sábado, janeiro 08, 2011

Verdade e gravidez

Ruy Fabiano

Se a presidente Dilma Roussef, como disse em seu discurso de posse, se “orgulha” de seu passado revolucionário e dele não se arrepende, não deve achar estranho que o mesmo se dê com o general José Elito Carvalho, a quem nomeou ministro-chefe do seu Gabinete de Segurança Institucional.

Ambos estiveram em trincheiras opostas ao tempo do regime militar – e nenhum dos dois personificava exatamente a defesa da democracia. Em comum, os dois projetos em conflito postulavam o autoritarismo, ainda que sob argumentos e ideários distintos.

Em nome das respectivas causas – que não correspondiam à vontade da maioria da sociedade -, ambos os lados não hesitaram em matar e violar direitos humanos. O lado vencedor, que dispunha do arsenal repressor do Estado, superou largamente a contundência da banda derrotada, mas ambos incidiram nos mesmos delitos, ainda que em escala diferenciada. A anistia, em nome da pacificação nacional, cobriu o período com o manto do perpétuo esquecimento (que é o que significa etimologicamente a palavra anistia).

Faz 32 anos. De lá para cá, o país viveu grandes transformações. Há 26 anos, vive em plena democracia, mais longo período de liberdade da história republicana nacional, inaugurada, convém lembrar, com um golpe militar.

Os violadores de direitos humanos do lado do regime de 64 foram postos no ostracismo político, banidos da vida pública. Quando algum aparece, cai sobre ele toda a ignomínia do que praticou e é obrigado a sair de cena. A anistia não cobriu a punição moral, a pior, do lado vencedor.

Ruy Fabiano é jornalista

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