Germano Romero
Quando desembarcou aqui, ela escutou a comissária de bordo falar no áudio da cabine: “senhores passageiros, estamos aterrissando no aeroporto Castro Pinto, em João Pessoa”. Imediatamente olhou para o semblante dos passageiros homens, em busca de alguma reação temerosa, em face da “ameaçadora” cacofonia...
Lina Tucci, brilhante advogada gaúcha, vinha à capital paraibana pela primeira vez para protocolar algumas ações judiciais em defesa de sua cliente. Muito bem humorada e criativa, certa vez foi barrada por um segurança de um fórum capixaba que interpretou a saia-calça que vestia como um “bermudão”, vestimenta ali não permitida. Olhou para as mesas da pizzaria do outro lado da rua, cobertas com toalhas quadriculadas, e não deu outra: voltou de lá com uma saia improvisada que o garçom lhe emprestara. Foi um sucesso a sustentação oral daquele dia.
No dia seguinte à sua chegada em João Pessoa, dirigiu-se à Justiça Federal munida das petições iniciais com pedido de liminar. E na escadaria do imponente fórum, eis que se surpreende com a bandeira rubronegra ostentando um baita “négo” tremulante ao sol. Puxa! – pensou – eu ainda nem pedi a liminar e já levo um “négo” logo na entrada...
À tarde foi a Campina Grande, onde também havia de impetrar outros mandados. Passando os olhos pelas fachadas da rua antiga, deparou-se com uma funerária que se chamava “Vai com Deus”. “Que coisa burlesca”, comentou com o motorista.
Cumpridos os compromissos, já de volta à capital, Lina diz ao chofer que na manhã seguinte precisaria estar no aeroporto “Castro Pinto” bem cedo.
À noite, na varanda do hotel Tambaú, uma bela lua cheia brilhava ressaltando as belezas paraibanas... “Nossa, esse hotel foi construído em cima do mar!” – refletira.
Malas prontas, check-out feito, chega o motorista para levá-la ao aeroporto. Ao entrar no carro, o jornal do dia estava no assento como cortesia do serviço de táxi. Folheando-o, deparou-se com a manchete “Forró Arrasta-Toga hoje à tarde na Associação das Esposas dos Magistrados da Paraíba”.
Esfregou os olhos – estaria ainda sonhando?...
De Porto Alegre, nos liga. E aí, Lina, tudo resolvido por aqui? Gostou de nossa terra? – indaguei-lhe. “Sim, sua cidade é muito bonita e agradável”. “E você está otimista com as ações?”, quisemos saber. Foi quando seu bom humor mais uma vez aflorou:
“Meu caro amigo, já não sei mais. De uma terra bela e jocosa, que tem um aeroporto “Castro Pinto”, uma bandeira com um “négo” estampado no meio, funerária que se chama “Vai com Deus”, e uma associação de esposas de magistrados, eu espero tudo!”
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