domingo, outubro 17, 2010

O Artífice da Censura

Ipojuca Pontes

De posse do nosso rico dinheirinho, Franklin Martins, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo Lula, viajou à Europa (Londres e Bruxelas) em busca de “informações e subsídios” para criar um anteprojeto de lei e enquadrar, em caráter permanente, o setor de radiodifusão no país.

Dois meses antes de Lula deixar o poder, mas já de olho na complicada eleição de Dilma Rousseff, a “companheira de armas”, o ministro quer a “modernização da estrutura legal” da radiodifusão brasileira, que considera, numa fraseologia típica do burocratês engajado, como “crucial para o desenvolvimento do setor num cenário de convergências da mídia”.

Como não poderia deixar de ser, o anteprojeto da Secretaria de Franklin Martins prevê o estabelecimento de “marco regulatório” que inclui, para o mencionado setor, a criação de uma “agência fiscalizadora de conteúdo”.

Aqui, convém abrir um parêntese: os comunistas programáticos, em especial os gramscianos, não acreditam na chamada democracia representativa (“burguesa”). De fato, detestam-na. Assim sendo, conforme se depreende das “categorias” ideológicas traçadas por Antonio Gramsci, na atual conjuntura brasileira de transição da “guerra de posição” para a “guerra de movimento” (esta, caracterizada pela desmontagem e posse total do “Estado burguês”), a neutralização e o controle da mídia para formação de um novo “senso comum” significa, em perspectiva, um passo substancial na direção da ascensão das “classes subalternas” e na subseqüente criação de uma “ordine nuova” (no dizer de Gramsci).

Marxista por convicção, o ministro de Lula nega que o governo pretenda exercer, com o anteprojeto de há muito delineado, qualquer tipo de censura: “Na Europa, é comum ter agências que cuidam do conteúdo. Não como censura, mas para dizer que há de se ter produção regional e independente, regras de equilíbrio. É bom para o país ter produção e programação regional, e não ter uma produção tão verticalizada nas estruturas de televisão. Nos Estados Unidos é assim e funcionou. Ninguém achou que lá a liberdade de expressão estava em risco”.

Como todo bom funcionário “orgânico”, Franklin Martins tergiversa e come o prato pelas beiradas, sem entrar no núcleo duro da questão. Mas num país em que o próprio presidente da República advoga a aceleração do “Estado Forte”, prenúncio do achatamento das liberdades individuais no seio da nossa sempre frágil democracia, não fica difícil perceber por que o companheiro Franklin Martins, ex-militante de comunista MR-8, cita regulamentações por ventura existentes em sociedades livres, ao tempo em que esquece a legislação vigente em Cuba, China, Coréia do Norte ou mesmo na Venezuela e na Argentina, paises “irmãos” que subjugam ou tentam subjugar, através de leis impositivas, a liberdade de expressão.

Com efeito, só para abastecer o leitor desavisado, convém aqui ressaltar que foi a própria Secretaria de Comunicação Social do governo Lula que, por meio da Conferência Nacional de Comunicação (realizada em Brasília há cerca de dez meses), referendou a proposta de reforma do setor de radiodifusão, considerada como indecente pelo grosso das entidades empresariais representativas do setor – proposta, de resto, que visava, entre outras medidas esdrúxulas, instituir conselhos e comitês de controle e de censura embasados nos padrões ideológicos levantados de forma explicita no repudiado PNDH-3, de feição totalitária.

Ao fazer a defesa do seu anteprojeto de lei, Martins parte do princípio irrevogável de que a atividade de radiodifusão tem de ser fiscalizada pelo aparelho do Estado, hoje, no Brasil, um instrumento da hegemonia política do PT. Não passa pela cabeça do ex-guerrilheiro, por exemplo, a possibilidade de uma autorregulação do setor, como ocorre em muitos paises civilizados que não admitem o controle da radiodifusão como mero apêndice do poder.
Na sua obcecada batida pela intervenção do Estado na comunicação dos meios eletrônicos do país, o ministro do PT se inflama. Diz ele, nas páginas de “O Globo”, jornal a que serviu durante anos, procurando defender o indefensável: - “O setor (radiodifusão) tem de ser regulado. Isso é assim em todo mundo. Ideologizar é dizer que a regulação é um atentado à liberdade de expressão, de imprensa. Na Inglaterra, França e Espanha, existe regulação e há liberdade de imprensa”.

