrevida do paciente... ...Simples assim? Não! Só na teoria, mas, terrivelmente, verdadeiro e complexo na execução!...

Analógicamente, conclui-se que, a Gestão Econômica no Brasil sofre o agravante de ter sido: “tirada da UTI, estar recebendo entorpecentes em lugar de medicamentos adequados e sendo tratada por charlatões”.

J. P. Fontoura.