segunda-feira, fevereiro 14, 2011

O VERBO E A VERBA DOS POLÍTICOS

O artigo abaixo foi escrito em fevereiro de 2007 e publicado nos Sites aqui citados. O Brasil mudou de governo central, mudaram os governadores de Estado e todo o parlamento. Porém, não tenho dúvida de que o panorama continua o mesmíssimo e, pela impunibilidade, só tende a piorar.

José Virgolino de Alencar

No princípio, fala a Bíblia, era o verbo, a palavra, o expressar o pensamento, preliminarmente com sinceridade e na evolução com qualidade. Stendhal afirmou, ironicamente através de um personagem, que o homem usa a palavra para esconder o pensamento. Queria dizer o autor de “O Vermelho e o Negro” que, quando o homem está falando, deixa o que está verdadeiramente pensando em background, encoberto, e expõe ou expele só a insinceridade.

O aforismo de Stendhal não deixa de ter um fundo de verdade, embora, por coerência, o escritor, ao pronunciá-lo, também pode ter deixado o verdadeiro sentido do que queria dizer escondido por trás das palavras que escreveu. Em verdade, os políticos dão razão a Stendhal e com um agravante. Eles escondem o seu verbo no fundo do subconsciente mentiroso quando estão falando aos eleitores/espectadores/cidadãos, porque o seu subconsciente está pensando mesmo é em verba.

Verbo e verba é o binômio que dá toda motivação de vida ao político, é alimento que mata a sua fome e água que sacia a sua sede de poder e da ambição de juntar, quanto o mais possível, a verba. Ele só gasta verbo se resultar em boa verba. Outro agravante, é que o político somente busca o caminho da verba pública, do dinheiro que os cidadãos mandam para os tesouros públicos em forma de impostos. Na verba governamental, da sociedade portanto, o político vai como abelha no mel e até como urubu em carniça.

A verborragia do político esconde o vício verbanômano ou seja, a viciada dependência da verba. Como disse lá no início dessa crônica, o verbo, a palavra, devia expressar o pensamento de forma sincera e evoluir para o verbo de qualidade. Contudo, o político usa o verbo mal-articulado, nunca aprende a falar bem, preocupa-se mais com a esperteza no falar, isto porque com sua meia-dúzia de vocabulário padrão, com os chavões repetitivos, ele consegue muita verba que se acumula a cada dia, enquanto a sociedade fica sem escola para aprender o verbo e sem condições para ganhar honestamente a verba.

E quem consegue por competência cobrar boa verba remuneratória por seu trabalho de qualidade, vem os políticos e lhe tomam boa parte da verba, metendo a mão no seu bolso, retirando, via carga tributária, significativa parcela da verba salarial. Assim, o verbo é sacrificado na qualidade e a verba é desviada na finalidade e na quantidade.

E a revelação bíblica, “no princípio era o verbo e com o verbo se fez a vida”, muda para o “verbo se fez verba” que é a vida e o alimento dos políticos.

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