Germano Romero
Há algum tempo desenvolveu-se entre nós um tipo humano bastante curioso, muito comum aqui no nordeste, ao que, se não me falha a memória, o aclamado jornalista Rubens Nóbrega batizou de “debocil”. Que seria uma mistura de débil, decibel e imbecil. Exatamente o sujeito que não está nem um pouco preocupado em incomodar os outros com barulho. Respeitando os direitos autorais do ilustre Nóbrega, nome de família que vem contribuindo para uma Paraíba melhor, vamos cá chamar o debocil de “sombecil”.
O sombecil tem um péssimo gosto musical, se é que se pode chamar de música aquilo que sai de seu som: ordinários remelexos que a mídia insiste em apelidar de “forró”, com letras vulgares sob ritmos e sequências sonoras pobres, repetitivas e banais. Os textos são tão pejorativos que já há mães proibindo os filhos de ouvir.
O sombecil é um sujeito que “se acha”. Capaz de gastar 20 mil para equipar o carro e obstruir todo o espaço da mala com toneladas de alto-falantes, numa clara demonstração de que sua intenção é incomodar, obrigando os outros a suportar a baixaria. Sim, porque se ele realmente curtisse aquilo, poderia ouvir num volume bem mais alto com um bom aparelho de MP3 e um moderno par de fones de ouvido. Mas, que nada, o sombecil é exibido e o que mais quer é se “amostrar”. Uma autoafirmação que os atuais psicólogos atribuem a traumas internos associados a certos tipos de impotência, inclusive sexual.
A mania de se exibir é tão descontrolada que os sombecis trafegam com as janelas do carro abertas, até de madrugada, e não usam ar condicionado para que o barulho deixe sua deplorável marca por onde passam. E ao parar no triste destino que o esperam, tratam logo de abrir a tampa da mala e soltar a porcaria no ar. Não ligam a mínima para quem já estava no local, ignoram completamente a vizinhança e desrespeitam acintosamente a lei das contravenções do Código Penal, que veda claramente a perturbação do sossego alheio.
Infelizmente, ninguém até hoje ouviu um sombecil colocar no seu carro uma sonata de Chopin, uma sinfonia de Beethoven, ao menos uma valsa de Strauss. Quiçá nem saibam que isso existe, ou, como dizia uma velha contraparente, é “música de enterro”.
Por falar em enterro, será que o cortejo fúnebre de um sombecil é silencioso? Deixa pra lá, senão a ideia pode estimular até que os seus funerais se façam barulhentos. Mas, pensando bem, seria prazeroso ver nos cemitérios o irônico epitáfio: “Aqui jaz um sombecil. Que ele não descanse na paz que roubou dos outros”.
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