Embora reiterativo quanto ao conteúdo da própria argumentação, mas pontuando que reina a mais completa liberdade de imprensa no país, o ministro de Lula submerge num longo exercício de pura tautologia: “Fala-se o que quer, publica-se o que quer. O que não se ser quer não se publica, o que quer se esconder, esconde-se. A imprensa é livre. Não quer dizer que é boa. A liberdade de imprensa só garante que a imprensa é livre. A imprensa é boa dependendo dos jornalistas, dos grupos de comunicação e da sociedade, que é uma crítica severa quando percebe que a imprensa está ficando ruim. Não tem briga com o governo e a imprensa: a imprensa publica o que quer, mas se eu achar que uma coisa publicada não está correta, tenho o direito de dizer. Ou a imprensa está acima da crítica? O Papa não está acima da crítica. Deus que é Deus não está acima da crítica. A imprensa não está acostumada com a crítica, este é o problema”.

Muito bem: se a imprensa é livre e exerce a sua função e a sociedade, por sua vez, a critica severamente quando ela se torna nociva, muitas vezes marginalizando-a ou recorrendo à própria justiça, por que então impedir a imprensa de cumprir livremente o seu ofício? A intangibilidade dos interesses de um Estado quase sempre impositivo, arrogante e corrupto justificaria por acaso a censura castradora?

O mais contraditório de tudo é que o ministro que pretende fiscalizar os meios de comunicação, na perspectiva de erguer um “Estado Forte”, é o mesmíssimo cidadão que - ao confrontar o autoritarismo do regime militar que desejava derrubar pelas armas – denunciava outrora, com justa razão, a censura imposta aos meios de comunicação .

Nas hostes do atual governo, todavia, o fato parece não arrostar o menor escândalo – uma coisa, de resto, previsível: como se sabe, para a generalidade das esquerdas, a censura só é condenável quando imposta pelo adversário. Quando praticada por ela própria, ainda que ostensivamente, não passa de um ato de benemerência revolucionária.

Um comentário:

Delmar Fontoura disse...

Do Blog J.P.Fontoura
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O Neolulopetismo...
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Já houve um Lulismo doentio, messiânico, inconseqüente, irresponsável... ...Hoje o que existe é uma “máscara”, que apelidamos de “petismo”, atrás da qual, como se fora um covil, os guardiões saqueadores acobertam os mais hediondos crimes políticos...

Para a sociedade tentam, subliminar e sub-repticiamente, vender a imagem de representantes do supremo bem se fundamentando no maniqueísmo para maximizar o que apresentam como sendo suas virtudes e minimizar o que não admitem serem seus defeitos; em contraponto “satanizam” seus adversários políticos como se fossem inimigos pessoais, destes maximizam o que atribuem serem defeitos e minimizam virtudes... ...A ponto de proporem suas extinções!...

Superam na prática, o Maquiavelismo como uma horda de bárbaros em tudo que dizem e fazem, transformando a “coisa pública” no caldo de uma cultura que, “paradoxalmente, pragmatiza os paradigmas do fisiologismo da pseudoideologia” que exercitam na política!...

Tal qual o Nazismo, nascido de uma “idéia psicótica”, o “neolulopetismo” nasceu e se consolidou a partir de um fundamentalismo “psicopático”, onde se destaca a característica deformatória do egocentrismo, que pode causar males piores do que os que já causaram e a nada se limitarão.

No entanto, ninguém tem coragem de analisá-lo por esse prisma... ...Por quê? Qual o verdadeiro motivo desse estranho procedimento por parte de setores da Imprensa, por parte dos Analistas e dos Cientistas políticos?... Será que é uma síndrome semelhante a “de Stocolmo” ou o “papel moeda” vigente que os impede?...

Estamos prestes a nos defrontar com a “terrível” realidade que o “neolulopetismo” esconde na redoma de sua pseudoideologia... ...comparável a perigos que a “ficção na arte” e a história, através dos tempos, vêm-nos “esfregando na cara”. Mas os vendilhões e os compráveis, agentes das vinditas e legatários da propinagem, tudo fazem para que os incautos não percebam ou não queiram perceber porque lhes entorpeceram as percepções e os valores morais!...

Mas não adianta porquê!...

Não emburrei, nem sou burro
Não sou cego, pois eu vi.
Não me digam que não sei.
Não digam que não entendi!...

Sei que não foi tudo o que vi.
Sei o tudo que vi e quis ver.
Sei do todo daquilo que vi.
Sei que não vão querer ver!...

Não sabem o tanto que vi.
Não sabem quão feio é esse tanto.
Não viram, pois não quiseram.
Não quiseram aquilo que viram!...

Sei que adianta pouco dizer muito.
Sei que dizer muito pouco adianta.
Sei que querer dizer não adianta muito.
Sei que ouvir dizer mais dúvida levanta!...

Não!... Pior ainda é que sei tudo.
Sei!... Pior de tudo é o que não sei.
Não!... Pior é não saber o quê de tudo.
Sei!... O quê é o pior tudo do que não sei!...
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Aguardando visita: http://jpfontoura.blogspot.com/