Hugo Caldas
Meus Caros Amigos
Aqui, desde esse pequeno mundo virtual onde me obriguei a viver, passo o meu precioso tempo vendo a contragosto os sucessos que acontecem em Pindorama. Às vezes me dá uma canseira e tenho ganas de emitir opinião, por pequena que seja. Mas promessa é promessa e acabo tomando um chazinho de camomila e vou procurar assunto noutra freguesia. De inquirição em inquirição, de navegação em navegação, encontrei umas tantas histórias de abjuração e defecção de certos paraísos terrestres. A lista é longa e vem encabeçada pela ex União Soviética, envolvendo a Polônia, Coréia do Norte, China. Em 1941, o número dois do regime nazista, Rudolf Hess, mandou tirar as armas de um Messerschmitt 109 (belo avião de caça), encheu a aeronave com tanques sobressalentes de gasolina e se mandou para a Inglaterra tentar um cessar fogo em separado. Lá, por ordem de Churchill foi preso e passou o resto da guerra enjaulado. Hitler reagiu dizendo: " fui traído, me apunhalaram pelas costas", palavras estas, repetidas literalmente por um conhecido energúmeno, décadas mais tarde aqui pelos trópicos, quando da descoberta de um certo Trem da Alegria. Houve até um major da USAF que fez o caminho inverso e desertou para Cuba. Abaixo, algums casos de trânsfugas verdadeiramente interessantes que acredito os amigos do Cordão Encarnado não vão gostar nem um pouco. Mas, eu adoro histórias sobre aviões e aviadores. Voilà! HC
Em outubro de 1969, o Tenente. Eduardo Guerra Jimenez, piloto cubano, desertou com o seu MiG-17 para a Basa Aérea de Homestead em Miami. O avião foi mandado de volta para Cuba e dez anos depois, em junho de 1979, Jimenez, talvez arrependido, seqüestrou o Vôo 1061 da Delta Airlines e voltou para Havana. Nunca mais se ouviu falar dele. Por motivos óbvios.
Em 28 de maio de 1987, o Brigadeiro-General cubano Rafael del Pino Diaz desertou para os Estados Unidos em um avião Cessna 402 de Aerocaribbean, com sua esposa, sua filha, e seu filho Ramsés. O Brigadeiro Del Pino Diaz, ex-piloto de MIG-23, permanece sendo a maior patente militar a desertar do paraíso cubano. Ao que consta vive ainda hoje nos EUA.
Em 20 de março de 1991, o major Orestes Lorenzo Perez desertou com o seu MiG 23 para a Base aeronaval de Key West, na Flórida, durante uma missão de treinamento. Em 19 de dezembro de 1992 ele retornou a Cuba em um pequeno, bimotor Cessna 310, aterrizou perto de uma ponte bem conhecida ao longo da via costeira a leste de Havana, no norte da província de Matanzas. Orestes Lorenzo Perez pegou sua família e conseguiu um bem sucedido se bem que nervoso, retorno para Miami. Voando a toda velocidade e baixa altitude ele cruzou os 150 km que separam Cuba dos EUA. Estava concretizada a maior bofetada na cara do regime Castrista.
Tão logo terminaram os procedimentos de interrogatório, e posterior entrega do avião às autoridades americanas, Orestes começou então a planejar a retirada da sua familia. Recorreu a Comissão de Direitos Humanos da ONU. Recorreu a Reunião Ibero-americana que se realizava em Madri com a presença de Fidel Castro. A Rainha Sofia intercedeu perante Fidel, e o assunto chegou até ao gabinete do todo poderoso Secretário Geral Gorbachev. Tudo sem nenhum resultado. Raul Castro mandou dizer a esposa de Orestes, por intermédio do seu ajudante de ordens,
- “Se o seu marido teve os colhões de nos roubar um avião, que os tenha também para vir buscá-la pessoalmente".
Foi exatamente o que Orestes fez!
Através de umas amigas mexicanas que viajaram a Cuba, fez chegar à sua esposa, a data, o lugar e a hora exata onde deveriam esperá-lo. Foi uma grande aventura. Maior ainda do que a primeira fuga. O dia era 19 de dezembro "a las cinco en punto de la tarde."
Mais uma vez, voando a baixa altitude a fim de evitar os radares cubanos o pequeno Cessna conseguiu chegar a praia de El Mamey a uns 150 km a leste de Havana. Estrada congestionada por alguns carros e um ônibus de turistas porém o piloto conseguiu pousar, recolher sua família e voltar para Miami.
A comoção que essa nova aventura causou foi admirável, pois pela segunda vez o piloto cobriu de ridículo o regime dos Castro. Hoje, o ex Major Orestes é um próspero empresário do ramo da construção civil em Miami. É frequentemente chamado para contar a sua história em conferências que ele invariavelmente termina com a seguinte frase:
- "Digam ao sr. Raul Castro que seguindo o seu conselho eu fui pessoalmente buscar a minha família."
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