
Certa vez a Geny, enfermeira do serviço médico do Banco do Brasil, que no começo dos anos 70 ainda tinha uma única agência em João Pessoa, a que hoje ainda permanece no Varadouro, pediu pra ler minha mão.
- Desculpe – eu lhe disse - mas não acredito nisso, colega. Ela insistiu. E então me revelou, primeiro: que eu jamais sairia do país. Lembrei-me disso na Ponte da Amizade, fronteira com o Paraguai, em minha primeira viagem ao exterior... e a cruzei, rindo. Mas a Geny acertou em outra coisa, ao referir-se à aura que a recente produção do primeiro longa-metragem paraibano de ficção em 35 mm me dava:- Você vai sempre parecer que é o mestre-sala, mas nunca passará de porta-bandeira.
O mestre-sala a que ela se referia era o José Bezerra Filho, também do BB, que aqui vemos como é hoje:

Outra carona de pioneiros, que peguei em Pombal, foi na criação da primeira agência bancária da cidade, a do BB, inaugurada em 16 de março de 1963. Eu era um dos três funcionários da casa, naquele dia, além do gerente e subgerente.
Em 1979, mais um pioneiro, o maestro José Alberto Kaplan, compôs, regeu e gravou a primeira cantata em língua portuguesa – a Cantata pra Alagamar.
Veja quem esteve com ele, nisso:



Já agora, no final de 2010, dois grandes cineastas pernambucanos – Kléber Mendonça Filho e Marcelo Gomes resolveram criar os primeiros filmes a abordar a classe média urbana, contemporânea, de uma grande metrópole nordestina, e rodaram “O Som ao Redor “ e “Era uma vez Verônica”, no Recife. Tive bons papeis nos dois.

No ano anterior – 2009 – o maestro Eli-Eri Moura fora contratado – no mesmo Recife - para a criação da primeira ópera armorial:

A Geny acertou mais uma vez: Eli-Eri me contratou para criar o enredo e os versos desse trabalho, e disso resultou “Dulcineia e Trancoso”, que teve estréia no Teatro de Santa Isabel em novembro daquele ano:

Já no finzinho de 2010, o cineasta Laércio Ferreira, do município de Aparecida, a 400 km de João Pessoa, rodou seu primeiro curta de ficção – “Antoninha” – em que, pela primeira vez no cinema, aborda-se o drama da seca verde. Eu estava no elenco:

Como se vê, a enfermeira e quiromante Geny acertou: tive a sorte de estar, sempre, ao lado de pioneiros. E na verdade isso foi muito bom.
Escritor, dramaturgo, ator e poeta.
wjsolha@superig.com.br
Um comentário:
Hugão, este artigo do Solha me deixou a um tempo entusiasmado e frustrado. Vibro ao saber que no Nordeste se rodam tantos filmes, compõe-se uma ópera armorial (deve ser linda, imagino), escrevem-se grandes livros, e a gente aqui não está sabendo de quase nada. O jeito é ficar de olho no circuito alternativo e nos festivais, o que representa uma mão de obra de grandes proporções para um idoso. O eixo Rio-SãoPaulo continua mandando na cultura do país e impondo uma estética por vezes ultrapassada e requentada, uma padronização idiotizante e uma exaltação louvaminheira de gente que há décadas "faz cinema" sem fazer um filme que preste. País dificil esse nosso, meu irmão...
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